Os caminhos da reforma - Jornal de Leiria
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16 | 2 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2006 | OPINIÃO | JORNAL DE LEIRIA |<br />
| O p i n i ã o |<br />
Procrastinação<br />
Uma palavra nova que juntei, esta<br />
semana, ao meu léxico. Significa<br />
adiamento. Uma patologia<br />
grave generaliza<strong>da</strong> que ataca a<br />
maioria dos Portugueses. Disse<br />
a Professora Doutora Rita Campos<br />
e Cunha num artigo notável sobre esta moléstia.<br />
Adiamos <strong>de</strong>cisões, pagamentos, poupanças,<br />
tudo para o último dia e se possível no último<br />
minuto. Tem sido assim há déca<strong>da</strong>s e não se<br />
verifica uma mu<strong>da</strong>nça severa <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> ou <strong>de</strong><br />
comportamento. Mesmo os mais jovens já sofrem<br />
<strong>de</strong>ste mal. Pe<strong>de</strong>m para adiar os testes, adiar o<br />
prazo <strong>de</strong> entrega dos trabalhos, adiar uma <strong>de</strong>fesa<br />
<strong>de</strong> uma tese, adiar os exame , adiar, adiar.<br />
Parece que empurrando os problemas para outro<br />
dia, eles se resolverão por si. Pura ilusão. Não<br />
só não se resolvem como se agravam. Agravaram-se<br />
na justiça, agravaram-se na educação e<br />
na administração pública.<br />
Porém, este governo parece <strong>de</strong>terminado a<br />
colocar alguma correcção nestes sectores, mas<br />
ou pe<strong>de</strong> adiamento ou atira para <strong>da</strong>qui a três<br />
anos a resolução final dos problemas <strong>de</strong>tectados.<br />
Des<strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> Janeiro, este governo ficou sem<br />
qualquer obstáculo para a optimização dos recursos<br />
do país. Tem uma maioria estável no Parlamento,<br />
um Presi<strong>de</strong>nte eleito sensível aos problemas<br />
<strong>da</strong> governação e pouco vulnerável às<br />
tricas e pressões partidárias. Não há eleições nos<br />
próximo três anos. Portanto tem to<strong>da</strong>s as condições<br />
políticas para avançar, sem hesitações,<br />
Adiamos <strong>de</strong>cisões,<br />
pagamentos,<br />
poupanças, tudo<br />
para o último dia e<br />
se possível no<br />
último minuto. Tem<br />
sido assim há<br />
déca<strong>da</strong>s e não se<br />
verifica uma<br />
mu<strong>da</strong>nça severa <strong>de</strong><br />
atitu<strong>de</strong> ou <strong>de</strong><br />
comportamento<br />
ANA NARCISO<br />
Professora do Ensino Básico<br />
para as <strong>reforma</strong>s anuncia<strong>da</strong>s e absolutamente<br />
necessárias à mo<strong>de</strong>rnização do País.<br />
Mas não vale tudo.<br />
Há medi<strong>da</strong>s anuncia<strong>da</strong>s para a educação<br />
que sofreram do mal <strong>da</strong> procrastinação e são<br />
agora apresenta<strong>da</strong>s com pompa e circunstância<br />
como se fosse novas. Haja a <strong>de</strong>cência e a<br />
honesti<strong>da</strong><strong>de</strong> intelectual e política <strong>de</strong> dizerem<br />
que apenas as recauchutaram. Mais na<strong>da</strong>. A<br />
concretização do plano para combate ao abandono<br />
escolar já vem do tempo do Dr. David<br />
Justino. Chamava-se "Eu não <strong>de</strong>sisto". Mas<br />
este governo <strong>de</strong>sistiu <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ia nos primeiros<br />
tempos para agora a retomar mu<strong>da</strong>ndo-lhe o<br />
nome. E nestas trocas e baldrocas, quem está<br />
nas escolas com os problemas por e para resolver,<br />
fica confus . Porque se até aqui só se podia<br />
avançar com percursos diferentes <strong>de</strong>pois dos<br />
14 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> para um número mínimo <strong>de</strong><br />
15 alunos por turma, agora permite-se formar<br />
turmas com 10 alunos até aos 15 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
No espaço <strong>de</strong> um ano mudou completamente<br />
a perspectiva. Entretanto per<strong>de</strong>mos alunos,<br />
vonta<strong>de</strong>s, dinheiro e recursos. E sobretudo<br />
per<strong>de</strong>mos ci<strong>da</strong>dãos que mais tar<strong>de</strong> enchem as<br />
listas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempregados e aumentam os custos<br />
sociais.<br />
Jamais esquecerei uma empresária, que um<br />
dia disse: eu prefiro receber jovens em parceria<br />
com as escolas do que pagar mais tar<strong>de</strong> o<br />
subsídio <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego. È este o <strong>de</strong>safio.<br />
E todos não somos <strong>de</strong>mais. Sem mais adiamentos!!<br />
■<br />
| O p i n i ã o |<br />
Rescaldo presi<strong>de</strong>ncial<br />
Eu bem sei que já foi a 22 do mês passado<br />
que os portugueses <strong>de</strong>cidiram,<br />
à primeira volta, eleger o Prof. Cavaco<br />
Silva para o mais alto cargo <strong>da</strong><br />
República, o <strong>de</strong> seu Presi<strong>de</strong>nte. Mas<br />
esse é um facto político que continua<br />
actual e pertinente. Vejamos:<br />
Esta eleição concluiu o ciclo eleitoral que, em<br />
pouco mais <strong>de</strong> ano e meio, chamou o povo às assembleias<br />
<strong>de</strong> voto em quatro ocasiões sucessivas: eleições<br />
europeias em Junho <strong>de</strong> 2004, legislativas antecipa<strong>da</strong>s<br />
em Fevereiro <strong>de</strong> 2005, autárquicas em<br />
Outubro <strong>de</strong>sse ano e, agora, as presi<strong>de</strong>nciais. Foi<br />
um nunca mais acabar <strong>de</strong> campanhas e promessas<br />
eleitorais, <strong>de</strong> algazarra, instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e confusão<br />
próprias <strong>de</strong>sses actos, na<strong>da</strong> condizentes com a<br />
governação serena e criteriosa que um país e uma<br />
economia em crise mais exigem.<br />
Em princípio, se o PS sobreviver à agonia do clã<br />
Soares e conseguir controlar a ânsia <strong>de</strong> protagonismo<br />
<strong>de</strong> Alegre, iremos estar até Junho <strong>de</strong> 2009,<br />
ou seja, mais <strong>de</strong> três anos, imunes às convulsões<br />
que os actos eleitorais sempre causam, traduzindo<br />
pois, um espaço <strong>de</strong> tranquili<strong>da</strong><strong>de</strong> política, a<strong>de</strong>quado<br />
a permitir ao Governo a toma<strong>da</strong> <strong>da</strong>s <strong>de</strong>cisões -<br />
e a sua correcta e efectiva implementação - capazes<br />
<strong>de</strong> fazer sair o país <strong>da</strong> letargia que o tolhe.<br />
E se muitos dos problemas <strong>de</strong>correm <strong>da</strong> questão<br />
económica, quem melhor do que Cavaco Silva<br />
para, em Belém, conferir a Sócrates o apoio presi<strong>de</strong>ncial<br />
indispensável à realização <strong>da</strong>s <strong>reforma</strong>s<br />
estruturais profun<strong>da</strong>s que, tanto no sector público<br />
Se o PS sobreviver<br />
à agonia do clã<br />
Soares e conseguir<br />
controlar a ânsia<br />
<strong>de</strong> protagonismo <strong>de</strong><br />
Alegre, iremos estar<br />
até Junho <strong>de</strong> 2009,<br />
ou seja, mais <strong>de</strong><br />
três anos, imunes às<br />
convulsões que os<br />
actos eleitorais<br />
sempre causam<br />
FERNANDO ENCARNAÇÃO<br />
Advogado<br />
como no mercado <strong>de</strong> trabalho, na justiça, na segurança<br />
social, na fiscali<strong>da</strong><strong>de</strong>, etc., se impõem como<br />
evidências. Cavaco Silva, até pelo facto <strong>de</strong> ser ex-<br />
-primeiro ministro e um economista reputado e<br />
competente, bem sabe que só a estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> governativa<br />
po<strong>de</strong> garantir o clima político indispensável<br />
a essas mu<strong>da</strong>nças estruturais que, aparentemente,<br />
todos exigem.<br />
São duas personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s distintas, mas com traços<br />
<strong>de</strong> similitu<strong>de</strong> e que a História con<strong>de</strong>nou a enten<strong>de</strong>rem-se.<br />
E ambos bem o sabem. Aliás, bem lá no fundo,<br />
Sócrates não <strong>de</strong>sconhece que terá em Cavaco um<br />
aliado institucional, capaz <strong>de</strong> oferecer o apoio<br />
necessário para algumas <strong>da</strong>s <strong>reforma</strong>s que o Governo<br />
tem vindo a prometer (muito) e a fazer (pouco).<br />
E Cavaco, convicto do valor <strong>da</strong> estabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
política e querendo ser eleito para um segundo<br />
man<strong>da</strong>to, sabe que não po<strong>de</strong> hostilizar o Governo.<br />
Acresce que a maioria presi<strong>de</strong>ncial que o elegeu<br />
extravasou muito para além dos partidos que<br />
o apoiaram, o que retirou essa "vantagem" à oposição<br />
que PSD e CDS-PP po<strong>de</strong>riam querer fazer ao<br />
PS e ao Governo. E, com Cavaco em Belém, escusam<br />
<strong>de</strong> contar com ele para fomentar climas <strong>de</strong><br />
instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> política e <strong>de</strong> guerrilha institucional,<br />
pensando com isso apear o PS <strong>da</strong> governação.<br />
Mas atenção, não é Cavaco que tem <strong>de</strong> governar.<br />
Essa é uma tarefa que cabe a Sócrates. Sei é<br />
que o Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República não será nenhuma<br />
força <strong>de</strong> bloqueio a que se faça o que tem <strong>de</strong> ser<br />
feito. ■