43Nesse sentido, o conflito origina-se da contraposição <strong>de</strong> interesses, <strong>de</strong>animosida<strong>de</strong>s recíprocas ou <strong>de</strong> outras causas dissociativas, que geram certa tensãoentre os indivíduos e os dispõe como antípodas no espaço social. Se suas causasafastam as partes – sentimentos <strong>de</strong> ódio, dor ou vingança, por exemplo – o conflito,em si, aproxima, pois traz algum tipo <strong>de</strong> interação entre as partes na busca dasíntese dos interesses divergentes. Dessa forma, com a disputa, finda-se aindisposição ou indiferença social e se administra os dualismos conflitantes.Nesses termos, conflito e <strong>de</strong>sacordo são partes integrantes das relaçõessociais e não necessariamente sinais <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> e rompimento.Invariavelmente, o conflito traz mudanças, estimulando inovações. Coser (1970)aponta o conflito como um dos meios <strong>de</strong> manutenção da coesão do grupo no qualele explo<strong>de</strong>. As situações conflituosas <strong>de</strong>monstram, <strong>de</strong>sse modo, uma forma <strong>de</strong>interação intensa, unindo os integrantes do grupo com mais frequência que a or<strong>de</strong>msocial normal, sem traços <strong>de</strong> conflitualida<strong>de</strong>.É importante elucidarmos que o fato <strong>de</strong> o conflito ser importante e salutarpara a socieda<strong>de</strong> não significa dizer que não é necessário tratá-lo. Quando o conflitoultrapassa os limites da sociabilida<strong>de</strong>, ou seja, assume uma postura vingativa ou <strong>de</strong>prejuízo ao oponente ou até mesmo <strong>de</strong> violência física, então se faz necessário pôrem prática mecanismos hábeis para tratá-lo. De forma exemplificativa, MortonDeutsch (2003, p. 29) traz o seguinte:Algum, tempo atrás, no jardim da casa <strong>de</strong> um amigo, meu filho <strong>de</strong> cincoanos e seu colega disputavam a posse <strong>de</strong> uma mangueira. Um queria usálaantes do outro para aguar as flores. Cada um tentava arrancá-la do outropara si e ambos estavam chorando. Os dois estavam muito frustrados enem um nem outro era capaz <strong>de</strong> usar a mangueira para regar as florescomo <strong>de</strong>sejavam. Depois <strong>de</strong> chegarem a um impasse nesse cabo-<strong>de</strong>guerra,eles começaram a socar e a xingar um ao outro. A evolução doconflito para a violência física provocou a intervenção <strong>de</strong> uma po<strong>de</strong>rosaterceira parte (um adulto), que propôs um jogo para <strong>de</strong>terminar quem iriausar a mangueira antes do outro. Os meninos, um tanto quanto assustadospela violência da disputa, ficaram aliviados em concordar com a sugestão.Eles rapidamente ficaram envolvidos em tentar achar um pequeno objetoque eu tinha escondido e obedientemente seguiram a regra <strong>de</strong> que ovencedor seria o primeiro a usar a mangueira por dois minutos. Logo elesse <strong>de</strong>sinteressaram pela mangueira d'água e começaram a colher amorassilvestres, as quais atiravam provocativamente em um menino <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> que respondia aos inúteis ataques com uma tolerânciaimpressionante.
44Mas será que um conflito sempre é algo positivo? Na verda<strong>de</strong>, o conflitonão é, em si, algo positivo ou negativo, mas possui naturalmente um potencial <strong>de</strong>transformação e aprendizado. No entanto, tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da forma como éadministrado. Em outras palavras, o conflito po<strong>de</strong> ser um mecanismo <strong>de</strong> troca <strong>de</strong>opiniões e <strong>de</strong> aprendizado, mas po<strong>de</strong> também levar à violência.A violência po<strong>de</strong> ser uma das respostas perante o fracasso do diálogo oua impossibilida<strong>de</strong> dos envolvidos <strong>de</strong> chegar a uma convivência pacífica (ELIAS,1993). Em outras palavras, essa po<strong>de</strong> ser uma das respostas possíveis perante umasituação <strong>de</strong> conflito.Também é importante <strong>de</strong>stacarmos que, apesar da gran<strong>de</strong> frequência dos<strong>conflitos</strong> intersubjetivos nas relações cotidianas, apenas alguns são tipificados comocrimes e consi<strong>de</strong>rados legítimos <strong>de</strong> serem contemplados juridicamente com esforçosdo Estado para sua resolução – o que não se traduz necessariamente no <strong>de</strong>vidoreconhecimento jurídico. Nesse sentido, a invisibilização dos <strong>conflitos</strong> interpessoaissurgidos em contextos microssociais, tais como família, vizinhança e trabalho, po<strong>de</strong>ser interpretada como um fator <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nsamento das violências 40 nesses ambientes.Qual a relevância <strong>de</strong> estudar o tema “administração pacífica <strong>de</strong> <strong>conflitos</strong>”em um curso <strong>de</strong> formação na área <strong>de</strong> segurança pública? Para respon<strong>de</strong>r a essapergunta, é importante fazermos algumas análises sobre as tendências recentes daviolência no Brasil.Em seu estudo, Lima (2002) examinou boletins <strong>de</strong> ocorrência na gran<strong>de</strong>São Paulo e i<strong>de</strong>ntificou que os principais motivos dos homicídios são os <strong>conflitos</strong>interpessoais diversos, como brigas domésticas, em bares, ou entre vizinhos, nosquais as partes já possuíam anteriormente algum tipo <strong>de</strong> relação estabelecida. Nocaso dos crimes <strong>de</strong> autoria conhecida, <strong>de</strong>monstrou-se que 92,4% dos homicídiosestão relacionados a <strong>conflitos</strong> que muitas vezes surgem como pequenas40Na atualida<strong>de</strong>, as referências genéricas estão expressas nas mais diversas formas <strong>de</strong> violência; oentendimento sobre os <strong>conflitos</strong> sociais vem assumindo uma importância relevante para acompreensão da realida<strong>de</strong> social mo<strong>de</strong>rna, na medida em que a violência estaria ocupando papelsignificativo e interferindo na própria rotina social. O conflito é um elemento dos mais corriqueiros eintensos nas diversas socieda<strong>de</strong>s e, ao mesmo tempo, um componente relativamente poucoestudado em consonância à sua relevância (ALCÂNTARA JUNIOR, 2005, p. 9).
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