Volume 2 - Ministério do Esporte

Entrevista – Luiz Fernando Corrêa
Qual foi o grande sucesso do planejamento
de segurança no Pan?
Os conceitos da política de segurança do governo
federal foram aplicados, e isto foi realmente
um sucesso. Colocamos em prática o
que até então era uma tese. O Pan deu visibilidade
para o trabalho de integração que o
governo vinha promovendo, mostrou que era
viável unir policiais de todo o País e dos três
níveis de administração pública. Além disso,
fomos muito felizes no casamento entre prevenção
e repressão e ainda trouxemos novos
conceitos de policiamento, como a polícia não
armada nos locais de competição. Investimos
em um policiamento intenso, com visibilidade,
mas sem agressividade, e em ações de relacionamento
com a população. Não interferimos
na rotina da cidade. O aparato estava a postos
sem constranger o cidadão. Em paralelo,
construímos canais de diálogo com as comunidades
carentes, envolvemos estas populações
em ações de prevenção da violência. Ou seja,
o Pan nos deu a oportunidade de materializar
nossa política de segurança.
A segurança cidadã é um dos principais
pilares desta política?
Sim. É política pública: criar lideranças e canais
de diálogo Estado-cidadão. O jovem carente se
sentiu parte do Pan. Um dos nossos objetivos
era fazer com que ele pensasse: “Estou nesse
processo”. Essa é a grande lição que os Jogos
deixam para a segurança pública. As pessoas
se preocupam com os legados de equipamentos,
mas o avanço na relação Estado-cidadão
foi fundamental. A tranqüilidade que vivemos
em relação à segurança passou por isso, além
do aparato policial. A população se sentiu parte
da festa. O conceito tradicional era de exclusão
e de contenção, canhões nas ruas. Quebramos
este paradigma. E o ministro da Justiça, Tarso
Genro, lançou o Programa Nacional de Segurança
Cidadã (Pronasci), que traz os mesmos
projetos. As metas do Pronasci são infinitamente
maiores que 10,5 mil guias cívicos. As
lideranças que formamos serão aproveitadas,
porque já mantêm uma relação de confiança
com o Estado.
Pode-se dizer que a tarefa mais difícil da
Senasp foi integrar as forças policiais?
Quando se fala em integração e trabalho articulado,
fala-se em questões culturais, como as
brigas históricas entre policiais militares e civis
em todos os estados. As instituições têm medo
de se sentirem invadidas nas suas atribuições.
Era preciso habilidade para conduzir este processo.
Nos Jogos, além de agentes de todos
os estados, trouxemos um fator novo: a Força
Nacional. Sempre que atuamos com a Força,
por exemplo, a PM local se sente desprestigiada.
Para lidar com isso, reunimos especialistas
e previmos todas as missões que teríamos
no Pan-americano. Depois, distribuímos estas
missões, usando a idéia de força-tarefa. Pedi
para a Secretaria de Segurança do Estado do
Rio um representante da PM e um da Polícia
Civil, com capacidade de planejamento. Eu disse:
“Não vou intervir. Vocês nos dizem o que
é um grande evento no Rio e vamos agregar
Foto: Arquivo / Senasp
Secretário nacional de Segurança Pública à época
dos Jogos, Luiz Fernando Corrêa foi o principal
responsável pelo planejamento e pela execução
das ações de segurança. Defensor ferrenho
da idéia de que não basta combater a violência, é
preciso preveni-la, implantou a Segurança Cidadã,
enfrentou e venceu o desafio de integrar órgãos e
agentes de várias instituições e partes do País e
ajudou a garantir um Pan seguro. Gaúcho saído das
hostes da Polícia Federal, instituição da qual hoje é
diretor geral, diz que o Brasil está preparado para
qualquer evento esportivo internacional: “Formamos
um banco de talentos”.
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