45controvérsias, que não são propriamente administradas e acabam por <strong>de</strong>sembocarem um ato violento.Ainda para o exame da manifestação da violência no Brasil, Adorno(2002, p. 88) <strong>de</strong>staca quatro tendências no cenário da violência urbana:a) o crescimento da <strong>de</strong>linqüência urbana, em especial dos crimes contra opatrimônio (roubo, extorsão mediante seqüestro) e <strong>de</strong> homicídios dolosos(voluntários);b) a emergência da criminalida<strong>de</strong> organizada, em particular em torno dotráfico internacional <strong>de</strong> drogas, que modifica os mo<strong>de</strong>los e perfisconvencionais da <strong>de</strong>linquência urbana e propõe problemas novos para odireito penal e para o funcionamento da justiça criminal;c) graves violações <strong>de</strong> direitos humanos que comprometem a consolidaçãoda or<strong>de</strong>m política <strong>de</strong>mocrática; ed) a explosão <strong>de</strong> <strong>conflitos</strong> nas relações intersubjetivas, maispropriamente <strong>conflitos</strong> <strong>de</strong> família ou <strong>de</strong> vizinhança que ten<strong>de</strong>m aconvergir para <strong>de</strong>sfechos fatais. (grifo nosso)As tendências listadas acima, apesar <strong>de</strong> relacionadas entre si, possuemcausas não necessariamente idênticas e, nesse contexto, a última tendênciamencionada – a saber, a crescente manifestação da violência como forma <strong>de</strong>administração <strong>de</strong> <strong>conflitos</strong> sociais – está diretamente relacionada à inserção dadisciplina “Mediação <strong>de</strong> Conflitos” nos cursos <strong>de</strong> formação dos agentes <strong>de</strong>segurança pública.Essa argumentação reforça a importância <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong>administração <strong>de</strong> <strong>conflitos</strong> apropriados à atual conformação da socieda<strong>de</strong>, cada vezmais plural e heterogênea, na qual os <strong>conflitos</strong> são crescentes. E, nesse cenário, aatuação <strong>policial</strong> em consonância com práticas que promovam o diálogo, a tolerânciae o respeito às diferenças é fundamental como estratégia <strong>de</strong> prevenção à violência.Sob essa óptica, o instituto da mediação se mostra compatível com oenfoque dado à gestão dialógico-consensual <strong>de</strong> <strong>conflitos</strong> que será apresentada aseguir.3.2 Mediação <strong>de</strong> <strong>conflitos</strong>: alternativa na construção política <strong>de</strong> uma culturapacificadoraA mediação <strong>de</strong> <strong>conflitos</strong> é consi<strong>de</strong>rada uma prática milenar. Suaascensão <strong>de</strong>u-se no hemisfério oriental. Há indícios <strong>de</strong> que foi utilizada no período
46anterior a Cristo, por Confúcio, e também pelos povos ju<strong>de</strong>us, sendo consi<strong>de</strong>radapor eles uma filosofia <strong>de</strong> vida. (VEZZULLA, 2006).O termo mediação proce<strong>de</strong> do latim mediare, que significa mediar, dividirao meio ou intervir. Essas expressões sugestionam o entendimento do vocábulomediação, que se <strong>de</strong>svela um método pacífico <strong>de</strong> administração <strong>de</strong> <strong>conflitos</strong>.Numa acepção mo<strong>de</strong>rna 41 , mediação é o processo voluntário <strong>de</strong> ajuste<strong>de</strong> <strong>conflitos</strong>, no qual uma terceira pessoa imparcial e capacitada ─ escolhida ouaceita pelas partes ─ atua no sentido <strong>de</strong> encorajar e facilitar a resolução <strong>de</strong> umadisputa sem <strong>de</strong>terminar qual a solução. Por meio <strong>de</strong> um processo dialógico ecooperativo, a mediação <strong>de</strong> <strong>conflitos</strong> possibilita i<strong>de</strong>ntificar os interesses e asnecessida<strong>de</strong>s que jazem sob as posições adversárias, propiciando que sejamarticulados e negociados. Viabiliza preservar a relação positiva entre as pessoasenvolvidas na medida em que da mediação não surgirá um ganhador e umper<strong>de</strong>dor, mas um conjunto <strong>de</strong> ganhadores com suas necessida<strong>de</strong>s e interessesatendidos, com mútuos benefícios contemplados e com as responsabilida<strong>de</strong>s pelaautoria das soluções e por sua execução compartilhadas.A respeito da mediação, Juan Carlos Vezzulla (2004, p. 65) escreve:A gran<strong>de</strong> transformação do mundo oci<strong>de</strong>ntal a partir da Revolução Industrialtrouxe a aparição <strong>de</strong> <strong>conflitos</strong> que exigiam novas abordagens. Se até estemomento a imposição das <strong>de</strong>cisões governamentais e a or<strong>de</strong>m socialconseguiam-se pela ação repressiva, a nova configuração social e areivindicação dos direitos tornaram necessária a introdução da negociaçãopara evitar enfrentamentos <strong>de</strong> consequências imprevisíveis. (Vezzulla,2004, p. 65)O <strong>de</strong>senvolvimento do instituto da mediação se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> formaheterogênea em diferentes países, tendo encontrado, por conseguinte, variadasrespostas nos diversos contextos sociopolíticos. Na realida<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal,principalmente pós-revolução industrial, a negociação cooperativa, elementoformativo da mediação, foi reconhecido como um caminho alternativo à justiça41 A prática da mediação, em sua versão mo<strong>de</strong>rna, seguiu, inicialmente, os preceitos da negociaçãocooperativa focada no acordo, <strong>de</strong>senvolvida pela Escola <strong>de</strong> Harvard/EUA – Mediação satisfativa ─contribuições: posições/interesses: pessoas/problemas. Cabe ressaltar que o instituto da mediaçãoao longo dos anos sofreu influências <strong>de</strong> vários estudiosos e pesquisadores que contribuíram para o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas abordagens focadas na relação, o acordo <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser o objetivoprioritário; Mediação circular narrativa ─ contribuições: comunicação/técnicas e Mediaçãotransformativa ─ pessoas em condições <strong>de</strong> exercer a auto<strong>de</strong>terminação/reconhecimento.
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