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estruturas sócio econômicas e restringiu-se a um<br />
movimento político muito limitado, mantendo o regime<br />
monárquico e o herdeiro português no trono, aliado aos<br />
latifundiários conservadores sob o comando de José<br />
Bonifácio. A aceitação do pagamento da indenização está<br />
ligada aos vínculos mantidos com Portugal e ao mesmo<br />
tempo aos interesses ingleses, que somente reconheceu<br />
nossa soberania após o acordo com Portugal.<br />
Em 1829 foi realizado novo empréstimo que passou para a<br />
história como "o ruinoso" e serviu para cobrir parcelas não<br />
pagas do empréstimo anterior. Do total tomado<br />
emprestado, o Brasil recebeu apenas 52%, pois o restante<br />
serviu para cobrir os juros da dívida anterior.<br />
Dois novos empréstimos importantes foram realizados<br />
durante o Império -- em 1843 e 1852 -- utilizados ainda<br />
para pagar débitos relativos ao primeiro empréstimo, que<br />
somente foi saldado em 1890.<br />
Durante esse período o Brasil ainda endividou-se ainda<br />
mais com a Guerra contra o Paraguai. A Inglaterra forneceu<br />
os navios e empréstimos ao Brasil para o conflito que<br />
também interessava à ela.<br />
A Primeira República<br />
Durante a república do "café com leite" o endividamento<br />
aumentou ainda mais, porém a idéia central ainda era a<br />
mesma, garantir os privilégios da elite. O presidente<br />
Campos Salles, eleito em 1898, viajou à Inglaterra antes<br />
mesmo da posse, para renegociar a dívida com os<br />
banqueiros Rotshild, e firmou um acordo que ficou<br />
conhecido como "Funding Loan", que suspendia o<br />
pagamento por um período de 13 anos, sendo que o<br />
pagamento dos juros seria realizado em 3 anos, em títulos<br />
da dívida pública e obtinha um novo empréstimo. Como<br />
garantia do cumprimento do acordo, as rendas das<br />
alfândegas brasileiras ficaram hipotecadas aos credores<br />
ingleses.<br />
Novo endividamento surgiu em 1906, representando o<br />
início da "Política de Valorização do Café". Neste ano, foi<br />
assinado o Convênio de Taubaté, entre os governadores de<br />
São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que, a partir de<br />
empréstimos tomados no exterior, comprariam e<br />
estocariam o excedente da produção de café. A valorização,<br />
como outras políticas protecionistas, resolvia o problema<br />
imediato da burguesia paulista e mantinha o nível de<br />
emprego nos setores da economia vinculados ao café,<br />
porém prejudicava a maioria da sociedade, na medida em<br />
que setores essenciais eram relegados a segundo plano em<br />
termos de investimento, além de promover a<br />
desvalorização da moeda, originando um processo que<br />
ficou conhecido como "socialização das perdas", quer<br />
dizer, a maioria da sociedade pagava pela política que<br />
beneficiava a minoria.<br />
Os governos do período continuaram a realizar<br />
empréstimos que beneficiavam a elite cafeeira,<br />
contrastando com a situação de crise nas exportações<br />
durante a Primeira Guerra Mundial e posteriormente, na<br />
metade da década de 20.<br />
Com a crise iniciada nos EUA afetando a economia do país,<br />
o pagamento da dívida foi suspenso em 1931 por decisão<br />
unilateral do Brasil. Em 1934 a Assembleia Nacional<br />
Constituinte passou a investigar o endividamento<br />
brasileiro, que chegava a 237 milhões de libras esterlinas e<br />
já estava documentado de forma detalhada pelo ministro<br />
Oswaldo Aranha. O ministro não era um crítico dos<br />
empréstimos do exterior, nem defendia o não-pagamento<br />
da dívida. Depois de viver por alguns anos nos EUA,<br />
defendia um estreitamento das relações do Brasil com<br />
aquele país, em detrimento dos interesses ingleses, então<br />
nossos maiores credores. Condenava apenas a forma pela<br />
qual os empréstimos tinham sido aproveitados -- não em<br />
obras públicas, como achava que deveria Ter ocorrido.<br />
Pensava ainda que o país deveria parar de tomar<br />
emprestado para pagar empréstimos e deveria pagar com<br />
seus próprios recursos. O ministro destacava a<br />
característica básica do endividamento: "foram feitos uns<br />
para pagar os outros, em parte ou no todo, refundindo-se<br />
em novos empréstimos".<br />
As Últimas Décadas<br />
Apesar da ausência de empréstimos externos e das<br />
condições desfavoráveis do comércio exterior, nos anos 30<br />
a economia brasileira se expandiu em ritmo maior que na<br />
década de 20, "época de maciço ingresso de capital<br />
externo.<br />
No período posterior ao golpe militar os empréstimos<br />
voltam a aumentar substancialmente, devido a política<br />
econômica desenvolvida então, particularmente no período<br />
que ficou conhecido como "milagre econômico", quando a<br />
indústria brasileira cresceu a taxas elevadíssimas graças ao<br />
ingresso maciço de capitais estrangeiros, fazendo com que<br />
a dívida saltasse de 4 para 12 bilhões de dólares.<br />
O endividamento pós 64 tem dois estágios. O primeiro é o<br />
dos governos Costa e Silva e Médici, nos anos 68-73,<br />
do "milagre econômico". Nesse período, os empréstimos<br />
foram usados para, ao cabo de tudo, realizar ar operações<br />
de crédito na compra de geladeiras, secadores de cabelo,<br />
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