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O ADOLESCENTE E A VIVÊNCIA DA PATERNIDADE: UMA ABORDAGEM FENOMENOLÓGICAOs adolescentes que participaram <strong>de</strong>ste estudo foramabordados no Ambulatório da FAIS/HSF, ao acompanhar<strong>em</strong> asadolescentes grávidas no Grupo <strong>de</strong> Adolescentes e na consultapré-natal. As entrevistas foram realizadas <strong>em</strong> local privado, livre<strong>de</strong> influências externas. Antes, porém, do processo <strong>de</strong>entrevista, procuramos aten<strong>de</strong>r às exigências do ConselhoNacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, respaldando-nos na Resolução 196/96,que trata <strong>de</strong> pesquisas envolvendo seres humanos. Apósapresentação sucinta da pesquisa, os sujeitos foramconvidados a participar do estudo, sendo informados sobre anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter o seu consentimento por escrito. Asentrevistas foram conduzidas com o uso do gravador, conformeaquiescência dos participantes.Com o intuito <strong>de</strong> preservar o sigilo das informações e oanonimato dos participantes do estudo, seus nomesverda<strong>de</strong>iros foram substituídos por pseudônimos, figurasmasculinas da mitologia grega.O critério utilizado para <strong>de</strong>finir os sujeitos <strong>de</strong>sse estudoconsistiu apenas no fato <strong>de</strong> ser adolescente do sexo masculinoe estar à espera do nascimento do filho, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>ter outros filhos, do seu estado civil, da escolarida<strong>de</strong> ou daida<strong>de</strong> gestacional da companheira.No estudo fenomenológico não existe um número <strong>de</strong> sujeitospré-<strong>de</strong>terminado; por esse motivo a <strong>de</strong>limitação da quantida<strong>de</strong><strong>de</strong> adolescentes ouvidos durante a realização <strong>de</strong>ste trabalhobaseou-se na repetição <strong>de</strong> conteúdos <strong>de</strong> seus relatos, ou seja,na saturação dos dados.Foram, então, entrevistados seis adolescentes, os quaisforam <strong>de</strong>nominados: Dionísio, Apolo, Ulisses, Hércules, Eros eSansão. Possuíam ida<strong>de</strong> entre 16 e 19 anos e eram solteiros.Quanto à escolarida<strong>de</strong> Dionísio e Eros possuíam ensinofundamental incompleto e os d<strong>em</strong>ais ensino médio incompleto,sendo que apenas Ulisses e Eros continuavam os estudos. Amaioria dos adolescentes exercia ativida<strong>de</strong> r<strong>em</strong>unerada, comopintor, moto-boy, auxiliar <strong>de</strong> escritório, ven<strong>de</strong>dor, enquantoApolo e Hércules estavam <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados. Todos aguardavamo nascimento do primeiro filho e suas companheiras eram todasadolescentes.Os <strong>de</strong>poimentos dos adolescentes foram transcritos, asunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significado grifadas e numeradas <strong>de</strong> acordo com aquestão norteadora. Com o enfoque no fenômeno situado,apreend<strong>em</strong>os as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significado para revelar seusverda<strong>de</strong>iros sentidos 9 . Dessa maneira, foram construídas, pormeio do conteúdo dos discursos, as seguintes unida<strong>de</strong>st<strong>em</strong>áticas: A espera do filho como uma experiência agradável;Amadurecendo com a paternida<strong>de</strong>; Assumindo a paternida<strong>de</strong>;A família como suporte necessário; Ambivalência<strong>de</strong> sentimentos.A CONSTRUÇÃO DOS RESULTADOSA espera do filho como uma experiência agradávelOs discursos revelam que os adolescentes perceb<strong>em</strong> agravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> sua companheira como uma experiência agradável,d<strong>em</strong>onstrando b<strong>em</strong>-estar e alegria por vivenciar<strong>em</strong> ess<strong>em</strong>omento <strong>de</strong> espera pelo nascimento do filho. Reconhec<strong>em</strong> quea gravi<strong>de</strong>z trouxe mudanças significativas para suas vidas,assim como para a vida <strong>de</strong> sua parceira, e revelam suasatisfação a partir da gravi<strong>de</strong>z.A satisfação d<strong>em</strong>onstrada pelos jovens pais foi referida aoacompanhar<strong>em</strong> suas parceiras às consultas <strong>de</strong> pré-natal e àsreuniões do Grupo <strong>de</strong> Adolescentes, sendo também, referida aconcretização do sonho <strong>de</strong> constituir uma família. A espera donascimento do filho fez com que os adolescentes adquiriss<strong>em</strong>responsabilida<strong>de</strong>; que tomass<strong>em</strong> <strong>de</strong>cisões, enfim, permitiu quetraçass<strong>em</strong> uma direção <strong>em</strong> meio às alterações e conflitos<strong>de</strong>correntes da adolescência.A compreensão <strong>de</strong>sses discursos nos coloca <strong>em</strong> confrontocom a idéia <strong>de</strong> que os adolescentes não <strong>de</strong>sejam a paternida<strong>de</strong>nessa fase <strong>de</strong> suas vidas. Como apontam Trinda<strong>de</strong> e Bruns 10 , apaternida<strong>de</strong> proporciona sentimentos <strong>de</strong> alegria, perda,responsabilida<strong>de</strong>, já que o cotidiano dos adolescentes éatravessado <strong>de</strong> modo súbito pelo nascimento <strong>de</strong> um filho.Nesta pesquisa, <strong>em</strong> que abordamos adolescentes aindaconvivendo com a espera e possibilida<strong>de</strong> do nascimento dofilho, a situação, pelo que perceb<strong>em</strong>os <strong>em</strong> suas falas, ébastante similar à citada pelas referidas autoras. A paternida<strong>de</strong>,nesta pesquisa, foi d<strong>em</strong>onstrada como um evento inesperadoe, pela felicida<strong>de</strong> e satisfação proporcionada, revelou ter sido<strong>de</strong>sejada como uma experiência capaz <strong>de</strong> impulsionarmudanças, criar perspectivas, e concretizar realizaçõesinternas.“...pra mim está sendo uma experiência muitoboa...” (Ulisses)“Mudou muito. Para melhor, estou muito feliz.”(Dionísio)“Ah, eu achei bom, porque, assim é o que eus<strong>em</strong>pre quis ter, um lar, uma família, um filho,constituir uma família, eu acho bom, me sinto b<strong>em</strong>fazendo isso... não achei tão difícil, assim ... acheilegal, suficiente.” (Sansão)No discurso <strong>de</strong> Sansão perceb<strong>em</strong>os que esse primeiromomento da experiência da paternida<strong>de</strong>, representado pela“gravi<strong>de</strong>z do casal”, trouxe a idéia <strong>de</strong> que não seria tão difícilenfrentar esse processo, e, <strong>de</strong>ssa forma, exercer o papel <strong>de</strong> pai.Esse <strong>de</strong>poimento caracteriza a idéia pré-concebida do jov<strong>em</strong>,84 - Rev. Min. Enf., 7(2):82-8, jul./<strong>de</strong>z., 2003


O ADOLESCENTE E A VIVÊNCIA DA PATERNIDADE: UMA ABORDAGEM FENOMENOLÓGICAcomo ser inserido <strong>em</strong> um contexto social, <strong>de</strong> que aadolescência não é o momento para se exercer a paternida<strong>de</strong>.O adolescente, <strong>de</strong> posse <strong>de</strong>ssa incapacida<strong>de</strong>, se consi<strong>de</strong>ra<strong>de</strong>spreparado para assumir o novo papel e, subitamente,quando se vê efetivamente exercendo a paternida<strong>de</strong>, já durantea gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> sua companheira, se <strong>de</strong>para, então, com umanova possibilida<strong>de</strong> 10 .Todavia, torna-se perceptível o comprometimento dosadolescentes com o presente, <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento dos processosfuturos <strong>de</strong>correntes da gravi<strong>de</strong>z nessa fase <strong>de</strong> suas vidas. Osadolescentes entrevistados, centrados <strong>em</strong> suas vivências dopresente, não prevê<strong>em</strong> as possíveis dificulda<strong>de</strong>sproporcionadas pela gravi<strong>de</strong>z na adolescência, principalmente,quando os dois parceiros se encontram nessa fase do<strong>de</strong>senvolvimento. As adolescentes grávidas, geralmente,abandonam os estudos durante a gravi<strong>de</strong>z e dificilmenteretornam ou consegu<strong>em</strong> se inserir posteriormente no mercado<strong>de</strong> trabalho. Já os jovens pais, preocupados <strong>em</strong> garantir um lare o sustento da nova família, <strong>de</strong>ixam, também, a escolaprecoc<strong>em</strong>ente. Muitos adolescentes não se dão conta doprejuízo <strong>de</strong>ssas perdas para suas vidas, já que gran<strong>de</strong> parte nãot<strong>em</strong> perspectivas profissionais concretas ou diferentes dasfunções que já exerc<strong>em</strong> <strong>em</strong> seus <strong>em</strong>pregos.A maioria dos adolescentes não reconhece, ou ignora o riscoda paternida<strong>de</strong> precoce, uma vez que o fenômeno é poucodifundido nas escolas, carecendo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s educativas epropagandas preventivas, se comparado à abordag<strong>em</strong> que édada ao risco da gravi<strong>de</strong>z na adolescência 7 . Os meninos, diante<strong>de</strong>ssa situação, <strong>de</strong>legam a responsabilida<strong>de</strong> da prevenção dagravi<strong>de</strong>z às meninas, esquecendo-se <strong>de</strong> que são altamentevulneráveis à paternida<strong>de</strong>, assim como às DST/AIDS.Amadurecendo com a paternida<strong>de</strong>Percebe-se, através dos discursos dos adolescentes, quehouve necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar<strong>em</strong> efetivas mudanças <strong>em</strong> seuscomportamentos; reajustes e readaptações para enfrentar<strong>em</strong> oprocesso da paternida<strong>de</strong>. Como eles próprios revelaram,tornou-se necessário adquirir maturida<strong>de</strong>, ter responsabilida<strong>de</strong>para assumir o novo papel. Estar<strong>em</strong> mais presentes na vida dacompanheira, <strong>de</strong>dicar<strong>em</strong>-se ao relacionamento e à gravi<strong>de</strong>z,ser<strong>em</strong> diferentes.“...eu estou me <strong>de</strong>dicando mais a muita coisa...”(Ulisses)“Ah, mudou muita coisa, mais responsabilida<strong>de</strong>, apessoa, o caráter, muda tudo, porque é totalmentediferente...É muita coisa que acontece, pra gente étotalmente diferente, e você muda, igual, é como daágua para o vinho.” (Hércules)Os adolescentes d<strong>em</strong>onstraram verda<strong>de</strong>irocomprometimento com suas companheiras e com o filho ao<strong>de</strong>sejar<strong>em</strong> se esforçar para manter o relacionamento. Apreocupação com a companheira, o apren<strong>de</strong>r a olhar para ooutro aparec<strong>em</strong> como características importantes nosdiscursos dos adolescentes entrevistados. A concretu<strong>de</strong> dagravi<strong>de</strong>z r<strong>em</strong>ete os rapazes a <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r<strong>em</strong> uma certa pausapara pensar no modo como experienciam o relacionamentoconsigo e com os outros 10 . A experiência da paternida<strong>de</strong>trouxe, então, para os jovens entrevistados, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>integrar à sua persolnalida<strong>de</strong> novos valores revelados a partir dapreocupação com o caráter, com a pessoa, com orelacionamento e o aprendizado. No âmbito <strong>de</strong>ssas alterações,po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que a vivência <strong>de</strong>sse momento contribuipara a aquisição da maturida<strong>de</strong>, uma vez que é nessa fase, aadolescência, que o indivíduo constrói sua verda<strong>de</strong>irai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>fine os fatores que influenciarão no caráter a serassumido durante toda a vida 11 .Ainda assim, o adolescente se confronta com exigências ecobranças internas quanto àquilo que ele próprio i<strong>de</strong>aliza comosendo priorida<strong>de</strong> para assumir o papel <strong>de</strong> pai.“...como diz, né, o que eu num era antes vou terque ser, vou ter que ser cabeça, hom<strong>em</strong>, sabe,tudo ao mesmo t<strong>em</strong>po...” (Ulisses)“Estou gostando <strong>de</strong> saber também uma coisa,sabe, igual meu pai não seguiu minha mãe e euestou vendo a importância que t<strong>em</strong>, sabe, <strong>de</strong> ummarido seguir a esposa <strong>de</strong>le, esses negócios,doença, qualquer coisa que estou, aí eu estougostando por isso...” (Ulisses)“...eu fiquei um pouco magoado, chateado, assim,às vezes, essa incompreensão da parte <strong>de</strong>la, mas<strong>de</strong>pois minha mãe conversou comigo, começou amostrar o outro lado da história, né? Porque, àsvezes, a gente olha só pra gente, num olhamos prapessoa também.” (Sansão)Assumindo a paternida<strong>de</strong>Os discursos mostram que, para os adolescentes, a vivênciada paternida<strong>de</strong> trouxe o compromisso com a companheira ecom o filho que irá nascer. O jov<strong>em</strong> pai se sente na obrigação<strong>de</strong> garantir o sustento e o futuro <strong>de</strong> sua nova família; ele assumea paternida<strong>de</strong>.Garcia, Pelá e Carvalho 6 <strong>de</strong>screveram a função do provedormasculino na visão das adolescentes, como sendo a pessoacapaz <strong>de</strong> ajudar na tarefa <strong>de</strong> proporcionar os aportes materiaisnecessários à criação do filho. Os discursos dos adolescentesrevelam nitidamente esta função como sendo priorida<strong>de</strong> <strong>em</strong>suas preocupações e necessida<strong>de</strong>s imediatas. Eles mencionamo trabalho e a moradia como sendo modificações prioritáriasnesse momento, assim como a união com a companheira, sejaatravés do casamento ou por ligação consensual.- Rev. Min. Enf., 7(2):82-8, jul./<strong>de</strong>z., 200385


O ADOLESCENTE E A VIVÊNCIA DA PATERNIDADE: UMA ABORDAGEM FENOMENOLÓGICAPara conseguir<strong>em</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar esse papel voltado para amanutenção financeira da nova família, o adolescente dribla arealida<strong>de</strong> tentando vencer as dificulda<strong>de</strong>s freqüent<strong>em</strong>enteencontradas nesse percurso.“...estou me dando ao máximo, toda consulta queela vai fazer, tudo que eu estou querendo fazer comela...” (Ulisses)“...estou pagando um lote, meu lote sai no final doano, enquanto isso eu vou morar, estou morando<strong>em</strong> casa, vou morar <strong>em</strong> casa com ela, meu pai <strong>em</strong>inha mãe falaram que a gente po<strong>de</strong> morar, tudoque precisar a gente vai mudar, sabe? Então, euestou me esforçando é nisso aí...” (Ulisses)“...eu vou casar agora, fazer tudo direitinho”(Hércules)“Ah, difícil, muito, principalmente, no meutrabalho...” (Apolo)A tão sonhada in<strong>de</strong>pendência, muitas vezes, é adiada, comoperceb<strong>em</strong>os no discurso <strong>de</strong> Eros, que informa ter sido precisomudar <strong>de</strong> planos juntamente com sua companheira para arcarcom os gastos referentes à gestação e aos preparativos parareceber o filho.“...porque nós tava planejando para casar daqui a 2anos, seria <strong>em</strong> 2004, e aí nós já estávamoscomeçando a juntar o dinheiro para começar aconstruir, aí tive que tirar o dinheiro para ajudar acomprar algumas coisas que precisasse...” (Eros)O adolescente percebe o quão difícil é ser adolescente,hom<strong>em</strong> e pai diante das novas situações que lhe sãoapresentadas, <strong>em</strong> consequência da gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> suacompanheira.“Você fica com aquilo na cabeça, nó agora vou terum filho! Vou ter que trabalhar, nó vou ter que fazerisso, vou ter que fazer aquilo...” (Hércules)“...importante é as coisas que a gente vai ter nofuturo, né, a educação, o meu filho, nossa, né, agente t<strong>em</strong> que investir na nossa educação,trabalhar. Eu tenho que trabalhar dobrado (riu).”(Ulisses)Neste discurso <strong>de</strong> Ulisses é d<strong>em</strong>onstrada, também, apreocupação com sua formação, a <strong>de</strong> sua companheira e <strong>de</strong>seu filho, o que d<strong>em</strong>onstra a visão dos jovens sobre aimportância da educação <strong>em</strong> suas vidas. No mesmo instante,porém, ele diz precisar “trabalhar dobrado” nesse momento,discurso que d<strong>em</strong>onstra como é difícil conciliar os estudos como trabalho, revelando, então, as exigências da realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> quevive esse adolescente.Nesta unida<strong>de</strong> t<strong>em</strong>ática perceb<strong>em</strong>os, ainda, as dificulda<strong>de</strong>sencontradas pelo menor <strong>em</strong> conseguir um <strong>em</strong>prego.“Gente <strong>de</strong> menor eles não dão <strong>em</strong>prego, fica maisdifícil, né. Agora você t<strong>em</strong> que trabalhar <strong>de</strong> dia, ouvocê ven<strong>de</strong>, igual eu sou pintor, tenho diploma <strong>de</strong>pintor, não é toda vez que t<strong>em</strong> serviço, um dia vocêt<strong>em</strong>, no outro você faz um pé, outro dia você t<strong>em</strong>dinheiro, outro você não t<strong>em</strong>, <strong>de</strong>sse jeito.” (Ulisses)Esta situação constitui mais um <strong>em</strong>pecilho para estes jovenspais. O probl<strong>em</strong>a é agravado quando consi<strong>de</strong>ramos que setrata <strong>de</strong> jovens que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> uma socieda<strong>de</strong> ainda<strong>de</strong>spreparada para acolher os adolescentes nessas condições,já que muitos <strong>de</strong>les realmente precisam conseguir recursosfinanceiros para manter<strong>em</strong> a nova família. Naturalmente, seriai<strong>de</strong>al que o indivíduo no período da adolescência estivessepreocupado com questões inerentes a essa fase. No entanto,como seres vulneráveis a diversos agravos, como a paternida<strong>de</strong>precoce, os adolescentes são verda<strong>de</strong>iramente surpreendidose obrigados a <strong>de</strong>sviar suas aspirações para esse novomomento <strong>de</strong> suas vidas.Aliada à adolescência, a paternida<strong>de</strong>, como perceb<strong>em</strong>os nos<strong>de</strong>poimentos dos adolescentes entrevistados, coloca essesjovens na posição <strong>de</strong> assumir<strong>em</strong> responsabilida<strong>de</strong>s querequer<strong>em</strong> a busca e a corrida contra os entraves cotidianos <strong>de</strong>nossa socieda<strong>de</strong>. A pouca ida<strong>de</strong>, a não conclusão dos estudose, conseqüent<strong>em</strong>ente, a falta <strong>de</strong> qualificação profissional sãofatores que, juntos, contribu<strong>em</strong> para o impasse vivenciadopelos adolescentes na condição <strong>de</strong> espera pelo nascimento dofilho. Assim, buscam ajuda <strong>de</strong> outras pessoas para enfrentaressa nova situação.A família como suporte necessárioOs discursos revelam que, com a concretização doinesperado, os adolescentes se encontram <strong>de</strong>spreparados paraassumir algumas tarefas, o que os leva a requerer <strong>de</strong> seusfamiliares condições para viver<strong>em</strong> com sua nova família.“Eu teria que arrumar fora, mas aí eu fico assim, pô,se eu não arrumar eu não vou dar conta e t<strong>em</strong> oapoio dos meus pais para eu estar fazendo o meupapel como pai.” (Apolo)“...estou pagando um lote, meu lote sai no final doano, enquanto isso eu vou morar, estou morando<strong>em</strong> casa, vou morar <strong>em</strong> casa com ela, meu pai <strong>em</strong>inha mãe falaram que a gente po<strong>de</strong> morar, tudoque precisar, a gente vai mudar, sabe. Então, euestou me esforçando é nisso aí...” (Ulisses)“...agora não é a mesma coisa <strong>de</strong> antes, que nós,que eu só vou casar quando… se eu morar lá nofundo, que eu não vou sair <strong>de</strong> perto da minha mãepor causa disso, n<strong>em</strong> ela quer sair <strong>de</strong> perto da mãe<strong>de</strong>la.” (Hércules)86 - Rev. Min. Enf., 7(2):82-8, jul./<strong>de</strong>z., 2003


O ADOLESCENTE E A VIVÊNCIA DA PATERNIDADE: UMA ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA“...mudou muito com relação a isso... e antes aminha mãe não me apoiava como ela me apóiaagora, agora não, você precisa trabalhar, vamosfazer isso, fazer aquilo..., e é isso. Hoje ela me ajudamais do que <strong>em</strong> antes, antes ela só apoiava.Quando eu saio <strong>de</strong> casa é que a preocupação émaior.” (Eros)O apoio da família aparece nos discursos direcionado aproporcionar condições <strong>de</strong> moradia e aportes financeiros. Nareferida fala <strong>de</strong> Apolo é relatado que, caso não conseguisse um<strong>em</strong>prego, precisaria do apoio <strong>de</strong> seus pais para estarcumprindo seu papel <strong>de</strong> pai, ou seja, na sua concepção, estarmantendo financeiramente a sobrevivência do filho.Já no discurso <strong>de</strong> Hércules é relatada a situação <strong>em</strong> quenenhum dos dois adolescentes, gestante e pai, quer se separarda mãe. Sendo assim, para Hércules, a solução seria ele e suamãe ir<strong>em</strong> morar junto à família da companheira, condiçãoimposta para se casar.Além do apoio financeiro da família, os jovens precisamtambém <strong>de</strong> incentivo, atenção e compreensão <strong>de</strong> seusfamiliares mais próximos. Os adolescentes necessitam <strong>de</strong>orientações <strong>de</strong> pessoas mais experientes, ou que os conheçamverda<strong>de</strong>iramente, como suas mães, para tomar<strong>em</strong> <strong>de</strong>cisõesnesse momento surpreen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> suas vidas.A família representa o refúgio, o apoio, a compreensão, aspessoas às quais esses jovens procuram. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sseapoio po<strong>de</strong> levar os adolescentes a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<strong>em</strong> ainda mais <strong>de</strong>seus familiares do que anteriormente à gestação, o que seconfronta com o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se tornar<strong>em</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e seesvaír<strong>em</strong> dos pais, comum durante a adolescência 12 .Por assim consi<strong>de</strong>rar, a vivência <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> umapoio, além do novo laço que o liga <strong>de</strong>finitivamente àcompanheira, po<strong>de</strong> favorecer reações conflituosas no íntimo<strong>de</strong>sses adolescentes, assim como proporcionar sentimentosambivalentes, já que o adolescente se encontra numa situação<strong>de</strong> escolha e <strong>de</strong> adaptação a novas situações que lhesão apresentadas.Ambivalência <strong>de</strong> sentimentosOs adolescentes, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que afirmam querercasar porque gostam da companheira e garant<strong>em</strong> não o estarfazendo por causa do filho, revelam que têm dúvidas se acompanheira é a mulher que quer<strong>em</strong> ter como esposa e paratoda a vida.“...estou casando porque eu gosto <strong>de</strong>la, não voucasar por causa do meu filho. Primeiramente, né,porque ela vai estar comigo o resto da minha vida.”(Ulisses)“Gosto <strong>de</strong>la pra caramba, mas num sei se é comela mesmo que eu vou querer ter, está enten<strong>de</strong>ndomeus pensamentos, sabe, b<strong>em</strong> que eu posso vir afazer isso, sabe. Então, tudo que eu tenho a fazer éestar do lado <strong>de</strong>la, caminhando junto com ela, pra<strong>de</strong>pois não <strong>de</strong>sistir, né?” (Ulisses)O adolescente Ulisses confirma o exercício da paternida<strong>de</strong>:se casar e continuar ao lado da companheira, mesmo tendosuas dúvidas e conflitos.“...pra mim está sendo uma experiência muito boa...não sei se eu vou conseguir suportar a pressão,que t<strong>em</strong> hora que eu vou te falar, viu (riu)... t<strong>em</strong> horaque dá vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sanimar, sabe, <strong>de</strong>sanimar porcausa da minha cabeça, porque eu estou novo,tenho 19 anos.” (Ulisses)Ainda que <strong>de</strong>screva a satisfação com a gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> suacompanheira, Ulisses relata que não sabe se irá continuar até ofim, <strong>de</strong>vido à pressão da companheira, da situação, b<strong>em</strong> comoà pouca ida<strong>de</strong> e imaturida<strong>de</strong>. Enquanto Hércules <strong>de</strong>fine que asituação da paternida<strong>de</strong> lhe causa medo inicialmente, talvez porsugerir responsabilida<strong>de</strong>s e possíveis dificulda<strong>de</strong>s, ao mesmot<strong>em</strong>po, afirma que a situação lhe proporciona corag<strong>em</strong> e forçapara ser vencida.“Às vezes, dá medo, né, no medo você tomacorag<strong>em</strong>. Aquilo no mesmo instante que é bom, éruim.” (Hércules)Já Sansão reafirma a vivência <strong>de</strong> momentos bons e ruins,alegrias e dificulda<strong>de</strong>s.“...foi bom e t<strong>em</strong> momentos ruins, né? Brigamos,separamos, <strong>de</strong>pois voltamos, agora está melhor, nofinal da gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong>la está melhor.” (Sansão)Portanto, é nesse jogo que os adolescentes pais se colocamentre o querer e o não querer ser pai, situações contraditórias àexistência humana, mas que se tornam evi<strong>de</strong>ntes diante domomento que vivenciam.Consi<strong>de</strong>rações FinaisA espera pelo nascimento do filho, quando ocorrida naadolescência, proporciona, como foi possível perceber a partirdos discursos dos adolescentes entrevistados, a satisfação e aalegria <strong>de</strong>sses jovens pais. A paternida<strong>de</strong> trouxe a possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> realizar<strong>em</strong> mudanças, traçar<strong>em</strong> uma direção <strong>em</strong> suas vidas,concretizar<strong>em</strong> o sonho <strong>de</strong> constituir família, se comportar<strong>em</strong>como homens adultos. Esse evento <strong>em</strong> suas vidas trouxe,também, a condição <strong>de</strong> adquirir<strong>em</strong> maturida<strong>de</strong>, através <strong>de</strong>ssanova experiência <strong>de</strong> vida que caracteriza a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisõese adaptação a novos papéis.Além <strong>de</strong> revelar<strong>em</strong> o comprometimento com a companheirae o filho, os adolescentes d<strong>em</strong>onstraram estar<strong>em</strong> se tornandoresponsáveis, assumindo, mesmo que <strong>em</strong> meio a tantasdificulda<strong>de</strong>s, suas novas obrigações. Para tanto, contam e- Rev. Min. Enf., 7(2):82-8, jul./<strong>de</strong>z., 200387


O ADOLESCENTE E A VIVÊNCIA DA PATERNIDADE: UMA ABORDAGEM FENOMENOLÓGICAnecessitam do apoio da família a fim <strong>de</strong> que consigam garantiros aportes materiais necessários à manutenção da nova famíliaque nasce <strong>de</strong>sse evento, como também, são auxiliados aenfrentar<strong>em</strong> a situação, s<strong>em</strong> com isso <strong>de</strong>sviar<strong>em</strong> odirecionamento <strong>de</strong> suas vidas.Percebe-se, conforme os <strong>de</strong>poimentos dos adolescentes,que a paternida<strong>de</strong> não t<strong>em</strong> sido um evento planejado, noentanto, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sejada e apreciada pelos jovenspais, quando se torna inevitável na adolescência. Convivendocom a oscilação <strong>de</strong> seus próprios sentimentos e <strong>de</strong>sejos, osadolescentes entrevistados revelaram as alegrias e dificulda<strong>de</strong>sque esse acontecimento proporciona.Portanto, os adolescentes do estudo apontaram para anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nos prepararmos, como profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,para acolher estes jovens pais. Assim como a importância <strong>de</strong>intervirmos na prevenção da paternida<strong>de</strong> na adolescência, jáque contribui sobr<strong>em</strong>aneira para o abandono da escola nessafaixa etária, visto que <strong>em</strong> muitos casos o adolescente é oprincipal responsável pelo sustento <strong>de</strong> sua nova família.Além disso, esta pesquisa nos coloca diante <strong>de</strong> a uma novarealida<strong>de</strong>, sugerindo maneiras alternativas <strong>de</strong> se trabalhar comos adolescentes, principalmente do sexo masculino, a respeito<strong>de</strong> suas responsabilida<strong>de</strong>s concernentes à prevençãoda gravi<strong>de</strong>z.SummaryThis is a qualitative phenomenological study which examines theexperience of being a father as lived by teenagers. It was carriedout at the Comprehensive Health Assistance Foundation of theSofia Feldman Hospital. The subjects were teenagers agedbetween 16 and 20, partners of pregnant girls who went for theirantenatal appointments. The data was collected through an openinterview, gui<strong>de</strong>d by a questionnaire. We report five th<strong>em</strong>esarising from the interviews: expecting the baby was a pleasantexperience; becoming more mature through pregnancy;becoming more responsible; taking on the role of father; family asa necessary support; ambivalent feelings. The results of this workhelp gui<strong>de</strong> assistance to teenage fathers.Keywords: Adolescent; Pregnancy in Adolescence; Paternity;ExistentialismResumenSe trata <strong>de</strong> un estudio cualitativo con enfoquefenomenológico que busca compren<strong>de</strong>r la experiencia <strong>de</strong> lapaternidad <strong>de</strong>l adolescente. Fue realizado en la Fundación<strong>de</strong> Asistencia Integral a la Salud – Hospital Sofia Feldman.Los sujetos eran adolescentes, compañeros <strong>de</strong> las<strong>em</strong>barazadas atendidas en el prenatal. Los datos secolectaron en entrevista abierta, con un cuestionario quesirvió <strong>de</strong> guía. Se i<strong>de</strong>ntificaron los aspectos esenciales <strong>de</strong> las<strong>de</strong>claraciones y se elaboraron cinco unida<strong>de</strong>s t<strong>em</strong>áticas: laespera <strong>de</strong>l hijo como una experiencia agradable; madurandocon la paternidad; asumiendo la paternidad; la familiacomo soporte necesario; ambivalencia <strong>de</strong> sentimientos. Losresultados obtenidos contribuyen a orientar la asistencia alpadre adolescente.Palabras clave: Adolescente; Embarazo en la Adolescencia;Paternidad; ExistencialismoReferências bibliográficas1. Gomes WB, Dias ACG. 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In: Bicudo MV, EspósitoVHC Organizadores. Pesquisa qualitativa <strong>em</strong> educação.Piracicaba, SP: Unimep; 1994. cap. 1, p. 15-22.10. Trinda<strong>de</strong> E, Bruns MAT. Adolescentes e paternida<strong>de</strong>: umestudo fenomenológico. Ribeirão Preto: Holos; 1999.11. Blos P. Adolescência: uma interpretação psicanalítica. 2ªed. São Paulo: Martins Fontes; 1998.12. Aberastury A et al. Adolescência. 5ª ed. Porto Alegre: ArtesMédicas; 1998.88 - Rev. Min. Enf., 7(2):82-8, jul./<strong>de</strong>z., 2003


CAUSAS DE LICENÇA PARA TRATAMENTO DE SAÚDE EM UM GRUPO DE TRABALHADORES DE CENTRAL DEMATERIAL ESTERILIZADO DE UM HOSPITAL DE BELO HORIZONTECAUSES OF LEAVE FOR HEALTH TREATMENT IN A GROUP OFWORKERS OF A MATERIAL STERILIZATION CENTER IN A BELOHORIZONTE OFFICECAUSAS DE LICENCIA DE SALUD DE UN GRUPO DEOBREROS DEL DEPARTAMENTO DE ESTERILIZACIÓNCENTRAL DE UN HOSPITAL DE BELO HORIZONTEA<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> De Mattia Rocha *Maria Cristina Silva**Tânia Couto Machado Chianca***RESUMOEste estudo teve como objetivo i<strong>de</strong>ntificar as causas <strong>de</strong> licenças para tratamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ocorridas <strong>em</strong> 6 meses, <strong>em</strong> trabalhadores da CME <strong>de</strong> umhospital <strong>de</strong> Belo Horizonte. A coleta <strong>de</strong> dados foi realizada através <strong>de</strong> questionário s<strong>em</strong>i-estruturado. l<strong>de</strong>ntíficou-se que 62,9% dos trabalhadoresentraram <strong>em</strong> licença-saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> 6 meses. 0 período mais frequente <strong>de</strong> licenças foi <strong>de</strong> 1 a 5 dias (69,2%). As alterações do sist<strong>em</strong>a músculo-esqueléticoligamentarrespon<strong>de</strong>ram por 36,3% dos períodos <strong>de</strong> licença, por 100% dos casos <strong>de</strong> licença por período in<strong>de</strong>terminado e por 25,5% do total <strong>de</strong> diascomputados <strong>de</strong> ausências ao serviço. As alterações obstétricas e ginecológicas representaram 9% dos períodos <strong>de</strong> licenças e 31,6% dos diascomputados <strong>de</strong>vido à licença maternida<strong>de</strong>. Os resultados mostraram as doenças do sist<strong>em</strong>a músculo-esquelético-ligam<strong>em</strong>ar como a mais importantecausa <strong>de</strong> licença para tratamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, tanto pelo número <strong>de</strong> ocorrências como pelo longo período <strong>de</strong> afastamento que acarretaram. Concluiu-seque a maioria das causas relatadas <strong>de</strong> licenças para tratamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong>riam ser prevenidas com controle periódico <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador ea adoção <strong>de</strong> medidas preventivas na organização do trabalho.Palavras-Chave: Licença Médica; Saú<strong>de</strong> Ocupacional; Serviço; Administração <strong>de</strong> Materiais no Hospital; EsterilizaçãoO absenteísmo é consi<strong>de</strong>rado um grave probl<strong>em</strong>anos serviços <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, <strong>de</strong>vido aos altos custosgerados pelas ausências e aos incalculáveis prejuízos àorganização diária do trabalho. Apesar disso, os estudossobre suas possíveis causas têm mostrado que oabsenteísmo é <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação multifatorial e po<strong>de</strong> estarrelacionado a doenças propriamente ditas, a condições <strong>de</strong>vida pessoal dos trabalhadores ou até mesmo à falta d<strong>em</strong>otivação para o trabalho 1 .Sobre as doenças que frequent<strong>em</strong>ente acomet<strong>em</strong> ostrabalhadores, sabe-se que, <strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s hospitalares, sãocomuns as Doenças Osteomusculares Relacionadas com oTrabalho – DORT, <strong>de</strong>terminadas pelo manuseio excessivo <strong>de</strong>cargas, movimentos repetitivos e adoção <strong>de</strong> posição corporalincômoda para a execução das tarefas 2 . Entretanto muitos<strong>de</strong>sses movimentos lesivos ao trabalhador, ou até mesmo amotivação para o trabalho, pod<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>terminados porfatores relacionados à organização do próprio trabalho, àscondições do local <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong>ficiências no treinamentodos trabalhadores para a execução das tarefas, que setraduz<strong>em</strong> <strong>em</strong> condições ergonômicas ina<strong>de</strong>quadas 2 .A ergonomia foi <strong>de</strong>finida pela Organização Internacional doTrabalho – OIT, <strong>em</strong> 1960, como “Aplicação das ciênciasbiológicas humanas <strong>em</strong> conjunto com os recursos e técnicas<strong>de</strong> engenharia para alcançar o ajustamento mútuo i<strong>de</strong>al entreo hom<strong>em</strong> e seu trabalho” 3 .A redação da Norma Regulamentadora NR-17 (Ergonomia)mostra uma modificação conceitual <strong>de</strong>stacando aimportância da “Adaptação das condições <strong>de</strong> trabalho àsnecessida<strong>de</strong>s psicofisiológicas dos trabalhadores, <strong>de</strong> modo aproporcionar um máximo <strong>de</strong> conforto, segurança e<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho eficiente” 4 .Nesse sentido, a Central <strong>de</strong> Material Esterilizado – CMEcaracteriza-se como uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> risco para o trabalhador<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, por incluir <strong>em</strong> suas funções tarefasrepetitivas e o manuseio <strong>de</strong> cargas.Na CME selecionada para este estudo, são comuns asausências <strong>de</strong> trabalhadores <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> ao serviço,geralmente motivadas por licenças para tratamento <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>. Tal fato t<strong>em</strong> preocupado as enfermeiras responsáveis* Enfermeira. Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Professora Adjunta da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong>Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais..** Enfermeira do Hospital das Clínicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> MinasGerais e da Santa Casa <strong>de</strong> Belo Horizonte.*** Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Professora Adjunta da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais.En<strong>de</strong>reço para correspondência:<strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais. Av. Prof.Alfredo Balena, 190 – sala 308. Belo Horizonte-MG. Fone (31) 32489852.Fax: (31) 32489853- Rev. Min. Enf., 7(2):89-92, jul./<strong>de</strong>z., 200389


CAUSAS DE LICENÇA PARA TRATAMENTO DE SAÚDE EM UM GRUPO DE TRABALHADORES DE CENTRAL DEMATERIAL ESTERILIZADO DE UM HOSPITAL DE BELO HORIZONTEpelo setor, pois se por um lado acontece acúmulo <strong>de</strong> serviçopara os que estão <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>, por outro não se têm dadosconfiáveis sobre os motivos que levaram esses trabalhadoresàs licenças, ou mesmo sobre a gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada situação<strong>em</strong> particular, ou se as licenças estão associadas a doençasrelacionadas com o trabalho.Apesar da dificulda<strong>de</strong> na i<strong>de</strong>ntificação das causas quelevam um trabalhador a se ausentar <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s, éindispensável que cada serviço <strong>de</strong>senvolva formas <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntificar os motivos das ausências e buscar estratégiaspara minorar tal probl<strong>em</strong>a, equilibrando os custos sociais eos resultados econômicos.OBJETIVOI<strong>de</strong>ntificar as causas <strong>de</strong> licenças para tratamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><strong>de</strong> trabalhadores da CME do hospital <strong>em</strong> estudo, ocorridas<strong>em</strong> um período <strong>de</strong> seis meses.METODOLOGIALocal do estudoCentral <strong>de</strong> Material Esterilizado <strong>de</strong> um hospital filantrópicoe conveniado ao Serviço Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> – SUS <strong>de</strong> BeloHorizonte, que se caracteriza por possuir 1200 leitos parainternação, bloco cirúrgico com 19 salas <strong>de</strong> cirurgia, umacentral <strong>de</strong> material esterilizado e 19 leitos <strong>de</strong> recuperaçãopós-anestésica.População/amostraForam consi<strong>de</strong>rados todos os trabalhadores lotados naCME para cumprir os objetivos <strong>de</strong>ste estudo, excluindo-se osenfermeiros, por executar<strong>em</strong> também tarefas <strong>de</strong>administração do setor 5 , os trabalhadores da limpeza dosetor 4 , a secretária 1 e um trabalhador que se recusou aparticipar do estudo.Participaram da amostra 62 trabalhadores entre auxiliarese aten<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e operadores <strong>de</strong> autoclaveda CME.Coleta <strong>de</strong> dadosUtilizou-se um formulário elaborado pelas pesquisadoras,no qual foram registrados dados sobre a ocorrência <strong>de</strong>licenças para tratamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> um períodoestabelecido <strong>de</strong> seis meses. Os dados foram coletadosdiretamente com o trabalhador e a participação no estudo foioptativa. Cabe ressaltar que um 1 trabalhador preferiu nãoparticipar e, por isso, foi excluído da pesquisa. Foramanalisadas variáveis referentes ao fato <strong>de</strong> ter havido licençapara tratamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> no período estudado, à presença<strong>de</strong> queixas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto no sist<strong>em</strong>a osteomuscular, àjornada <strong>de</strong> trabalho na CME, ao turno <strong>de</strong> trabalho, à ida<strong>de</strong> dotrabalhador, à data da admissão nesse hospital, ao períododa licença, à causa da licença segundo informação dotrabalhador, à presença <strong>de</strong> outro vínculo <strong>em</strong>pregatício, àexecução <strong>de</strong> serviços domésticos e ao hábito <strong>de</strong> realizarhoras extras no trabalho.Análise dos dadosUtilizou-se frequência simples e percentual noprocessamento e análise dos dados.RESULTADOS E DISCUSSÃOEntre os 62 trabalhadores que participaram da pesquisa,39 (62,9%) entraram <strong>em</strong> licença para tratamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> noperíodo do estudo (seis meses) e 23 (37%) não necessitaramlicença nesse período.Entre os 39 trabalhadores que tiraram licença <strong>em</strong> seismeses, obteve-se que 12 (30,7%) referiram doresosteoarticulares nos m<strong>em</strong>bros superiores, <strong>em</strong> locais eintensida<strong>de</strong>s variadas, e 27 negaram sentir dores. Desses 39trabalhadores, 13 afirmaram realizar hora-extra no serviço, 11referiram ter mais <strong>de</strong> um <strong>em</strong>prego e 21 faz<strong>em</strong> serviçosdomésticos regularmente além <strong>de</strong> trabalhar na CME.Consi<strong>de</strong>rando-se os 17 (27,4%) trabalhadores quenecessitaram <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um período <strong>de</strong> licença <strong>em</strong> seismeses, somam-se 110 períodos <strong>de</strong> licenças, totalizando 442dias incluindo-se um caso <strong>de</strong> licença maternida<strong>de</strong> por quatromeses (120 dias) e 5 casos <strong>em</strong> que houve dificulda<strong>de</strong> paraprecisar o total <strong>em</strong> dias por ser<strong>em</strong> licenças por períodoin<strong>de</strong>terminado. 0 período mais frequente <strong>de</strong> licenças foi <strong>de</strong> 1a 5 dias (69,2%).Quanto à jornada <strong>de</strong> trabalho dos trabalhadores queentraram <strong>em</strong> licença-saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> 6 meses, obteve-se que 24<strong>de</strong>les faz<strong>em</strong> turnos <strong>de</strong> 12/36 horas e 15 faz<strong>em</strong> turnos <strong>de</strong> seishoras, praticamente o dobro; entretanto t<strong>em</strong>-se que no total<strong>de</strong> trabalhadores, 24 cumpr<strong>em</strong> turno <strong>de</strong> 6h, e 37 trabalham<strong>em</strong> turnos <strong>de</strong> 12/36 horas, ou seja, a proporção praticamentese mantém, mostrando que não há diferenças <strong>em</strong> número <strong>de</strong>licenças para os dois turnos. Vinte e dois dos trabalhadoreslicenciados têm ida<strong>de</strong> entre 20 e 40 anos (56,4%), e 15trabalhadores têm ida<strong>de</strong> entre 41 e 60 anos (38,4%), o queevi<strong>de</strong>ncia que a ida<strong>de</strong> não significa, nesses casos, um<strong>de</strong>terminante para maior número <strong>de</strong> licenças. As causas daslicenças para tratamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, o número <strong>de</strong> licenças e operíodo <strong>de</strong> licença <strong>em</strong> dias encontram-se <strong>de</strong>scritos a seguir.90 - Rev. Min. Enf., 7(2):89-92, jul./<strong>de</strong>z., 2003


A CO-EXISTÊNCIA COM OS FAMILIARES DOS PACIENTES HOSPITALIZADOS: EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO NOSEU MUNDO-VIDA PROFISSIONAL*NURSES WORKING CLOSELY WITH THE FAMILIES OFHOSPITALIZED PATIENTS: THE EXPERIENCE OF NURSES INTHEIR PROFESSIONAL WORLD-LIFELA COEXISTENCIA CON LOS PARIENTES DE LOSPACIENTES INTERNADOS: EXPERIENCIA DEL ENFERMEROEN SU MUNDO-VIDA-PROFESIONALMaria Isabel Marques Pereira**Elizabeth Men<strong>de</strong>s das Graças***RESUMOO estudo buscou compreen<strong>de</strong>r “a experiência do enfermeiro com os familiares dos pacientes hospitalizados <strong>em</strong> seu mundo-vida-profissional”,utilizando-se como princípio os fundamentos da fenomenologia, segundo a pesquisa na modalida<strong>de</strong> do fenômeno situado. A investigação foi realizada<strong>em</strong> um hospital da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itajubá, situada <strong>em</strong> Minas Gerais. Utilizou-se para coleta <strong>de</strong> dados a seguinte questão norteadora: “Como é a suaexperiência com os familiares dos pacientes hospitalizados”? Com esta indagação, levantaram-se três categorias: “o mundo das relações enfermeiroe família”, “a família como co-responsável no processo <strong>de</strong> cuidar-<strong>de</strong>-ser” e “a família e as normas do mundo hospitalar”. Espera-se que este trabalhopossibilite a todos os interessados pelo assunto reflexões sobre a interação enfermeiro-família e sobre o resultado <strong>de</strong>ste relacionamento narecuperação do paciente.Palavras Chave: Relações Profissional-Família; Pacientes Internados; Existencialismo; Cuidados <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> - PsicologiaInteresse pelo t<strong>em</strong>aA doença e a hospitalização predispõ<strong>em</strong> os pacientesa momentos existenciais <strong>de</strong> intenso sofrimento. A sensação <strong>de</strong>abandono, o medo, a ansieda<strong>de</strong>, a fragilida<strong>de</strong> e mesmo asfantasias são alguns dos sentimentos comuns entre eles. Osfamiliares tanto po<strong>de</strong>rão contribuir para o processo <strong>de</strong>ressignificação <strong>de</strong>ssa fase <strong>de</strong> vida que a pessoa hospitalizadaestá vivenciando, como dificultá-lo. Quando b<strong>em</strong> orientados,juntamente com a equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, têm possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>atenuar-lhe a dor e ajudar a acelerar a sua cura. Além <strong>de</strong>colaborar com a terapêutica, confortam o pacientetransmitindo-lhe segurança, amor, otimismo e esperança. Casocontrário, po<strong>de</strong>rão trazer inúmeros transtornos que irão interferirnegativamente na recuperação da pessoa e na organização dosserviços da instituição.Ao pensar <strong>em</strong> toda essa responsabilida<strong>de</strong> da família e no“stress” que a hospitalização <strong>de</strong> um <strong>de</strong> seus m<strong>em</strong>bros v<strong>em</strong>causar-lhe, sentimos o quanto as nossas ações sãoimprescindíveis para ajudá-la a superar as dificulda<strong>de</strong>s queenfrenta nessas ocasiões.Perceb<strong>em</strong>os que, como nós, outros enfermeiros,sensibilizados com os probl<strong>em</strong>as dos familiares, procuramaten<strong>de</strong>r às suas expectativas e os orientam a fim <strong>de</strong> contar comsua participação no processo <strong>de</strong> cuidar. Tiv<strong>em</strong>os oportunida<strong>de</strong>,porém, <strong>de</strong> presenciar conflitos entre ambos e momentos <strong>em</strong>que eles eram consi<strong>de</strong>rados, pela equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,exigentes, autoritários e in<strong>de</strong>sejáveis no contexto hospitalar.A ambigüida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse relacionamento t<strong>em</strong> revertido <strong>em</strong>indagações a que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre conseguimos respon<strong>de</strong>r.Insatisfeitas, <strong>de</strong>cidimos enveredar pelos caminhos dainvestigação, na certeza <strong>de</strong> que ela trataria <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r àsnossas dúvidas. Procuramos então ouvir o enfermeiro, para* Dissertação (mestrado <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>) – <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da<strong>UFMG</strong>.** Enfermeira, Mestre <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> /<strong>UFMG</strong>; professora da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Wenceslau Braz <strong>de</strong>Itajubá / MG.*** Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>; docente da <strong>UFMG</strong>; orientadora do Programa<strong>de</strong> Pós-Graduação / <strong>UFMG</strong>>En<strong>de</strong>reço para correspondência:<strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Wenceslau Braz <strong>de</strong> ItajubáAv. Cesário Alvin, 566 – centroCEP. 37.500-000 Itajubá / MGe-mail: eewb@eewb.brFax: (35) 3622-1043- Rev. Min. Enf., 7(2):93-101, jul./<strong>de</strong>z., 200393


A CO-EXISTÊNCIA COM OS FAMILIARES DOS PACIENTES HOSPITALIZADOS: EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO NOSEU MUNDO-VIDA PROFISSIONALrealmente cumpr<strong>em</strong> a sua função, uma vez que são carinhosos,cuidadosos e preocupados como os parentes que seencontram enfermos.Quando tentam caracterizar os d<strong>em</strong>ais que não têm umaparticipação junto ao paciente conforme esperado, percebe-sea ve<strong>em</strong>ência com que se refer<strong>em</strong> a eles, listando váriasjustificativas para mostrar a maneira <strong>de</strong>scompromissada <strong>de</strong>tratar<strong>em</strong> as pessoas que lhes são próximas quandohospitalizadas. Nesses casos, <strong>de</strong> acordo com os <strong>de</strong>poimentos,os familiares costumam d<strong>em</strong>onstrar impaciência com osdoentes, <strong>de</strong>ixam-nos sozinhos no quarto e parec<strong>em</strong> estar nainstituição apenas por obrigação ou para provar<strong>em</strong> a todos e aeles mesmos que cumpr<strong>em</strong> o seu <strong>de</strong>ver na família e, assim,“tirar um peso da consciência”. Outros quer<strong>em</strong> se livrar dosafazeres domésticos e até se exibir<strong>em</strong> nos momentos <strong>em</strong> quese sent<strong>em</strong> com autonomia para <strong>de</strong>cidir sobre algo no contextohospitalar. Há também aqueles que procuram a enfermag<strong>em</strong>somente para saber<strong>em</strong> quando ocorrerá a alta do paciente.No relato <strong>de</strong> número quatro, o <strong>de</strong>poente mostra-se surpresocom o comportamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados familiares queparec<strong>em</strong> não saber as suas funções, pois permanec<strong>em</strong> naunida<strong>de</strong> somente para fiscalizar e reivindicar dos profissionais<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> aquilo que consi<strong>de</strong>ram certo e acham que <strong>de</strong>ve serseguido no tratamento. Se for para dificultar o trabalho daequipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>completa</strong> um dos enfermeiros, a presençados familiares no hospital torna-se <strong>de</strong>snecessária.Afirma não saber qual a real intenção dos acompanhantes.T<strong>em</strong> momentos que, indaga se eles não estão na unida<strong>de</strong>só para vigiar o que os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> faz<strong>em</strong> para opaciente. .(DISC. 4).Para ela, se for para atrapalhar, o acompanhante não énecessário (DISC. 1).Às vezes, são tão surpreen<strong>de</strong>ntes as atitu<strong>de</strong>s tomadas pelosfamiliares que levam os profissionais a questionar sobre suasexpectativas <strong>em</strong> relação a eles e acabam por reconhecer quealguns não têm capacida<strong>de</strong> para assumir o papel que <strong>de</strong>lesé esperado.No enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> um dos <strong>de</strong>poentes, a família <strong>de</strong>ve fazer parteda enfermag<strong>em</strong> e a enfermag<strong>em</strong> da família. Nesta trocaintersubjetiva, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que compreen<strong>de</strong> e ajuda opaciente, é possível cuidar <strong>de</strong> seus familiares no sentido <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> superar com mais facilida<strong>de</strong> as dificulda<strong>de</strong>s quevivenciam junto ao seu parente durante a hospitalização.(. .) acha que a família t<strong>em</strong> que fazer “parte da enfermag<strong>em</strong>”e a enfermag<strong>em</strong> “t<strong>em</strong> que fazer parte da família”. É precisoesta união para cuidar do paciente (DISC. 2).Acredita que fica mais fácil ajudar o paciente quando oenvolvimento com a família é maior (. .) Salienta o quanto éimportante a influência da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> junto aosfamiliares (DISC. 10).Ao intensificar a interação, amplia-se a troca <strong>de</strong> informaçõese a confiança entre o profissional e os familiares, o que po<strong>de</strong> seraproveitado por ele para incentivar mudanças significativas <strong>de</strong>promoção da saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> prol dos assistidos, ou seja, pacientese família.A leitura dos relatos reforça a idéia <strong>de</strong> que, não raro faz-senecessário <strong>de</strong>scobrir a história das gerações e as relações quepermeiam o contexto familiar. Só aproximando <strong>de</strong> seu espaçovivencial é que o enfermeiro vai conhecer como se dá ainteração na co-existência entre as pessoas <strong>de</strong> uma mesmafamília, os fatores predisponentes para certas enfermida<strong>de</strong>s e omodo como se cuidam no cotidiano. Po<strong>de</strong>-se dizer que aí estáuma fonte <strong>de</strong> saber essencial para conduzir as açõesda enfermag<strong>em</strong>.Alguns participantes da pesquisa <strong>de</strong>ixam evi<strong>de</strong>nte apreocupação <strong>em</strong> ouvir e tentar compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma <strong>em</strong>páticaos familiares, procurando ter com eles um encontroverda<strong>de</strong>iramente terapêutico.Observa que, ao ouvi-los, eles melhoram a sua ansieda<strong>de</strong><strong>em</strong> relação ao paciente. .(DISC. 6).Para ela é indiscutível o que sente quando se t<strong>em</strong> aoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajudar aqueles que a procuram paraconversar. (. .) Coloca-se no lugar do outro, todas as vezesque, no horário <strong>de</strong> visita, alguém v<strong>em</strong> perguntar-lhe sobre odoente. .(DISC. 10).Aqui cabe afirmar que, ao assumir a sua função, o enfermeirot<strong>em</strong> <strong>de</strong> se predispor a um envolvimento <strong>em</strong>pático com osfamiliares, recomenda-se todavia que haja uma <strong>em</strong>patiafundamentada na similitu<strong>de</strong> e não na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, conforme aleitura <strong>de</strong> Schutz. A sua proposta.“difere-se da <strong>de</strong>scrição <strong>em</strong>pática, pelo julgamento autoexplicativo,no qual a experiência vivenciada junto és<strong>em</strong>elhante, porque <strong>em</strong> princípio, ela é só s<strong>em</strong>elhante, masconserva um núcleo <strong>de</strong> diferença irredutível <strong>de</strong> mim para ooutro. O que caracteriza esta tentativa <strong>de</strong> compreensão é asimilitu<strong>de</strong> e não a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se pôr na pele do outro, daínão ser possível como fonte direta <strong>de</strong> conhecimento dooutro” 5 .O modo <strong>de</strong> aproximação fundamentada na compreensãopela i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> que o profissional toma o encargo do outroe sente como ele, acarreta-lhe <strong>de</strong>sgaste <strong>em</strong>ocional e afeta oseu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho na interação terapêutica.O relato abaixo retrata, com clareza, a dificulda<strong>de</strong> doenfermeiro ao entrar <strong>em</strong> contato como o sofrimento alheio jáque não consegue encontrar os limites que separam a suaexistência <strong>de</strong> outras pessoas. Ao tentar ajudá-las, envolve-se<strong>em</strong> uma espécie <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> projeção e assume comosendo suas, as dores que as acomet<strong>em</strong>.- Rev. Min. Enf., 7(2):93-101, jul./<strong>de</strong>z., 200395


A CO-EXISTÊNCIA COM OS FAMILIARES DOS PACIENTES HOSPITALIZADOS: EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO NOSEU MUNDO-VIDA PROFISSIONAL(. .) não gosta <strong>de</strong> envolver-se muito com os familiares,porque fica <strong>de</strong>primida e acaba por carregar os probl<strong>em</strong>asdas pessoas para casa. Segundo ela, isto não a impe<strong>de</strong> <strong>de</strong>estar s<strong>em</strong>pre ali, esclarecendo, apoiando e resolvendoalgum probl<strong>em</strong>a (DISC. 10).Do enfermeiro espera-se a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r osofrimento dos pacientes, mantendo um certo distanciamentoque lhe permita ajudá-los a se cuidar s<strong>em</strong> negligenciar ocuidado consigo mesmo. Espera-se que esteja atento para agircom a intenção <strong>de</strong> cuidar-cuidando-se. É pertinente reportar-sea Hei<strong>de</strong>gger 6 quando afirma que o cuidado é um fenômenoontológico-existencial básico. Existir é cuidar <strong>de</strong> ser. É umatarefa que todo hom<strong>em</strong> ao ser lançado no mundo t<strong>em</strong> quecumprir. Ele cuida <strong>de</strong> ser, cuidando <strong>de</strong> ser, cuidando dos entesque lhe faz<strong>em</strong> frente. O modo <strong>de</strong> cuidar do cuidar-<strong>de</strong>-ser é quelhe assegura o possível, o seu po<strong>de</strong>r-ser.Outra dificulda<strong>de</strong> mencionada por um dos profissionais norelacionamento com a família é <strong>de</strong> não conseguir se fazercompreen<strong>de</strong>r por ela, quando consi<strong>de</strong>ra ser aquilo que pensa omelhor para o paciente. L<strong>em</strong>bra que não compreen<strong>de</strong>ndo ascondutas do enfermeiro, a família, às vezes, chega a situaçõesextr<strong>em</strong>as, <strong>de</strong> procurar garantir na justiça os direitos queacredita ter quando algum <strong>de</strong> seus parentes está hospitalizado.(. .) Quando o paciente morreu, disseram que iriam lhebater. Foram reclamar à diretoria acusando-a <strong>de</strong> “maleducada” e <strong>de</strong> não lhes permitir entrar na unida<strong>de</strong>. Já achamaram duas vezes no Fórum por causa <strong>de</strong>stassituações (. .) (DISC. 1).De acordo com os comentários as dificulda<strong>de</strong>s tambémacontec<strong>em</strong> no domicílio on<strong>de</strong> se prolonga o acompanhamentodo profissional na recuperação do paciente. A não aceitação doenfermeiro pelos familiares apresenta-se como barreira que oimpe<strong>de</strong> <strong>de</strong> se reconhecer <strong>em</strong> sua função e <strong>de</strong> exercê-la, s<strong>em</strong> sesentir mero invasor do mundo-vida-familiar.Não obstante, os <strong>de</strong>sencontros da relação enfermeiro-famíliaafastam a possibilida<strong>de</strong>, não só <strong>de</strong> unir<strong>em</strong>-se <strong>em</strong> busca daquiloque é melhor para o paciente, como se <strong>de</strong>scobrir<strong>em</strong> pelasolidarieda<strong>de</strong>, tão essencial àqueles que vivenciam a situação<strong>de</strong> doença <strong>de</strong> um parente.A família como co-responsável no processo <strong>de</strong> cuidar-<strong>de</strong>serO contato dos enfermeiros com as famílias dos pacientes, noseu mundo-vida-profissional, é muito freqüente.Inicialmente, elas manifestam o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> conversar como osmédicos, a fim <strong>de</strong> saber<strong>em</strong> sobre os exames e a terapêuticaque será dispensada aos parentes. Quase s<strong>em</strong>pre, porém,recorr<strong>em</strong> aos enfermeiros com as mesmas dúvidas, peloslimites que têm para compreen<strong>de</strong>r a linguag<strong>em</strong> técnica usadapor esses profissionais.Comenta que é comum o médico orientar as famílias e elasvêm procurá-la porque não compreend<strong>em</strong> o que foi dito.(. .) também por saber<strong>em</strong> que é a enfermag<strong>em</strong> qu<strong>em</strong> ficamais t<strong>em</strong>po ao lado do paciente (DISC. 6).A linguag<strong>em</strong> adotada pelos enfermeiros ao se comunicar<strong>em</strong>com os familiares revela-se, portanto, como um fator essencialna interação entre ambos e, certamente, trazendoconseqüências favoráveis para o paciente.Assim sendo, certos enfermeiros perceb<strong>em</strong>-se como fonte<strong>de</strong> referência para as famílias quando estas quer<strong>em</strong> se informarsobre o estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e o tratamento <strong>de</strong> seus parentes, umavez que interag<strong>em</strong> <strong>de</strong> maneira clara, simples, respeitando onível cultural da cada pessoa que a eles recorr<strong>em</strong>. De acordocom um <strong>de</strong>poente, as famílias d<strong>em</strong>onstram encontrar na suaequipe a segurança que procuram, além do fato <strong>de</strong> ter<strong>em</strong>“vergonha” e medo <strong>de</strong> abordar o médico para obter qualqueresclarecimento <strong>de</strong> que necessitam. A comunicação mostra-seaqui como espaço aberto <strong>em</strong> que o enfermeiro, <strong>de</strong>vido às suashabilida<strong>de</strong>s, v<strong>em</strong> atuando expressivamente como educador.Consi<strong>de</strong>ra que a família enten<strong>de</strong> mais o vocabulário daequipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> do que do médico. Comenta que,<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> receber<strong>em</strong> orientações médicas, as famílias vêmprocurá-la, pois não compreend<strong>em</strong> o que lhes foi dito(. .)(DISC.6).Nela procura a segurança que muitas vezes não encontrano médico, até porque t<strong>em</strong> medo <strong>de</strong> abordá-lo (DISC. 2).A função <strong>de</strong> estar-com a família, sobretudo orientando-aquanto ao modo <strong>de</strong> ajudar o paciente, é reconhecida pelosenfermeiros como importante e ampla <strong>em</strong> relação aos aspectosa ser<strong>em</strong> abordados. Vão <strong>de</strong> simples informações sobre a rotinada instituição às orientações referentes à doença e aoscuidados, inclusive àqueles a ser<strong>em</strong> executados após a altahospitalar, quando não mais contar<strong>em</strong> com a ajuda direta dosprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Apesar <strong>de</strong> enfatizar<strong>em</strong> a importância do diálogo na açãohumana do cuidar, os enfermeiros confessam que, <strong>em</strong> algumassituações, faltam-lhes condições para orientar ou informar asfamílias a respeito dos pacientes. Isto porque osesclarecimentos que buscam pod<strong>em</strong> estar fora do âmbito <strong>de</strong>sua atuação profissional ou pela própria incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>lidar<strong>em</strong> com certos assuntos, como aqueles referentes à morte.A enfermag<strong>em</strong>, muitas vezes, fica impossibilitada <strong>de</strong> ajudaras famílias porque não t<strong>em</strong> acesso a certos exames.(DISC. 10).Em se tratando <strong>de</strong> algo relacionado à morte, a equipe t<strong>em</strong>muita dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar com os familiares, visto que cadaum reage <strong>de</strong> um jeito. .(DISC. 6).Fica claro, <strong>em</strong> um dos <strong>de</strong>poimentos, que ainda é um tabupara a enfermag<strong>em</strong> falar acerca da morte com as famílias. O96 - Rev. Min. Enf., 7(2):93-101, jul./<strong>de</strong>z., 2003


A CO-EXISTÊNCIA COM OS FAMILIARES DOS PACIENTES HOSPITALIZADOS: EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO NOSEU MUNDO-VIDA PROFISSIONAL<strong>de</strong>sabafo do enfermeiro traz à tona uma ativida<strong>de</strong> inerente a suaprofissão para a qual não se encontra preparado, pois, comoqualquer ser humano, t<strong>em</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitar a morte comouma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu vir-a-ser.Apesar <strong>de</strong> todos os conhecimentos adquiridos até hoje, elaainda não se tornou um evento digno, o morrer continua para ohom<strong>em</strong> um assunto probl<strong>em</strong>ático e difícil <strong>de</strong> se lidar. O que nãofoge à regra quando se trata do ser-enfermeiro e dos outroscomponentes <strong>de</strong> sua equipe.O número excessivo <strong>de</strong> familiares a ser<strong>em</strong> atendidos nasunida<strong>de</strong>s, a falta <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po para se <strong>de</strong>dicar<strong>em</strong> a eles e o curtoperíodo <strong>em</strong> que pod<strong>em</strong> ficar juntos durante as visitas sãol<strong>em</strong>brados como dificultadores quando se t<strong>em</strong> como intençãoajudá-los. Um enfermeiro assegura que, na unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stinadaaos pacientes particulares, porém, esta situação é diferente.Não só porque a família é mais exigente <strong>em</strong> relação ao direito<strong>de</strong> receber atenção por parte dos profissionais, como tambémé favorecida pela própria instituição, na medida <strong>em</strong> que aorganização <strong>de</strong>ste setor t<strong>em</strong> como propósito umadisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> servidores <strong>de</strong> modo a fazer com que ocuidado ali seja diferenciado. Os <strong>de</strong>poimentos apresentadosdão test<strong>em</strong>unho dos probl<strong>em</strong>as enfrentados pelos enfermeirose a estratificação social que traduz a diferença no ato <strong>de</strong> cuidardos pacientes e <strong>de</strong> suas famílias <strong>de</strong>ntro da própria instituição.Na clínica médica a equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> permaneciamais distante das famílias, <strong>de</strong>vido ser<strong>em</strong> muitas, <strong>em</strong> razãodo gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pacientes (DISC. 6).A família costuma ficar <strong>em</strong> segundo plano (. .). No andar<strong>de</strong>stinado aos pacientes particulares é on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>-seprestar uma assistência melhor a ela, não por causa domenor número <strong>de</strong> internos, mas pela exigência dos própriosfamiliares (DISC. 10).No que diz respeito à falta <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, é oportuno reforçar que,na realida<strong>de</strong>, t<strong>em</strong>-se conhecimento <strong>de</strong> que os enfermeiros seencontram presos ao processo organizacional da instituição e,com isso, ficam impossibilitados para se <strong>de</strong>dicar<strong>em</strong> como<strong>de</strong>veriam à comunicação e ao atendimento das famílias.Ainda referindo-se à comunicação, alguns participantesfaz<strong>em</strong> questão <strong>de</strong> dizer que as orientações dispensadas acertas famílias não surt<strong>em</strong> efeito. Elas não dão importância àsinformações que lhes permitiriam colaborar na recuperação dopaciente e n<strong>em</strong> àquelas referentes aos compromissos que têmcom as normas hospitalares.A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inteirar-se da legislação que direciona aprática da profissão é mencionada <strong>em</strong> um dos discursos. Neleo <strong>de</strong>poente salienta que os enfermeiros precisam se precavercontra possíveis <strong>de</strong>núncias originadas <strong>de</strong> falhas dacomunicação no contexto hospitalar.As unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significado a seguir vêm alertar para asresponsabilida<strong>de</strong>s e limites <strong>de</strong>ssa comunicação.Para ela, é necessário saber conversar com certas famílias,porque, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do estado <strong>em</strong>ocional <strong>em</strong> que seencontram, elas procuram os jornais com intenção <strong>de</strong><strong>de</strong>nunciar os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (DISC. 1).Acha que o enfermeiro <strong>de</strong>ve conhecer a parte ética e alegislação, para saber que a sua interação junto ao pacientee a comunicação com a família têm limites (. .). Não po<strong>de</strong>fornecer informações s<strong>em</strong> certeza, pois t<strong>em</strong>responsabilida<strong>de</strong> sobre aquilo que fala(. .) (DISC.9).A comunicação precisa ser cuidadosa no sentido <strong>de</strong> protegero profissional contra prováveis inci<strong>de</strong>ntes. Ele <strong>de</strong>ve estar ciente<strong>de</strong> que esta ativida<strong>de</strong>, como qualquer outra, po<strong>de</strong> trazerbenefícios ou riscos ao paciente e à sua família.A troca <strong>de</strong> informações <strong>de</strong>ntro do hospital não se processasomente na co-existência enfermeiro-família; esten<strong>de</strong>-setambém entre os familiares dos d<strong>em</strong>ais pacientes. Aocompartilhar<strong>em</strong> suas experiências repassam boatos e formamopiniões que, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre, conforme um dos enfermeiros,correspond<strong>em</strong> à verda<strong>de</strong> <strong>em</strong> se consi<strong>de</strong>rando a doença ou otratamento dos pacientes. Nesses casos, ao procurar oprofissional, os familiares não têm como preocupação obteresclarecimento, mas fazer cobranças quanto às suas ações.(. .) as famílias comunicam entre si <strong>de</strong>ntro do hospital etomam como referência informações cruzadas quereceb<strong>em</strong> o que por vezes <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> retratar a verda<strong>de</strong>.Quando vêm conversar com o enfermeiro, não é parareceber informações do paciente, e sim para fazercobranças (DISC. 9).Fica evi<strong>de</strong>nte, nessa fala, que acontece <strong>de</strong> as dúvidas nãoser<strong>em</strong> dissipadas pelos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como <strong>de</strong>veriam.Os familiares, então, buscam esclarecê-las com pessoas quenão têm condições <strong>de</strong> ajudá-los e que costumam <strong>de</strong>turpar arealida<strong>de</strong> dos fatos.Continuando o relato das diversas experiências com asfamílias no mundo-vida-profissional, os enfermeiros alud<strong>em</strong> aoscomportamentos diferenciados que normalmente apresentam<strong>em</strong> relação ao tratamento do paciente. Algumas favorec<strong>em</strong> asua recuperação colaborando bastante com o trabalho daenfermag<strong>em</strong>, outros se distanciam, não mostrando interessepor ele.Apesar <strong>de</strong> certas famílias colaborar<strong>em</strong> muito, a maioria dosacompanhantes não ajudam (. .), o paciente fica mesmo ésozinho (DISC. 4).Conta que t<strong>em</strong> experiências boas com <strong>de</strong>terminadasfamílias, com outras n<strong>em</strong> tanto, pois elas não ajudam notratamento (DISC. 5).Em situações s<strong>em</strong>elhantes, uma família po<strong>de</strong> cuidar melhor<strong>de</strong> seus parentes e ter um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mais equilibradodo que outras. Só as famílias verda<strong>de</strong>iramente saudáveis, que- Rev. Min. Enf., 7(2):93-101, jul./<strong>de</strong>z., 200397


A CO-EXISTÊNCIA COM OS FAMILIARES DOS PACIENTES HOSPITALIZADOS: EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO NOSEU MUNDO-VIDA PROFISSIONALapóiam os seus m<strong>em</strong>bros e são flexíveis às mudanças no seucontexto, têm condições <strong>de</strong> ajudar os parentes que adoec<strong>em</strong> amanter<strong>em</strong>-se no tratamento, facilitando sua reabilitação e/ou recuperação 2 .Entre os acompanhantes que colaboram com o tratamentodos pacientes, foram l<strong>em</strong>brados aqueles que <strong>de</strong>dicam a elesapoio e carinho, além <strong>de</strong> participar<strong>em</strong> dos cuidados que lhessão prestados. Embora tendo um envolvimento efetivo narecuperação da pessoa hospitalizada, procuram não intervir notrabalho da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e n<strong>em</strong> na organizaçãodo serviço.(. .)Faziam <strong>de</strong> tudo. Preocupavam-se, no entanto, <strong>em</strong> nãointerferir no seu trabalho. Queriam o melhor para o paciente,tanto no aspecto físico como no espiritual(DISC.2).Exist<strong>em</strong> familiares que cooperam bastante (. .) Somenteprocuram a enfermag<strong>em</strong> quando não têm, realmente,condições <strong>de</strong> ajudar o paciente sozinhos (DISC. 3).(. .) existe família que ajuda bastante a enfermag<strong>em</strong>; fica ot<strong>em</strong>po todo perto do paciente, cuida <strong>de</strong>le com carinho esolicita a enfermeira apenas para aquilo que não t<strong>em</strong>condições <strong>de</strong> fazer (DISC. 7).Os discursos retratam a interação e o modo <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong>núcleos familiares on<strong>de</strong> o afeto, a solidarieda<strong>de</strong> e a união estãopresentes quando ocorre a hospitalização <strong>de</strong> um <strong>de</strong> seusm<strong>em</strong>bros. Dessas famílias é possível esperar não uma simplesintervenção, mas uma intervenção <strong>em</strong> comunhão.Muitas vezes, entretanto, a participação da família notratamento traz transtornos para a equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, aocontrário do que se t<strong>em</strong> como expectativa.Outras famílias, porém, chegam a dificultar o tratamento porinsegurança ou medo <strong>de</strong> que ele não dê certo (. .) São“hiperprotetores”, não entend<strong>em</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>terminados procedimentos e acabam por interferir notrabalho da enfermag<strong>em</strong>(DISC. 5).Pensa, porém, que muitas vezes ela “atrapalha mais do queajuda”(DISC. 7).Como foi referido anteriormente, algumas famílias nãocompartilham com seus parentes as dificulda<strong>de</strong>s queexperienciam nas situações <strong>de</strong> doença, mesmo estando eles<strong>em</strong> fase terminal. Não entend<strong>em</strong> certos pedidos da equipe epassam longos períodos s<strong>em</strong> procurar notícias ou s<strong>em</strong> visitá-losno hospital. Após internar<strong>em</strong> o paciente, muitas famílias sóretornam no momento da sua alta e quando ocorr<strong>em</strong> óbitoschegam a causar transtornos ao serviço pela dificulda<strong>de</strong> que set<strong>em</strong> para localizá-los.Várias famílias não participam da doença <strong>de</strong> seus parentes,<strong>em</strong>bora tenham autorização para permanecer na unida<strong>de</strong>.Ficam até um mês s<strong>em</strong> procurar notícias <strong>de</strong>les. Há casos,<strong>em</strong> que os familiares não aceitam ficar junto com o paciente,mesmo quando está <strong>em</strong> fase terminal. E se ele falece, aenfermeira t<strong>em</strong> dificulda<strong>de</strong> para localizá-los (DISC. 1).Muitas famílias, <strong>de</strong>ixam o doente no hospital e só vêmbusca-lo na hora da alta (DISC. 2).Durante o acompanhamento dos cuidados no domicílio, asdificulda<strong>de</strong>s encontradas pelos enfermeiros parec<strong>em</strong> maiores.Os pacientes não receb<strong>em</strong> nenhuma atenção dos familiaresque, às vezes, mostram-se cansados do compromisso <strong>de</strong>ter<strong>em</strong> <strong>de</strong> ajudá-los. Perceb<strong>em</strong> que eles não se interessam pelotratamento, <strong>de</strong>ixando toda a responsabilida<strong>de</strong> para osprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, o que dificulta o trabalho da equipe.Os discursos não <strong>de</strong>ixam dúvidas <strong>de</strong> que as famílias estãos<strong>em</strong>pre avaliando o tratamento dispensado pela equipe <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> aos seus parentes hospitalizados. Apesar <strong>de</strong> aenfermag<strong>em</strong> fazer tudo que lhe compete para a recuperação dapessoa que está doente, algumas se revelam insatisfeitas e nãoreconhec<strong>em</strong> o esforço <strong>em</strong>penhado pela equipe. Chegammesmo a pensar que os profissionais executam osprocedimentos s<strong>em</strong> se importar<strong>em</strong> com o sofrimento <strong>de</strong> qu<strong>em</strong>estão cuidando. É normal pedir<strong>em</strong> explicações por qualquermotivo e acusá-los quando algo <strong>de</strong> errado acontece com opaciente. Em <strong>de</strong>terminadas situações são incapazes <strong>de</strong>compreen<strong>de</strong>r as ações por eles executadas e exageram aoreivindicar os seus direitos no contexto hospitalar.Outras famílias, porém, mostram-se confiantes no trabalhodos profissionais <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e agra<strong>de</strong>cidas pelo seu<strong>em</strong>penho na recuperação do paciente. Reconhec<strong>em</strong> apreocupação com que atuam para atendê-lo <strong>de</strong> maneira“humanizada”, e chegam a comparar o comportamento zelosodos m<strong>em</strong>bros da equipe com o da própria família.A família e as normas do mundo hospitalarEm relação às normas hospitalares, os enfermeiros admit<strong>em</strong>que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre é possível seguí-las. Costumam analisar cadacaso e verificar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se fazer ou não concessõesque, <strong>em</strong> geral, estão ligadas às visitas ou à permanência dafamília ao lado do paciente. As autorizações ocorr<strong>em</strong> comfreqüência, principalmente, se perceb<strong>em</strong> que isto trará b<strong>em</strong>estara ele e benefícios para a sua recuperação.(. .) exist<strong>em</strong> famílias para as quais a enfermag<strong>em</strong> abreexceções às normas da instituição, porque sabe que elasvão ajudar o paciente (DISC. 4).É comum liberar a visita da família fora dos horáriosestabelecidos pela instituição (DISC. 9).Percebe-se, no entanto, que, apesar <strong>de</strong> os profissionaisexpressar<strong>em</strong> a disposição <strong>de</strong> abrir mão das regras <strong>em</strong> relaçãoà permanência <strong>de</strong> acompanhantes junto ao paciente, n<strong>em</strong> ele en<strong>em</strong> a sua família participam <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>cisão. É uma opçãotomada pelo enfermeiro. Alguns parec<strong>em</strong> i<strong>de</strong>ntificar na98 - Rev. Min. Enf., 7(2):93-101, jul./<strong>de</strong>z., 2003


A CO-EXISTÊNCIA COM OS FAMILIARES DOS PACIENTES HOSPITALIZADOS: EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO NOSEU MUNDO-VIDA PROFISSIONAL<strong>de</strong>pendência física o único referencial que <strong>de</strong>termina a carênciado paciente <strong>em</strong> ter a sua família por perto.(. .) se a pessoa apesar <strong>de</strong> idosa é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e nãoapresenta nenhuma dificulda<strong>de</strong> ou alteração daconsciência, não justifica a presença do acompanhante nohospital (DISC. 5).Só permite acompanhante quando realmente é necessário.Ex<strong>em</strong>plifica citando o caso <strong>de</strong> um paciente “velhinho econfuso” internado na unida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que trabalha (DISC.4).Além da evidência <strong>de</strong> que esses enfermeiros centram o olharsomente no corpo físico, as <strong>de</strong>clarações nos permit<strong>em</strong> acreditarque, ao <strong>de</strong>cidir por avaliar a priorida<strong>de</strong> do paciente sob esseaspecto, teriam também como intenção, a ajuda doacompanhante durante os cuidados que lhe serão prestados,minimizando, assim, o trabalho <strong>de</strong> sua equipe.É interessante ressaltar que, após <strong>de</strong>cidir pelas concessões,certos enfermeiros estabelec<strong>em</strong> critérios para a escolha dosacompanhantes. Em dois discursos são reveladas as condiçõesconsi<strong>de</strong>radas por eles essenciais àqueles que po<strong>de</strong>rão ficar aolado do paciente. Precisam assumir o compromisso <strong>de</strong>permanecer<strong>em</strong> apenas <strong>de</strong>ntro da enfermaria on<strong>de</strong> está oparente hospitalizado, d<strong>em</strong>onstrar amor por ele, b<strong>em</strong> comodisposição <strong>de</strong> ajudar nos cuidados.Nós, enfermeiros, t<strong>em</strong>os que saber “controlar” os familiarese reconhecer qu<strong>em</strong> consegue cuidar do paciente com amor(DISC. 1).(. .) Tenta selecionar acompanhantes que têm condições <strong>de</strong>“ajudar”, <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> algumas ativida<strong>de</strong>s s<strong>em</strong>comprometer o tratamento dos pacientes. Fala <strong>de</strong> ant<strong>em</strong>ãopara a família que <strong>de</strong>ve ser uma pessoa disposta a ajudarnos cuidados e que permaneça somente <strong>de</strong>ntro do quarto(DISC. 5).Pelo que foi exposto, fica claramente <strong>de</strong>clarado que apreocupação <strong>de</strong> manter um acompanhante teria entre ospropósitos a recompensa <strong>de</strong> se ter ajuda nos cuidadostécnicos, consi<strong>de</strong>rando, inclusive, a priorização dos internoscom <strong>de</strong>pendência física, conduta, como foi visto, adotada poralguns <strong>de</strong>poentes.Mesmo reconhecendo que o relacionamento com osacompanhantes não é o melhor que se espera, um dosenfermeiros confessa permitir que a família permaneça naunida<strong>de</strong> e aju<strong>de</strong> nos cuidados, pela escassez <strong>de</strong> funcionários<strong>em</strong> sua equipe, justificando, <strong>de</strong>sta forma a intenção que estavasubjacente <strong>em</strong> vários relatos.. .Em algumas situações até “abre mão” das normas porquesabe que os familiares vão ajudar o paciente (DISC. 4).Deixa a família ajudar, porque t<strong>em</strong> poucos funcionários(DISC. 7).Aqui cabe salientar que, <strong>em</strong>bora não <strong>de</strong>va ser este o critériopara concessões <strong>de</strong> permanência dos acompanhantes nasunida<strong>de</strong>s hospitalares, a carência <strong>de</strong> recursos parece exercerforte influência ao se fazer esta opção.Afora os <strong>de</strong>poimentos que tratam das concessões ligadas àsnormas, um dos enfermeiros manifesta a sua insatisfação dianteda insistência freqüente dos familiares <strong>em</strong> permanecer<strong>em</strong> nosetor nos horários não permitidos, <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cendo às<strong>de</strong>terminações ali existentes.S<strong>em</strong>pre que chega ao hospital, encontra, junto aospacientes, familiares s<strong>em</strong> autorização para entrar<strong>em</strong> nainstituição fora do horário <strong>de</strong> visitas. Já levou até aoconhecimento da administração, pois acaba tendo queautorizar a permanência <strong>de</strong>les na unida<strong>de</strong>. Geralmenteinsist<strong>em</strong> para ficar no setor fora do período permitido. Estasituação foi discutida <strong>em</strong> reunião e o probl<strong>em</strong>a entretantocontinua (DISC. 7).Apesar <strong>de</strong> orientados, alguns acompanhantes <strong>de</strong>ixam ospacientes sozinhos e ficam perambulando pelos quartos,conversando, fazendo intrigas, chegando a interferir notratamento <strong>de</strong> outros pacientes.Estes acompanhantes traz<strong>em</strong> transtornos para a organizaçãodos serviços, sendo motivo <strong>de</strong> reclamações não apenas dosprofissionais, como <strong>de</strong> outros internos do setor.(. .) os familiares causam transtornos. Mesmo sendoorientados, não segu<strong>em</strong> as normas da unida<strong>de</strong>. Ao invés <strong>de</strong>ficar<strong>em</strong> perto dos seus doentes, vão para os outrosquartos, mex<strong>em</strong> no “soro”, faz<strong>em</strong> “futrico” <strong>de</strong> pacientes eda enfermag<strong>em</strong>. Certos acompanhantes são motivo <strong>de</strong>reclamação tanto da enfermag<strong>em</strong> como das própriaspessoas internadas (DISC.7).Exist<strong>em</strong> acompanhantes que não obe<strong>de</strong>c<strong>em</strong> às or<strong>de</strong>ns,andam <strong>de</strong> quarto <strong>em</strong> quarto e <strong>de</strong>ixam o doente sozinho(DISC. 1).Ainda que acreditando utilizar-se do bom senso e fazer<strong>em</strong>concessões, os enfermeiros continuam a enfrentar um dil<strong>em</strong>adifícil, pois as normas são constant<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>safiadas.No <strong>de</strong>correr dos <strong>de</strong>poimentos, aflora o impasse entre o fazercumprir as normas, aten<strong>de</strong>r as expectativas dos familiares econtrolar os acompanhantes para que se comport<strong>em</strong> conformeo esperado.Os participantes da investigação apresentam-sepreocupados com a implantação do Estatuto da Criança e doAdolescente 7 e da Portaria n. 280 8 referente à hospitalização doidoso, que garant<strong>em</strong> às pessoas incluídas nessas categorias,durante o período <strong>de</strong> internação, o direito <strong>de</strong> permanecer<strong>em</strong>acompanhados. Pensam que o espaço físico ina<strong>de</strong>quado e afalta <strong>de</strong> preparo das famílias com o cumprimento das leis viriamtumultuar, sobr<strong>em</strong>aneira, o setor.- Rev. Min. Enf., 7(2):93-101, jul./<strong>de</strong>z., 200399


A CO-EXISTÊNCIA COM OS FAMILIARES DOS PACIENTES HOSPITALIZADOS: EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO NOSEU MUNDO-VIDA PROFISSIONALComenta que agora por lei, todos os pacientes acima <strong>de</strong> 65anos têm o direito a acompanhante. Diz que ficariaapavorada com os acompanhantes, uma vez que nohospital não há espaço físico para tanta gente (DISC. 7).Acha, que a família não se encontra preparada parapermanecer <strong>de</strong>ntro do hospital como acompanhante (DISC. 9).Na busca <strong>de</strong> solução para acatar a resolução, um <strong>de</strong>lessugere que, paralelo à implantação da lei, fosse criado umserviço <strong>de</strong> apoio aos familiares, <strong>em</strong> que eles pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> serorientados para acompanhar os pacientes hospitalizados, s<strong>em</strong>,obviamente, interferir no trabalho da equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Consi<strong>de</strong>ra que seria bom se existisse um serviço quepreparasse a família para acompanhar o paciente nohospital, visto que a enfermag<strong>em</strong> não t<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po e n<strong>em</strong>uma formação a<strong>de</strong>quada para isso (DISC. 7).Outra proposta insurge <strong>de</strong> um dos discursos <strong>em</strong> que oenfermeiro, ao se imaginar no lugar das famílias, percebe oquanto é necessário repensar as normas hospitalaresora vigentes.Esta sugestão nos leva a recorrer a Graças 9 ao comentar queé preciso refletir e atuar <strong>em</strong> prol da abertura gradual dasinstituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> a fim <strong>de</strong> torná-las menos arbitrárias. Deveseproporcionar a seus usuários a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidirsobre a organização <strong>de</strong>ste espaço com vistas a alcançar, entr<strong>em</strong>uitas coisas, o direito dos pacientes <strong>de</strong> acompanhamentofamiliar durante o tratamento. Sabe, porém, que isto não é umaproposta a ser atingida a curto prazo, consi<strong>de</strong>rando que sãoinúmeros os conflitos e interesses que envolv<strong>em</strong> tais mudanças.Mas, como primeiro passo, é preciso acreditar que estaabertura po<strong>de</strong> ser viável através <strong>de</strong> transformações amplas naorganização e na política <strong>de</strong>stas instituições.Reflexões <strong>de</strong> um caminharNo transcorrer das falas dos participantes da pesquisa foipossível perceber que os enfermeiros, <strong>de</strong> uma maneira geral,reconhec<strong>em</strong> o papel da família <strong>de</strong> co-responsável notratamento do paciente, tanto no hospital como no domicílio.Admit<strong>em</strong>, assim, a importância <strong>de</strong> sua interação com osfamiliares para dividir responsabilida<strong>de</strong>s e incluí-los no processo<strong>de</strong> cuidar da pessoa <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> doença.No relacionamento entre ambos, entretanto, há umaalternância <strong>de</strong> momentos gratificantes e <strong>de</strong> <strong>de</strong>savenças. N<strong>em</strong>s<strong>em</strong>pre os enfermeiros entend<strong>em</strong> os familiares ou sãoentendidos por eles principalmente no domicílio on<strong>de</strong>costumam acompanhar a recuperação do paciente.Observa-se, ainda, que a principal intenção <strong>de</strong> certos<strong>de</strong>poentes <strong>em</strong> relação à família é <strong>de</strong> obter sua colaboração noscuidados técnicos com aquele que está hospitalizado, não areconhecendo como uma clientela a ser atendida peloprofissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, isto é, uma entida<strong>de</strong> a ser ajudada.Finalizando este estudo, pensamos que o significado do serenfermeirose revela no fazer quando ele <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> relacionar-see cuidar somente do paciente e expan<strong>de</strong> as suas açõesà família.SummaryThis is a study of the “experience of nurses with the families ofpatients hospitalized in their professional world-life”, based onthe principles of phenomenology, using research of thephenomenon-based modality. The research was carried out in ahospital in Itajubá, a town in Minas Gerais. Data was collectedusing the guiding questions: “What is your experience with thefamilies of hospitalized patients?” With this question, threecategories were raised: “the world of the nurse-familyrelationship”, “the family as co-responsible agent in the care-ofbeingprocess”, and “family and the norms of the hospitalsetting”. We hope this work will enable those interested to reflecton the interaction between nurses and families and the result ofthis relationship in patient recovery.Keywords: Professional - Family Relations; Inpatients;Existentialism; Nursing Care - PsychologyResumenEl estudio buscó compren<strong>de</strong>r “la experiencia <strong>de</strong>l enfermerocon los parientes <strong>de</strong> los pacientes internados en su mundovidaprofesional”. Como principio <strong>de</strong> la modalidad <strong>de</strong>investigación <strong>de</strong>l caso se <strong>em</strong>plearon los fundamentos <strong>de</strong> lafenomenología. La investigación se llevó a cabo en unhospital general <strong>de</strong> la ciudad <strong>de</strong> Itajubá, Minas Gerais. Pararecopilar los datos se utilizó la siguiente pregunta guía:“¿Cómo es su experiencia con los parientes <strong>de</strong> los pacientesinternados?” Con esta indagación se consi<strong>de</strong>raron trescategorías: “el mundo <strong>de</strong> las relaciones enfermero/ familia”,“la familia como corresponsable en el proceso <strong>de</strong> cuidar/ser”y “la familia y las normas <strong>de</strong>l mundo hospitalario”. Se esperaque, con este trabajo, todos los interesados en el asuntoreflexionen sobre la interacción enfermero/familia y sobreel resultado <strong>de</strong> esta relación en la recuperación <strong>de</strong>l paciente.Palabras clave: Relaciones Profesional-Família; PacientesInternos; Existencialismo; Atencion <strong>de</strong> Enfermería -Psicologia100 - Rev. Min. Enf., 7(2):93-101, jul./<strong>de</strong>z., 2003


A CO-EXISTÊNCIA COM OS FAMILIARES DOS PACIENTES HOSPITALIZADOS: EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO NOSEU MUNDO-VIDA PROFISSIONALReferências bibliográficas1. Martins J, Bicudo MAV. A pesquisa qualitativa <strong>em</strong>psicologia; fundamentos e recursos básicos. São Paulo:Moraes; 1989. 110p.2. Elsen I et al. Marcos para a prática <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> comfamílias. Florianópolis: UFSC; 1994. 195p.3. Camom VAA et al. E a psicologia entrou no hospital. SãoPaulo: Pioneira; 1996. 213p.4. Patricio IM. Ser saudável na felicida<strong>de</strong>-prazer: umaabordag<strong>em</strong> ética e estética pelo cuidado holísticoecológico.Pelotas: Universitária, 1996. 151p.5. Rezen<strong>de</strong>, A.L.M. et al. A questão da intersubjetivida<strong>de</strong> naobra <strong>de</strong> Alfred Shutz. Florianópolis: UFSC; 1993. (Mimeogr.)6. Hei<strong>de</strong>gger M. Ser e t<strong>em</strong>po. 8ª. ed. Petrópolis: Vozes;1999.325p.7. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Projeto Minha Gente. Estatutoda criança e do adolescente. Brasília: Ministério da Saú<strong>de</strong>;1991. 110p.8. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Portaria n.280, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong>1999. Diário Oficial da União 1999 66-E, 8 abr; Seção 1: 4.9. Graças EM. A experiência da hospitalização: umaabordag<strong>em</strong> fenomenológica. [Tese Doutorado] São Paulo:<strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo-EEUSP; 1996. 316p.- Rev. Min. Enf., 7(2):93-101, jul./<strong>de</strong>z., 2003101


EGRESSOS DO CENTRO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DA FACULDADE DE MEDICINA DO TRIÂNGULOMINEIRO: FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA PROFISSIONALFORMER STUDENTS FROM THE NURSING GRADUATIONCENTER OF THE FACULDADE DE MEDICINA DO TRIÂNGULOMINEIRO: TRAINING AND PROGRESS OF CAREEREGRESADOS DEL CENTRO DE GRADUACIÓN ENENFERMERÍA DE LA FACULTAD DE MEDICINA DELTRIÁNGULO MINEIRO: FORMACIÓN Y TRAYECTORIAPROFESIONALRicardo Ja<strong>de</strong>r Cardoso *Tokico Murakawa Moriya **RESUMO:O presente estudo teve como objetivo, verificar o processo <strong>de</strong> formação profissional <strong>de</strong>senvolvido no Centro <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> (CGE) daFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM), segundo a opinião dos egressos formados nos anos <strong>de</strong> 1992 a 1999. A amostra contou com 108profissionais, que respon<strong>de</strong>ram a um questionário composto por perguntas dissertativas e multi-opcionais. As respostas foram analisadas com auxílio<strong>de</strong> um programa computadorizado, o que permitiu i<strong>de</strong>ntificar as freqüências relativas e absolutas das variáveis <strong>em</strong> questão. Para as perguntas abertas,as respostas foram submetidas à análise <strong>de</strong> conteúdo segundo Bardin (1991), <strong>em</strong>ergindo cinco gran<strong>de</strong>s categorias a saber: sonho profissional, preparo<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s científicas, inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho, fundamentação para o exercício profissional e contribuição para o CGE-FMTM na formaçãodo futuro enfermeiro. Várias sugestões foram apresentadas pelos egressos a fim <strong>de</strong> contribuir para a melhoria da qualida<strong>de</strong> do ensino oferecido peloCGE-FMTM.Palavras-Chave: Enfermag<strong>em</strong>; Educação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>.D ata <strong>de</strong> 1990 o início <strong>de</strong> nossas ativida<strong>de</strong>s junto aoCentro <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>, da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina do Triângulo Mineiro, vinculado ao Departamento <strong>de</strong>Assistência Hospitalar-DEAH, ministrando algumas disciplinas<strong>de</strong>stinadas aos acadêmicos <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> do último período<strong>de</strong> formação profissional.Entre as disciplinas ministradas, aludimos ao EstágioSupervisionado Profissionalizante, disciplina esta isenta <strong>de</strong>carga horária teórica e com 250 horas práticas, na qualprocura-se resgatar, junto aos acadêmicos, todo oconhecimento teórico oferecido ao longo <strong>de</strong> três anos e meiopropiciando a conciliação da teoria com a prática.No ano <strong>de</strong> 1993, surgiu a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingressarmos nocurso <strong>de</strong> Pós-Graduação da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong>Ribeirão Preto - USP, nível mestrado, o que possibilitouincorporar novos conhecimentos que nos levaram a repensaras questões da vinculação da prática à teoria. Na ocasião,este repensar estava atrelado às questões dos germicidas esua utilização no ambiente hospitalar, durante o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhodas ativida<strong>de</strong>s quotidianas do enfermeiro. Tal fato resultou <strong>em</strong>uma das motivações fundamentais para <strong>de</strong>senvolvermos adissertação <strong>de</strong> Mestrado, na qual se verificou que a questãoda práxis, retratada pelos profissionais que compunham aamostra, não se limitava ao conhecimento científico.Adotamos como opção conceitual, a Teoria daRepresentação Social (T.R.S.), por enten<strong>de</strong>r que se trata <strong>de</strong>um referencial que permeia a integração dos profissionais <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> com o objeto <strong>de</strong> estudo, <strong>de</strong> acordo com asfunções a que se <strong>de</strong>stina, entendida como processo <strong>de</strong>formação <strong>de</strong> condutas e orientação das comunicações que<strong>de</strong>terminam uma forma <strong>de</strong> pensamento social, envolvendo oprocesso interacional entre atores, fatos e objetos 1 .O referido estudo teve o propósito <strong>de</strong> <strong>de</strong>svendar asrepresentações sociais elaboradas por esses sujeitos, <strong>em</strong>relação ao glutaral<strong>de</strong>ído, sendo possível averiguar o* Enfermeiro Doutor <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Professor Adjunto do Centro <strong>de</strong>Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> da FMTM - Uberaba/MG.** Enfermeira Professora Titular da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto- USP. Professora visitante da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da UERJ-RJEn<strong>de</strong>reço para correspondência:Rua: Manoel Terra S/NCentro - Uberaba/MGCEP: 38.015-050E-mail: ja<strong>de</strong>r10@terra.com.br102 - Rev. Min. Enf., 7(2):102-10, jul./<strong>de</strong>z., 2003


EGRESSOS DO CENTRO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DA FACULDADE DE MEDICINA DO TRIÂNGULOMINEIRO: FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA PROFISSIONALconhecimento elaborado por eles, efetuando o resgate <strong>de</strong>suas atitu<strong>de</strong>s, informações e crenças, por enten<strong>de</strong>r que esseproduto requer técnicas específicas <strong>de</strong> manuseio. Tal processo<strong>de</strong>u-se através da objetivação e ancorag<strong>em</strong>.Na análise dos resultados concernentes às falas dasenfermeiras verificou-se, através <strong>de</strong> um número elevado <strong>de</strong>unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> análise, que essas profissionais <strong>de</strong>tinham gran<strong>de</strong>conhecimento do produto, na categoria conhecimento teórico,levando-nos a acreditar que este grupo <strong>de</strong> profissionais lidacom o produto, porém <strong>de</strong> forma indireta. Esse fato <strong>de</strong>spertounoscerta curiosida<strong>de</strong> <strong>em</strong> conhecer o porquê <strong>de</strong> essasenfermeiras não estar<strong>em</strong> manipulando esse produto. Duranteo estágio supervisionado, todas as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidaspelos acadêmicos estavam ligadas diretamente à práticaefetiva do seu cotidiano profissional 2 .A postura <strong>de</strong>ssas profissionais, formadas pelo FMTM,d<strong>em</strong>onstrando conhecimento somente da questão teórica,porém não <strong>de</strong>senvolvendo ativamente as ativida<strong>de</strong>s práticasrelacionadas a esse germicida, levou-nos a avaliar se este fatoocorre somente <strong>em</strong> relação aos germicidas ou se essa posturat<strong>em</strong> sido a mesma, <strong>em</strong> todas as ativida<strong>de</strong>s profissionais que<strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>. Estariam essas enfermeiras direcionadassomente às questões teóricas, contradizendo os objetivoselaborados e <strong>de</strong>finidos pelo currículo <strong>em</strong> vigência, para suaformação profissional?O Centro <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> t<strong>em</strong> comopressuposto a formação do futuro profissional, com uma visãoampliada do processo saú<strong>de</strong>-doença, procurando cont<strong>em</strong>plaras diferentes dimensões <strong>de</strong> atuação do enfermeiro, ou seja,uma visão generalista.Diante <strong>de</strong>ssa proposta, é <strong>de</strong>finido o perfil do futuroenfermeiro e suas respectivas competências técnico-científicaético-políticosocial e educativa.Ao longo <strong>de</strong>sses anos, como docente nessa instituição,alguns questionamentos vêm nos incomodando, ou seja: qualo perfil sociod<strong>em</strong>ográfico dos nossos egressos? Como estãoesses egressos inseridos no mercado <strong>de</strong> trabalho? A formaçãorecebida nesta instituição foi a<strong>de</strong>quada para aten<strong>de</strong>r àsexigências do mercado <strong>de</strong> trabalho? Houve necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>buscar outros meios para compl<strong>em</strong>entar o curso <strong>de</strong>Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> da F.M.T.M., para inserção doprofissional no mercado <strong>de</strong> trabalho? Dispõ<strong>em</strong> nossosegressos <strong>de</strong> sugestões que po<strong>de</strong>riam contribuir para a<strong>de</strong>quara formação dos enfermeiros?Diante do exposto, <strong>de</strong>cidimos realizar este estudo, focandoa formação oferecida pelo Centro <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong>Enfermag<strong>em</strong> com vistas à inserção dos profissionais nomercado <strong>de</strong> trabalho e o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s.Assim, foi <strong>de</strong>senvolvido o presente estudo, tendo comoobjetivo geral, verificar o processo <strong>de</strong> formação profissional<strong>de</strong>senvolvido no CGE, e como objetivos específicos: i<strong>de</strong>ntificaro perfil sociod<strong>em</strong>ográfico dos egressos do CGE - FMTM;verificar a inserção dos egressos do Centro <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong>Enfermag<strong>em</strong> no mercado <strong>de</strong> trabalho; i<strong>de</strong>ntificar, entre osegressos do CGE - FMTM, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar outrosmeios, para compl<strong>em</strong>entar a formação profissional; aferir aopinião <strong>de</strong>sses egressos sobre a contribuição do conteúdodas disciplinas oferecidas, durante o período da graduação;levantar, através dos egressos do CGE-FMTM, sugestões quevenham contribuir para o processo <strong>de</strong> formaçãodos enfermeiros.Trajetória MetodológicaO presente estudo é <strong>de</strong> caráter exploratório, <strong>de</strong>scritivo, noqual buscamos, através dos egressos do Centro <strong>de</strong>Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> (C.G.E.) da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina do Triângulo Mineiro (F.M.T.M.), verificar a formaçãoprofissional oferecida por essa instituição, durante o período<strong>de</strong> graduação, com vistas à inserção dos profissionais e<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho das suas ativida<strong>de</strong>s no mercado <strong>de</strong> trabalho. Apresente pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida no Centro <strong>de</strong> Graduação<strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do TriânguloMineiro, centro este constituído sob a forma <strong>de</strong> Autarquia,vinculada ao Ministério da Educação e Desportos, daRepública Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil.A localização dos egressos <strong>de</strong>u-se, inicialmente, quandoprocuramos o Departamento <strong>de</strong> Registro e ControleAcadêmico (DRCA) da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do TriânguloMineiro e solicitamos uma listag<strong>em</strong> <strong>em</strong> que constasse nome een<strong>de</strong>reço dos egressos do Curso <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> dos anos <strong>de</strong>1989 a 1992.Posteriormente, foram realizados contatos com os referidosegressos, por telefone ou face a face. Nessa ocasião, foramconfirmados os en<strong>de</strong>reços e/ou a sua localização.Aproveitamos <strong>de</strong>ste primeiro contato, para aquiescência dosegressos <strong>em</strong> participar <strong>de</strong>sta pesquisa.A população foi constituída por 148 egressos que obtiveramo título <strong>de</strong> Bacharel <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>, entre os anos <strong>de</strong> 1992a 1999.Dos 148 egressos da F.M.T.M., foram contatados 129perfazendo, assim, a amostra final do presente estudo.Os dados da pesquisa foram coletados através <strong>de</strong> umquestionário contendo perguntas abertas e fechadas,permitindo aos sujeitos participantes respon<strong>de</strong>r<strong>em</strong> com suaspróprias palavras.O referido instrumento foi elaborado contendo duas partes:uma contendo a i<strong>de</strong>ntificação dos profissionais (iniciais donome, sexo, ida<strong>de</strong>, estado civil) e outra envolvendo questõessobre a sua formação e trajetória profissional; o significado doCurso <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>; opção na carreiraprofissional; t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> graduação; aperfeiçoamento- Rev. Min. Enf., 7(2):102-10, jul./<strong>de</strong>z., 2003103


EGRESSOS DO CENTRO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DA FACULDADE DE MEDICINA DO TRIÂNGULOMINEIRO: FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA PROFISSIONALprofissional após a graduação; opinião quanto à contribuiçãodo C.G.E.-F.M.T.M. para formação profissional; t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho; tipo <strong>de</strong> <strong>em</strong>presa a que estávinculado e t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> serviço. E, ainda, a oferta do mercado<strong>de</strong> trabalho para o enfermeiro; vencimentos mensais; cargahorária trabalhada s<strong>em</strong>analmente; projetos futuros ligados àprofissão; contribuição do C.G.E. no que tange aosconhecimentos e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho profissional relativos a:disciplinas curriculares, cursos extracurriculares, estágioscurriculares; conteúdos programáticos; métodos e recursosaudiovisuais; preparo para a produção científica; pontospositivos e pontos negativos responsáveis pela inserção nomercado <strong>de</strong> trabalho, b<strong>em</strong> como a contribuição e sugestõesrelevantes para a melhora <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do ensino do C.G.E.-F.M.T.M.O projeto <strong>de</strong> pesquisa foi submetido ao Comitê <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong>Pesquisa da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do Triângulo Mineiro,reecebendo parecer favorávelO Termo <strong>de</strong> Consentimento foi obtido <strong>de</strong> cada um dosparticipantes <strong>de</strong>ste estudo, aten<strong>de</strong>ndo à Resolução 196/96para realização da pesquisa com seres humanos 3 .Iniciamos o procedimento <strong>de</strong> envio dos questionários, naprimeira s<strong>em</strong>ana do mês <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001. Para osegressos localizados na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> <strong>de</strong>sta pesquisa, oquestionário foi entregue pessoalmente, juntamente com umacarta-convite contendo alguns esclarecimentos referentesà pesquisa.Vale ressaltar que, como gran<strong>de</strong> parte dos egressosrecebeu os questionários pessoalmente, não foi necessário oretorno do pesquisador para a sua <strong>de</strong>volução; por iniciativaprópria, estes enviavam os questionários através <strong>de</strong> algunsdocentes ligados ao C.G.E, e outros ainda centralizaram talentrega na secretaria do mesmo.Para o tratamento estatístico dos dados referentes àsperguntas fechadas do questionário aplicado, foi criado umbanco <strong>de</strong> dados utilizando o programa Excel, queposteriormente, com o auxilio <strong>de</strong> um outro programa <strong>de</strong>computador, EPI-INFO6, possibilitou-nos a análise einterpretação das variáveis <strong>em</strong> questão, obtidas através <strong>de</strong>freqüências absolutas e percentuais. Adotamos comoprocedimento para a análise dos dados referentes às questõesabertas a Análise <strong>de</strong> Conteúdo 4 .Apresentação e Discussão dos dadosPerfil sociod<strong>em</strong>ográficoDos 108 egressos que participaram <strong>de</strong>ste estudo, 94 (87.0%)eram do sexo f<strong>em</strong>inino, 44 (41,1%) casados e 44 (41,1%)solteiros. A faixa etária predominante foi <strong>de</strong> 25 a 34 anos, com 69(64,5%) dos egressos, apontando profissionais jovens.A predominância do sexo f<strong>em</strong>inino entre enfermeiros v<strong>em</strong>sendo abordada por inúmeros autores, <strong>em</strong> diversos estudosencontrados na literatura nacional, cujas discussões e reflexõesapareceram atreladas ao <strong>de</strong>senvolvimento histórico <strong>de</strong>ssaprofissão, fort<strong>em</strong>ente marcado pela figura f<strong>em</strong>inina 5, 6,7 .A enfermag<strong>em</strong> é uma profissão <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente f<strong>em</strong>inina.Embora a mulher ainda conviva com a discriminação e<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s, <strong>em</strong> relação ao sexo masculino,sendo consi<strong>de</strong>rada uma força <strong>de</strong> trabalho assalariada, queexecuta parcelas simples do processo produtivo, <strong>em</strong> nossasocieda<strong>de</strong> v<strong>em</strong> ganhando espaço no âmbito social e político,constituindo-se <strong>em</strong> importante força no mercado <strong>de</strong> trabalho daenfermag<strong>em</strong> 8 .Entre os egressos do CGE-FMTM, observou-se que apenas 14(13,0%) eram do sexo masculino, e, <strong>em</strong>bora seja evi<strong>de</strong>nte apredominância do sexo f<strong>em</strong>inino na Enfermag<strong>em</strong>, <strong>em</strong> nossaregião, há hoje um aumento <strong>de</strong> inscrições <strong>de</strong> candidatos do sexomasculino nos vestibulares para o curso <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>.Em relação à faixa etária, observou-se que os resultados <strong>de</strong>steestudo corroboraram aqueles encontrados por Souza <strong>em</strong> estudorealizado com 93 egressos da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Londrina(UEL), o qual apontou a predominância <strong>de</strong> egressos jovens, nafaixa etária entre 24 e 26 anos (65,5%) 6 .Estudo realizado com quartanistas das escolas mineiras <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> apontaram predominância <strong>de</strong> alunos na faixa etária<strong>de</strong> 20 a 23 anos, com 80% nas escolas públicas. LOPES et al.(1996) revelam uma tendência da força jov<strong>em</strong> <strong>de</strong> enfermeiros <strong>de</strong>ocupar o mercado <strong>de</strong> trabalho 9 .Ao <strong>de</strong>linearmos a faixa salarial dos egressos, observamos queo salário <strong>de</strong> 55 (52,9%) daqueles ultrapassou nove (9) saláriosmínimos. Essa renda mensal possivelmente advém <strong>de</strong> duplovínculo <strong>em</strong>pregatício <strong>de</strong> 43 (39,8%) egressos, dados esses, quereflet<strong>em</strong> uma realida<strong>de</strong> vivenciada por profissionais da área <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>.A baixa r<strong>em</strong>uneração e, conseqüent<strong>em</strong>ente, a busca <strong>de</strong> duplosvínculos na década <strong>de</strong> 70, foi um dos fatores que levaram a umaqueda na freqüência <strong>de</strong> escolha da enfermag<strong>em</strong>como profissão 10 .Outro dado relevante a ser <strong>de</strong>stacado, associado a estecontexto, refere-se à carga horária s<strong>em</strong>anal <strong>de</strong>sses profissionais,a qual, verificamos, foi <strong>de</strong> 36 a 40 horas para 35,8% dos egressose <strong>de</strong> 51 horas <strong>de</strong> trabalho para 30,2%.Os múltiplos vínculos mantidos pelos enfermeiros foi motivo <strong>de</strong>discussão <strong>em</strong> estudo realizado por Rodrigues e Zanetti, queapontaram as longas jornadas <strong>de</strong> trabalho como formaencontrada para obter condições financeiras para sobrevivência 11 .O egresso no mercado <strong>de</strong> trabalhoNo tocante à opinião dos egressos quanto à escolha <strong>de</strong>uma outra profissão que lhes oferecesse maior rendimento104 - Rev. Min. Enf., 7(2):102-10, jul./<strong>de</strong>z., 2003


EGRESSOS DO CENTRO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DA FACULDADE DE MEDICINA DO TRIÂNGULOMINEIRO: FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA PROFISSIONALfinanceiro, os resultados mostraram que 62 (59,0%) nãooptariam por outra profissão, 19 (18,1%) informaram quetalvez optass<strong>em</strong> por uma profissão mais rentável, 16 (15,2%)foram categóricos <strong>em</strong> dizer que optariam por uma profissãoque lhes oferecesse melhores rendimentos e 8 (7,6%) nãosouberam respon<strong>de</strong>r.Observou-se que 62 (59,0%) não optariam por outracarreira, levando os autores a inferir que, mesmo sendo aenfermag<strong>em</strong> uma profissão <strong>de</strong> baixa r<strong>em</strong>uneração, o interessepor outra profissão po<strong>de</strong> estar atrelado a oferta <strong>de</strong> um amplomercado <strong>de</strong> trabalho, a concepções religiosas e à vocação.Quanto às ativida<strong>de</strong>s profissionais exercidas <strong>em</strong> sua área <strong>de</strong>formação, foi possível i<strong>de</strong>ntificar que 96 (90,5%) dos egressosiniciaram suas ativida<strong>de</strong>s na área <strong>de</strong> formação acadêmica, e10 (9,5%) respon<strong>de</strong>ram que iniciaram suas ativida<strong>de</strong>sprofissionais <strong>em</strong> outras áreas.Os egressos informaram que o t<strong>em</strong>po transcorrido entre otérmino da graduação e o início das ativida<strong>de</strong>s profissionaisvariou <strong>em</strong> períodos que foram <strong>de</strong> 1 a 3 meses, para 69,2%, <strong>de</strong>3 a 6 meses para 8,4% e finalmente 6 meses a 1 ano 6,5%.Ao analisarmos esses dados, pod<strong>em</strong>os observar que gran<strong>de</strong>número <strong>de</strong> egressos (69,2%) iniciou suas ativida<strong>de</strong>sprofissionais <strong>em</strong> curto período <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po após a suagraduação. No entanto, acredita-se que a facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho encontrada neste estudo,<strong>de</strong>corre da necessida<strong>de</strong> e da carência <strong>de</strong> enfermeiros naregião do Triângulo Mineiro.A inserção dos profissionais no mercado <strong>de</strong> trabalho éprecária, <strong>de</strong>vido à existência <strong>de</strong> uma força <strong>de</strong> trabalhocomposta por outros profissionais, integrantes da equipe <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>, que representam um suporte para a prestação<strong>de</strong> cuidados <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> 12 .Ainda no que concerne à inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho,os resultados indicaram que 51 (47,7%) dos egressos estãoinseridos no mercado <strong>de</strong> trabalho da re<strong>de</strong> pública, 19 (17,8%)vinculados à re<strong>de</strong> privada e 5 (4,7%) estão inseridos <strong>em</strong> ambasas re<strong>de</strong>s.No caso da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> <strong>de</strong>sta pesquisa, foi possívelobservar que gran<strong>de</strong> parte dos formandos das primeirasturmas do CGE-FMTM foi absorvida pela própria FMTM e poroutros serviços da área da saú<strong>de</strong> do Triângulo Mineiro.Para os profissionais com dupla jornada <strong>de</strong> trabalho, osresultados foram: 22 (20,6%) egressos inseridos no mercado<strong>de</strong> trabalho vinculados à re<strong>de</strong> pública e privada, 1 (0,9%) nare<strong>de</strong> pública e mista, e 7 (6.5%) <strong>em</strong> outras <strong>em</strong>presas.Torna-se importante salientar que os egressos do CGE-FMTM não encontraram gran<strong>de</strong>s obstáculos para inserir-se nomercado <strong>de</strong> trabalho. Acredita-se que tal fato esteja atreladoao binômio oferta/procura.Dos egressos do CGE-FMTM, 47,7% estão lotados na re<strong>de</strong>pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e 20,6% mantêm duplo vínculo. Nestesentido, concordamos com Senne, ao afirmar que o papel doenfermeiro t<strong>em</strong> se expandido a cada dia, apresentando novaspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho, através doreconhecimento social que esse profissional v<strong>em</strong> obtendo 5 .Quando solicitamos aos egressos que <strong>de</strong>screvess<strong>em</strong> o seucargo e a sua função nas ativida<strong>de</strong>s profissionais, obtiv<strong>em</strong>osos seguintes registros: 2 (2,0%) respon<strong>de</strong>ram não estaratuando na sua área <strong>de</strong> formação; 41(37,0%) encontravam-seatrelados à área hospitalar; 28 (26,0%) na prestação <strong>de</strong>serviços à saú<strong>de</strong> coletiva (UBS); 14 (13,0%) na docência; 2(2.0%) <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> agentes administrativos; 1 (1,0%) <strong>em</strong>ativida<strong>de</strong> ligada ao órgão fiscalizador da enfermag<strong>em</strong>(COREn); 1 (1,0%) cursando residência <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong>; 2(2,0%) atuando no H<strong>em</strong>ocentro <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>. No caso <strong>de</strong> 18(17,0%) egressos, não foi possível i<strong>de</strong>ntificar a área <strong>de</strong> atuaçãoprofissional, pois omitiram o cargo e/ou a função que exerciamà época.Com relação à formação dos profissionais Enfermeiros, t<strong>em</strong>havido uma gran<strong>de</strong> preocupação entre esses profissionais nosúltimos anos, visto que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre essa formação aten<strong>de</strong> àsreais necessida<strong>de</strong>s da população, cujo enforque, por muitasvezes, é voltado ainda para as ativida<strong>de</strong>s curativas, conforme<strong>de</strong>tectado nesta pesquisa, <strong>em</strong> que 41(37,0%) ainda estãovinculados às ativida<strong>de</strong>s profissionais no âmbito hospitalar 13,14 .Conforme já mencionamos, a predominância dosprofissionais <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> voltados para a assistênciahospitalar <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser uma realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> curto espaço<strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, uma vez que mudanças radicais estão sendotomadas no sentido <strong>de</strong> se conseguir profissionais capazes <strong>de</strong>atuar junto às famílias e comunida<strong>de</strong>s.O Ministério da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolveu novos programasvoltados à saú<strong>de</strong> da população, com objetivos <strong>de</strong> mudançasque visam à reabilitação, à prevenção da doença e àpromoção da saú<strong>de</strong>. O Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família v<strong>em</strong>absorvendo um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> enfermeiros, levando a umnovo olhar nos projetos políticos pedagógicos das escolas <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>, que, certamente, se voltarão ao preparo einserção do mesmo nos programas <strong>de</strong> políticas saudáveis.No que diz respeito à docência, obtiv<strong>em</strong>os as seguintesrespostas dos egressos: 10 (9,3%) <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham suasativida<strong>de</strong>s no ensino <strong>de</strong> 1° grau; 7 (6,5%) administravam aulaspara os cursos do 2° grau; 12 (11,1%) estavam envolvidoscom o ensino no 3° grau, e 2 (1.9%) e 1 (0.9%) estavam<strong>de</strong>senvolvendo ativida<strong>de</strong>s docentes voltadas aos cursos do 1°e 2° e 1°, 2° e 3°graus, respectivamente.Verificou-se ainda que, dos 12 (11,1%) egressos queabraçaram a carreira docente do 3° grau, 8 (oito)encontravam-se vinculados ao CGE-FMTM, 2 (dois)ministravam aulas na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do TriânguloMineiro, junto ao Departamento <strong>de</strong> Farmacologia e PatologiaClínica e os d<strong>em</strong>ais <strong>em</strong> outros estados.- Rev. Min. Enf., 7(2):102-10, jul./<strong>de</strong>z., 2003105


EGRESSOS DO CENTRO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DA FACULDADE DE MEDICINA DO TRIÂNGULOMINEIRO: FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA PROFISSIONALA formação profissionalO Centro <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina do Triângulo Mineiro t<strong>em</strong>, como missão, formarenfermeiros com competência técnica e científica, para atuarcomo prestadores <strong>de</strong> serviços à socieda<strong>de</strong> e à equipe <strong>de</strong>profissionais da área da saú<strong>de</strong>, na promoção, prevenção erecuperação da saú<strong>de</strong>, incorporando as ciências e a arte docuidar, no contexto das políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e sociais.Para I<strong>de</strong>, a política <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong> recursos humanosno âmbito do ensino superior, privilegia a reestruturação <strong>de</strong>cursos, pautada no realinhamento crítico <strong>de</strong> disciplinas, naarticulação <strong>de</strong> conteúdos, agora <strong>de</strong> áreas t<strong>em</strong>áticas, nadinamicida<strong>de</strong> do processo <strong>de</strong> ensino, na flexibilida<strong>de</strong> daestrutura curricular, b<strong>em</strong> como nas condições que possibilitama participação efetiva do corpo discente na validação dosconhecimentos e habilida<strong>de</strong>s específicas, durante o processo<strong>de</strong> formação <strong>de</strong>ste futuro profissional enfermeiro 13 .Quanto à importância do Curso <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong>Enfermag<strong>em</strong> que realizaram, 69 (66,4%) dos egressosreferiram como sendo o mais importante <strong>de</strong> sua carreira, 36(33,3%) respon<strong>de</strong>ram ter sido um curso importante e, para 2(1,9%), um curso pouco importante. Tais dados permitiramafirmar que, para os egressos, a graduação <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong>foi <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância.O currículo vigente no Curso <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>da F.M.T.M. cont<strong>em</strong>pla uma carga horária <strong>de</strong> 3.500 horas/aula,integralizáveis <strong>em</strong>, no mínimo, 4 (quatro) anos, distribuídas <strong>em</strong>4 gran<strong>de</strong>s áreas t<strong>em</strong>áticas.Solicitamos aos egressos que registrass<strong>em</strong> o períodotranscorrido para conclusão do curso que realizaram naF.M.T.M. Entre os 108 egressos, 94 (87,0%) respon<strong>de</strong>ram terconcluído o curso <strong>de</strong> graduação <strong>em</strong> 4 anos, 11 (10,2%)realizaram num período <strong>de</strong> 5 anos e 3 (2,8%) concluíram oreferido curso <strong>em</strong> 6 anos.Aprimoramento profissionalAnalisando outros dados relacionados ao aperfeiçoamentodos egressos, 68 (63,0%) referiram ter realizado algum curso<strong>em</strong> nível <strong>de</strong> pós-graduação e 40 (37,0%) informaram não têloscursado. Dentre aqueles que se engajaram <strong>em</strong> algum curso<strong>de</strong> aperfeiçoamento, 70 (66,0%) egressos informaram estarenvolvidos com um só tipo <strong>de</strong> curso, 26 (42,5%) referiramestar matriculados <strong>em</strong> cursos <strong>de</strong> especialização e pósgraduação,4 (3,8%) estavam matriculados no curso <strong>de</strong> pósgraduação,nível mestrado, 3 (2,8%) no curso <strong>de</strong> pósgraduaçãonível doutorado e 2 (1,9%) não estavam envolvidoscom nenhum tipo <strong>de</strong> curso, no momento <strong>em</strong> que respon<strong>de</strong>ramao instrumento <strong>de</strong>sta pesquisa.Ainda sobre os cursos <strong>de</strong> pós-graduação, 39 (36,4%)egressos respon<strong>de</strong>ram não estar vinculados a nenhum curso,43 (40,2%) respon<strong>de</strong>ram ter realizado somente um curso, 23(21,5%) afirmaram ter realizado mais <strong>de</strong> um curso, 1 (1,0%)dos egressos (três) 3 cursos e 1 (1,9%) mais <strong>de</strong> 4 cursos.Para os egressos envolvidos com cursos <strong>de</strong> pósgraduação,solicitamos que registrass<strong>em</strong> o recebimento <strong>de</strong>bolsas <strong>de</strong> estudos e respectivos órgãos <strong>de</strong> fomento.Observamos que: 99 (95,2%) não foram beneficiados comqualquer tipo <strong>de</strong> bolsa <strong>de</strong> estudos e somente 6 (seis)informaram o recebimento do auxilio. Quanto ao tipo <strong>de</strong> bolsa<strong>de</strong> estudos recebida, 2 (33,3%) eram do CNPq, 1 (16,7%) daCAPES e 3 (50,0%) referiram receber outros tipos <strong>de</strong> auxílio.Secaf e Oguisso afirmam que as escolas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,<strong>em</strong> seus cursos <strong>de</strong> graduação e pós-graduação, têm comoobjetivo maior o aperfeiçoamento dos profissionais no <strong>de</strong>correr<strong>de</strong> sua carreira. Para os egressos do CGE-FMTM, <strong>em</strong> suagran<strong>de</strong> maioria 68 (63,0%), obtiveram dos centros formadoresa oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se envolver<strong>em</strong> com cursos <strong>de</strong> pósgraduação,quer <strong>em</strong> nível <strong>de</strong> especialização, quer <strong>de</strong> mestradoou doutorado 15 .Oguisso afirma que a especialização <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> t<strong>em</strong>sido vista como garantia <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregabilida<strong>de</strong> 16 . Questiona sea mesma seria uma compl<strong>em</strong>entação do conhecimentoteórico, adquirido após o curso <strong>de</strong> graduação <strong>em</strong>enfermag<strong>em</strong>. Em resposta a esse questionamento, a referidaautora enfatiza os termos da Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases daEducação Nacional, <strong>de</strong> 1996, quando <strong>de</strong>staca a importânciado preparo a<strong>de</strong>quado do enfermeiro, quer seja, no nível <strong>de</strong>especialização, que <strong>de</strong> extensão e até mesmo Mestrado eDoutorado, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar o mercado <strong>de</strong>trabalho, que se apresenta cada vez mais exigente.Contribuição para formação profissional oferecidapelo CGECom relação ao preparo para produção científica, durante operíodo <strong>de</strong> graduação, obtiv<strong>em</strong>os os seguintes registros:47(44,3%) afirmaram que foram preparados para a produçãocientífica e 59 (55,7%) afirmam que não foram. Comentários arespeito do assunto, através <strong>de</strong> falas (unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> registros),serão apresentados durante a análise qualitativa, com opropósito <strong>de</strong> se compreen<strong>de</strong>r melhor as freqüências acimamencionadas.No que diz respeito ao conteúdo da área básica, oferecidopelo Curso <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>, ministrado noprimeiro, segundo e terceiro períodos do curso, 86 (79,6%)egressos respon<strong>de</strong>ram ter esse conteúdo contribuído muitopara a formação profissional, 17 (15,7%) referiram tercontribuído pouco, 3 (2,8%) relataram não saber o quanto asdisciplinas oferecidas contribuíram e 1 (1,0%) assinalou que asdisciplinas oferecidas durante o período básico, nãocontribuíram para o seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho profissional.106 - Rev. Min. Enf., 7(2):102-10, jul./<strong>de</strong>z., 2003


EGRESSOS DO CENTRO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DA FACULDADE DE MEDICINA DO TRIÂNGULOMINEIRO: FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA PROFISSIONALPor outro lado, no que concerne às disciplinas da áreaprofissionalizante, obtiv<strong>em</strong>os os seguintes registros dosegressos: 91 (85,0%) referiram que as disciplinas da áreaprofissionalizante contribuíram muito para a formação <strong>de</strong>steprofissional, 14 (13,1%) mencionaram que foram <strong>de</strong> poucacontribuição e 2 (1,9%) não opinaram a respeito.Com relação aos cursos e treinamentos oferecidos <strong>de</strong> formaextracurricular, 52 (48,6%) afirmaram ter<strong>em</strong> os mesmoscontribuído muito para a sua formação profissional, 41(38,3%), que essa contribuição foi pouca, 8 (7,5%) referiramque os cursos e treinamentos oferecidos por ocasião dagraduação não contribuíram para o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho profissional.Quanto aos estágios curriculares, a opinião dos egressosassim foi apresentada: 78 (73,6%) respon<strong>de</strong>ram que essesestágios contribuíram muito para o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>de</strong> suaformação profissional, 27 (25,5%) relataram poucacontribuição e 1 (0,9%) referiu que os estágios nãocontribuíram para o seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho profissional.Sobre o conteúdo programático oferecido durante agraduação, os egressos expressaram as seguintes opiniões:51 (47,7%) consi<strong>de</strong>ram o conteúdo programático insuficiente,29 (27,1%) julgaram-no suficiente, 19 (17,8%) afirmaram tersido suficiente e 8 (7,5%) respon<strong>de</strong>ram que foramina<strong>de</strong>quados para o exercício da profissão. Por outro lado, aanálise dos resultados sobre o conteúdo da área básica eprofissionalizante, os cursos extracurriculares e os estágioscurriculares evi<strong>de</strong>nciaram a satisfação dos egressos quanto àa<strong>de</strong>quação dos conteúdos ministrados, reforçando aformação do profissional enfermeiro do CGE-FMTM.No que concerne à formação profissional oferecida peloCGE-FMTM, solicitou-se aos egressos que informass<strong>em</strong> se oscursos os prepararam para exercer suas ativida<strong>de</strong>sprofissionais na área <strong>em</strong> que estão inseridos. Os registrosmostraram que: 87 (82,1%) respon<strong>de</strong>ram que o CGEpreparou-os para as ativida<strong>de</strong>s que ora <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham,enquanto, 18 (17,0%) referiram não ter sido preparados paraatuar na área profissional <strong>em</strong> que estavam exercendo suasativida<strong>de</strong>s e 1 (0,9%) egresso assinalou duas alternativasexistentes no instrumento aplicado.Passar<strong>em</strong>os à apresentação dos resultados referentes aosdiscursos dos egressos, submetidos à Análise <strong>de</strong> Conteúdo,como já dito anteriormente, com suas respectivasex<strong>em</strong>plificações.Sonho profissional (SP) - foi possível observar que algunsegressos <strong>de</strong>sejavam abraçar uma outra carreira profissional noperíodo <strong>de</strong> pré-formação, através das uni.da<strong>de</strong>s <strong>de</strong> registrosque se segu<strong>em</strong>.“...Ciênciadacomputação.../...Biologia.../..Engenharia.../....MedicinaVeterinária.../...Dança.../....Psicologia.../..História.../...Genética.../...Odontologia.../...Medicina...”Foi possível observar nas falas, outras situações vivenciadaspelos egressos sobre a opção por uma carreira profissionalque, no caso, não estavam vinculadas à carreira quesonhavam abraçar. Destacamos algumas situações quelevaram os egressos a cursar a graduação <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong>,como uma opção secundária, conforme as unida<strong>de</strong>s que sesegu<strong>em</strong> relacionadas:“...a enfermag<strong>em</strong> não era o curso que eu sonhava, comopassei no vestibular, conclui o curso e acabeigostando.../... a escola da FMTM era uma dasoportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação na minha cida<strong>de</strong>...”Preparo para ativida<strong>de</strong>s científicas (PAC) - esta categoriarefere-se às unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> registros, compostas pelas opiniõesdos egressos, no que tange ao preparo para as ativida<strong>de</strong>scientíficas, oferecido pelo CGE durante o período acadêmico,<strong>em</strong>ergindo duas subcategorias a saber: Experiênciasfavoráveis (EF) - cont<strong>em</strong>plam as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> registrosreferentes às opiniões e relatos consi<strong>de</strong>rados como sendofavoráveis ao <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s científicas,segundo a opinião dos egressos:“...esse foi um ponto imprescindível para minhaformação.../...tive oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver umtrabalho, mesmo após a minha graduação.../...foramoferecidas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa eincentivo.../...durante a graduação fui bolsista do CNPqpor 2 anos...”Para Costa e Carvalho, a pesquisa na área <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>torna-se relevante por legitimar o fazer e as novas formas <strong>de</strong>cuidar, com uma aproximação da teoria à prática, resultando,assim, numa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para a população criando,ainda, um corpo <strong>de</strong> conhecimento para prática <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> 17 .Foi possível observar, nas falas dos egressos, com relaçãoao papel do CGE-FMTM, o incentivo dos docentes para aprodução científica, como a seguir: “...esse foi um pontoimprescindível para minha formação.../...tive oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolver um trabalho, mesmo após a minha graduação...”,reforçando assim a formação oferecida por essa instituição,enfocando o ensino, a pesquisa e a extensão.Outro aspecto que nos chamou a atenção, na referidasubcategoria, diz respeito às experiências favoráveisproporcionadas pelo currículo <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Destaca-se adisciplina <strong>de</strong> Metodologia Científica, oferecida no primeiroperíodo da graduação, conforme as falas abaixo.“...as aulas <strong>de</strong> Metodologia foram um bom preparo.../...obásico foi ministrado.../...na disciplina <strong>de</strong> Metodologia.../...o Centro <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> nos ensina atrilhar dando <strong>em</strong>basamento teórico ecientífico.../...contribuiu na disciplina <strong>de</strong> MetodologiaCientífica....”.- Rev. Min. Enf., 7(2):102-10, jul./<strong>de</strong>z., 2003107


EGRESSOS DO CENTRO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DA FACULDADE DE MEDICINA DO TRIÂNGULOMINEIRO: FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA PROFISSIONALPor outro lado, obtiv<strong>em</strong>os discursos dos egressos querelataram Experiências <strong>de</strong>sfavoráveis (ED) - subcategoria estaque contém unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> registros que <strong>de</strong>screv<strong>em</strong>experiências <strong>de</strong>sfavoráveis, no que se refere ao preparorealizado pelo Centro <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> e o<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s científicas durante o período <strong>de</strong>graduação do Curso <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>, conforme asfalas abaixo:“...não fui preparada para realizar projeto <strong>de</strong>pesquisa.../...não receb<strong>em</strong>os incentivo por parte dosprofessores.../...na minha opinião o curso foi voltado paraa parte assistencial.../...são raras as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolver pesquisas na área <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>...” .A importância <strong>de</strong> uma política institucional no que concerneao incentivo e estímulo das pesquisas <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> é queela busca a renovação do conhecimento, dimensionando-opara a produção científica, vinculado à prática <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,com o propósito <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r às reais necessida<strong>de</strong>s daclientela, através do avanço tecnológico da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.No que concerne às Experiências <strong>de</strong>sfavoráveis (ED),<strong>de</strong>stacamos algumas falas dos egressos que evi<strong>de</strong>nciam asfalhas curriculares:“...não houve preparo específico além da disciplina(metodologia)...../...o curso não nos dá uma visão daimportância e como produzir uma pesquisacientífica.../...preparou-me mais para exercer enfermag<strong>em</strong><strong>de</strong> cabeceira....”O currículo mínimo atual do CGE-FMTM oferece a disciplina<strong>de</strong> Metodologia Científica aos acadêmicos <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> noprimeiro período letivo, perfazendo uma carga horária <strong>de</strong> 60horas. As falas dos egressos aqui <strong>de</strong>stacadas revelam o<strong>de</strong>scontentamento dos mesmos, <strong>em</strong> relação à disciplina,assim ex<strong>em</strong>plificado: “...não houve preparo específico além dadisciplina (metodologia)..../...a produção científica é vista no 1°s<strong>em</strong>estre do primeiro ano e <strong>em</strong> grupo...”.O CGE-FMTM t<strong>em</strong> como objetivos formar recursoshumanos para exercício profissional e realizar pesquisasvoltadas para o <strong>de</strong>senvolvimento científico e social.Outro achado importante diz respeito à categoria Inserção noMercado <strong>de</strong> Trabalho (IMT) que aponta fatores <strong>de</strong>scritos pelosegressos, que influenciaram sua inserção no mercado <strong>de</strong>trabalho, os quais são apresentados através <strong>de</strong> duassubcategorias, a saber:A subcategoria fatores facilitadores (ff) - compreen<strong>de</strong> asfalas dos egressos que <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> os fatores que facilitaramsua inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho, conforme as unida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> registros, que apontamos a seguir:“...professores b<strong>em</strong> preparados que passaram senso <strong>de</strong>responsabilida<strong>de</strong> para o aluno.../...competência ao ensinarenfermag<strong>em</strong>.../...ter feito enfermag<strong>em</strong> na FMTM.../...aformação generalista.../...ex<strong>em</strong>plo profissional <strong>de</strong> algunsprofessores...”Outra subcategoria que <strong>em</strong>ergiu do agrupamento das falasdos egressos diz respeito aos fatores dificultadores (fd) -situações que influenciaram <strong>de</strong>sfavoravelmente sua inserçãono mercado <strong>de</strong> trabalho, conforme <strong>de</strong>scrição:“...<strong>de</strong>spreparo técnico do recém formado.../...falta <strong>de</strong>experiência profissional no mercado <strong>de</strong>trabalho.../...<strong>de</strong>spreparo para enfrentar a equipe <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>.../....pouco t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> estágios eaperfeiçoamento <strong>de</strong> procedimentos técnicos.../...a poucaexperiência prática na área <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação da equipe <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>.....”Fundamentação para o Exercício profissional - (FEP) nestacategoria <strong>de</strong>paramo-nos com as opiniões dos egressos sobrea importância das disciplinas curriculares oferecidas pelo CGE,que contribuíram efetivamente para exercício profissional,conforme as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> registros que se segu<strong>em</strong>:“...todas as disciplinas mais estágios.../...administraçãohospitalar.../...basestécnicas.../...estágiosupervisionado.../...as disciplinas da áreaprofissionalizante.../...políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.../...saúd<strong>em</strong>ental.../...metodologia científica.../...enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong>saú<strong>de</strong> pública...”Nas falas anteriores, pod<strong>em</strong>os observar que os egressosapresentam um grau <strong>de</strong> conhecimento e satisfação no quetange às disciplinas oferecidas pelo CGE-FMTM. Taismanifestações vêm ao encontro da Portaria n° 1.721, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong>janeiro <strong>de</strong> 1994, que preconiza os conteúdos e o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>duração do Curso <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>, elaboradospelas instituições formadoras, objetivando a integração dosconhecimentos básicos, teóricos e práticos, que permit<strong>em</strong> aoacadêmico <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> a competência no exercício pleno<strong>de</strong> sua profissão. A referida Portaria apresenta, ainda, as áreast<strong>em</strong>áticas que cont<strong>em</strong>plam as disciplinas relacionadas àsCiências Biológicas e Humanas.Nesse sentido, o currículo favorece a compreensãodicotomizada <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>/doença, prevenção/cura, assistênciahospitalar/saú<strong>de</strong> pública e unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> internação/ambulatório.A Contribuição para a formação do enfermeiro (CPFE) -estas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> registro abarcaram as sugestões dosegressos, no sentido <strong>de</strong> contribuír com o enfermeiro formadopelo Centro <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Dessa categoria<strong>em</strong>ergiram duas subcategorias <strong>de</strong>nominadas:Contribuição para os acadêmicos (CA) - engloba asunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> registro que <strong>em</strong>it<strong>em</strong> sugestões dos egressos paraos acadêmicos <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> do CGE, favorecendo assim,sua formação profissional. Pinçamos algumas falas a fim <strong>de</strong>ex<strong>em</strong>plificar esta subcategoria:108 - Rev. Min. Enf., 7(2):102-10, jul./<strong>de</strong>z., 2003


EGRESSOS DO CENTRO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DA FACULDADE DE MEDICINA DO TRIÂNGULOMINEIRO: FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA PROFISSIONAL“...t<strong>em</strong>os que nos manter informados s<strong>em</strong>pre.../...ao serinserido no mercado <strong>de</strong> trabalho o enfermeiro é cobrado<strong>em</strong> relação a ser lí<strong>de</strong>r.../...bom senso e noção <strong>de</strong>administração.../...aproveitar o máximo as disciplinas....”Contribuição para a formação do enfermeiro (CFE) -abrange as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> registro que englobam algumassugestões dos egressos dirigidas à coor<strong>de</strong>nação do CGE eaos docentes, com a perspectiva <strong>de</strong> melhorar a qualida<strong>de</strong> doensino oferecido por essa instituição. Selecionamos algumafalas a fim <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plificar esta subcategoria que se segue:“...preparar o aluno tanto para exercer a enfermag<strong>em</strong>,como também exercer a li<strong>de</strong>rança.../organização <strong>de</strong>grupos <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança.../...incentivo à pesquisa.../...maiorreconhecimento e espaço no HE...”Entre as sugestões <strong>em</strong>itidas pelos egressos, <strong>de</strong>stacamosalgumas falas, que diz<strong>em</strong> respeito aos recém-formados, porocasião <strong>de</strong> sua inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho. As falasmanifestam certas dificulda<strong>de</strong>s, por parte dos egressos, <strong>em</strong>estar assumindo o seu compromisso profissional.“...<strong>de</strong>spreparo técnico do recém formado.../...falta <strong>de</strong>experiência profissional no mercado <strong>de</strong> trabalho.../...falta<strong>de</strong> experiência para assumir sozinha a chefia <strong>de</strong> umhospital.../...insegurança....”As falas acima permit<strong>em</strong>-nos afirmar que as dificulda<strong>de</strong>s nainserção dos recém- formados no mercado <strong>de</strong> trabalho estãoatreladas ao próprio mercado e não propriamente aoórgão formador.Ainda com relação às contribuições para a formação dofuturo enfermeiro pelo CGE-FMTM, foi possível i<strong>de</strong>ntificaralgumas sugestões relevantes voltadas para possíveismudanças curriculares a ser<strong>em</strong> realizadas, com o objetivo <strong>de</strong>enriquecer e melhorar a qualida<strong>de</strong> do ensino oferecido poressa instituição, através das experiências vivenciadas nomercado <strong>de</strong> trabalho pelos egressos estudados nestapesquisa, conforme as falas abaixo:“...ministrar conteúdos integrados.../...rever currículo.../...inserção da disciplina <strong>de</strong> infecção hospitalar nocurrículo.../...maior aprofundamento <strong>em</strong> métodospedagógicos.../...impl<strong>em</strong>entar aulas noturnas...”Nas falas dos egressos “...ouvir mais as queixas dos alunospara po<strong>de</strong>r avaliar melhor as necessida<strong>de</strong>s edificulda<strong>de</strong>s.../...reestruturação das disciplinas comparticipação do aluno...” expressam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>possíveis mudanças curriculares por parte do CGE-FMTM,com a participação efetiva dos acadêmicos, dando início auma reflexão sobre a profissão do enfermeiro e seupróprio trabalho.Consi<strong>de</strong>rações FinaisNa presente pesquisa, foi possível verificar o processo <strong>de</strong>formação profissional <strong>de</strong>senvolvido no Centro <strong>de</strong> Graduação<strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do TriânguloMineiro a partir dos dados coletados nos questionários, comsugestões que visavam contribuir efetivamente para o cursooferecido pelo CGE-FMTM como, também, para o corpodocente e administrativo, na perspectiva <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>novos profissionais enfermeiros.Tais contribuições, po<strong>de</strong>rão suscitar melhoria da qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> ensino, proposta que se torna relevante para estainstituição, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> buscarmos novas soluçõesque venham melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino por nós oferecida.Pod<strong>em</strong>os, ainda, afirmar que o Curso <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong>Enfermag<strong>em</strong> oferecido pela FMTM t<strong>em</strong> atendido anecessida<strong>de</strong> do mercado <strong>de</strong> trabalho, visto que os dados pornós levantados, d<strong>em</strong>onstraram que a maioria dos egressos(98,0%), encontram-se <strong>em</strong> plena ativida<strong>de</strong> profissional eampliando os horizontes, através da consciência danecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aperfeiçoamento, para o seu sucessoprofissional.SummaryThis study examined the training of nurses at the NursingGraduation Center of the Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do TriânguloMineiro (FMTM), according to the opinion of alumni from 1992 to1999. There were 108 workers who respon<strong>de</strong>d to a questionnairewith open and multiple-choice questions. The answers wereanalyzed with the assistance of computer software, which helpedin counting the relative and absolute occurrence of the variablesun<strong>de</strong>r study. For open questions, the answers were analyzed forcontent, according to Bardin (1991) and 5 large categories<strong>em</strong>erged: professional dream, training in scientific activities,insertion in the labor market, foundations for professional activityand contribution to the School itself in training future nurses.Many suggestions were ma<strong>de</strong> by alumni to improve the quality ofthe teaching by the School.Keywords: Nursing, Nursing Education;ResumenEl objetivo <strong>de</strong>l presente estudio fue verificar el proceso <strong>de</strong>formación profesional, <strong>de</strong>sarrollado por el (CGE) Centro <strong>de</strong>Graduación en Enfermería <strong>de</strong> la Facultad <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong>lTriángulo Mineiro (FMTM) según la opinión <strong>de</strong> los egresadosentre 1992 y 1999. La muestra contó con 108 profesionales que- Rev. Min. Enf., 7(2):102-10, jul./<strong>de</strong>z., 2003109


EGRESSOS DO CENTRO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DA FACULDADE DE MEDICINA DO TRIÂNGULOMINEIRO: FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA PROFISSIONALrespondieron a un cuestionario compuesto por preguntasdisertativas y <strong>de</strong> múltiple opción. Las respuestas fueronanalizadas con el auxilio <strong>de</strong> un programa <strong>de</strong> computadora, loque permitió i<strong>de</strong>ntificar las frecuencias relativas y absolutas <strong>de</strong> lasvariables en cuestión. Con respecto a las preguntas disertativas,las respuestas fueron sometidas al análisis <strong>de</strong> contenido, segúnBardin (1991), resultando <strong>de</strong> ello 5 (cinco) gran<strong>de</strong>s categorías:sueño profesional, preparación en activida<strong>de</strong>s científicas,inserción en el mercado <strong>de</strong> trabajo, fundamentación para elejercicio profesional y contribución al CGE-FMTM en laformación <strong>de</strong>l futuro enfermero. Los egresados efectuaron variassugerencias con el objetivo <strong>de</strong> contribuir a mejorar la calidad <strong>de</strong>la enseñanza ofrecida por el CGE-FMTM.Palabras clave: Enfermería; Educacion en EnfermeriaReferências bibliográficas1. Moscovici S. A representação social da psicanálise. Rio <strong>de</strong>Janeiro: Zahar; 1978.2. Cardoso RJ. O uso do glutaral<strong>de</strong>ído e suas representaçõessociais entre profissionais <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. [Dissertação <strong>de</strong>Mestrado]. Ribeirão Preto: <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong>Ribeirão Preto - Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo; 1997.3. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Resolução Nº 196, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong>outubro <strong>de</strong> 1996.– Aprovação das diretrizes e normasregulamentadoras <strong>de</strong> pesquisas envolvendo sereshumanos. Disponível <strong>em</strong>: http://conselho.sau<strong>de</strong>.gov.br/comissao/eticapesq.htm. Acesso <strong>em</strong>: agosto <strong>de</strong> 20024. Bardin L. Análise <strong>de</strong> conteúdo. Lisboa: Edições; 1991.225p.5. Senne A. A. O curso <strong>de</strong> graduação <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> docentro universitário São Camilo. avaliação sob a ótica <strong>de</strong> exaluno.[Dissertação Mestrado] São Paulo: Universida<strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo, <strong>Escola</strong> Paulista <strong>de</strong> Medicina ; 2000.6. Souza SNDH. O egresso do curso <strong>de</strong> graduação <strong>em</strong> daUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Londrina: perfil sociod<strong>em</strong>ográfico,inserção no mercado <strong>de</strong> trabalho, atuaçãoprofissional e contribuição do curso. [Dissertação Mestrado]São Paulo: <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da USP; 2000.7. Lopes GT et al. Perfil do egresso da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Enfermag<strong>em</strong> da UERJ: estudo preliminar. Rev Enf UERJ1996; (ed.extra) : 38-50.8. Wrigt MGM. O espaço da mulher brasileira e o espaço daenfermag<strong>em</strong> brasileira. Rev Bras Enf 1985 jan./mar.; 38 (1):55-62.9. Nakamae DD et al. Caracterização socioeconômica eeducacional do estudante <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> nas escolas <strong>de</strong>Minas Gerais. Rev Esc Enf USP 1997 abr.; 31(1): 109-18.10. Vieira ALS, Silva MTM. 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O IDOSO E A UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA IDADE*THE ELDERLY AND THE UNIVERSITY OPEN TO SENIORCITIZENSEL ANCIANO Y LA UNIVERSIDAD ABIERTA A LA TERCERAEDADLylian Salomé Fernan<strong>de</strong>s **Andressa Garcia Nicole ***Milei<strong>de</strong> Morais Pena ***Maria Betânia Tinti <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>****RESUMOCada vez mais o Brasil v<strong>em</strong> se tornando um país <strong>de</strong> idosos, mas a socieda<strong>de</strong> ainda não está preparada para acolher b<strong>em</strong> esses idosos. A Universida<strong>de</strong>Aberta à Terceira Ida<strong>de</strong> surge como um trabalho <strong>de</strong> valorização do idoso. Através <strong>de</strong>ste estudo procurou-se <strong>de</strong>svelar os motivos que levam o idoso aprocurar a UnATI. Para isto optamos pela pesquisa qualitativa com abordag<strong>em</strong> fenomenológica. Segundo os sujeitos do presente estudo a UnATI éprocurada como uma maneira <strong>de</strong> fugir da solidão, <strong>de</strong> buscar ativida<strong>de</strong>s que preencham a ociosida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r coisas novas, e umabusca por um convívio com pessoas da mesma ida<strong>de</strong> e com os jovens.Palavras-chave: Idoso; Universida<strong>de</strong>s; Educação Superior.Para Souza 1 , o t<strong>em</strong>po é o verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>terminante daconcepção que cada pessoa t<strong>em</strong> <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> vivência, pois <strong>em</strong>função <strong>de</strong>le vários aspectos gerais caracterizam a dinâmica daterceira ida<strong>de</strong> e a i<strong>de</strong>ntificação que cada um faz <strong>de</strong> si mesmonessa fase. O t<strong>em</strong>po condiciona modificações biológicas doenvelhecimento, b<strong>em</strong> como a dinâmica da personalida<strong>de</strong> e aspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> adaptação social, já que a pessoa é obrigadaa assumir uma posição existencial.Segundo Barreto 2 , a velhice é associada, <strong>em</strong> geral, amodificações no corpo, sendo as principais o aparecimento <strong>de</strong>cabelos brancos e rugas, o andar mais lento, a posturaencurvada, a redução da capacida<strong>de</strong> auditiva e visual. Outrasmudanças internas ocorr<strong>em</strong>, ocasionando alterações nosdiversos sist<strong>em</strong>as do corpo. O processo <strong>de</strong> cicatrização <strong>de</strong>ferimentos é geralmente mais lento na velhice, <strong>em</strong> comparaçãocom a infância. Os ossos ficam mais sujeitos a fraturas, e estasd<strong>em</strong>oram mais a se consolidar.Os probl<strong>em</strong>as psicológicos, principalmente a <strong>de</strong>pressão,estão ligados a esse <strong>de</strong>clínio nas funções gerais do organismoe às mudanças na beleza e na forma do corpo; há também ummarcante <strong>de</strong>clínio na ativida<strong>de</strong> sexual entre os idosos. Diante<strong>de</strong>ssas modificações <strong>em</strong> seu próprio corpo, a pessoa terá <strong>de</strong> se“assumir velha”, tendo sua auto-imag<strong>em</strong> b<strong>em</strong> comprometida.Algumas tentarão adiar esse momento, outras irão exagerar asconseqüências da velhice. As duas atitu<strong>de</strong>s, opostas, incidirãosobre as atitu<strong>de</strong>s diante da doença e da saú<strong>de</strong>, comconseqüências práticas para os cuidados como corpo 2 .Todos, segundo Barreto 2 <strong>de</strong> uma maneira ou <strong>de</strong> outra,mostram espanto diante do corpo envelhecido – envelhecendo,que agora lhes é estranho.Na <strong>de</strong>scrição da velhice, quando se abandona suaexteriorida<strong>de</strong> – o corpo – e se busca sua interiorida<strong>de</strong>, o que seencontra <strong>de</strong> mais forte é o sentimento <strong>de</strong> solidão. Essesentimento r<strong>em</strong>ete, por sua vez, a outras realida<strong>de</strong>s concretas:aposentadoria, relacionamento com a família e relaçõesamorosas, entre outras 2 .Os m<strong>em</strong>bros mais novos da família têm outros interesses, ea casa já não t<strong>em</strong> o aconchego <strong>de</strong> antes. Muitas vezes, osidosos são <strong>de</strong>stituídos <strong>de</strong> seu papel <strong>de</strong> donos-<strong>de</strong>-casa e* Pesquisa realizada com apoio da Secretaria <strong>de</strong> Ensino Superior através doPrograma Especial <strong>de</strong> Treinamento.** Enfermeira, ex-bolsista <strong>de</strong> Iniciação Científica do Grupo PET, especialista<strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> da Família pelo Projeto Veredas <strong>de</strong> Minas – <strong>UFMG</strong>, pós-graduanda<strong>em</strong> Formação Pedagógica <strong>em</strong> Área da Saú<strong>de</strong> – Enfermag<strong>em</strong> pela FIOCRUZ.*** Enfermeira.**** Enfermeira, Docente do Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong>Farmácia e Odontologia <strong>de</strong> Alfenas/Centro Universitário Fe<strong>de</strong>ral, Mestre <strong>em</strong>Enfermag<strong>em</strong> pela <strong>UFMG</strong>.En<strong>de</strong>reço para correspondência:Lylian Salomé Fernan<strong>de</strong>sRua José Luiz da Costa Maia, 109.CEP: 37.275-000 – Cristais – MGTel: 35 - 3835.1164/ 35 - 3291.7316lylianenfermag<strong>em</strong>@zipmail.com.br- Rev. 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O IDOSO E A UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA IDADE *substituídos por seus filhos, sendo <strong>de</strong>spojados <strong>de</strong> suas coisas,<strong>de</strong> suas l<strong>em</strong>branças, <strong>de</strong> seu espaço 2 .Há um isolamento benéfico ao ser humano, que propiciareflexão e a procura da melhor compreensão <strong>de</strong> si mesmo edos outros. Os idosos muitas vezes procuram essa forma <strong>de</strong>estar consigo mesmos. Na velhice, a solidão pesa, estesentimento <strong>de</strong> solidão ocorre, quando se procura companhia enão se acha, e quando a dor e a sauda<strong>de</strong>, tornam-se muitopesadas, quando a morte já levou um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong>parentes e amigos, e sua possibilida<strong>de</strong> torna-seincomodamente próxima 2 .A viuvez, a falta do companheiro ou da companheira, aausência <strong>de</strong> um parceiro amoroso tornam a solidão do idosoainda mais profunda 2 .A pessoa passa por novas situações, tendo <strong>de</strong> enfrentardificulda<strong>de</strong>s para assegurar seu lugar no mercado <strong>de</strong> trabalho,na família e no meio social, pois aos olhos <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> envelhece,as pessoas ao redor não mais lhe test<strong>em</strong>unham a suficientegratidão pelo que foi e fez e o <strong>de</strong>vido respeito pelo que ainda écomo um ser. Entrega-se ao passado para garantir o presentena tentativa <strong>de</strong> usufruir o que se constitui <strong>em</strong> sua trajetória 1 .Nesse aspecto, a pessoa que vive a terceira ida<strong>de</strong> dá umoutro significado ao t<strong>em</strong>po, pois fica claro que o mesmo nasce<strong>de</strong> sua relação com as coisas, estruturando fundamentalmenteo seu existir. Percebe-se t<strong>em</strong>poral e marcado pela finitu<strong>de</strong>, poisé esta a sua relação com o mundo. Daí advém angústiaexistencial por encontrar-se preso à morte e existindo. O t<strong>em</strong>popassa a ter conotação afetiva e as atitu<strong>de</strong>s da pessoa <strong>em</strong>relação à terceira ida<strong>de</strong> irão variar <strong>de</strong> acordo com ainterpretação e tratamento que esse indivíduo dá às suasexperiências existenciais 1 .Os idosos sab<strong>em</strong> que a morte é irreversível e inevitável e estácada vez mais próxima. A própria vida social encarrega-se d<strong>em</strong>ostrar ao idoso a proximida<strong>de</strong> da morte. Cada vez menos, eleencontra <strong>em</strong> seu ambiente pessoas <strong>de</strong> sua ida<strong>de</strong> ou maisidosas do que ele 2 .Na velhice, o probl<strong>em</strong>a mortalida<strong>de</strong>/imortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> serfilosófico, religioso, cultural e passa a ser existencial. Assumir avelhice exige um posicionamento diante <strong>de</strong>ssa que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser“uma questão”, para tornar-se “a questão” 2 .Outro aspecto que não po<strong>de</strong> ser esquecido é que o aumentoda população idosa, nos últimos t<strong>em</strong>pos, <strong>de</strong>sperta-nos paranovas reflexões acerca do envelhecimento. Na terceira ida<strong>de</strong>,acontec<strong>em</strong> várias modificações biopsicossociais que alteram arelação do hom<strong>em</strong> com o meio no qual está inserido. Umas<strong>de</strong>ssas alterações <strong>de</strong> âmbito social, segundo Oliveira 3 , é oaumento do t<strong>em</strong>po livre que as pessoas adquir<strong>em</strong> com achegada da aposentadoria.Além disso, a aposentadoria afastou o idoso do convívio comos colegas e <strong>de</strong>ixou horas diárias a ser<strong>em</strong> preenchidas: umt<strong>em</strong>po vazio 2 .Segundo Guidi e Moreira 4 , o aposentado <strong>de</strong>ve organizar suavida não evitando ficar ocioso, não se recolhendo a si mesmopensando <strong>em</strong> doenças, no passado e nas perdas daterceira ida<strong>de</strong>.Esse t<strong>em</strong>po livre po<strong>de</strong> ser preenchido <strong>de</strong> diferentes formasque variam conforme a personalida<strong>de</strong>, hábitos <strong>de</strong> vida, situaçãosocioeconômica, e com o contexto social. Alguns estudossobre hábitos <strong>de</strong> lazer no Brasil mostram que os idosos nãotiveram opções <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver essa prática, enfrentandodificulda<strong>de</strong>s como a falta <strong>de</strong> motivação. Para Oliveira 3 , se oidoso foi um adulto que <strong>de</strong>dicou um t<strong>em</strong>po livre para si, paraaquilo <strong>de</strong> que gosta, que lhe traz prazer, saberá aproveitar outraoportunida<strong>de</strong> que lhe será oferecida.Sabe-se da importância entre trabalho e lazer para que apessoa possa realizar-se plenamente, pois um apóia e fortificao outro, buscando um equilíbrio pleno da totalida<strong>de</strong> do ser,envolvendo o sujeito na sua integrida<strong>de</strong>. Segundo Dumazedier 5 ,o lazer representa o conjunto <strong>de</strong> ocupações não obrigatórias àsquais o indivíduo po<strong>de</strong> se entregar <strong>de</strong> bom grado, seja pararepousar, <strong>de</strong>senvolver a informação ou formação<strong>de</strong>sinteressada, a participação social ou sua livre capacida<strong>de</strong>criadora, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> liberado <strong>de</strong> suas obrigações profissionais,familiares e sociais.Krüger 6 ao comentar sobre a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidana terceira ida<strong>de</strong> relata que a aplicação <strong>de</strong> conhecimentos,métodos e técnicas <strong>de</strong> trabalho oriundas <strong>de</strong> áreas científicas eprofissionais diversas é um campo heterogêneo e complexo noqual profissionais <strong>de</strong> quase todas as áreas se integram com oobjetivo <strong>de</strong> promover uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para osidosos. Isso po<strong>de</strong> ser feito <strong>em</strong> quatro dimensões: a otimização,através da ativida<strong>de</strong> intelectual e prática <strong>de</strong> exercícios físicos edas habilida<strong>de</strong>s disponíveis ao idoso; a prevenção <strong>de</strong> cuidadospessoais, a fim <strong>de</strong> reduzir a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong>situações prejudiciais à saú<strong>de</strong>; a reabilitação, genericamentecaracterizada por tentativas <strong>de</strong> recuperação, ainda que parciais,<strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>terioradas; e finalmente o gerenciamento <strong>de</strong>situações irreversíveis, o qual visa favorecer mudanças <strong>de</strong>atitu<strong>de</strong>s e crenças para aceitação <strong>de</strong> fatos consumados.A felicida<strong>de</strong> é uma busca unânime <strong>de</strong> todas as gerações eculturas, o que torna possível i<strong>de</strong>ntificar a ludicida<strong>de</strong> dasativida<strong>de</strong>s físicas como um agente <strong>de</strong> contribuição bastantesignificativo, proporcionando um equilíbrio, entre trabalho elazer e, conseqüent<strong>em</strong>ente, felicida<strong>de</strong> e b<strong>em</strong>-estar 4 .Quando enfatiza a velhice, Wechsler 7 aponta para aimportância da criativida<strong>de</strong> do idoso, para o fato <strong>de</strong> que avelhice não po<strong>de</strong>rá ser um momento <strong>de</strong> esperar a morte, massim <strong>de</strong> estimular a pessoa a realizar a sua missão criativa esentir que foi importante para a humanida<strong>de</strong>. Segundo o autor,não há limite <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> para o trabalho, para estudar e apren<strong>de</strong>r,para realizar-se plenamente, bastando somente entrar nadinâmica do movimento, da cultura, do fazer, das relações112 - Rev. Min. Enf., 7(2):111-6, jul./<strong>de</strong>z., 2003


O IDOSO E A UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA IDADE *sociais, do pensar e do sentir, procurando <strong>de</strong>finir uma novai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social.Analisando a projeção d<strong>em</strong>ográfica, Barreto 2 aponta que oenvelhecimento populacional é um fenômeno d<strong>em</strong>ográfico hámuito <strong>de</strong>tectado nos países <strong>de</strong>senvolvidos. O Brasil é um paísque está envelhecendo. Ainda segundo a autora s<strong>em</strong>pretiv<strong>em</strong>os o conceito <strong>de</strong> que éramos um país jov<strong>em</strong>, que oprobl<strong>em</strong>a do envelhecimento dizia respeito aos paíseseuropeus, norte-americanos e asiáticos. Realmente, nessespaíses se vive mais, existe uma maior expectativa <strong>de</strong> vida. Noentanto, poucos se <strong>de</strong>ram conta <strong>de</strong> que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 60, osidosos, <strong>em</strong> sua maioria, viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> países do terceiro mundo eque as projeções estatísticas d<strong>em</strong>onstram ser essa a faixaetária que mais crescerá na maioria dos países menos<strong>de</strong>senvolvidos.Barreto 2 diz que, <strong>de</strong>ntre as mudanças d<strong>em</strong>ográficasapresentadas, hoje no Brasil, a mais séria é, s<strong>em</strong> dúvida, oaumento do número proporcional e absoluto <strong>de</strong> idosos e que oPaís terá <strong>de</strong> enfrentar probl<strong>em</strong>as ligados ao envelhecimento dapopulação <strong>em</strong> uma situação paradoxal, pois o ritmo inesperadodo fenômeno não nos dará t<strong>em</strong>po para superar probl<strong>em</strong>astípicos do sub<strong>de</strong>senvolvimento. Vale ressaltar que a velhice éuma realida<strong>de</strong> incômoda e que mesmo nos países<strong>de</strong>senvolvidos ainda não foram encontradas soluçõessatisfatórias e humanas para os idosos.Segundo dados publicados pela UnATI 8 , o Brasil será, porvolta <strong>de</strong> 2025, o sexto país do mundo <strong>em</strong> magnitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>população idosa. Essa perspectiva d<strong>em</strong>anda novas propostaspara as políticas sociais e uma compreensão do significado danova estrutura <strong>de</strong>ssa população <strong>em</strong> relação à sua capacida<strong>de</strong>produtiva, às d<strong>em</strong>andas previ<strong>de</strong>nciárias, às mudanças <strong>de</strong> perfil<strong>de</strong> morbida<strong>de</strong> e às necessida<strong>de</strong>s gerais <strong>de</strong> equipamentosurbanos, entre outros aspectos.Um dos caminhos <strong>de</strong> transformação é, precisamente, oacesso ao conhecimento acumulado <strong>de</strong> que dispõe nossasocieda<strong>de</strong>, o qual <strong>de</strong>ve possibilitar reflexões e mudanças <strong>de</strong>atitu<strong>de</strong>s (UNESP 9 ).As respostas a este cenário passam por uma estruturainstitucional capaz <strong>de</strong> viabilizar programas <strong>de</strong> ensino <strong>em</strong>graduação e pós-graduação, <strong>de</strong> conteúdo realmenteabrangente, consistentes com a amplitu<strong>de</strong> da questão, eoriginar uma nova mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acordo com os novost<strong>em</strong>pos, formando profissionais aptos a operacionalizarpesquisas, capazes <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões e providências para umapolítica mais a<strong>de</strong>quada à saú<strong>de</strong>, à integração cultural e social eproporcionar uma segunda oportunida<strong>de</strong> profissional,a<strong>de</strong>quada às suas possibilida<strong>de</strong>s e capacida<strong>de</strong>s 8 .A universida<strong>de</strong> <strong>em</strong>erge nesse contexto como el<strong>em</strong>entoimportante, t<strong>em</strong> papéis <strong>de</strong> transmissora e geradora <strong>de</strong>conhecimento, através do convívio que sua estruturaproporciona e, portanto, t<strong>em</strong> responsabilida<strong>de</strong>s e condições <strong>de</strong>interferir no processo <strong>de</strong> transformação da socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong>relação ao idoso. Ela <strong>de</strong>ve estabelecer uma crítica científica dodiscurso i<strong>de</strong>ológico vigente.Aos jovens universitários <strong>de</strong>ve ser estimulado um <strong>de</strong>spertarpara a questão do idoso. Esses alunos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser incentivadospara atuar no presente, como agentes <strong>de</strong> mudanças e, nofuturo, beneficiários <strong>de</strong>ssas transformações 8 .A Universida<strong>de</strong> para a Terceira Ida<strong>de</strong> (UnATI) abre espaço,s<strong>em</strong> restrições, aos idosos para que possam freqüentá-la. Estasações conscientes visam a transformações sociais que sereflet<strong>em</strong> na cidadania 9 .A finalida<strong>de</strong> da UnATI é a <strong>de</strong> estimular a atualização doconhecimento, a troca <strong>de</strong> experiências, a volta ao convíviosocial e o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho pleno do papel da cidadania <strong>de</strong> pessoasadultas e da terceira ida<strong>de</strong>, tornando-as socialmenteprodutivas, além <strong>de</strong> permitir a pessoas adultas idosas o acessoà universida<strong>de</strong> para, na perspectiva da educação continuada,participar<strong>em</strong> <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s educativas, socioculturais e <strong>de</strong> açãocomunitária 9 .Por não ter finalida<strong>de</strong> profissionalizante, a UnATI procura<strong>de</strong>spertar no idoso o interesse pelas mais variadas áreas doconhecimento, mantendo-o <strong>em</strong> dia com o presente. Mas, pormaior que seja o apoio <strong>de</strong> instituições <strong>de</strong>sse tipo é necessárioque o idoso, ele próprio, <strong>de</strong>seje participar da vida, s<strong>em</strong>consi<strong>de</strong>rar-se rejeitado ou marginalizado apenas porque já não<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha uma ativida<strong>de</strong> produtiva 8 .A <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Farmácia e Odontologia <strong>de</strong> Alfenas (EFOA),através da Pró-Diretoria <strong>de</strong> Extensão, criou a Universida<strong>de</strong>Aberta à Terceira Ida<strong>de</strong>, com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> EFOATI,contando inicialmente com um número expressivo <strong>de</strong> inscritos,o que nos motivou a realizar este estudo, movidas pelanecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrirmos o que impulsionava o idoso a s<strong>em</strong>atricular nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas pela referidauniversida<strong>de</strong>. O presente estudo teve como objetivocompreen<strong>de</strong>r os motivos que levaram o idoso a procurar pelaUniversida<strong>de</strong> da Terceira Ida<strong>de</strong>- EFOATI.Percurso metodológicoOptamos por trabalhar com a abordag<strong>em</strong> qualitativa,utilizando a trajetória fenomenológica como forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>svelaros motivos que levaram o idoso a procurar a EFOATI.Para Martins, Bo<strong>em</strong>er e Ferraz 10 , fenômeno é aquilo quesurge <strong>de</strong> uma consciência, o que se manifesta para essaconsciência, como resultado <strong>de</strong> uma interrogação, <strong>de</strong> umquestionamento acerca <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado t<strong>em</strong>a.A trajetória fenomenológica consiste <strong>em</strong> três momentos: a<strong>de</strong>scrição, a redução e a compreensão, sendo que esta últimaaponta para uma interpretação, segundo referencial <strong>de</strong> Martinse Bicudo 11 .- Rev. Min. 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O IDOSO E A UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA IDADE *Foram coletados <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> 20 alunos matriculados,que freqüentaram a EFOATI e que foram abordados com aseguinte questão norteadora: Qual o motivo que o levou aprocurar a EFOATI ?Os discursos foram gravados, com autorização dos sujeitos,sendo a participação voluntária e assegurado o caráterconfi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> suas falas. Após explicados os objetivos dapesquisa, pedíamos que assinass<strong>em</strong> o termo <strong>de</strong> consentimentoesclarecido, conforme consta na Resolução 196/96 12 . Osdiscursos foram transcritos na íntegra após o encerramento <strong>de</strong>cada entrevista.Após cada transcrição das entrevistas e <strong>de</strong> várias leituras dasmesmas, começamos a retirar as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significado <strong>de</strong>cada discurso, que foram agrupadas <strong>de</strong> acordo com asconvergências <strong>de</strong> seus t<strong>em</strong>as e com os aspectos comuns quesurgiram nas <strong>de</strong>scrições, dando orig<strong>em</strong> a cinco categorias:“Fuga da solidão”, “Busca <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que preencham aociosida<strong>de</strong> da aposentadoria”, “Vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r coisasnovas”, “Busca pelo convívio com pessoas da mesma ida<strong>de</strong> ecom pessoas mais jovens”; “Atendimento a uma recomendaçãodo profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>”.Em seguida, passamos à análise dos resultados. A fim <strong>de</strong>resguardar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos sujeitos da pesquisa foramomitidos os seus nomes e usados nomes fictícios.Construindo os resultadosCom base nos relatos verbais dos sujeitos, o agrupamentodas categorias se <strong>de</strong>u pela convergência das falas.As categorias foram assim analisadas:• Fuga da solidãoOs trechos dos <strong>de</strong>poimentos mostram que os entrevistadosqueixam-se <strong>de</strong> solidão e que a EFOATI surge como um recursopara fugir <strong>de</strong>sses sentimentos:(Helena) . .Olha! eu me sinto muito sozinha, porque eu morosó com um filho e ele conversa pouco. .(Júlia) . . Bom, eu ficava <strong>em</strong> casa sozinha. .(Ana) . . um pouco <strong>de</strong> solidão, que a gente já criou os filhos.Segundo Barreto 2 , o sentimento <strong>de</strong> solidão é algo queacomete uma gran<strong>de</strong> parcela da população na terceira ida<strong>de</strong>. Éneste momento que, na maioria das vezes, os filhos casam-seou sa<strong>em</strong> <strong>de</strong> casa, o parceiro conjugal po<strong>de</strong> já ter falecido e asamiza<strong>de</strong>s começam a distanciar-se. É um período <strong>em</strong> que ocorpo não respon<strong>de</strong> tão b<strong>em</strong> como antes, po<strong>de</strong> existir adificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> executar tarefas diárias, o que contribui aindamais para o isolamento do idoso.O sentimento maior <strong>de</strong> solidão se dá pelo afastamento dosfilhos. Estes pod<strong>em</strong> ser participativos na vida dos pais, porémtêm sua vida própria e suas atribuições, o que diminui seut<strong>em</strong>po <strong>de</strong> permanência junto aos pais. Os pais, por sua vez,pod<strong>em</strong> sentir-se abandonados e sozinhos.Além da solidão pela perda dos entes queridos e dos amigos,há também a solidão subjetiva, caracterizada por sentir-se sómesmo estando com outros, pela exclusão social <strong>em</strong>conseqüência da velhice e pelo sentimento <strong>de</strong> perdas das suasreferências. É uma nostalgia <strong>de</strong> algo que, mesmo não tendoexistido <strong>completa</strong>mente, faz parte do passado e é sentido comoalgo irrecuperável.• Busca <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que preencham a ociosida<strong>de</strong> daaposentadoriaOs idosos relatam nos trechos seguintes que os motivos queos levaram a procurar a EFOATI foi a procura <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s quepreenchess<strong>em</strong> o seu dia-a-dia após a aposentadoria.(Maria) . .que eu tenho muito t<strong>em</strong>po disponível porque eusou aposentada e queria preencher as minhas horas livres,mas com coisas boas. .(Mônica) . .a gente quando chega uma certa altura da vidase aposenta e passou a vida inteira trabalhando, a gentequer continuar fazendo alguma coisa. .(João) . .a ida<strong>de</strong> vai chegando e a gente vai ficando umpouco s<strong>em</strong> opção. .O sonho da maioria das pessoas da civilização oci<strong>de</strong>ntalindustrial é ter um <strong>em</strong>prego ou exercer uma profissão liberal e<strong>de</strong>pois se aposentar. Sendo que aposentar, para alguns,significa ficar <strong>em</strong> uma situação supostamente idílica. Os bancosdas praças públicas estão bastante guarnecidos <strong>de</strong>ssesaposentados.O mito da aposentadoria está bastante arraigado <strong>em</strong> todosnós. A ida<strong>de</strong> da aposentadoria não significa necessariamentevelhice, sobretudo na legislação brasileira, porém, po<strong>de</strong>precipitar o envelhecimento.A maioria das pessoas que se aposentam se vê privada <strong>de</strong>seu ambiente <strong>de</strong> trabalho; o que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma perda.Há ainda a concepção <strong>de</strong> que a aposentadoria é o marco finalprodutivo do trabalhador, t<strong>em</strong>po implacável <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nação doidoso ao isolamento.O <strong>em</strong>prego é uma fonte <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> na socieda<strong>de</strong>; quandov<strong>em</strong> a aposentadoria é como se o indivíduo se sentisse incapaz<strong>de</strong> realizar o seu papel social. Seria o início <strong>de</strong> uma quebra dai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> Ferrari 13 .Uma pessoa que passa muito t<strong>em</strong>po envolvida com seutrabalho e na rotina do seu dia-a-dia, quando se vê ausente doscompromissos, sente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preencher seu t<strong>em</strong>pocom alguma ativida<strong>de</strong> que possa lhe proporcionar prazer, nestecaso, a EFOATI.• Vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r coisas novasA próxima categoria revela o <strong>de</strong>sejo dos idosos <strong>de</strong> continuarapren<strong>de</strong>ndo coisas novas; por isso ingressam na EFOATI.(Beatriz) . .porque eu gosto <strong>de</strong> estar s<strong>em</strong>pre apren<strong>de</strong>ndo. .(Camila) . .eu gostaria <strong>de</strong> fazer um curso. . é um meio dagente passar o t<strong>em</strong>po apren<strong>de</strong>ndo. .114 - Rev. Min. 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O IDOSO E A UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA IDADE *(Cínthia) . .s<strong>em</strong>pre me interessei por apren<strong>de</strong>r coisas novas.(Pedro) . .é uma oportunida<strong>de</strong> que apareceu pra genteestudar <strong>de</strong>pois dos 50 anos.A ida<strong>de</strong> madura é naturalmente um momento a<strong>de</strong>quado paraas práticas terapêuticas que modificam o estado bioenergético,porque há nessa fase da vida um interesse espontâneo pelasquestões mais profundas da existência, <strong>em</strong> razão do t<strong>em</strong>po jávivido, do t<strong>em</strong>po incerto e do viver total, pela experiência comas paixões humanas e, ainda, pela disponibilida<strong>de</strong> psíquica e <strong>de</strong>t<strong>em</strong>po. A velhice não é apenas um fenômeno biológico, mastambém um fato cultural, e a palavra <strong>de</strong>clínio talvez perca suasignificação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do mo<strong>de</strong>lo adotado pela socieda<strong>de</strong>Pessini 14 .Com o avançar da ida<strong>de</strong> e a diminuição das ativida<strong>de</strong>scotidianas as pessoas se vê<strong>em</strong> com gran<strong>de</strong> parte do seu t<strong>em</strong>polivre e surge a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r coisas novas, que s<strong>em</strong>prelhes interessaram, mas às quais nunca tiveram oportunida<strong>de</strong> out<strong>em</strong>po <strong>de</strong> se <strong>de</strong>dicar.A EFOATI surge então como uma proposta <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> várias ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>spertando a vonta<strong>de</strong>natural <strong>de</strong> cada ser humano <strong>de</strong> buscar novos conhecimentos.Voltar a estudar na terceira ida<strong>de</strong> é como retornar às ativida<strong>de</strong>sda juventu<strong>de</strong>, época muito relacionada a muitas l<strong>em</strong>branças,geralmente, prazerosas.• Busca <strong>de</strong> convívio com pessoas da mesma ida<strong>de</strong> e compessoas mais jovensNos fragmentos dos discursos, a seguir, os idosos revelamcomo é importante a convivência com pessoas mais jovens ouda mesma ida<strong>de</strong>:(Catarina) . .o ambiente e esse convívio com a juventu<strong>de</strong>que a gente, né, recebe um pouco <strong>de</strong>sse ar juvenil. .(Marcela) . .pra viver mais, porque aqui a convivência como pessoal mais jov<strong>em</strong> e com as pessoas da mesma ida<strong>de</strong>s<strong>em</strong>pre é importante. .(Irac<strong>em</strong>a) . .conviver com outras pessoas. .(Beatriz) . .o convívio, que a gente conhece outras pessoas,convive com todo mundo.Há uma necessida<strong>de</strong> natural do hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> viver <strong>em</strong>socieda<strong>de</strong>, pois através da troca <strong>de</strong> experiências, <strong>de</strong> afetos eangústias é que ele se sente mais capaz e valorizado.A importância do relacionamento afetivo é uma condiçãopara que o idoso se posicione positivamente, se fortaleça porinteiro e <strong>de</strong>scubra novas motivações para viver intensamenteseu ciclo <strong>de</strong> existência Almeida 15 .A convivência com pessoas da mesma ida<strong>de</strong> ajuda afortalecer cada idoso e o grupo como um todo. Os idosos quefreqüentam a Universida<strong>de</strong> Aberta à Terceira Ida<strong>de</strong>- EFOATItornam-se mais alegres, mais resistentes a agressões econhecedores dos seus direitos. No convívio com os idosos épreciso nos atentarmos para a importância dos vínculos, ouseja, para a importância <strong>de</strong> estar com o outro para nosfortalecermos.Conviver com pessoas da mesma ida<strong>de</strong> traz um sentimentopara o idoso <strong>de</strong> que tudo valeu a pena, uma vez que suavivência, <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra, fortalece o companheiro.Além disso, o idoso percebe que suas dúvidas e medostambém faz<strong>em</strong> parte do cotidiano da maioria das pessoas <strong>de</strong>sua faixa etária.A convivência com as pessoas mais jovens faz com que oidoso rel<strong>em</strong>bre os fatos mais marcantes <strong>de</strong> sua história <strong>de</strong> vida.Essa volta o reanima e traz a sensação <strong>de</strong> que suasexperiências positivas e negativas o ajudarão a não cometer osmesmos erros do passado.• Atendimento a uma recomendação do profissional <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>Um convite feito pelo médico fez com que gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong>pessoas procurasse a EFOATI, conforme se evi<strong>de</strong>ncia nasseguintes falas:(Luzia) . .o convite principal foi um convite que o Dr X mefez, no momento que eu fiz uma consulta com ele, ele mefez uma. . me fez um convite, sabe?. .(Íris) . .foi um com convite. Fui convidada para procurar.É relevante ressaltar a importância <strong>de</strong> procurar a equipe <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> para um acompanhamento do processo <strong>de</strong>envelhecimento. O comportamento natural da pessoa é terconfiança no seu médico. Isso ocorre principalmente com osidosos, que encontram nas recomendações do seu médicoalgo favorável à sua existência. Por isso acatam sua opinião eprocuram a EFOATI, acreditando que essa opinião é um fatorimportante para melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.As falas dos sujeitos manifestam uma maior motivação <strong>de</strong>viver, quando os idosos criam novos vínculos e praticamativida<strong>de</strong>s que lhes proporcionam prazer e benefícios pessoaisevi<strong>de</strong>nciando que a indicação do médico foi um fato queproporcionou a busca <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s.Consi<strong>de</strong>rações FinaisOs discursos dos idosos revelam que os motivos que oslevaram a procurar a EFOATI foram: a fuga da solidão, a busca<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que preenchess<strong>em</strong> o seu dia-a-dia, a fuga daociosida<strong>de</strong> da aposentadoria, além da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>rcoisas novas e conviver com outras pessoas idosas e com osmais jovens. E estes discursos são mais reveladores quandoexpõ<strong>em</strong> a angústia do idoso <strong>de</strong> sentir-se só e a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> buscar a EFOATI como uma forma <strong>de</strong> fugir <strong>de</strong>ssesentimento <strong>de</strong> solidão.A partir <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>svelar, as autoras vislumbram que mesmona velhice é necessário que as pessoas não percam o interessepelas alegrias da vida, tornando-se essencial que prossigam<strong>de</strong>senvolvendo ativida<strong>de</strong>s físicas e que estimul<strong>em</strong> a área- Rev. Min. Enf., 7(2):111-6, jul./<strong>de</strong>z., 2003115


O IDOSO E A UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA IDADE *intelectual para que a socieda<strong>de</strong> continue a se beneficiar comsuas experiências <strong>de</strong> vida. Acreditam ainda que se po<strong>de</strong>envelhecer com saú<strong>de</strong> através da participação <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> lazer e com ampla convivência social, consi<strong>de</strong>rando queessas práticas proporcionam a elevação da auto-estima econseqüente melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.As falas dos idosos que buscaram a EFOATI revelam quequando se participa <strong>de</strong> um viver coletivo e cotidiano não sefecha <strong>em</strong> um círculo, e assim o idoso jamais conhecerá asolidão. Os discursos apontam que os idosos que freqüentama EFOATI são felizes, ocupados e interessados, ao invés <strong>de</strong>aposentados que disfarçam o vazio, o tédio, a <strong>de</strong>pressãoe a tristeza.Faz-se necessário <strong>de</strong>spertar toda a população, entida<strong>de</strong>sgovernamentais e dos setores privados, pessoas e grupos dacomunida<strong>de</strong> para assumir<strong>em</strong>, progressivamente, asresponsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> participação na melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vida das pessoas que ating<strong>em</strong> a terceira ida<strong>de</strong>.Este estudo não teve a pretensão <strong>de</strong> concluir o assunto, poishaverá s<strong>em</strong>pre alguém com um outro olhar, buscando novapercepção e compreensão acerca <strong>de</strong>ste fenômeno.SummaryBrazil is becoming, more and more, a country of senior citizens,but society is not yet ready to receive th<strong>em</strong> well. The UniversityOpen to Senior Citizens is an effort to <strong>em</strong>power senior citizens.This study was an att<strong>em</strong>pt to find out why these people look upthis University. We chose quantitative research with aphenomenological approach. According to the subjects of thisstudy, the University is looked up in or<strong>de</strong>r to get away fromloneliness, find activities to avoid idleness, a will to learn newthings and a search for companionship of people of the same ageand young people.Keywords: Aged; Universites; Higher EducationResumenBrasil se está transformando cada vez más en un país <strong>de</strong>personas ancianas. Sin <strong>em</strong>bargo, la sociedad todavía no estápreparada para acogerlas. La Universidad Abierta a laTercera Edad surge como un trabajo <strong>de</strong> valoración <strong>de</strong> losancianos. A través <strong>de</strong> este estudio se buscó <strong>de</strong>svelar losmotivos que llevan a los ancianos a buscar la UNATI.Optamos por la investigación cualitativa con enfoquefenomenológico. Según los sujetos <strong>de</strong>l presente estudio, laUnATI les sirve como escape <strong>de</strong> la soledad dón<strong>de</strong> van abuscar activida<strong>de</strong>s para llenar el ti<strong>em</strong>po libre, con ganas <strong>de</strong>apren<strong>de</strong>r cosas nuevas y dón<strong>de</strong> buscan la convivencia conjóvenes y personas <strong>de</strong> la misma edad.Palabras clave: Anciano; Universida<strong>de</strong>; EducacionSuperiorReferências bibliográficas1. Souza MBOV. A <strong>de</strong>pressão na terceira ida<strong>de</strong> e os aspectosrelativos à existência. Enf Rev 1993; 1(1): 11-2.2. Barreto MLF. Admirável mundo velho: velhice, fantasia erealida<strong>de</strong> social. São Paulo: Ática; 1992.3. Oliveira Y. Como cuidar dos idosos. 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Fundação Nacional da Saú<strong>de</strong>.Resolução n. 196, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1996. Sobrepesquisas envolvendo seres humanos. Inf Epid<strong>em</strong>iol SUS1996 abr./jun.; 5(2 supl. 03) : 13-41.13. Ferrari MAC. O envelhecer no Brasil. Mun Saú<strong>de</strong> 1999; 23(4): 197-203.14. Pessini L. Dignida<strong>de</strong> no outono da vida. Mun Saú<strong>de</strong> 1999;23 (4): 195-6.15. Almeida VLV. Imagens da velhice. Ter Ida<strong>de</strong> 1998; 10 (15):35-9.116 - Rev. Min. Enf., 7(2):111-6, jul./<strong>de</strong>z., 2003


MORTALIDADE INFANTIL NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG, 1998-2000:PERFIL DE RISCO E EVITABILIDADE.INFANT MORTALITY IN ALFENAS, STATE OF MINAS GERAIS,1998-2000: RISK AND PREVENTION PROFILE.MORTALIDAD INFANTIL EN EL MUNICIPIO DE ALFENAS,1998-2000: PERFIL DE RIESGO Y EVITABILIDADBerna<strong>de</strong>te VS Reh<strong>de</strong>r*Francisco Carlos Félix Lana**RESUMOTrata-se <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong> coorte objetivando analisar o risco <strong>de</strong> morte infantil e seus fatores <strong>de</strong>terminantes no município <strong>de</strong> Alfenas, Sul <strong>de</strong> Minas. Asvariáveis estudadas foram: peso ao nascer, duração da gestação, ida<strong>de</strong> e escolarida<strong>de</strong> materna e número <strong>de</strong> consultas pré-natais. Os riscos relativosmais elevados correspon<strong>de</strong>ram aos recém-nascidos <strong>de</strong> baixo peso; aos pr<strong>em</strong>aturos; aos filhos <strong>de</strong> mães com menos <strong>de</strong> 15 anos; aos filhos <strong>de</strong> mãescom menos <strong>de</strong> oito anos <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>; e daquelas que receberam menos <strong>de</strong> 6 consultas <strong>de</strong> pré-natal. Os resultados apontam para a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> implantação <strong>de</strong> ações sist<strong>em</strong>atizadas e articuladas no município visando a monitorização da saú<strong>de</strong> materno-infantil.Palavras-Chave: Mortalida<strong>de</strong> Infantil; Fatores <strong>de</strong> Risco; Vigilância Epid<strong>em</strong>iológicaN os últimos cinco anos, a taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantilno Brasil apresentou uma queda significativa <strong>em</strong> todas asregiões do País. No período <strong>de</strong> 1994-1999 passou <strong>de</strong> 39,6 para35,6 por mil nascidos vivos, sendo evitadas mais <strong>de</strong> 60.000mortes <strong>de</strong> crianças menores <strong>de</strong> um ano. As áreas ruraisapresentaram taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> duas vezes maiores que asregiões urbanas. Nos gran<strong>de</strong>s centros observam-se bolsões <strong>de</strong>pobreza on<strong>de</strong> a mortalida<strong>de</strong> infantil permanece elevada. Essasdiferenças reflet<strong>em</strong> as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sobrevivência ante asprecárias condições <strong>de</strong> nutrição, moradia e saneamento eassistência à saú<strong>de</strong> a que está exposta significativa parcelada população 9 .A queda verificada nas diversas regiões brasileiras ocorreu,sobretudo, no componente pós-neonatal (óbitos ocorridosentre 28 dias e 1 ano <strong>de</strong> vida). Este componente caracteriza-seprincipalmente por óbitos <strong>de</strong>vidos a doenças infecciosas(diarréia, pneumonias e doenças imunopreveníveis) sensíveis aativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> promoção e prevenção como nutrição,saneamento básico, imunização e melhoria da assistência àsaú<strong>de</strong>. No mesmo período os óbitos por afecção perinatalassumiram maior importância, representando, segundo dadosdo Ministério da Saú<strong>de</strong>, 46,3% do total <strong>de</strong> óbitos infantis<strong>em</strong> 1995 9 .Na década <strong>de</strong> 70, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elaborar indicadoresda qualida<strong>de</strong> da atenção à saú<strong>de</strong>, Rutstein et al. 16 propuseramuma lista <strong>de</strong> causas <strong>de</strong> mortes tidas como pr<strong>em</strong>aturas e outrasconsi<strong>de</strong>radas por alguns autores como <strong>de</strong>snecessárias, asquais permitiriam avaliar a a<strong>de</strong>quação da intervenção preventivaou curativa. Esse trabalho gerou diversos aprofundamentos apartir da idéia da evitabilida<strong>de</strong> do óbito <strong>de</strong>snecessário e<strong>de</strong>senvolveu o conceito <strong>de</strong> morte evitável. Consi<strong>de</strong>ram-secomo <strong>de</strong>snecessárias ou preveníveis, as afecções quepo<strong>de</strong>riam ser evitadas com tecnologias a<strong>de</strong>quadas.Este conceito – morte evitável – também é conhecido comoevento sentinela porque, a partir do conhecimento <strong>de</strong> cadaóbito selecionado, é possível <strong>de</strong>terminar como eventoss<strong>em</strong>elhantes pod<strong>em</strong> ser evitados no futuro.Entre os vários métodos <strong>de</strong> trabalho adotados para abordaros probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e ao mesmo t<strong>em</strong>po reorganizar osserviços, t<strong>em</strong> tido <strong>de</strong>staque o enfoque <strong>de</strong> risco, estratégia<strong>de</strong>senvolvida pela OMS a partir <strong>de</strong> 1978 e amplamenteincorporada à área materno-infantil. Essa estratégia t<strong>em</strong> por* Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Farmácia e Odontologia<strong>de</strong> Alfenas – Centro Universitário Fe<strong>de</strong>ral.** Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Materno Infantil da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong>Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas GeraisEn<strong>de</strong>reço para correspondência:Berna<strong>de</strong>te VS Reh<strong>de</strong>rR. João Paulo Terra, 181, Colina’s Park,Alfenas, Minas GeraisE-mail: berna<strong>de</strong>ter@int.efoa.br- Rev. Min. Enf., 7(2):117-23, jul./<strong>de</strong>z., 2003117


MORTALIDADE INFANTIL NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG, 1998-2000:PERFIL DE RISCO E EVITABILIDADE.finalida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e monitorar grupos sociais com maior risco<strong>de</strong> adoecer e morrer 12 .O Ministério da Saú<strong>de</strong> sugere que cada município i<strong>de</strong>ntifiquee selecione, <strong>de</strong> acordo com suas condições <strong>de</strong> trabalho ourealida<strong>de</strong>s, os fatores <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> maior peso para a morbimortalida<strong>de</strong>infantil e redirecione suas ações aos grupos sociaiscom maiores necessida<strong>de</strong>s à perspectiva <strong>de</strong> uma nova prática:a vigilância à saú<strong>de</strong> da criança 8 .Essa prática diverge das práticas sanitárias anteriores porestar orientada na busca <strong>de</strong> respostas aos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>da população por meio <strong>de</strong> uma ação integral sobre osdiferentes momentos ou dimensões do processo saú<strong>de</strong>doença,atuando sobre os danos, os riscos e os <strong>de</strong>terminantes<strong>de</strong>sse processo por intermédio <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>, prevenção <strong>de</strong> agravos, danos e doenças, tratamentoe reabilitação 17 .Alguns municípios brasileiros vêm adotando ativida<strong>de</strong>sligadas à estratégia <strong>de</strong> risco na área materno-infantil como porex<strong>em</strong>plo, o Programa do Recém-Nascido <strong>de</strong> Risco<strong>de</strong>senvolvido na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinas, Projeto Vida <strong>em</strong> BeloHorizonte, Programa <strong>de</strong> Vigilância à Criança <strong>de</strong> Risco <strong>em</strong>Santos e o Projeto Nascer <strong>em</strong> Curitiba, <strong>de</strong> forma isolada eparalela aos programas estaduais e/ou fe<strong>de</strong>rais.Chama atenção a situação do município <strong>de</strong> Alfenas que,apesar <strong>de</strong> suas características socioeconômicas, culturais esanitárias próprias <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> com renda per capita b<strong>em</strong>mais elevada do que a <strong>de</strong> outros municípios do Estado,apresentou uma taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil, (TMI) estimadapara o ano <strong>de</strong> 1997, <strong>de</strong> 26,7 óbitos por mil nascidos vivos euma taxa <strong>de</strong> baixo peso ao nascer <strong>de</strong> 9,7%. Esses dados sãoconsi<strong>de</strong>rados elevados, pois se encontram acima das taxasmédias estimadas para o Estado <strong>de</strong> Minas, cuja TMI estimadafoi <strong>de</strong> 26,3 óbitos por mil nascidos vivos 19 e a taxa <strong>de</strong> baixopeso ao nascer (BPN) para o ano <strong>de</strong> 1998 foi <strong>de</strong> 9,3% 4 .Decidiu-se trabalhar com a mortalida<strong>de</strong> infantil evitável,consi<strong>de</strong>rando que estes óbitos têm sido reconhecidos comoeventos sentinelas da qualida<strong>de</strong> da atenção médica e doSist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Neste enfoque, tornou-se importanteaprofundar o conhecimento do porcentual <strong>de</strong> óbitos passíveis<strong>de</strong> redução e os fatores biológicos, socioeconômicos eassistenciais que se associam a eles.Levando-se <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração as características expostasanteriormente, cabe perguntar: qual o perfil do risco d<strong>em</strong>ortalida<strong>de</strong> infantil <strong>em</strong> Alfenas? Por que ainda persist<strong>em</strong>indicadores da saú<strong>de</strong> infantil tão elevados <strong>em</strong> Alfenas? Quais osóbitos passíveis <strong>de</strong> redução? Dessa forma, este estudo tevecomo objetivo analisar o perfil <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> morte <strong>em</strong> menores <strong>de</strong>um ano e seus fatores <strong>de</strong>terminantes no município <strong>de</strong> Alfenasdurante o período <strong>de</strong> 1998-2000 e caracterizar a mortalida<strong>de</strong>das crianças menores <strong>de</strong> um ano segundo ida<strong>de</strong>, grupos <strong>de</strong>causas e evitabilida<strong>de</strong>.Material e MétodoO estudo <strong>de</strong> coorte foi realizado <strong>em</strong> Alfenas, municípiosituado na região sul <strong>de</strong> Minas Gerais com população <strong>de</strong>66.767 habitantes, segundo Censo <strong>de</strong> 2000. A cida<strong>de</strong>apresenta boa estrutura <strong>de</strong> saneamento básico com 98% dosdomicílios ligados ao sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto, 99% comágua tratada e 95% com atendimento pelo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong>lixo do município.A presença <strong>de</strong> uma instituição fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> ensino superior e <strong>de</strong>uma universida<strong>de</strong> privada, respectivamente <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Farmáciae Odontologia <strong>de</strong> Alfenas / Centro Universitário Fe<strong>de</strong>ral(EFOA/Ceufe) e Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alfenas (Unifenas), provê acida<strong>de</strong> com diversos cursos na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>: Medicina,Enfermag<strong>em</strong>, Farmácia e Nutrição entre outros.O Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Município (re<strong>de</strong>s municipal econveniada do Hospital Universitário) é constituído por seisUnida<strong>de</strong>s Básicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, duas equipes <strong>de</strong> Programa <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> da Família (1996) e dois ambulatórios para atendimentoespecializado (nível secundário).Merece <strong>de</strong>staque o fato <strong>de</strong> os serviços <strong>de</strong> atenção pré-natal<strong>em</strong> Alfenas, especificamente no Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, <strong>em</strong>sua maioria, ser<strong>em</strong> oferecidos <strong>em</strong> ambulatórios <strong>de</strong> atençãobásica pertencentes a duas re<strong>de</strong>s distintas <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> que atuam <strong>de</strong> forma paralela, s<strong>em</strong> que haja uniformida<strong>de</strong>nas condutas e procedimentos. Ressalte-se que até omomento não foi implantado um protocolo que uniformize aassistência às gestantes <strong>em</strong> todos os serviços <strong>de</strong> pré-natal doSist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.A população <strong>de</strong> estudo foi constituída por todos os nascidosvivos e os óbitos infantis ocorridos no período <strong>de</strong> 1998 a 2000,excluindo os filhos <strong>de</strong> mães não resi<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> Alfenasi<strong>de</strong>ntificadas por meio do en<strong>de</strong>reço fixado nas Declarações <strong>de</strong>Óbito (DO) e pelo registro no “Cartão do SUS” da SecretariaMunicipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alfenas. No total foram i<strong>de</strong>ntificados 90óbitos, porém a população <strong>de</strong> estudo foi constituída por 82óbitos uma vez que oito DN não foram localizadas.A variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte foi a mortalida<strong>de</strong> infantil e asin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes foram peso ao nascer, duração da gestação,número <strong>de</strong> consultas <strong>de</strong> pré-natal, ida<strong>de</strong> e escolaridad<strong>em</strong>aterna.Os dados foram coletados por meio do Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>Informação <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> – SIM (causa básica e ida<strong>de</strong> doóbito, nome da criança, nome e en<strong>de</strong>reço dos pais) e doSist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Nascidos Vivos – SINASC (peso aonascer, duração da gestação, ida<strong>de</strong> e escolarida<strong>de</strong> da mãe enúmero <strong>de</strong> consultas <strong>de</strong> pré-natal). Foi utilizado o procedimento<strong>de</strong> linkage <strong>de</strong> bancos <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> nascimentos e <strong>de</strong> óbitos.Os óbitos foram classificados <strong>em</strong> “evitáveis” e “não evitáveis”,segundo critério <strong>de</strong> evitabilida<strong>de</strong> das doenças proposto pelaFundação Sist<strong>em</strong>a Estadual <strong>de</strong> Análise <strong>de</strong> Dados (Fundação118 - Rev. Min. Enf., 7(2):117-23, jul./<strong>de</strong>z., 2003


MORTALIDADE INFANTIL NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG, 1998-2000:PERFIL DE RISCO E EVITABILIDADE.SEADE) e adaptado para a décima revisão da ClassificaçãoInternacional <strong>de</strong> Doenças (CID 10) por Ortiz 13 . O mesmo autoresclarece que o agrupamento das causas <strong>de</strong> morte ocorre <strong>de</strong>acordo com o atual conhecimento médico-científico, e asdoenças evitáveis foram distribuídas <strong>em</strong> subgrupos segundo asdiversas ações que pod<strong>em</strong> ser realizadas para reduzi-las e/oueliminá-las. Os óbitos foram classificados in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>entedo fato <strong>de</strong> os procedimentos estar<strong>em</strong> ou não disponíveis paraa maioria da população no momento.Deve-se ressaltar que o novo formulário da Declaração <strong>de</strong>Nascido Vivo (DN), alterado pelo Ministério da Saú<strong>de</strong> eimplantado no Município <strong>de</strong> Alfenas <strong>em</strong> 1999, modificou osintervalos <strong>de</strong> classe <strong>de</strong> algumas variáveis. Assim, o trabalho foi<strong>de</strong>senvolvido com dois mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> DN, um utilizado durante oano <strong>de</strong> 1998 e outro <strong>em</strong> 1999/2000. Para solucionar estadivergência, foi necessário adaptar um intervalo que permitissetabular os dados dos dois mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> DN.Os dados coletados foram tratados <strong>em</strong> um banco <strong>de</strong> dadosno programa Epiinfo, <strong>versão</strong> 6.0. Foram calculados os riscosrelativos com os respectivos intervalos <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong> 95%para análise das variáveis estudadas na mortalida<strong>de</strong> infantil.Para o teste <strong>de</strong> associação da mortalida<strong>de</strong> infantil evitável comas variáveis <strong>em</strong> estudo foi utilizado o teste qui-quadrado. Osdados encontrados foram confrontados com informações <strong>de</strong>outras bases <strong>em</strong>píricas, levando-se <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração o<strong>de</strong>senvolvimento e a realida<strong>de</strong> assistencial <strong>de</strong> Alfenas.Resultados e DiscussãoOs números <strong>de</strong> nascidos vivos no município <strong>de</strong> Alfenas nosanos <strong>de</strong> 1998, 1999 e 2000 foram respectivamente 1268, 1290e 1315, totalizando 3873. Durante o mesmo período ocorreram90 óbitos e a taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil (TMI) estimada foi 23,3óbitos por mil nascidos vivos.A distribuição proporcional dos óbitos, segundo oscomponentes da mortalida<strong>de</strong> infantil, po<strong>de</strong> ser analisada naTabela 1.Tabela 1 - Mortalida<strong>de</strong> infantil proporcional segundo ida<strong>de</strong> <strong>em</strong>que ocorreu o óbito no município <strong>de</strong> Alfenas/MG, 1998-2000Ida<strong>de</strong>/óbito(<strong>em</strong> dias)< 77 a 2728 e +Total1998N %16893348,4924,2427,27100,00FONTE: SIM, DRS - Alfenas/SMS1999N %17092665,380,0034,62100,002000N %20653164,5219,3516,13100,001999N %5314239058,8915,5625,55100,00Observa-se maior proporção <strong>de</strong> óbitos entre os menores <strong>de</strong>7 dias <strong>em</strong> todos os 3 anos e conseqüente diminuição dosóbitos entre 28 dias e um ano. Esse resultado é coerente comoutros estudos <strong>em</strong> países <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento on<strong>de</strong> a quedada mortalida<strong>de</strong> infantil ocorre principalmente à custa damortalida<strong>de</strong> pós-neonatal; <strong>de</strong>ssa forma o componente neonatalpassa a ter maior peso 6 . No entanto, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar que oporcentual <strong>de</strong> 25% observado para a mortalida<strong>de</strong> infantil pósneonatalainda é elevado tendo <strong>em</strong> vista que é reflexo <strong>de</strong>condições ambientais <strong>de</strong>sfavoráveis e <strong>de</strong>ficiência na assistência<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.O porcentual <strong>de</strong> recém-nascidos com baixo peso (pesoinferior a 2500g) nos três anos foi <strong>de</strong> 9,6%. Po<strong>de</strong>-se observar,pela Tabela 2, que mais da meta<strong>de</strong> (64%) das crianças qu<strong>em</strong>orreram haviam nascido com peso inferior a 2500g. No quepes<strong>em</strong> as diferenças regionais, este resultado é superior aos53% encontrados por Victora et al. 20 <strong>em</strong> Pelotas e aos 52,9%encontrados por Macharelli e Oliveira 5 <strong>em</strong> Botucatu.Tabela 2 - Nascidos vivos e óbitos infantis segundo peso aonascer (gramas). Alfenas/MG, 1998 - 2000Peso aonascer< 10001000 a 14991500 a 2499< 2500 g2500 e +TotalNascidos vivos*N N1024339373346538389834512980Óbitos infantis**% RR IC (95%)90,0033,3310,0313,670,84107,5339,8311,9816,341,00FONTE: SIM/SINASC - DRS - Alfenas/SMS* Excluídos 35 NV s<strong>em</strong> informação sobre peso ao nascer** Excluídos 2 casos s<strong>em</strong> informação sobre o peso ao nascerRR 1,0 = categoria <strong>de</strong> referência (2500g e +)70,84 - 163,2120,33 - 78,007,40 - 19,4210,48 - 25,44Utilizando como categoria <strong>de</strong> referência os nascidos vivoscom peso igual ou superior a 2500g, observou-se que o risco<strong>de</strong> morte para as crianças que nasceram com peso inferior a1000g foi 107,53 vezes maior. No entanto, esse risco diminui àmedida que aumenta o peso ao nascer.Ao agrupar todos os óbitos <strong>de</strong> crianças com BPN, verifica-seque o risco <strong>de</strong> morte foi 16 vezes maior do que entre ascrianças <strong>de</strong> peso a<strong>de</strong>quado (Tabela 2). Menezes et al. 7 , <strong>em</strong>estudo <strong>de</strong> base populacional realizado <strong>em</strong> Pelotas no ano <strong>de</strong>1993, encontraram o risco relativo <strong>de</strong> 12. Essa informaçãocomprova a forte associação entre baixo peso <strong>em</strong>ortalida<strong>de</strong> infantil.Com relação à duração da gestação, po<strong>de</strong>-se observar que<strong>em</strong> Alfenas 8,9% dos nascidos vivos foram pr<strong>em</strong>aturos, isto é,nasceram com menos <strong>de</strong> 37 s<strong>em</strong>anas <strong>de</strong> gestação. Essarelação é superior aos 5,8% encontrados <strong>em</strong> Belo Horizontepara o ano <strong>de</strong> 1994. 15Relacionando a mortalida<strong>de</strong> infantil à ida<strong>de</strong> gestacional foiverificado que 55,6% 45 dos óbitos infantis ocorreram entre ascrianças que nasceram pré-termo. Pô<strong>de</strong>-se observar que orisco <strong>de</strong> crianças pr<strong>em</strong>aturas morrer<strong>em</strong> no 1º ano <strong>de</strong> vida é- Rev. Min. Enf., 7(2):117-23, jul./<strong>de</strong>z., 2003119


MORTALIDADE INFANTIL NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG, 1998-2000:PERFIL DE RISCO E EVITABILIDADE.aproximadamente 13 vezes maior (RR= 12,86; IC 95% 8,41 –19,65) do que entre aquelas que nasceram a termo.Quanto à ida<strong>de</strong> materna, foi constatado que a proporção <strong>de</strong>nascimentos no grupo <strong>de</strong> mães muito jovens (menores <strong>de</strong> 15anos) foi <strong>de</strong> 0,8% e <strong>de</strong> 22,8% entre as d<strong>em</strong>ais adolescentes (15a 19 anos). Somando-se os dois grupos, a proporção <strong>de</strong>gravi<strong>de</strong>z na adolescência passa a ser <strong>de</strong> 23,6%, resultadosuperior ao porcentual nacional <strong>de</strong> 22% <strong>em</strong> 19956. Entre asmães maiores <strong>de</strong> 35 anos a taxa <strong>de</strong> nascimento foi <strong>de</strong> 8%.A distribuição proporcional dos óbitos infantis, segundoida<strong>de</strong> materna, d<strong>em</strong>onstrou que 25,9% das crianças qu<strong>em</strong>orreram eram filhos <strong>de</strong> mães adolescentes (4,9% filhos d<strong>em</strong>ães < 15 anos), 6,2% nasceram <strong>de</strong> mães com mais <strong>de</strong> 35anos e 68% tinham mães entre 20 e 34 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.O risco <strong>de</strong> óbito entre filhos <strong>de</strong> mulheres com ida<strong>de</strong> inferior a15 anos foi 6 vezes maior (RR= 6,4; IC 95% 2,48 – 16,41) queentre os filhos <strong>de</strong> mães <strong>de</strong> 20 a 34 anos, categoria <strong>de</strong> referêncianeste trabalho. Os d<strong>em</strong>ais grupos etários <strong>de</strong> risco, 15 a 19 anos(RR= 0,92; IC 95% 0,53 – 1,58) e 35 e mais anos (RR= 0,74; IC95% 0,29 – 1,83) não influenciaram no risco da mortalida<strong>de</strong>infantil <strong>em</strong> Alfenas. Em estudo realizado <strong>em</strong> Itararé-SP, Bolhlan<strong>de</strong> Mello Jorge 2 encontraram o coeficiente <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantilmais elevado entre os nascidos vivos <strong>de</strong> mães com 35 anose mais.Os porcentuais encontrados <strong>em</strong> Alfenas d<strong>em</strong>onstram a altaincidência da gravi<strong>de</strong>z na adolescência, reconhecidamente umprobl<strong>em</strong>a social e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rando as conseqüênciasque acarretam. Esses achados requer<strong>em</strong> dos serviços <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> alfenenses maior investimento <strong>em</strong> medidas educativas epreventivas entre os jovens.Com relação ao número <strong>de</strong> consultas no pré-natal foiobservado que entre o total <strong>de</strong> nascidos vivos, 1,2% das mãesnão fizeram consulta durante a gestação e que 30,9% fizeramaté 6 consultas, estas últimas aten<strong>de</strong>ram portanto, àrecomendação do Ministério da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> um mínimo <strong>de</strong> 5consultas. As d<strong>em</strong>ais, 67,9%, fizeram 7 e mais consultas.O risco <strong>de</strong> óbitos entre as crianças cujas mães nãoconsultaram foi 32 vezes maior (RR= 32,38; IC 95% 14,30 –73,32) do que entre os filhos <strong>de</strong> mães que fizeram mais <strong>de</strong> 7consultas (categoria <strong>de</strong> referência). Com relação àquelas quefizeram <strong>de</strong> 1 a 6 consultas, o risco foi <strong>de</strong> 8,9 (RR= 8,93; IC 95%5,00 – 16,00). É questionável o fato <strong>de</strong> que neste último grupoestejam incluídas as mães que fizeram um acompanhamento<strong>de</strong> pré-natal com o número mínimo <strong>de</strong> consulta estipulado peloMinistério da Saú<strong>de</strong>.Po<strong>de</strong>-se justificar essa informação ao consi<strong>de</strong>rarmos que nasDeclarações <strong>de</strong> Nascido Vivo a variável número <strong>de</strong> consultasv<strong>em</strong> pré-codificada e no mo<strong>de</strong>lo antigo da DN o intervalo <strong>de</strong>classe apresentado é muito gran<strong>de</strong>: “nenhuma”; “até 6consultas”; “mais <strong>de</strong> 6”; e “ignorado”. Neste caso,compreen<strong>de</strong>-se que no intervalo entre 1 a 6 consultas estãoincluídas tanto as mães que fizeram 1 consulta como aquelasque freqüentaram o pré-natal com as 5 consultasrecomendadas pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>. Este também foi omotivo da seleção da classe “7 e +” consultas como categoria<strong>de</strong> referência. As mulheres que tiveram filhos pr<strong>em</strong>aturospod<strong>em</strong> também ter influenciado este resultado, uma vez quetiveram menos oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consultar.Além disso, po<strong>de</strong>-se questionar a qualida<strong>de</strong> do pré-nataloferecido, tendo como base estudos realizados <strong>em</strong> Pelotas –RS apontam que, apesar da alta cobertura <strong>de</strong> pré-natalencontrada entre as gestantes, observou-se <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>cuidados oferecidos a elas. 20É importante <strong>de</strong>stacar que, no momento do levantamento <strong>de</strong>dados para análise da escolarida<strong>de</strong> materna, não foi possívelobter os dados referentes ao ano <strong>de</strong> 1998; <strong>de</strong>ssa forma estavariável foi estudada com os dados dos d<strong>em</strong>ais anos. Outradificulda<strong>de</strong> foi a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> categorizar a escolarida<strong>de</strong>da mãe com maior <strong>de</strong>talhe consi<strong>de</strong>rando que os intervalos <strong>de</strong>classe adotados nos dois mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> DNs eram diferentes.Portanto, esta variável foi categorizada <strong>em</strong> “menos <strong>de</strong> 8 anos”e “8 e mais” anos <strong>de</strong> estudos concluídos.Tabela 3 - Nascidos vivos e mortalida<strong>de</strong> infantil segundoescolarida<strong>de</strong> materna (<strong>em</strong> anos concluídos).Alfenas/MG, 1999 - 2000<strong>Escola</strong>rida<strong>de</strong>(<strong>em</strong> anosconcluídos)< 88 e +TotalNascidos vivos*N %12331295252848,7751,22100,00N361652Óbitos infantis**% RR IC (95%)2,921,242,351,00FONTE: SIM/SINASC - DRS - Alfenas/SMS* Excluídos 77 NV com escolarida<strong>de</strong> materna ignorada e não informada** Excluídos 02 casos com escolarida<strong>de</strong> materna ignorada e não informadaRR 1,0 = categoria <strong>de</strong> referência1,30 - 4,17Em Alfenas o grau <strong>de</strong> instrução materna i<strong>de</strong>ntificadoapresenta um equilíbrio entre os dois níveis <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>,< 8 anos <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> (ensino fundamental incompleto) e 8e + anos <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> (ensino fundamental completo e maisanos <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>).Esta situação é melhor do que a apresentada <strong>em</strong> BeloHorizonte e São Paulo, pois estudos d<strong>em</strong>onstram que 58,2%das mães da coorte <strong>de</strong> nascidos vivos <strong>em</strong> BH não possuíam oensino fundamental completo 15 . Monteiro 11 avaliou a evoluçãoda escolarida<strong>de</strong> materna <strong>em</strong> São Paulo no período <strong>de</strong> 1995/96e encontrou o porcentual <strong>de</strong> 53,5% <strong>de</strong> mães s<strong>em</strong> conclusão doensino fundamental.Com relação à morte evitável constatou-se que, entre os 82óbitos infantis, 54,9% teriam ocorrido por doenças tidas comoevitáveis e <strong>de</strong>stas, 55,6% ocorreram no período neonatal. Poroutro lado, as mortes classificadas atualmente como não120 - Rev. Min. Enf., 7(2):117-23, jul./<strong>de</strong>z., 2003


MORTALIDADE INFANTIL NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG, 1998-2000:PERFIL DE RISCO E EVITABILIDADE.evitáveis concentraram-se exclusivamente no período neonatal,(Tabela 4).Tabela 4 - Ida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que ocorreram os óbitos infantis eclassificação segundo critério <strong>de</strong> evitabilida<strong>de</strong>.Alfenas/MG, 1998-2000ClassificaçãodosóbitosEvitáveisNão evitáveisMal <strong>de</strong>finidaTotalN18310150< 7%36,0062,002,00100,00N070301117 a 27FONTE: SIM/SINASC, DRS - Alfenas/SMSIda<strong>de</strong> <strong>em</strong> que ocorreram os óbitos (<strong>em</strong> dias)63,6327,309,10100,00A associação entre a morte infantil evitável e as variáveis:peso ao nascer, duração da gestação, ida<strong>de</strong> e escolaridad<strong>em</strong>aterna e número <strong>de</strong> consultas foi avaliada pelo teste <strong>de</strong> quiquadrado.O resultado comprovou que apenas o peso aonascer (p = 0,00029) e a duração da gestação (p = 0,00038)foram significantes. As d<strong>em</strong>ais variáveis <strong>de</strong>scritas nãoestiveram associadas ao óbito infantil evitável.Para melhor compreensão do quadro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que ascausas <strong>de</strong> morte proporcionam, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar que ascrianças necessitam <strong>de</strong> três componentes essenciais: ocuidado fornecido às mães durante a gravi<strong>de</strong>z, a assistênciadada às mães e recém-nascidos durante o parto e asimunizações durante o período infantil 14 . Neste enfoque seráapresentada e discutida a evitabilida<strong>de</strong> dos óbitos infantis <strong>em</strong>Alfenas, segundo o grupo <strong>de</strong> causas.Analisando os dados coletados, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar que ogrupo <strong>de</strong> causas “redutíveis por ações <strong>de</strong> prevenção,diagnóstico e tratamento precoce” compõe cerca <strong>de</strong> 71% dototal <strong>de</strong> óbitos evitáveis ocorridos. Nesse grupo <strong>de</strong>stacaramseas doenças respiratórias do recém-nascido e aspneumonias e broncopneumonias no período neonatal tardio,retratando dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso na assistência da saú<strong>de</strong>infantil ou falha na efetivida<strong>de</strong> do sist<strong>em</strong>a.O grupo <strong>de</strong> causas <strong>de</strong> morte ocorridas por doençasevitáveis mediante a<strong>de</strong>quada atenção ao parto foi constituídopor <strong>de</strong>scolamento prévio <strong>de</strong> placenta, hipóxia, anóxia eruptura uterina materna. Segundo Ortiz (2001), essas causasindicam dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento no momento do parto,quer seja por questão <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> à maternida<strong>de</strong>, querseja por falta <strong>de</strong> atendimento obstétrico a<strong>de</strong>quado paramãe/filho ou ainda por falha na i<strong>de</strong>ntificação da gestante <strong>de</strong>alto risco.Embora com incidência pequena, chamaram atenção adiarréia e gastroenterite e a <strong>de</strong>snutrição, classificadas comocausas “evitáveis por meio <strong>de</strong> parcerias com outros setores”.A redução das doenças que compõ<strong>em</strong> este grupo não<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas <strong>de</strong> intervenções do setor <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas%N200012128 e +%95,230,04,76100,00N45340382Total%54,9041,503,60100,00também <strong>de</strong> ações intersetoriais <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> eprevenção <strong>de</strong> danos. No entanto, essa parceria com outrossetores não diminui a responsabilida<strong>de</strong> dos profissionais edos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> sobre os óbitos infantis por diarréia,<strong>de</strong>snutrição e gastroenterites.A pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong> e a aminorrexe estão incluídas no grupo<strong>de</strong> causa “reduzível por a<strong>de</strong>quada atenção à gravi<strong>de</strong>z”. Ascausas incluídas nesse grupo indicam que existiramdificulda<strong>de</strong>s para i<strong>de</strong>ntificar oportunamente situações quepo<strong>de</strong>riam ser tratadas e minimizadas durante a assistênciapré-natal.Certamente que somente o atendimento a<strong>de</strong>quado no prénatalnão po<strong>de</strong> diminuir a incidência da pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong> o quea classifica como parcialmente redutível, tendo <strong>em</strong> vista quesua redução <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> também <strong>de</strong> outros fatores <strong>de</strong> riscocomo condições sociais da população. Dessa forma, tornasenecessário um estudo sobre as medidas que seriamnecessárias para diminuir a incidência <strong>de</strong> parto pr<strong>em</strong>aturoconsi<strong>de</strong>rando que, para controlar esses fatores sociais, énecessário implantar modificações nas estruturassocioeconômicas e educacionais, que reflet<strong>em</strong> nascondições <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da população.O grupo das doenças “redutíveis por imunoprevenção”registrou um caso por tuberculose s<strong>em</strong> confirmaçãolaboratorial, ocorrido no período pós-neonatal.As causas <strong>de</strong> morte ocorridas por doenças classificadascomo “não evitáveis”, são compostas pelas MalformaçõesCongênitas e pela Síndrome da Angústia Respiratória. Nesteúltimo caso, chama atenção sua elevada incidência (26% dototal <strong>de</strong> óbitos), pois, <strong>em</strong>bora esteja classificada como nãoevitável, alguns autores como Araújo 1 e Miranda 10 <strong>de</strong>stacama eficácia do tratamento com surfactante pulmonar exógeno.Araújo 1 compl<strong>em</strong>enta que atualmente os pacientes do SUSreceb<strong>em</strong> essa medicação, o que t<strong>em</strong> contribuído paradiminuição da mortalida<strong>de</strong> infantil.Tendo <strong>em</strong> vista que os óbitos infantis por causas evitáveissão situações que não <strong>de</strong>veriam ocorrer, dado o grau <strong>de</strong>recursos existentes, eles são consi<strong>de</strong>rados eventos sentinelana avaliação dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. A ocorrência <strong>de</strong> um caso<strong>de</strong> morte por essas causas <strong>de</strong>verá dar início a umainvestigação para <strong>de</strong>tectar as falhas que o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aramcom a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> corrigi-las futuramente.ConclusõesOs resultados apresentados d<strong>em</strong>onstram que o coeficiente<strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil <strong>em</strong> Alfenas foi <strong>de</strong> 23,2 por mil nascidosvivos, sendo que mais da meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes óbitos ocorreram noperíodo neonatal precoce, confirmando assim, a tendêncianacional <strong>de</strong> predomínio do componente neonatal sobre opós-neonatal.- Rev. Min. Enf., 7(2):117-23, jul./<strong>de</strong>z., 2003121


MORTALIDADE INFANTIL NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG, 1998-2000:PERFIL DE RISCO E EVITABILIDADE.O perfil <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil <strong>em</strong> Alfenas po<strong>de</strong> serapresentado da seguinte forma: os riscos relativos maiselevados correspon<strong>de</strong>ram aos recém-nascidos <strong>de</strong> baixopeso; aos pr<strong>em</strong>aturos; aos filhos <strong>de</strong> mães com menos <strong>de</strong> 15anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>; aos filhos <strong>de</strong> mães com menos <strong>de</strong> oito anos<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> e àqueles cujas mães receberam menos <strong>de</strong>seis consultas no pré-natal.Embora este estudo d<strong>em</strong>onstre uma boa cobertura dasconsultas <strong>de</strong> pré-natal, não se sabe a data <strong>de</strong> início <strong>de</strong>ssaassistência e n<strong>em</strong> a qualida<strong>de</strong> oferecida, tendo <strong>em</strong> vista quealguns autores encontraram <strong>em</strong> seus trabalhos altascoberturas, porém relatam <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidadosoferecidos às gestantes segundo suas condiçõessocioeconômicas.Em relação à evitabilida<strong>de</strong> dos óbitos, pô<strong>de</strong>-se observarque 55% das mortes infantis foram classificadas comoevitáveis e, segundo a classificação adotada, as causas<strong>de</strong>ssas mortes evi<strong>de</strong>nciam diversos probl<strong>em</strong>as ou<strong>de</strong>ficiências na assistência da gestante e da criança.Assim, consi<strong>de</strong>rando os resultados apresentados, b<strong>em</strong>como os conceitos que fundamentaram este estudo,<strong>de</strong>staca-se a importância <strong>de</strong> adoção <strong>de</strong> medidas preventivaspara a redução da mortalida<strong>de</strong> infantil <strong>em</strong> Alfenas. Para oalcance <strong>de</strong>sse propósito sugere-se a adoção da prática davigilância à mortalida<strong>de</strong> infantil dirigida aos grupos maternoinfantil<strong>de</strong>finidos como prioritários.SummaryThis is a cohort study to analyze the risk of infantmortality and the <strong>de</strong>termining factors in the municipalityof Alfenas, in the south of the state of Minas Gerais,Brazil. The variables studied inclu<strong>de</strong>d: birth weight,length of pregnancy, age and level of schooling of th<strong>em</strong>other and the number of antenatal care visits. Thehighest risks were for low birth weight newborn, pre-termbabies, babies of mothers un<strong>de</strong>r 15, babies of motherswith less than 8 years schooling and those who had fewerthan 6 antenatal visits. The results show the need forsyst<strong>em</strong>atic and networked actions in the municipality forthe monitoring of mother-infant health.Keyword: Infant Mortality; Risk Factors; Epid<strong>em</strong>iologicSurveillanceResumenSe trata <strong>de</strong> un estudio elaborado para analizar el riesgo d<strong>em</strong>ortalidad infantil <strong>de</strong> niños menores <strong>de</strong> 1 año en laciudad <strong>de</strong> Alfenas, Sur <strong>de</strong>l Estado <strong>de</strong> Minas Gerais,Brasil. Las variables analizadas fueron: peso <strong>de</strong>l reciénnacido, duración <strong>de</strong>l <strong>em</strong>barazo, edad y escolaridad <strong>de</strong> lamadre y cantidad <strong>de</strong> consultas prenatal. Los riesgosrelativos más altos correspondieron a los recién nacidos <strong>de</strong>bajo peso, a los pr<strong>em</strong>aturos, a los hijos <strong>de</strong> madres conmenos <strong>de</strong> 8 años <strong>de</strong> escolaridad y a aquéllos bebes cuyasmadres tuvieron menos <strong>de</strong> consultas prenatal. Losresultados indican que es necesario implantar medidasarticuladas y sist<strong>em</strong>atizadas en el municipio a fin <strong>de</strong>controlar la salud materno- infantil.Palabras clave: Mortalidad Infantil; Factores <strong>de</strong> Riesgo;Vigilancia Epid<strong>em</strong>iológicaReferências bibliográficas1. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. A Mortalida<strong>de</strong> perinatal e neonatal noBrasil. Brasília (DF), 1998. Disponível <strong>em</strong>: . Acesso <strong>em</strong> 10 maio 2000.2. Rutstein DD, Berenberg W, Chalmers T, Child CG, Fishman AP,Perrin EB. Measuring the quality of medical care. N Engl J Méd1976; 294:582-8.3. Organização Panamericana <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. O conceito <strong>de</strong> risco e aprogramação dos cuidados à saú<strong>de</strong>. Montevi<strong>de</strong>o: InstitutoInteramericano <strong>de</strong>l Niño/ Centro Latino Americano <strong>de</strong>Perinatologia Y Desarrollo Humano. Brasil; 1984.4. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. A monitorização da saú<strong>de</strong> da criança<strong>em</strong> situação <strong>de</strong> risco e o Município. Brasília (DF): Ministério daSaú<strong>de</strong>; 1996.5. Salvador. Secretaria da Saú<strong>de</strong>. Manual para vigilância <strong>de</strong> menores<strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> risco <strong>em</strong> áreas cobertas pela estratégia <strong>de</strong> atençãoà saú<strong>de</strong> da família (PACS/PSF). Salvador (Bahia): Secretaria <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong>; 1997.6. Unicef. Situação da infância brasileira 2001: <strong>de</strong>senvolvimentoinfantil os primeiros seis anos <strong>de</strong> vida. São Paulo; 2001.7. Datasus. Mortalida<strong>de</strong> Infantil. Brasília, 2000. Disponível <strong>em</strong>:


MORTALIDADE INFANTIL NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG, 1998-2000:PERFIL DE RISCO E EVITABILIDADE.14. Bohland AK, Mello Jorge MHP. Mortalida<strong>de</strong> infantil <strong>de</strong> menores <strong>de</strong>um ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> na região sudoeste do Estado <strong>de</strong> São Paulo.Rev Saú<strong>de</strong> Pública 1999; 33:366-73.15. Monteiro CA, Benício MAA, Ortiz LP. Evolução da assistênciamaterno-infantil na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (1984-1996). Rev Saú<strong>de</strong>Pública 2000; 34 (6 supl):26-40.16. Ortiz LPO. Características da mortalida<strong>de</strong> neonatal no Estado <strong>de</strong>São Paulo. [Tese Doutorado]. São Paulo: Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>Pública da USP; 1999.17. Araújo BF, Bozetti MC, Tanaka ACA. Mortalida<strong>de</strong> neonatalprecoce no município <strong>de</strong> Caxias do Sul: um estudo <strong>de</strong> coorte. JPediatr (Rio <strong>de</strong> Janeiro) 2000; 76: 200-6.18. Miranda IE, Almeida MC. Doença da m<strong>em</strong>brana hialina. In: AlvesF; Correa MD. Manual <strong>de</strong> perinatologia. 2ª. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Medsi; 1995.19. Costa CE, Gotlieb SLD. Estudo epid<strong>em</strong>iológico do peso aonascer a partir da <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> nascido vivo. Rev Saú<strong>de</strong> Pública1998; 32: 328-34.20. Tomasi E, Barros FC, Victora CG. As mães e as gestações:comparação <strong>de</strong> duas coortes <strong>de</strong> base populacional no Sul doBrasil. Cad Saú<strong>de</strong> Pública 1996; 12: 21-5.- Rev. Min. Enf., 7(2):117-23, jul./<strong>de</strong>z., 2003123


O TRABALHO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – PERFIL DAS EQUIPESWORK IN THE FAMILY HEALTH PROGRAM - PROFILE OF THETEAMSEL TRABAJO EN EL PROGRAMA DE SALUD DE LA FAMILIA- EL PERFIL DE LOS EQUIPOSSilvana Martins Mishima*Ana Cláudia Campos **RESUMOObjetiva-se i<strong>de</strong>ntificar o perfil d<strong>em</strong>ográfico, experiência anterior e necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> capacitação dos trabalhadores <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família da DivisãoRegional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> XVIII - SP. A análise do material obtido através <strong>de</strong> dados secundários e primários, mostra que a maioria das equipes é compostapor mulheres; 25% dos enfermeiros e 100% dos médicos não resid<strong>em</strong> nos municípios on<strong>de</strong> trabalham; a totalida<strong>de</strong> dos auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> jáatuou na área hospitalar, enquanto que todos os enfermeiros e médicos tiveram experiência <strong>em</strong> serviços <strong>de</strong> atenção primária. Chama atenção o fato<strong>de</strong> 10,3% dos ACSs apresentar curso superior completo. Cerca <strong>de</strong> 63% dos trabalhadores refer<strong>em</strong> <strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong> conhecimentos específicos para o<strong>de</strong>senvolvimento do trabalho no PSF, sendo que os t<strong>em</strong>as i<strong>de</strong>ntificados apresentam interface com a dimensão social, cultural, econômica, ética.Palavras-Chave: Programa Saú<strong>de</strong> da Família; Capacitação <strong>em</strong> Serviço; Pessoal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.OPrograma <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família - PSF, proposto peloMinistério da Saú<strong>de</strong> 1 e estabelecido como uma estratégia <strong>de</strong>política pública, objetiva contribuir para a mudança do mo<strong>de</strong>lo<strong>de</strong> assistência na direção <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> equânime,universal e que se volte para a assistência integral dapopulação. Esse Programa v<strong>em</strong> sendo ampliado <strong>em</strong> distintosespaços do País.A primeira etapa da implantação <strong>de</strong>sta estratégia iniciou-se<strong>em</strong> junho <strong>de</strong> 1991, através do Programa <strong>de</strong> AgentesComunitários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> – PACS e, a partir <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1994,iniciou-se a formação <strong>de</strong> equipes do Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> daFamília – PSF, incorporando e ampliando a atuação dosAgentes Comunitários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> 2 .O programa, <strong>em</strong> suas bases, conforma uma ação voltada àsaú<strong>de</strong> do indivíduo, da família e da comunida<strong>de</strong>, através <strong>de</strong>equipes que farão o atendimento na unida<strong>de</strong> local <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ena comunida<strong>de</strong>, no nível <strong>de</strong> atenção primária. Na propostaformulada pelo Ministério da Saú<strong>de</strong> 3 existe previsão <strong>de</strong> umaequipe mínima <strong>de</strong> trabalho com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um perfil <strong>de</strong>atuação para cada um <strong>de</strong> seus componentes. Essa equip<strong>em</strong>ínima seria composta por um médico (<strong>de</strong> família ougeneralista), um enfermeiro, um auxiliar <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e 4 a 6agentes comunitários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo outros profissionaisser incorporados nas equipes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da família ou <strong>em</strong>equipes <strong>de</strong> supervisão, <strong>de</strong> acordo com as possibilida<strong>de</strong>s enecessida<strong>de</strong>s locais presentes.Segundo dados do Ministério da Saú<strong>de</strong> 2 , no momentoencontram-se atuando <strong>em</strong>, 1933 municípios brasileiros, 5139equipes <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família.A partir <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1999, com a Portaria nº 1.348 <strong>de</strong>18/11/1999 do Ministério da Saú<strong>de</strong> 4 , cria-se a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>adaptação na composição <strong>de</strong> equipes <strong>em</strong> projetosconsi<strong>de</strong>rados “similares” à proposta inicial do Ministério, ouseja, é colocada a flexibilização na composição <strong>de</strong>ssas equipesmínimas como, por ex<strong>em</strong>plo, contar com o enfermeiro na* Enfermeira. Professora Doutora junto ao Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>Materno Infantil e Saú<strong>de</strong> Pública da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> RibeirãoPreto da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.** Aluna <strong>de</strong> Graduação da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto daUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Bolsista <strong>de</strong> Iniciação CientíficaPIBIC/CNPq-USP.En<strong>de</strong>reço para correspondência:<strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto da USPAv Ban<strong>de</strong>irantes 3900, Ribeirão Preto - SP.CEP. 14040-902cassiacampi@zipmail.com.brsmishima@eerp.usp.br124 - Rev. Min. Enf., 7(2):124-33, jul./<strong>de</strong>z., 2003


O TRABALHO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – PERFIL DAS EQUIPESsupervisão das equipes e não no trabalho cotidianodas mesmas.É importante que se ressalte que, mesmo sendo <strong>de</strong>responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> toda a equipe, a articulação com indivíduos/ família / comunida<strong>de</strong>, cabe, <strong>de</strong> certa maneira, aostrabalhadores ligados à enfermag<strong>em</strong> e, mais especificamente,aos agentes comunitários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, o esforço inicial <strong>de</strong>articulação e integração e, ainda, o estabelecimento <strong>de</strong> vínculoscom a comunida<strong>de</strong>, uma vez que muitas <strong>de</strong> suas atribuiçõesestão voltadas para ações específicas <strong>de</strong> participação nacomunida<strong>de</strong> 5 . Esse grupo <strong>de</strong> trabalhadores assume um papelrelevante no <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> ações que se caracteriz<strong>em</strong>por uma perspectiva mais além que a biomédica, incorporandoa preocupação <strong>em</strong> aumentar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autonomia dacomunida<strong>de</strong> e das famílias atendidas.A conformação das equipes apresenta-se certamente comoum fator <strong>de</strong>terminante para o sucesso do programa, sendonecessária a avaliação permanente do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>de</strong> seusm<strong>em</strong>bros e <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> capacitação. Essaquestão é assinalada enfaticamente na avaliação <strong>em</strong>preendidapelo Ministério da Saú<strong>de</strong> efetivada no ano 2000, “[. .] a rápidaexpansão do PSF, no contexto do processo <strong>de</strong> municipalizaçãoda saú<strong>de</strong>, d<strong>em</strong>anda a cada dia, profissionais capacitados a lidarcom estas inovações e adaptá-las às diferenças locaise regionais.” 6ObjetivosEsta investigação t<strong>em</strong> por objetivo central i<strong>de</strong>ntificar eanalisar o perfil d<strong>em</strong>ográfico, <strong>de</strong> experiência anterior dostrabalhadores que atuam nas equipes do PSF da DivisãoRegional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> - DIR-XVIII, Estado <strong>de</strong> São Paulo, b<strong>em</strong> como<strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> capacitação.São objetivos específicos <strong>de</strong>ste trabalho:• mapear as equipes que atuam no Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> daFamília nos municípios <strong>de</strong> abrangência da DIR XVIII – Estado<strong>de</strong> São Paulo;• caracterizar a configuração d<strong>em</strong>ográfica dos trabalhadoresque compõ<strong>em</strong> as equipes que atuam no Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>da Família na região da DIR XVII – Estado <strong>de</strong> São Paulo;• i<strong>de</strong>ntificar e analisar a experiência profissional anterior dostrabalhadores das equipes que atuam no Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>da Família e suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> capacitação específica.Percurso MetodológicoEste estudo caracteriza-se por sua natureza exploratória e<strong>de</strong>scritiva. Os estudos exploratórios são aqueles que permit<strong>em</strong>conhecer ou aumentar o conhecimento <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> um dadoprobl<strong>em</strong>a, <strong>de</strong> modo a estabelecer hipóteses <strong>de</strong> investigaçãopara outros tipos <strong>de</strong> pesquisa ou mesmo propor estratégias <strong>de</strong>intervenção <strong>em</strong> dadas situações, ou seja, “um estudoexploratório [. .] po<strong>de</strong> servir para levantar possíveis probl<strong>em</strong>as<strong>de</strong> pesquisa” 7 . Quando se fala <strong>em</strong> estudos <strong>de</strong>scritivos, está-sereferindo aos estudos que pretend<strong>em</strong> <strong>de</strong>screver (e tambémanalisar) os fatos e fenômenos <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada realida<strong>de</strong>.O campo <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>sta investigação constituiu-se dosmunicípios da região da Divisão Regional da Saú<strong>de</strong> XVIII – DIRXVIII - Estado <strong>de</strong> São Paulo, que apresentam equipes <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>da Família habilitadas e implantadas. Esta DIR XVIII apresenta<strong>em</strong> sua área <strong>de</strong> abrangência 25 municípios, sendo que atémarço <strong>de</strong> 1999, três (3) <strong>de</strong>les vinham <strong>de</strong>senvolvendo o PSF.Durante o ano <strong>de</strong> 1999 e início do ano 2000, outrosmunicípios foram qualificados pelo Ministério da Saú<strong>de</strong> para<strong>de</strong>senvolver o PSF, e foi consolidado o Pólo Norte e OestePaulista <strong>de</strong> Formação Acadêmica e Capacitação <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> daFamília, do qual faz<strong>em</strong> parte a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São PauloFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina e <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> RibeirãoPreto da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo a Secretaria Municipal <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto e DIR XVIII entre outras instituições.Para coleta <strong>de</strong> dados, num primeiro momento, foram obtidasinformações acerca dos municípios que se encontravamqualificados para o <strong>de</strong>senvolvimento do Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> daFamília, junto à DIR XVIII. Essas informações foram obtidas juntoaos bancos <strong>de</strong> dados da DIR XVIII, assim como das portariasdo Ministério da Saú<strong>de</strong> on<strong>de</strong> são especificados os municípiosbrasileiros qualificados. Além da i<strong>de</strong>ntificação da situação dosmunicípios quanto à sua qualificação e a efetiva implantaçãodas equipes, buscou-se a caracterização <strong>de</strong> cada município,quanto ao tipo <strong>de</strong> gestão, população resi<strong>de</strong>nte, populaçãocoberta pelo PSF.Num segundo momento, através <strong>de</strong> um questionárioestruturado, encaminhado aos trabalhadores das equipes doPSF dos municípios i<strong>de</strong>ntificados <strong>em</strong> janeiro <strong>de</strong> 2001 (13municípios), obteve-se a caracterização geral dos trabalhadoresdo PSF e suas d<strong>em</strong>andas/ necessida<strong>de</strong>s específicas <strong>de</strong>capacitação. O instrumento foi construído tomando porreferência o estudo realizado pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>juntamente com a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) – Perfildos Médicos e Enfermeiros do Programa Saú<strong>de</strong> da Família noBrasil 6 . Nesta construção, foi utilizada também a tese <strong>de</strong>doutorado apresentada na <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> daUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – 1999 por Maria Rizonei<strong>de</strong>Negreiros <strong>de</strong> Araújo com o t<strong>em</strong>a: A saú<strong>de</strong> da família:Construindo um novo paradigma <strong>de</strong> intervenção no processosaú<strong>de</strong>- doença 8 .Os questionários foram respondidos pelos trabalhadores quese dispuseram a participar da investigação, sendo que todospu<strong>de</strong>ram expressar o consentimento esclarecido pela suaparticipação na pesquisa.- Rev. Min. Enf., 7(2):124-33, jul./<strong>de</strong>z., 2003125


O TRABALHO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – PERFIL DAS EQUIPESOs ResultadosA constituição das equipes na região da DIR XVIIIA Direção Regional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> – DIR XVIII abrange uma regiãocomposta <strong>de</strong> 25 municípios, sendo que <strong>em</strong> janeiro <strong>de</strong> 2001 foirealizado o mapeamento das equipes <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família daregião. O período para o mapeamento das equipes foi<strong>de</strong>terminado face às mudanças dos governos municipais <strong>em</strong>2001 e à re<strong>de</strong>finição das políticas municipais.Para o mês <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2001, foram i<strong>de</strong>ntificadas 16equipes <strong>em</strong> 13 municípios dos 25 que compõ<strong>em</strong> a área <strong>de</strong>abrangência <strong>de</strong>ssa DIR.O município <strong>de</strong> Ribeirão Preto encontrava-se qualificado paraa implantação <strong>de</strong> 5 equipes <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família <strong>de</strong>s<strong>de</strong> outubro<strong>de</strong> 2000, segundo a Portaria nº 1.139, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong>2000, entretanto, até janeiro <strong>de</strong> 2001 não havia ocorrido aefetiva implantação das mesmas.É importante ressaltar que, face às eleições municipais,algumas cida<strong>de</strong>s, <strong>em</strong>bora apresentando equipes implantadas,passaram por reformulação na constituição das mesmas,algumas sendo reformuladas com a substituição dosprofissionais, outras extintas.O mapeamento realizado nesse momento (janeiro <strong>de</strong> 2001)constituiu a base para o <strong>de</strong>senvolvimento da segunda fase dainvestigação, ou seja, os municípios foram selecionados para oencaminhamento dos formulários às equipes <strong>de</strong> trabalhono PSF.Em função do rápido movimento <strong>de</strong> implantação das equipesdo PSF na região, <strong>em</strong> julho <strong>de</strong> 2001, foi realizada a atualizaçãodo mapeamento dos municípios sendo apresentados os dadosno Quadro 1.Quadro 1 - Distribuição dos municípios da DIR XVIII que possu<strong>em</strong> o Programa da Saú<strong>de</strong> da Família implantado, segundo caracterização: tipo <strong>de</strong>gestão, t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> implantação, população do município, cobertura da população pelo programa, número <strong>de</strong> equipes. Ribeirão Preto, 2001MunicípioTipo <strong>de</strong>gestãoT<strong>em</strong>po <strong>de</strong>implantaçãoPopulaçãodo municípioCoberturapeloprogramaN o <strong>de</strong>equipesjaneiro 2001N o <strong>de</strong>equipesjulho 2001AltinópolisBarrinha*Batatais**BrodowskiCajuruCássia dos CoqueirosGuataparáJaboticabal%JardinópolisLuiz AntonioPitangueirasPradópolisRibeirão PretoSanta Rosa do ViterboSanto Antonio da AlegriaSão SimãoSerranaSerra AzulPlenaPlenaPlenaPlenaPlenaPlenaPlenaPlenaPlenaPABPABPlenaPlenaPABPlenaPlenaPlenaPAB06/200012/200012/199912/199912/199906/200106/200109/200009/200001/200008/200008/200010/200012/199912/199912/199908/200001/200014.29725.16751.31517.84119.6142.8276.26967.11525.3547.91631.58013.619418.63720.8025.81213.04130.3697.96974,98%65,15%78,02%22,84%20,50%93,45%38,37%3,25%21,85%59,35%9,96%29,97%0,43%9,92%37,99%19,00%38,74%55,54%TOTAL0301*01**0101-010101010101----02011603010101010102010201010105020203020131* O município ainda conta com 23 ACS do Programa <strong>de</strong> Agentes Comunitários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>** O município ainda conta com 74 ACS do Programa <strong>de</strong> Agentes Comunitários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>No quadro são apresentados dados gerais <strong>de</strong> caracterizaçãodos municípios que apresentavam equipes <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Famíliaimplantadas, segundo a população resi<strong>de</strong>nte, populaçãocadastrada pelas equipes e o porcentual <strong>de</strong> cobertura dasmesmas, para o mês <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2001.No período <strong>de</strong> janeiro a julho <strong>de</strong> 2001, po<strong>de</strong>-se verificar umaumento significativo do número <strong>de</strong> municípios atendidospassando <strong>de</strong> 13 para 18, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> equipes <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> daFamília implantadas, <strong>de</strong> 16 para 31, ou seja, <strong>em</strong> seis meseshouve uma ampliação <strong>de</strong> 100% no número <strong>de</strong> equipes.Pelo Quadro 1 é possível observar que os municípios queimplantaram equipes do PSF são municípios <strong>de</strong> pequeno <strong>em</strong>édio porte, com a população variando <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 3.000habitantes até um máximo <strong>de</strong> 67.115 habitantes. Exceção aeste quadro é o município <strong>de</strong> Ribeirão Preto, que, dosmunicípios da DIR XVIII, apresenta uma população bastantesuperior à média populacional da região. É importante tambémconsi<strong>de</strong>rar que esses municípios apresentam além dascaracterísticas populacionais distintas, estágios diferenciados<strong>de</strong> gestão municipal e <strong>de</strong>senvolvimento do Programa.126 - Rev. Min. Enf., 7(2):124-33, jul./<strong>de</strong>z., 2003


O TRABALHO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – PERFIL DAS EQUIPESA população cadastrada nos municípios, para julho <strong>de</strong> 2001,varia <strong>de</strong> 0,43%, como é o caso do município <strong>de</strong> Ribeirão Preto,até 93,45%, percentual encontrado para o município <strong>de</strong> Cássiados Coqueiros, que apresenta 40% da população na áreaurbana, sendo que a cobertura <strong>de</strong> 93,45% do PSF para est<strong>em</strong>unicípio refere-se apenas à população urbana. É importante<strong>de</strong>stacar esta questão, uma vez que é possível verificar que, naregião da DIR XVIII, o PSF encontra-se <strong>em</strong> diferentes estágios<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, tanto no que diz respeito ao trabalhoassistencial, como na constituição e capacitação das equipes.Caracterizando as equipes do PSFDos 13 municípios i<strong>de</strong>ntificados que dispunham <strong>de</strong> 16equipes <strong>de</strong> PSF implantadas, 7 municípios se dispuseram aparticipar da investigação. Contudo, respon<strong>de</strong>ram aoquestionário, 5 equipes (31,25% do total <strong>de</strong> equipes), referentesa 5 municípios com as equipes implantadas.Na i<strong>de</strong>ntificação das equipes, verificou-se que a maioria <strong>de</strong>lasé composta por mulheres (84,78%), <strong>em</strong> todas as categorias<strong>de</strong> trabalhadores.Quanto à ida<strong>de</strong>, verifica-se que 37,5% dos auxiliares <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> encontram-se na faixa etária dos 35 aos 40 anos.O mesmo acontece com os profissionais <strong>de</strong> nível superior,enfermeiros e médicos: 60% dos enfermeiros encontram-se nafaixa dos 35 aos 40 anos, assim como 50% dos médicos.Já o grupo dos agentes comunitários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> - ACS é maisjov<strong>em</strong>, sendo que 44,83% apresentam ida<strong>de</strong> inferior a 25 anose 17,24% apresentam ida<strong>de</strong> inferior a 20 anosTabela 1 - Distribuição dos trabalhadores das equipes <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família <strong>de</strong> municípios da DIR XVIII segundo sexo e ida<strong>de</strong>. Ribeirão Preto, 2001Ida<strong>de</strong>CategoriaProfissional< <strong>de</strong> 20N o %20-25N o %25-30N o %30-35N o %35-40N o %>40N o %TOTALACSAux. Enf.EnfermeiroMédicoTOTAL51--617,212,5--13,082--1027,625,0--21,77---724,1---15,24112813,812,520,050,017,4133293,437,560,050,519,5411-613,812,520,0-13,029854*46* É importante assinalar, que uma das equipes investigada não dispunha, na época da coleta <strong>de</strong> dados, do profissional médicoAproximadamente 70% dos ACS nasceram <strong>em</strong> municípiosdiferentes daqueles <strong>em</strong> que resid<strong>em</strong> e trabalham atualmente,sendo que entre esses, 45% são naturais <strong>de</strong> outros estados. Osenfermeiros (com exceção <strong>de</strong> um) e médicos <strong>em</strong> sua totalida<strong>de</strong>são naturais <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s.Dos enfermeiros, 25% (apenas um não respon<strong>de</strong>u a estaquestão) e 100% dos médicos resid<strong>em</strong> <strong>em</strong> municípiosdiferentes daqueles aon<strong>de</strong> trabalham. Esta é uma questãoimportante <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar, principalmente quando tomamospor referência as exigências do Ministério da Saú<strong>de</strong> sobre afixação da residência nos municípios on<strong>de</strong> atuam 3 .Pela Tabela 2 é possível observar a distribuição dos médicose enfermeiros das equipes <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família segundoinstituição formadora, t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formação dos profissionais e arealização <strong>de</strong> pós-graduação latu sensu ou stricto sensu. Comrelação à instituição formadora, 60% dos enfermeirosconcluíram seus estudos <strong>em</strong> instituições públicas, e os d<strong>em</strong>ais,40%, <strong>em</strong> instituições privadas; 75% dos médicos são oriundos<strong>de</strong> instituições privadas.Quanto ao t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formados, 4 enfermeiros (80%)apresentam mais <strong>de</strong> 10 anos <strong>de</strong> formação, sendo que um <strong>de</strong>lest<strong>em</strong> mais <strong>de</strong> 20 anos <strong>de</strong> formado, apenas um (20%) dosenfermeiros apresenta menos <strong>de</strong> 5 anos <strong>de</strong> formação, ou seja,são profissionais que passaram por outras experiênciasprofissionais antes <strong>de</strong> ingressar no PSF.Tabela 2 - Distribuição dos médicos e enfermeiros das equipes <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família, segundo instituição formadora, t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formação erealização <strong>de</strong> pós-graduação (latu sensu ou stricto sensu). Ribeirão Preto, 2001FormaçãoCategoriaProfissionalInstituição FormadoraPública Privada< 5aT<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formação5 - 1010 - 1515 - 20> 20RPós GraduaçãoEMDEnfermeiroMédicoTOTAL325224112-111232-21-1134224-11-11R = Residência - E = Especialização - M = Mestrado - D = Doutorado- Rev. Min. Enf., 7(2):124-33, jul./<strong>de</strong>z., 2003127


O TRABALHO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – PERFIL DAS EQUIPESCom relação aos médicos, 50% apresentam menos <strong>de</strong> 10anos <strong>de</strong> formação, chamando atenção o fato <strong>de</strong> que 1 dosmédicos apresenta menos <strong>de</strong> 5 anos <strong>de</strong> formado (2 anos).Cabe-nos ressaltar que uma das equipes não conta com oprofissional médico, contrariando um dos critérios para aimplantação das equipes do PSF.É importante consi<strong>de</strong>rar que o PSF t<strong>em</strong> se apresentadocomo uma alternativa efetiva <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos para osprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Ainda, com relação ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> formaçãocontínua, praticamente todos os médicos e enfermeirosprosseguiram sua formação, sendo que 3 dos enfermeiros,possu<strong>em</strong> formação no nível <strong>de</strong> residência ou especialização;dos médicos, apenas 1 não apresenta residência médica e 1apresenta mestrado e doutorado.Com relação à formação dos ACS, apenas 10,3%apresentam o primeiro grau incompleto, chamando atenção ofato <strong>de</strong> 10,3% apresentar<strong>em</strong> curso superior completo. Esse fatopo<strong>de</strong> indicar a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho,restando muitas vezes, mesmo ao trabalhador comescolarida<strong>de</strong>, poucas alternativas para o exercício da profissão.A maior concentração está entre os que possu<strong>em</strong> o 2º graucompleto e incompleto, representando 31,0% e 20,7%respectivamente. É importante frisar que a qualificação mínimaexigida pelo Ministério da Saú<strong>de</strong> é que o trabalhador sejaalfabetizado, isto é, saiba ler e escrever, e que nas equipesinvestigadas, a formação encontrada é b<strong>em</strong> acima da exigida.Tabela 3 - Distribuição dos agentes comunitários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> -ACS das equipes <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família segundo escolarida<strong>de</strong>.Ribeirão Preto, 2001Grau <strong>de</strong> <strong>Escola</strong>rida<strong>de</strong> N o %S<strong>em</strong> escolarida<strong>de</strong>AlfabetizadoPrimeiro grau incompletoPrimeiro grau completoSegundo grau incompletoSegundo grau completoTerceiro grau incompletoTerceiro grau completoTotal--35693329--10,317,220,931,010,310,3100Quanto ao t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> no PSF, 50% dostrabalhadores estão há menos <strong>de</strong> um ano atuando, e os d<strong>em</strong>ais50% encontram-se com 1 a 3 anos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> no Programa,conforme se observa na Tabela 4.Chama atenção o fato <strong>de</strong> que todos os médicos apresentammenos <strong>de</strong> 1 ano <strong>de</strong> inserção no Programa, enquanto mais <strong>de</strong>50% dos enfermeiros e dos ACS têm <strong>de</strong> 1 a 3 anos, po<strong>de</strong>ndosignificar menor rotativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes <strong>em</strong> relação ao trabalhadormédico.Po<strong>de</strong>-se afirmar que o conjunto dos trabalhadoresentrevistados foi inserido recent<strong>em</strong>ente no PSF, principalmenteao se consi<strong>de</strong>rar que 11 municípios tiveram sua habilitação paraimpl<strong>em</strong>entação do PSF a partir do final do segundo s<strong>em</strong>estre<strong>de</strong> 2000, conforme o Quadro 1.Tabela 4 - Distribuição dos trabalhadores das equipes <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> da Família <strong>de</strong> municípios da DIR XVIII segundo t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong> no Programa. Ribeirão Preto, 2001Categoria ProfissionalACSAux. Enf.EnfermeiroMédicoTotal 20---2* Consi<strong>de</strong>rando um salário mínimo vigente no período <strong>de</strong> coleta dos dados no valor<strong>de</strong> $ 152,00** Um dos enfermeiros não respon<strong>de</strong>u a este it<strong>em</strong>128 - Rev. Min. Enf., 7(2):124-33, jul./<strong>de</strong>z., 2003


O TRABALHO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – PERFIL DAS EQUIPESganham entre 8 e 10 salários, enquanto 50% dos médicosreceb<strong>em</strong> mais <strong>de</strong> 20 salários.Análise da experiência profissional anterior enecessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> capacitaçãoEm relação às experiências anteriores na área da saú<strong>de</strong>,observa-se na Tabela 6 que a gran<strong>de</strong> maioria dos ACS não teveexperiências anteriores na área da saú<strong>de</strong>, sendo que 1 dos ACSnão respon<strong>de</strong>u a esta questão. Já, quase a totalida<strong>de</strong> dosauxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> teve experiências, sendo que 87,5%trabalharam anteriormente na área hospitalar. Nenhum dosauxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> apresentou experiência anterior <strong>de</strong>trabalho no PSF.Tabela 6 - Distribuição dos trabalhadores das equipes <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> da Família <strong>de</strong> municípios da DIR XVIII segundoexperiência anterior na área da saú<strong>de</strong>, no PSF e nos serviços <strong>de</strong>atenção primária. Ribeirão Preto, 2001Categoria ProfissionalACS*Aux. Enfermag<strong>em</strong>Enfermeiro**MédicoExperiênciana área <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> antesdo PSFSim Não7754Experiência anteriorTodos os enfermeiros e médicos tiveram experiênciaanterior <strong>em</strong> serviços <strong>de</strong> atenção primária à saú<strong>de</strong> antes doPSF, contudo, apenas 1 enfermeiro e 2 médicosapresentaram experiência anterior <strong>de</strong> trabalho no PSF, comum t<strong>em</strong>po variando <strong>de</strong> 2 meses a 2 anos (enfermeiro).Quando indagados sobre as alterações <strong>em</strong> relação àr<strong>em</strong>uneração após trabalhar no PSF, 60% dos enfermeirosrefer<strong>em</strong> que esta aumentou, já 37,5% dos auxiliares <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> refer<strong>em</strong> que houve diminuição do salário,enquanto 75% disseram que o número <strong>de</strong> horastrabalhadas aumentou.Tanto para os médicos quanto para os enfermeiros,segundo seus relatos, a relação com os pacientesmelhorou. Já o prestígio profissional não se alterou para50% dos médicos, e para 60% dos enfermeiroseste melhorou.No conjunto dos trabalhadores das equipes investigadas,63% refer<strong>em</strong> que há dificulda<strong>de</strong> na prática do trabalho,sendo que a maior <strong>de</strong>ficiência é a falta <strong>de</strong> conhecimentoespecífico para o <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho, citada pelosACS e auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Há também dificulda<strong>de</strong><strong>em</strong> dar orientação à comunida<strong>de</strong>, principalmente <strong>em</strong>assuntos relacionados ao uso <strong>de</strong> álcool e drogas, à DST /AIDS, à gravi<strong>de</strong>z na adolescência e à prostituição.211--Experiênciaanterior noPSFSim1012Não27832Experiênciaanterior <strong>em</strong>serviços <strong>de</strong>APSSim--54* 1 ACS não respon<strong>de</strong>u a esta questão da experiência anterior na área da saú<strong>de</strong>** 1 enfermeira não respon<strong>de</strong>u à questão da experiência anterior no PSFNão----É importante ressaltar que os t<strong>em</strong>as citados são t<strong>em</strong>ascomplexos e que envolv<strong>em</strong> aspectos não apenas biológicos,mas configuram-se como probl<strong>em</strong>as com interface nadimensão social, cultural, econômica, ética.Segundo uma das enfermeiras, há “ausência <strong>de</strong> conteúdoteórico e prático no curriculum das escolas <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública”. Todos os profissionaisda equipe sent<strong>em</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimorar osconhecimentos, sendo que as áreas mais citadas pelos os ACSforam: saú<strong>de</strong> da criança, mulher, idoso, adulto e imunização,aprimoramento nos procedimentos <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, on<strong>de</strong>relatam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r<strong>em</strong> o “básico” ou então“curso <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> direcionado aos ACS”.Esta é uma questão importante a ser colocada na agendadas equipes <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família e dos gestores municipais -qual o perfil do agente comunitário <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>? Quais são osaspectos fundamentais necessários à sua formação? Espera-seque esse trabalhador tenha um perfil <strong>de</strong> formação “s<strong>em</strong>elhante”ao do auxiliar <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>?Para os auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> o t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> maiornecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capacitação é imunização. Possivelmente, a<strong>de</strong>ficiência apresentada neste t<strong>em</strong>a se dê <strong>em</strong> função <strong>de</strong> aexperiência anterior majoritária dos auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>ser na área hospitalar, on<strong>de</strong> a prática da imunização não fazparte da agenda cotidiana <strong>de</strong> trabalho.Os médicos e enfermeiros citaram todas as áreas comotendo necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimoramento, sendo que, para osenfermeiros, aparec<strong>em</strong> t<strong>em</strong>as como métodos contraceptivos eabordag<strong>em</strong> da família na comunida<strong>de</strong>.Em relação à modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimoramento, 40% dosenfermeiros têm interesse <strong>em</strong> fazer outra especialização commais <strong>de</strong> 360h <strong>de</strong> duração, sendo que a maioria dos médicostambém d<strong>em</strong>onstra esse interesse.Consi<strong>de</strong>rações FinaisNo <strong>de</strong>senvolvimento da presente investigação po<strong>de</strong>-se verificarque na região da DIR XVIII, para o período <strong>de</strong> janeiro a julho <strong>de</strong>2001, houve uma ampliação <strong>de</strong> 100% no número <strong>de</strong> equipes <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> da Família. Esse aumento po<strong>de</strong> estar indicando umaa<strong>de</strong>são dos municípios a uma proposta político-assistencial doMinistério da Saú<strong>de</strong> que v<strong>em</strong> sendo tratada como uma estratégiapara re<strong>versão</strong> do atual mo<strong>de</strong>lo assistencial.As equipes investigadas, na maioria composta por mulheres,apresentam profissionais com experiência anterior na área dasaú<strong>de</strong> e <strong>em</strong> atenção primária à saú<strong>de</strong>, sendo que dos ACS,apenas 10,3% apresentam o primeiro grau incompleto,chamando atenção o fato <strong>de</strong> 10,3% apresentar<strong>em</strong> cursosuperior completo. Ainda se po<strong>de</strong> constatar que ostrabalhadores entrevistados foram inseridos recent<strong>em</strong>ente noPSF, principalmente ao se consi<strong>de</strong>rar que 11 municípios- Rev. Min. Enf., 7(2):124-33, jul./<strong>de</strong>z., 2003129


O TRABALHO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – PERFIL DAS EQUIPESpassaram a constituir suas equipes a partir do final do segundos<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2000.Dos trabalhadores investigados, 63% refer<strong>em</strong> que hádificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> sua prática <strong>de</strong> trabalho, principalmente <strong>em</strong>relação à falta <strong>de</strong> conhecimento específico para o<strong>de</strong>senvolvimento do trabalho no PSF. Todos os profissionais daequipe sent<strong>em</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimorar os conhecimentos,<strong>de</strong> modo a aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s que se colocam notrabalho cotidiano.É importante <strong>de</strong>stacar que um dos aspectos i<strong>de</strong>ntificadosque necessita ser mais b<strong>em</strong> trabalhado diz respeito ao perfil <strong>de</strong>capacitação dos ACS. Segundo alguns dos enfermeiros estes<strong>de</strong>veriam receber “curso <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> direcionadoaos ACS”. Contudo, a expectativa expressa nos documentosdo Ministério da Saú<strong>de</strong> é que esses trabalhadores colabor<strong>em</strong>para o estreitamento do vínculo da equipe com a comunida<strong>de</strong>,assim como para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> promoção àsaú<strong>de</strong> junto à comunida<strong>de</strong>. Neste sentido, seria plausívelconsi<strong>de</strong>rar que ao ACS não se colocaria a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umaformação técnica específica na área da saú<strong>de</strong>, mas umacapacitação para aspectos que lev<strong>em</strong> <strong>em</strong> conta o<strong>de</strong>senvolvimento da comunida<strong>de</strong>, o que não foi i<strong>de</strong>ntificadoneste estudo.Esta investigação, ao fazer uma aproximação com asnecessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> capacitação das equipes, aponta aspectos quesão consi<strong>de</strong>rados prioritários pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>, no sentido<strong>de</strong> acompanhar os trabalhadores para capacitá-los a lidar com asd<strong>em</strong>andas presentes no cotidiano das comunida<strong>de</strong>s.SummaryThis study intends to i<strong>de</strong>ntify the d<strong>em</strong>ographic profile, previousexperience and training needs of family health workers (DIR XVIII– SP). An analysis of material collected in secondary and primarydata shows that most of the teams are ma<strong>de</strong> up of women; 25%of the nurses and 100% of the doctors do not live in the municipaldistricts in which they work; all the nursing auxiliaries had alreadyworked in hospitals, while all the nurses and doctors ha<strong>de</strong>xperience in primary care services, 10,3% of the communityhealth agents had higher education. About 63% of the workersstated they lacked knowledge specific to the work in the FamilyHealth Program, and the issues raised overlap with social,cultural, economic and ethical issues.Keywords: Family Health Program; Inservice Training; HealthPersonnelResumenSe busca i<strong>de</strong>ntificar el perfil d<strong>em</strong>ográfico, la experienciaanterior y las necesida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> capacitación <strong>de</strong> los obreros <strong>de</strong>la salud <strong>de</strong> la familia - DIR XVIII - SP. El análisis <strong>de</strong>lmaterial, obtenido por medio <strong>de</strong> los datos primarios ysecundarios, muestra que la mayoría <strong>de</strong> los equipos estácompuesta por mujeres; que el 25% <strong>de</strong> las enfermeras y el100% <strong>de</strong> los médicos no viven en los distritos municipalesdón<strong>de</strong> trabajan; que todos los auxiliares <strong>de</strong> enfermería yatrabajaron en el hospital; que todas las enfermeras y médicostenían experiencia en los servicios <strong>de</strong> atención primaria yque el 10,3% <strong>de</strong> ACSs tienen nivel universitario completo.Cerca <strong>de</strong>l 63% <strong>de</strong> los obreros señalan <strong>de</strong>ficiencias <strong>de</strong>conocimiento específico para <strong>de</strong>sarrollar el trabajo <strong>de</strong> PSF;los t<strong>em</strong>as i<strong>de</strong>ntificados están relacionados con la dimensiónsocioeconómica, cultural y ética.Palabras clave: Programa Salud <strong>de</strong> la familia;Capacitacion en Servicio; Personal <strong>de</strong> SaludReferências bibliográficas1. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família: umaestratégia <strong>de</strong> organização dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Brasília,Ministério da saú<strong>de</strong>; 1996 (documento preliminar).2. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Disponível<strong>em</strong>: http://www.sau<strong>de</strong>.gov.br/ programas/ pacs/pst.htm.Acesso <strong>em</strong>: maio <strong>de</strong> 2000.3. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Saú<strong>de</strong> da Família: uma estratégiapara a reorientação do mo<strong>de</strong>lo assistencial. Brasília; 1998.4. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Portaria nº 1348 <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong>Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1999.5. Teixeira RA, Mishima SM, Pereira MJB. O trabalho <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> atenção primária à saú<strong>de</strong> – a assistência àsaú<strong>de</strong> da família. Rev Bras Enf 2000; 53(2): 183 – 206.6. Machado MH, Coord. Perfil dos médicos e enfermeiros doPrograma <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família no Brasil: relatório final. Brasília:Ministério da Saú<strong>de</strong>; 2000. (Brasil e Gran<strong>de</strong>s Regiões, v.1).7. Triviños ANS. Introdução à pesquisa <strong>em</strong> ciências sociais. 4ª.ed., São Paulo: Atlas; 1995.8. Araújo MRN. A saú<strong>de</strong> da família: Construindo um novoparadigma <strong>de</strong> intervenção no processo saú<strong>de</strong>- doença. 1999.[Tese <strong>de</strong> doutorado]. São Paulo:Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo;1999.ANEXOSQuestionário – Médicos e EnfermeirosIDENTIFICAÇÃO1- Profissão: médico ( ) enfermeiro ( )2- Sexo: masculino ( ) f<strong>em</strong>inino ( )3- Data <strong>de</strong> nascimento: ____/____/____4- Local <strong>em</strong> que nasceu: Município:___________________Estado:___________________________130 - Rev. Min. Enf., 7(2):124-33, jul./<strong>de</strong>z., 2003


O TRABALHO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – PERFIL DAS EQUIPES5- Local <strong>em</strong> que residia antes <strong>de</strong> se fixar no município atual:Município:____________ Estado: _____6- Local <strong>em</strong> que resi<strong>de</strong> atualmente:Município:_____________________________ Estado:_________7- Local <strong>em</strong> que trabalha atualmente: Município:__________________________ Estado: ________FORMAÇÃO1- Instituiçãoformadora:_____________________________Entida<strong>de</strong> mantenedora: Pública ( ) Privada ( )Localização: _______________________________________Ano <strong>de</strong> Conclusão: ____/____/____2- Pós-Graduação: sim ( ) não ( ) ( ) residência - Área:__________________________________________________Instituição:___________________________________________( ) especialização (acima <strong>de</strong> 360 horas) - Área:_______________________________________Instituição:_____________________________________________( ) mestrado - Área:__________________________________________________Instituição:_____________________________________________( ) doutorado - Área:__________________________________________________Instituição:_____________________________________________( ) outros - Área:__________________________________________________Instituição:_____________________________________________3 - Ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> capacitação profissional:n para o PSF: sim ( ) não ( )Local: DIR XVIII ( ) Pólo <strong>de</strong> capacitação FMRP/EERP – USP ( ) Nomunicípio ( )Outros ( ) Especificar:____________________________________________Tipo: __________________________________Duração: __________________________________MERCADO DE TRABALHO1- Você já trabalhou anteriormente <strong>em</strong> serviços <strong>de</strong> atenção primária àsaú<strong>de</strong>: sim ( ) não ( )Duração: __________Local:_________________________________________________2- Você já trabalhou anteriormente no PSF: sim ( ) não ( )Duração:_______________Local:_________________________________________________3- Você teve experiência profissional anterior <strong>em</strong> trabalhos na área dasaú<strong>de</strong>: sim ( ) não ( )Duração:______________________________________________Local:_________________________________________________4- T<strong>em</strong>po na função atual:menos <strong>de</strong> um ano ( )1 a 3 anos ( )mais <strong>de</strong> 3 anos ( )5- Seleção <strong>de</strong> pessoal para contratação no PSF: foi feita através <strong>de</strong>:( ) Concurso público( ) Entrevista( ) Currículum Vitae (prova <strong>de</strong> título)( ) Outra (especificar):___________________________________________6- Modalida<strong>de</strong> da Contratação no PSF:( ) Estatuto do servidor público( ) Contrato t<strong>em</strong>porário( ) CLT( ) Cargo <strong>em</strong> comissão( ) Cooperativa( ) Outros –Especificar:____________________________________________7- Renda mensal aproximada( ) < 1 salário mínimo () <strong>de</strong> 10 a 12 salários mínimos( ) <strong>de</strong> 1 a 2 salários mínimos ( ) <strong>de</strong> 12 a 14 salários mínimos( ) <strong>de</strong> 2 a 4 salários mínimos ( ) <strong>de</strong> 14 a 16 salários mínimos( ) <strong>de</strong> 4 a 6 salários mínimos ( ) <strong>de</strong> 16 a 18 salários mínimos( ) <strong>de</strong> 6 a 8 salários mínimos ( ) <strong>de</strong> 18 a 20 salários mínimos( ) <strong>de</strong> 8 a 10 salários mínimos ( ) mais <strong>de</strong> 20 salários mínimos8- Carga horária s<strong>em</strong>anal <strong>de</strong>trabalho:_______________________________________________9- Avaliação das condições <strong>de</strong> trabalho (condições gerais <strong>de</strong> trabalho,recursos disponíveis, dificulda<strong>de</strong>s no ambiente <strong>de</strong> trabalho,dificulda<strong>de</strong>s com a equipe <strong>de</strong> trabalho, sugestões):_________________________________________________________________10- Que alterações ocorreram <strong>em</strong> sua vida profissional após trabalharno PSF?R<strong>em</strong>uneração ( ) aumentou ( ) diminuiu ( ) não se alterouNúmero <strong>de</strong> horas trabalhadas ( ) aumentou ( ) diminuiu ( ) não se alterouCondição <strong>de</strong> trabalho ( ) melhorou ( ) piorou ( ) não se alterouAutonomia técnica ( ) aumentou ( ) diminuiu ( ) não se alterouRelação com pacientes ( ) melhorou ( ) piorou ( ) não se alterouPrestígio profissional ( ) aumentou ( ) diminuiu ( ) não se alterouCompetência técnica ( ) melhorou ( ) piorou ( ) não se alterou11- Você i<strong>de</strong>ntifica alguma dificulda<strong>de</strong> (por <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong>conhecimento teórico/prático) <strong>em</strong> sua prática <strong>de</strong> trabalho? ( ) sim ( )não Especificar: ___________________________________12- Você i<strong>de</strong>ntifica alguma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>capacitação/aprimoramento <strong>em</strong> sua prática <strong>de</strong> trabalho? ( ) não ( ) simÁrea: Atendimento da criança ( )Atendimento à mulher ( )Imunização ( )Atendimento ao idoso ( )Atendimento ao adulto ( )Urgências e <strong>em</strong>ergências clínicas e cirúrgicas ( )Procedimentos <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>/ Médicos ( )Qual: ________________________________Outros:________________________________________________13- Modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimoramento a que você teria interesse <strong>de</strong> sesubmeter: (marque apenas uma opção, a que julgar mais importantena sua vida profissional)( ) Curso <strong>de</strong> aperfeiçoamento (com menos <strong>de</strong> 360h <strong>de</strong> duração)( ) Mestrado/ doutorado/ pós-doutorado( ) Cursos no exterior( ) Trabalhando ou estagiando <strong>em</strong> outra instituição- Rev. Min. Enf., 7(2):124-33, jul./<strong>de</strong>z., 2003131


O TRABALHO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – PERFIL DAS EQUIPES( ) Fazendo outra especialização (Programa <strong>de</strong> residência e/ou cursoscom mais <strong>de</strong> 360h <strong>de</strong> duração)( ) Cursos à distância( ) Cursos <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> curta duração() Outros (especificar):___________________________________________14- Quais os t<strong>em</strong>as que você sugere para cursos <strong>de</strong> capacitação:_______________________________15- Para você, que palavra resume o futuro doPSF?________________________________________Questionário: Auxiliares <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>1- Sexo: masculino ( ) f<strong>em</strong>inino ( )2- Data <strong>de</strong> nascimento: ____/____/____3- Local <strong>em</strong> que nasceu:município:________________________________________Estado:__________4- Local <strong>em</strong> que residia antes <strong>de</strong> se fixar no município atual: Município:______________ Estado: __5- Local <strong>em</strong> que resi<strong>de</strong> atualmente:Município:____________________________ Estado:_________6- Local <strong>em</strong> que trabalha atualmente: Município:__________________________ Estado: _________7- Ano <strong>de</strong> conclusão do curso: _________Instituição: _____________________________________8- Experiência <strong>de</strong> trabalho na área da saú<strong>de</strong> anterior ao PSF: sim ( )não ( )Ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida:_______________________________Duração: ______________________9- Experiência <strong>de</strong> trabalho anterior no PSF: sim ( ) não ( )Duração: _____________Local:_________________________________________________10- Ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capacitação profissional para o PSF: sim ( )não ( )Tipo: aulas ( ) cursos ( ) palestras ( )outros: ______________________________________Local: DIR XVIII () Pólo <strong>de</strong> capacitação FMRP/EERP-USP ( ) Nomunicípio ( )Outro ( ) Qual: ______________________________________ Duração:___________11 - T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> no PSF:menos <strong>de</strong> um ano ( )1 a 3 anos ( )mais <strong>de</strong> 3 anos ( )12 - Forma <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> pessoal para contratação no PSF:( ) Concurso público( ) Entrevista( ) Currículum Vitae (prova <strong>de</strong> título)( ) Outras (especificar)____________________________________________13- Modalida<strong>de</strong> da Contratação no PSF:( ) Estatuto do servidor público( ) Contrato t<strong>em</strong>porário( ) CLT( ) Cargo <strong>em</strong> comissão( ) Cooperativa( ) Outros –Especificar:___________________________________________14- Renda mensal aproximada( ) < 1 salário mínimo ( ) <strong>de</strong> 10 a 12 salários mínimos( ) <strong>de</strong> 1 a 2 salários mínimos ( ) <strong>de</strong> 12 a 14 salários mínimos( ) <strong>de</strong> 2 a 4 salários mínimos ( ) <strong>de</strong> 14 a 16 salários mínimos( ) <strong>de</strong> 4 a 6 salários mínimos ( ) <strong>de</strong> 16 a 18 salários mínimos( ) <strong>de</strong> 6 a 8 salários mínimos ( ) <strong>de</strong> 18 a 20 salários mínimos( ) <strong>de</strong> 8 a 10 salários mínimos ( ) mais <strong>de</strong> 20 salários mínimos15 - Avaliação das condições <strong>de</strong> trabalho (condições gerais <strong>de</strong>trabalho, recursos disponíveis, dificulda<strong>de</strong>s no ambiente <strong>de</strong> trabalho,dificulda<strong>de</strong>s com a equipe <strong>de</strong> trabalho, sugestões):______________________________________________________________________________________________________________16- Que alterações ocorreram <strong>em</strong> sua vida profissional após trabalharno PSF?R<strong>em</strong>uneração ( ) aumentou ( ) diminuiu ( ) não se alterouNúmero <strong>de</strong> horas trabalhadas ( ) aumentou ( ) diminuiu ( ) não se alterouCondição <strong>de</strong> trabalho ( ) melhorou ( ) piorou ( ) não se alterouAutonomia técnica ( ) aumentou ( ) diminuiu ( ) não se alterouRelação com pacientes ( ) melhorou ( ) piorou ( ) não se alterouPrestígio profissional ( ) aumentou ( ) diminuiu ( ) não se alterouCompetência técnica ( ) melhorou ( ) piorou ( ) não se alterou17- Você i<strong>de</strong>ntifica alguma dificulda<strong>de</strong> (por <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong>conhecimento teórico/prático) <strong>em</strong> sua prática <strong>de</strong> trabalho? ( ) sim ( )nãoEspecificar: ____________________________________________18- Você sente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimorar seus conhecimentos: ( ) sim( ) nãoÁrea: Atendimento da criança ( )Atendimento à mulher ( )Imunização ( )Atendimento ao idoso ( )Atendimento ao adulto ( )Urgências e <strong>em</strong>ergências clínicas e cirúrgicas ( )Procedimentos <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> ( )Qual: _________________________________Outros:_____________________________________________________19- Qual modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimoramento a que você teria interesse <strong>em</strong>se submeter: (marque apenas uma opção, a que julgar maisimportante na sua vida profissional)( ) Trabalhando ou estagiando <strong>em</strong> outra instituição( ) Cursos a distância( ) Cursos <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> curta duração( ) Outros (especificar):20- Quais os t<strong>em</strong>as que você sugere para cursos <strong>de</strong>capacitação:_______________________________21- Para você, que palavra resume o futuro doPSF?________________________________________132 - Rev. Min. Enf., 7(2):124-33, jul./<strong>de</strong>z., 2003


O TRABALHO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – PERFIL DAS EQUIPESQuestionário – Agentes Comunitários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>1- Sexo: masculino ( ) f<strong>em</strong>inino ( )2- Data <strong>de</strong> nascimento: ____/____/____3- Local <strong>em</strong> que nasceu:Município:________________________________________Estado:_________________4- Local <strong>em</strong> que residia antes <strong>de</strong> se fixar no município atual: Município:_______________ Estado: __5- Local <strong>em</strong> que resi<strong>de</strong> atualmente:Município:____________________________Estado:_________6- Local <strong>em</strong> que trabalha atualmente: Município:__________________________ Estado: ________7- <strong>Escola</strong>rida<strong>de</strong>:( ) S<strong>em</strong> escolarida<strong>de</strong> ( ) Segundo grau incompleto( ) Alfabetizado ( ) Segundo grau completo( ) Primeiro grau incompleto ( ) Terceiro grau incompleto( ) Primeiro grau completo ( ) Terceiro grau completo8- Experiência <strong>de</strong> trabalho anterior ao PSF na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>:( ) sim ( ) nãoLocal____________________________________________ Duração:______________________9- Experiência <strong>de</strong> trabalho anterior no PSF: ( ) sim ( ) nãoLocal:____________________________________________Duração:______________________10 - Ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capacitação específica para o PSF: ( ) sim ( ) nãoDuração: ______________________Tipo: ____________________________________________Local: DIR XVIII ( ) Pólo <strong>de</strong> capacitação FMRP/EERP-USP ( ) Nomunicípio ( )Outros ( ) Qual__________________________________________________11- T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> no PSF:( ) menos <strong>de</strong> 1 ano( ) <strong>de</strong> 1 a 3 anos( ) mais <strong>de</strong> 3 anos12- Forma <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> pessoal para contratação no PSF:( ) Concurso público( ) Entrevista( ) Currículum Vitae (prova <strong>de</strong> título)( ) Outra(especificar)____________________________________________13- Modalida<strong>de</strong> da Contratação no PSF:( ) Estatuto do servidor público( ) Contrato t<strong>em</strong>porário( ) CLT( ) Cargo <strong>em</strong> comissão( ) Cooperativa( ) Outros –Especificar:____________________________________________14- Renda mensal aproximada( ) < 1 salário mínimo ( ) <strong>de</strong> 10 a 12 salários mínimos( ) <strong>de</strong> 1 a 2 salários mínimos ( ) <strong>de</strong> 12 a 14 salários mínimos( ) <strong>de</strong> 2 a 4 salários mínimos ( ) <strong>de</strong> 14 a 16 salários mínimos( ) <strong>de</strong> 4 a 6 salários mínimos ( ) <strong>de</strong> 16 a 18 salários mínimos( ) <strong>de</strong> 6 a 8 salários mínimos ( ) <strong>de</strong> 18 a 20 salários mínimos( ) <strong>de</strong> 8 a 10 salários mínimos ( ) mais <strong>de</strong> 20 salários mínimos15 - Avaliação das condições <strong>de</strong> trabalho (condições gerais <strong>de</strong>trabalho, recursos disponíveis, dificulda<strong>de</strong>s no ambiente <strong>de</strong> trabalho,dificulda<strong>de</strong>s com a equipe <strong>de</strong> trabalho,sugestões):__________________________________________________16- Você i<strong>de</strong>ntifica alguma dificulda<strong>de</strong> (por <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong>conhecimento teórico/prático) <strong>em</strong> sua prática <strong>de</strong> trabalho?( ) sim ( ) nãoEspecificar: ____________________________________________17- Você sente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimorar seus conhecimentos:( ) sim ( ) nãoÁrea: Atendimento à criança ( )Atendimento à mulher ( )Imunização ( )Atendimento ao idoso ( )Atendimento ao adulto ( )Urgências e <strong>em</strong>ergências clínicas e cirúrgicas ( )Procedimentos <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> ( )Qual: _________________________________Outros:________________________________________________18- Quais os t<strong>em</strong>as que você sugere para cursos <strong>de</strong> capacitação:_______________________________19- Para você, que palavra resume o futuro do PSF?________________________________________- Rev. Min. Enf., 7(2):124-33, jul./<strong>de</strong>z., 2003133


O USO DA BOLA DO NASCIMENTO NA PROMOÇÃO DA POSIÇÃO VERTICALEM PRIMÍPARAS DURANTE O TRABALHO DE PARTOTHE USE OF THE BIRTH BALL IN PROMOTING THE UPRIGHTPOSITION DURING LABOR IN FIRST DELIVERIESEL USO DE LA BOLA DE NACIMIENTO PARA PROMOVERLA POSICIÓN VERTICAL DE PRIMÍPARAS EN ELTRABAJO DE PARTO.Tatiana Coelho Lopes*Lélia Maria Ma<strong>de</strong>ira **Suelene Coelho ***RESUMOO estudo avalia a utilização da bola do nascimento como recurso para a mulher que <strong>de</strong>seja adotar posições mais confortáveis durante o trabalho <strong>de</strong>parto. Foi realizado com 40 parturientes <strong>de</strong> um Centro <strong>de</strong> Parto Normal, divididas <strong>em</strong> dois grupos, um que utilizou a Bola do nascimento e outro queserviu <strong>de</strong> controle. Os dados d<strong>em</strong>onstraram não haver diferenças significativas entre os dois grupos, após analise das variáveis, <strong>de</strong>vido ao fato dasparturientes do referido Centro, já ser<strong>em</strong> estimuladas à adotar posições mais verticais, como parte da rotina do serviço.Palavras-Chave: Trabalho <strong>de</strong> Parto; Parto Normal / Métodos.A bola do nascimento t<strong>em</strong> sido utilizada como umrecurso a mais, para oferecer opções à mulher que <strong>de</strong>sejaadotar posição não supina durante a primeira fase do trabalho<strong>de</strong> parto. Esta também é conhecida como bola suíça paraginástica. Segundo Johnston 1 , sua utilização na área donascimento se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> que ela proporciona àparturiente uma boa postura, estabilização, possibilida<strong>de</strong> d<strong>em</strong>ovimentos e relaxamento pélvico.De acordo com a autora, o uso da bola t<strong>em</strong> o potencial <strong>de</strong>aliviar as tensões nervosas por trazer l<strong>em</strong>branças dasbrinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> criança, além <strong>de</strong> favorecer que os joelhos daparturiente fiqu<strong>em</strong> afastados, não havendo, portanto, nenhumatensão na musculatura adutora. Dessa forma, a pressão da bolasobre o períneo é igualada fazendo com que a cintura pélvicafique posicionada à frente <strong>em</strong> relação à coluna espinhal,proporcionando um melhor posicionamento para o feto. Anatureza dinâmica da superfície <strong>de</strong> suporte faz com quequalquer movimento que a mulher inicie <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ie uma onda<strong>de</strong> movimentos correspon<strong>de</strong>ntes. Assim, o balanço pélvicotanto latero-lateral, quanto ântero-posterior é facilmenterealizado, gerando exercícios leves da musculatura abdominal,dorsal e do assoalho pélvico s<strong>em</strong> que haja controle consciente 1 .Na assistência ao parto normal, cada vez mais se t<strong>em</strong>questionado se os altos níveis <strong>de</strong> intervenção são valiosos enecessários. Na literatura pesquisada foram encontradosrelatos <strong>de</strong> utilização da bola suíça por enfermeiras e parteirasdos Estados Unidos e Austrália, que enfatizam a suacontribuição na dilatação do colo uterino das parturientes. Aintrodução da bola do nascimento reforça a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> posiçõesverticais que favorec<strong>em</strong> um posicionamento confortável damulher durante o parto, o que contribui para a suahumanização. Observou-se que o uso da bola gera um alíviomaior da dor na região lombar, possibilitando maior conforto àmulher 1 . Verificou-se, também, a sua utilização como umrecurso que auxilia a mulher a adotar posições verticais duranteo trabalho <strong>de</strong> parto, favorecendo o processo do nascimento 2 .No Brasil, a bola do nascimento t<strong>em</strong> sido introduzida noscentros <strong>de</strong> parto normal e maternida<strong>de</strong>s como uma forma <strong>de</strong>ajudar a mulher a dar à luz <strong>de</strong> forma mais natural contribuindopara o alívio da dor durante as contrações 3 .A manutenção da mulher na posição vertical durante otrabalho <strong>de</strong> parto, <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da posição horizontal, t<strong>em</strong>sido recomendada por vários estudos. De acordo com Mitre 4 ,parturientes primíparas que permaneceram sentadas durante otrabalho <strong>de</strong> parto tiveram uma redução significativa da duração<strong>de</strong>sse período, <strong>de</strong>vido à pressão exercida pela pare<strong>de</strong>abdominal e o diafragma sobre o útero. O autor d<strong>em</strong>onstrou,ainda, que houve uma maior tolerância ao trabalho <strong>de</strong> partopelas parturientes que permaneceram nesta posição, o quepo<strong>de</strong> estar relacionado ao maior conforto que ela proporciona.Em um estudo com 57 pacientes, comparando o uso daocitocina com a <strong>de</strong>ambulação para parturientes <strong>em</strong> trabalho <strong>de</strong>parto com distócia, d<strong>em</strong>onstrou-se que as mulheres que* Fisioterapeuta do Hospital Sofia Feldman <strong>em</strong> Belo Horizonte/MG,aluna especial do Curso <strong>de</strong> Mestrado <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> da USP /Ribeirão Preto.** Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>, professora aposentada do DepartamentoMaterno-Infantil e Saú<strong>de</strong> Pública da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>.*** Mestre <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>, professora do Departamento Materno-Infantil e Saú<strong>de</strong> Pública da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>,doutoranda <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela USP.En<strong>de</strong>reço para correspondência:Tatiana Coelho LopesRua Silva Jardim, nº1208. Bairro São Geraldo – Santa Luziae-mail: tatiana@sinteseag.com.brFone: 96375197/ 3641-1700134 - Rev. Min. Enf., 7(2):134-9, jul./<strong>de</strong>z., 2003


O USO DA BOLA DO NASCIMENTO NA PROMOÇÃO DA POSIÇÃO VERTICALEM PRIMÍPARAS DURANTE O TRABALHO DE PARTOpertenciam ao grupo <strong>de</strong>ambulação necessitaram <strong>de</strong> menosanalgesia na primeira fase do trabalho <strong>de</strong> parto, tiveram umamenor ocorrência <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> fórceps e menor variação dosbatimentos fetais antes do período expulsivo. Além disso,relataram experiência mais positiva <strong>em</strong> relação ao parto do queo grupo que utilizou a ocitocina 5 .Estudos <strong>de</strong>senvolvidos por vários autores 6, 7, 8 para avaliar osefeitos da posição materna na contratilida<strong>de</strong> uterina e no alívioda dor apontaram que as mulheres que permaneceram naposição vertical, durante o trabalho <strong>de</strong> parto, tiveram aintensida<strong>de</strong> das contrações aumentadas significativamente,<strong>em</strong>bora com uma freqüência menor; sentiram menor<strong>de</strong>sconforto <strong>em</strong> relação às contrações e tiveram menornecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> analgesia quando comparadas comparturientes <strong>em</strong> posição horizontal. Verificou-se, também, que aforça da gravida<strong>de</strong> combinada com o peso do feto exercia umapressão adicional <strong>de</strong> 10-35mmHg no colo uterino.Embora a literatura consultada indique a posição verticalcomo uma das mais favoráveis ao trabalho <strong>de</strong> parto, observaseque a maior parte das maternida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> nosso país aindanão estão preparadas para tal, por questões culturais oumesmo por falta <strong>de</strong> conhecimento científico e <strong>de</strong> tecnologiaapropriada para o seu uso.Tendo <strong>em</strong> vista que a bola do nascimento é um recurso quepo<strong>de</strong> ser usado na promoção da posição vertical durante otrabalho <strong>de</strong> parto, realizou-se o presente estudo com o objetivo<strong>de</strong> analisar algumas variáveis do trabalho <strong>de</strong> parto <strong>em</strong>primíparas, tendo como foco o uso da bola, no Centro <strong>de</strong> PartoNormal “Dr. David Capistrano da Costa Filho”, <strong>em</strong> BeloHorizonte, Minas Gerais.ObjetivoVerificar se o uso da bola do nascimento, como um recursoque promove a posição vertical da mulher, durante a fase ativado trabalho <strong>de</strong> parto, exerce alguma influência nos resultadosmaternos <strong>em</strong> parturientes primíparas <strong>de</strong> baixo risco.Materiais e MétodosCenário do EstudoO estudo foi realizado no Centro <strong>de</strong> Parto Normal (CPN) “Dr.David Capistrano da Costa Filho”, que está localizado no DistritoSanitário Norte <strong>de</strong> Belo Horizonte. Nesse centro presta-seassistência ao parto <strong>de</strong> risco habitual, tentando preservar ascaracterísticas <strong>de</strong> um parto domiciliar. Dessa forma, procura-setornar o nascimento mais um ato fisiológico do que médico,restituindo-lhe sua dimensão social. O centro funciona <strong>de</strong> formaintegrada ao Hospital Sofia Feldman, que é referência para umapopulação <strong>de</strong> aproximadamente 400.000 habitantes, dosDistritos Sanitários Norte e Nor<strong>de</strong>ste. Destina 100% <strong>de</strong> seusleitos à clientela do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS) e ofereceassistência ambulatorial e hospitalar à mulher, ao recémnascido,à criança e ao adolescente. Possui serviços <strong>de</strong> prénatale planejamento familiar; maternida<strong>de</strong>; alojamento conjuntoe Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cuidados Intermediários e Intensivos Neonatais.No CPN, a responsável pela assistência ao parto normal <strong>de</strong>risco habitual e s<strong>em</strong> distócia é a enfermeira obstétrica,obe<strong>de</strong>cendo às orientações do Ministério da Saú<strong>de</strong> contidas naPortaria nº 985/99. A estrutura do CPN é composta por 5 quartosPPP (pré-parto, parto e puerpério) com banheiro e varanda. Éincentivado que uma pessoa da família permaneça com a mulherdurante todo o trabalho <strong>de</strong> parto, parto e pós-parto.Coleta <strong>de</strong> DadosA coleta <strong>de</strong> dados ocorreu no CPN no período entre janeiro <strong>em</strong>aio <strong>de</strong> 2002 com a participação <strong>de</strong> 40 parturientes quepreencheram os critérios <strong>de</strong> inclusão por ocasião da admissão:ser primípara, gestação a termo, feto único <strong>em</strong> posição cefálica,m<strong>em</strong>branas ovulares íntegras, líquido amniótico claro, trabalho<strong>de</strong> parto <strong>de</strong> início espontâneo, dilatação cervical menor ou iguala 4-5cm.Após a admissão, as parturientes foram abordadas pelapesquisadora que explicou o objetivo do estudo e as convidoupara participar da pesquisa. Em seguida, foi sorteado o grupoao qual a mulher pertenceria, através <strong>de</strong> envelopepardo lacrado.Houve a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> 40 parturientes que foram distribuídas daseguinte forma: as parturientes do grupo A tinham a boladisponível no quarto e receberam explicação dos benefícios doseu uso, além <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> estimuladas a permanecer na bola,mas tinham a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> adotar a posição que achass<strong>em</strong>mais confortável. As do grupo B não tinham a bola disponível noquarto e eram estimuladas a seguir a própria rotina do CPN,que também estimula a adoção <strong>de</strong> posições verticais.A posição das parturientes, <strong>em</strong> ambos os grupos, foiverificada pela pesquisadora <strong>de</strong> 15/15min durante toda a faseativa do trabalho <strong>de</strong> parto e anotada <strong>em</strong> um protocolo <strong>de</strong> coleta<strong>de</strong> dados <strong>de</strong> acordo com a evolução do trabalho <strong>de</strong> parto. Osexames <strong>de</strong> verificação da dilatação cervical foram realizadospela enfermeira obstétrica <strong>de</strong> acordo com a rotina do CPN(3/3h). A fase ativa do trabalho <strong>de</strong> parto, neste estudo, foiconsi<strong>de</strong>rada 4-5cm da linha <strong>de</strong> base do partograma do CentroLatinoamericano <strong>de</strong> Perinatologia (CLAP) 10 .Não foram realizados exames <strong>de</strong> verificação cervical para apesquisa porque, <strong>de</strong> acordo com o estudo <strong>de</strong> Mcmanus eCal<strong>de</strong>r 11 , isso po<strong>de</strong>ria influenciar na duração do trabalho <strong>de</strong>parto. Intervenções, como rompimento artificial <strong>de</strong> m<strong>em</strong>branas(RAM), e o uso <strong>de</strong> Ocitocina foram realizados <strong>de</strong> acordo com a- Rev. Min. Enf., 7(2):134-9, jul./<strong>de</strong>z., 2003135


O USO DA BOLA DO NASCIMENTO NA PROMOÇÃO DA POSIÇÃO VERTICALEM PRIMÍPARAS DURANTE O TRABALHO DE PARTOrotina da enfermag<strong>em</strong> obstétrica, baseadas na evolução dotrabalho <strong>de</strong> parto através do partograma do CLAP.Análise estatísticaOs dados foram analisados por uma consultoria estatísticaque não teve conhecimento sobre a que grupo as mulherespertenciam. As análises <strong>de</strong> associação entre grupos e asvariáveis: tipo <strong>de</strong> parto, presença <strong>de</strong> líquido amniótico,escolarida<strong>de</strong>, estado civil, ocorrência <strong>de</strong> parto pr<strong>em</strong>aturoanterior, presença <strong>de</strong> patologia, hábito <strong>de</strong> fumar, uso <strong>de</strong>Ocitocina, RAM, laceração e episiotomia foram realizadasutilizando-se o teste exato <strong>de</strong> Fisher, similar ao teste do quiquadrado.As comparações entre as médias das ida<strong>de</strong>s dos 2grupos <strong>de</strong> parturientes foram realizadas utilizando-se o teste t<strong>de</strong> Stu<strong>de</strong>nt para amostras in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.As comparações entre os 2 grupos, <strong>em</strong> relação às variáveis:número <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> estudo, número <strong>de</strong> consultas pré-natais,t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> duração do 1º estágio, t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> <strong>de</strong>ambulação e naposição sentada, t<strong>em</strong>po sob o chuveiro, t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbitolateral, t<strong>em</strong>po na posição horizontal, t<strong>em</strong>po na posição vertical,t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> duração do 2º estágio e peso do RN foram realizadasutilizando-se o teste <strong>de</strong> Kruskal-Wallis. Este teste nãoparamétrico t<strong>em</strong> como objetivo comparar duas ou maisamostras in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> relação a uma variável <strong>de</strong> interesseque seja no mínimo ordinal, <strong>de</strong> amostras pequenas e que nãotenha garantia que apresente uma distribuição normal. Isto é,este teste não se baseia na média e <strong>de</strong>svio-padrão, ou seja, <strong>em</strong>parâmetros e, sim, <strong>em</strong> posições (Rank - posição do indivíduo naamostra) das medidas das variáveis <strong>em</strong> cada grupo <strong>de</strong> pacienteestudado. Para a análise da significância dos testes estatísticosfoi consi<strong>de</strong>rado = 0,05.Apresentação e Discussão dos ResultadosCaracterísticas da população estudadaNo grupo A, 4 (25%) parturientes que foram selecionadaspara este grupo não fizeram uso da bola <strong>em</strong> nenhum momentoda fase ativa do trabalho <strong>de</strong> parto. No grupo B, 2 (10%)parturientes evoluíram para parto cesárea. Não houve diferençasignificativa (p = 0,492) entre os grupos quanto à ocorrência <strong>de</strong>cesáreas. Essas parturientes foram excluídas da análise <strong>de</strong>dados porque o objetivo do trabalho foi verificar o uso da boladurante o trabalho <strong>de</strong> parto normal.Neste estudo não foi estabelecido a priori um critério <strong>de</strong>inclusão baseado na ida<strong>de</strong>. Sendo assim, <strong>em</strong> ambos os gruposfoi observada a presença <strong>de</strong> parturientes com a ida<strong>de</strong> mínima<strong>de</strong> 14 anos. A maior parte das parturientes, 97 % encontra-sena faixa etária entre 14 e 32 anos como po<strong>de</strong> se observar naTABELA I apresentada a seguir.Tabela 1 - Análise <strong>de</strong>scritiva e comparativa das característicasda amostraGruposIda<strong>de</strong> materna (anos)*Anos <strong>de</strong> estudo*Média <strong>de</strong> consultas pré-natais*Tabagismo**História <strong>de</strong> aborto anterior**História <strong>de</strong> doença prévia**A (N=16)18,9 ± 4,34,5 ± 2,66,4 ± 1,91 (6,3%)1 (6,3%)3 (18,8%)* Média ± <strong>de</strong>svio padrão - teste <strong>de</strong> Kruskal Wallis** frequência (porcentag<strong>em</strong>) - teste qui-quadradoB (N=18)19,8 ± 4,55,0 ± 2,27,1 ± 2,92 (11%)4 (22%)3 (16,7%)p0,550,490,551,000,341,00De acordo com a Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, ida<strong>de</strong> < 15anos representa um dos fatores <strong>de</strong> risco durante a gestação poraumentar o risco <strong>de</strong> an<strong>em</strong>ia, pré e eclampsia e obstruçãodurante o trabalho <strong>de</strong> parto <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> o própriocrescimento físico da gestante não estar completo. Asgestantes entre 16 e 35 anos correspond<strong>em</strong> ao grupo etário d<strong>em</strong>enor risco perinatal 12 . Em relação à ida<strong>de</strong> materna, os dadosvão ao encontro <strong>de</strong> um estudo anterior, realizado com 211puérperas na maternida<strong>de</strong> do Hospital Sofia Feldman 84% daspuérperas entrevistadas tinham ida<strong>de</strong> inferior a 30 anos 13 .Com relação ao número <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> estudo, verificou-se umamédia <strong>de</strong> 4,5 e 5,0 anos no grupo bola e no grupo s<strong>em</strong> bolarespectivamente, o que d<strong>em</strong>onstra que não houve diferençasignificativa (p = 0,496). É importante avaliar as condiçõessocioeconômicas e educacionais durante a gestação, já queexiste uma forte associação observada entre os resultadosperinatais ruins e o baixo nível socioeconômico. A<strong>de</strong>teriorização sociocultural está associada a um número menor<strong>de</strong> consultas pré-natais, a famílias mais numerosas, asuperlotação domiciliar, a um número maior <strong>de</strong> gestantes querealizam trabalho físico, à manutenção <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhoaté períodos muito adiantados da gravi<strong>de</strong>z, a um menor nível <strong>de</strong>instrução e a uma freqüência maior <strong>de</strong> gestaçõesnão estáveis 14 .Verifica-se ainda na TABELA I que não existe diferençasignificativa entre os 2 grupos <strong>de</strong> pacientes <strong>em</strong> relação aonúmero <strong>de</strong> consultas pré-natais. A média <strong>de</strong> consultas prénatais<strong>em</strong> ambos os grupos está <strong>de</strong> acordo com o que épreconizado pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>, que recomenda 6consultas <strong>de</strong> pré-natal como número mínimo a<strong>de</strong>quado duranteo período <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z 14 .No presente estudo, 6,3% das pacientes que usaram a boladisseram que têm o hábito <strong>de</strong> fumar e no grupo <strong>de</strong> pacientesque não usaram a bola esse percentual foi <strong>de</strong> 11,1%. Porém,não existe diferença significativa (p = 1,000) entre os 2 grupos<strong>de</strong> pacientes quanto a esse hábito.Das parturientes do grupo com bola e s<strong>em</strong> bola foi verificadoque 18,8% e 16,7% respectivamente, apresentavam algumapatologia prévia durante a gestação, não havendo diferença136 - Rev. Min. Enf., 7(2):134-9, jul./<strong>de</strong>z., 2003


O USO DA BOLA DO NASCIMENTO NA PROMOÇÃO DA POSIÇÃO VERTICALEM PRIMÍPARAS DURANTE O TRABALHO DE PARTOsignificativa entre os 2 grupos <strong>de</strong> parturientes (p = 1,000).Portanto, os grupos são s<strong>em</strong>elhantes quanto a essa variável.Não foram encontradas diferenças estatísticas <strong>em</strong> ambos osgrupos <strong>em</strong> relação às variáveis que po<strong>de</strong>riam exercer algumainfluência durante o trabalho <strong>de</strong> parto e o parto.Posição das parturientes durante a fase ativa do trabalho<strong>de</strong> partoExist<strong>em</strong> vários métodos para o alívio da dor durante otrabalho <strong>de</strong> parto e o primeiro <strong>de</strong>les é oferecer à parturiente aoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assumir qualquer posição que <strong>de</strong>seje, no leitoou não, durante o trabalho <strong>de</strong> parto. Durante a fase ativa dotrabalho <strong>de</strong> parto, a mudança <strong>de</strong> posição das parturientes ébastante freqüente, já que nenhuma posição é confortáveldurante muito t<strong>em</strong>po 12 .Nos dois grupos estudados observou-se que as parturientesadotaram várias posições durante a fase ativa do trabalho <strong>de</strong>parto, como po<strong>de</strong> ser observado na FIGURA I, apresentadaa seguir.Figura 1 - Posições adotadas pelas parturientes durante a faseativa do trabalho <strong>de</strong> parto (4-10cm <strong>de</strong> dilatação cervical).GRUPO ADecúbito Lateral39%Chuveiro10%Bola12%Observa-se que no grupo A, com bola, as parturientespermaneceram 61% do t<strong>em</strong>po total <strong>em</strong> posturas verticais,contra 55% do grupo controle. No grupo A, o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> uso dabola correspon<strong>de</strong>u a 12% da fase ativa do trabalho <strong>de</strong> parto. Ouso <strong>de</strong>ste recurso po<strong>de</strong> ter contribuído para que as parturientes<strong>de</strong>ste grupo tenham permanecido mais t<strong>em</strong>po na posiçãovertical, pelo fato <strong>de</strong> a bola ter sido uma alternativa <strong>de</strong> confortoe <strong>de</strong>scanso durante o período <strong>de</strong> <strong>de</strong>ambulação.Apesar disso, no que diz respeito às variáveis que avaliaramos t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ambulação, chuveiro e a posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbitolateral, não foram encontradas diferenças estatísticas entre osdois grupos <strong>de</strong> parturientes (p = 0,986)Variáveis estudadas durante o trabalho <strong>de</strong> parto e o partoA mediana <strong>de</strong> duração da fase ativa do primeiro estágio dotrabalho <strong>de</strong> parto foi <strong>de</strong> 7,0 e 6,1 horas no grupo com bola es<strong>em</strong> bola respectivamente. Este resultado correspon<strong>de</strong> aoencontrado por Diaz et al. (15), <strong>em</strong> parturientes primíparas combolsa íntegra até os 10 cm <strong>de</strong> dilatação cervical. Conformed<strong>em</strong>onstrado na TABELA II, não existe diferença significativaentre os grupos <strong>de</strong> pacientes com e s<strong>em</strong> bola no que se refereao t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> duração do 1º estágio.A Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> 12 recomenda que <strong>de</strong>vehaver um motivo válido para interferir com o processoespontâneo <strong>de</strong> ruptura das m<strong>em</strong>branas. Neste estudo, 75% e78,2% das parturientes do grupo Bola e controle,respectivamente, tiveram necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar o RAMdurante o trabalho <strong>de</strong> parto. A proporção foi s<strong>em</strong>elhante entreos 2 grupos <strong>de</strong> pacientes, ou seja, não houve diferençasignificativa (p = 1,000).GRUPO BDecúbito Lateral45%Chuveiro11%Deambulando39%Tabela 2 - Análise <strong>de</strong>scritiva e comparativa das variáveisestudadas durante evolução do trabalho <strong>de</strong> parto e do partoA (N=16)GruposB (N=18) p8,1 ± 5,012 (75%)10 (62,5%)4 (25%)45,1 ± 35,46 (31,3%)3.107± 315Duração do 1 o estágio do trabalho <strong>de</strong>parto (horas)*Rompimento artificial <strong>de</strong> m<strong>em</strong>branasRAM**Uso <strong>de</strong> ocitocina**Presença <strong>de</strong> Líquido Meconial**Duração do 2 0 estágio do trabalho <strong>de</strong>parto (minutos)*Laceração perineal <strong>de</strong> 2 0 grau**Peso do RN no nascimento (gramas)** Média ± <strong>de</strong>svio padrão - teste <strong>de</strong> Kruskal Wallis** frequência (porcentag<strong>em</strong>) - teste qui-quadrado6,9 ± 4,313 (72,2%)11 (61,1%)1 (5,6%)40,2 ± 28,17 (38,9%)3.129 ± 3640,511,001,000,160,931,000,93Deambulando44%A administração <strong>de</strong> ocitocina para acelerar o trabalho <strong>de</strong>parto após a ruptura espontânea ou artificial das m<strong>em</strong>branas éfreqüent<strong>em</strong>ente usada e é <strong>de</strong>nominado manejo ativo dotrabalho <strong>de</strong> parto 12 , No presente estudo não foi observada- Rev. Min. Enf., 7(2):134-9, jul./<strong>de</strong>z., 2003137


O USO DA BOLA DO NASCIMENTO NA PROMOÇÃO DA POSIÇÃO VERTICALEM PRIMÍPARAS DURANTE O TRABALHO DE PARTOdiferença significativa <strong>em</strong> relação ao uso da ocitocina (p= 1,000)entre os 2 grupos <strong>de</strong> pacientes.Com relação à presença <strong>de</strong> líquido amniótico meconial, 25%das parturientes do grupo bola e 5,6% do grupo controleapresentaram esta variável. De acordo com o teste exato <strong>de</strong>Fisher (p= 0,164), não existe diferença estatística entre osdois grupos.Em primíparas, a duração média do segundo estágio dotrabalho <strong>de</strong> parto freqüent<strong>em</strong>ente relatada é <strong>de</strong>,aproximadamente, 45 minutos 12 . Os limites máximosestipulados são 2 horas para primíparas e uma hora paramultípara. A razão <strong>de</strong>sses limites ocorreu como consequênciada associação entre a duração prolongada do segundo estágiodo trabalho <strong>de</strong> parto e os resultados in<strong>de</strong>sejados, como amortalida<strong>de</strong> perinatal e morbida<strong>de</strong> materna <strong>de</strong>vido ah<strong>em</strong>orragia pós-parto e infecção 16 . A média encontrada nosgrupos A e B foram 45,1 e 40,2 minutos, respectivamente, oque correspon<strong>de</strong>u à média <strong>de</strong>scrita na literatura.A ocorrência <strong>de</strong> lacerações perineais é freqüente,especialmente <strong>em</strong> primíparas 14 . Lacerações <strong>de</strong> primeiro grau àsvezes n<strong>em</strong> necessitam sutura, lacerações <strong>de</strong> segundo grau <strong>em</strong>geral pod<strong>em</strong> ser suturadas com facilida<strong>de</strong> sob analgesia local e,<strong>em</strong> geral, cicatrizam s<strong>em</strong> complicações. A episiotomia érealizada com freqüência, mas a sua incidência é variável.Segundo este estudo, a episiotomia foi realizada pelaenfermeira quando houve indicações, tais como sofrimentofetal, progressão insuficiente do parto e ameaça <strong>de</strong> laceração<strong>de</strong> terceiro grau. O número <strong>de</strong> parturientes que tiveramlaceração <strong>de</strong> segundo grau e necessitaram <strong>de</strong> episiotomia foium pouco menor no grupo que usou a bola do nascimento37,5%, quando comparado com o grupo s<strong>em</strong> bola 38,9%, masnão houve diferença significativa (p = 1,000). O uso da bola donascimento não influenciou a ocorrência <strong>de</strong> lacerações e arealização <strong>de</strong> episiotomia <strong>em</strong> primíparas.Quanto ao peso dos recém-nascidos, a TABELA II mostraque não existe diferença significativa entre os 2 grupos, isto é,as crianças nascidas nos 2 grupos apresentaram medidas <strong>de</strong>pesos s<strong>em</strong>elhantes.ConclusõesA proposta <strong>de</strong>ste estudo foi verificar se o uso da bola donascimento durante a fase ativa do trabalho <strong>de</strong> parto exerciaalguma influência nos resultados maternos, <strong>em</strong> parturientesprimíparas <strong>de</strong> baixo risco.O processo <strong>de</strong> seleção dos grupos através <strong>de</strong> envelopepardo lacrado, escolhido para dividir os grupos, cumpriu o seuobjetivo, já que ambos os grupos foram s<strong>em</strong>elhantes nosfatores que po<strong>de</strong>riam influenciar a evolução do trabalho <strong>de</strong>parto e parto.Atualmente há uma política <strong>de</strong> governo <strong>em</strong> favor dadiminuição do número <strong>de</strong> cesáreas realizadas no Brasil. Essaatitu<strong>de</strong> reflete o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> intervenções a que sãosubmetidas as mulheres no momento do nascimento <strong>de</strong>seus filhos.As alternativas não farmacológicas para o alívio da dordurante o trabalho <strong>de</strong> parto têm sido estimuladas. Com isso,profissionais têm redimensionado a sua prática, tentando cadavez menos intervir no processo do nascimento.A bola do nascimento v<strong>em</strong> sendo utilizada por profissionaisque <strong>de</strong>sejam oferecer às suas clientes alternativas nãofarmacológicas <strong>de</strong> alívio da dor durante o trabalho <strong>de</strong> parto.Embora um percentual <strong>de</strong> 25% das parturientes do grupo dabola tenha se recusado a usar este recurso durante o estudo,constata-se que a bola teve uma boa aceitação pelo grupo eque as mulheres, além <strong>de</strong> ter<strong>em</strong> o hábito <strong>de</strong> permanecer <strong>em</strong>várias posições durante o trabalho <strong>de</strong> parto, fizeram uso dabola, uma média <strong>de</strong> 12% da duração da fase ativa do trabalho<strong>de</strong> parto. Destaca-se que não houve nenhum preparo comantecedência das parturientes estudadas durante o pré-natalno sentido <strong>de</strong> conhecer e experimentar a bola do nascimento.Acredita-se que essa po<strong>de</strong> ser uma das causas que tenhamcontribuído para o pouco t<strong>em</strong>po que elas permaneceram nabola. Este estudo mostrou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver<strong>em</strong>pesquisas que aprofund<strong>em</strong> a avaliação do uso da bola donascimento, b<strong>em</strong> como o preparo das parturientes para asua utilização.Embora os grupos A e B não tenham apresentado diferençassignificativas nos resultados, ambos utilizaram a posição verticalrespectivamente 61% e 55% do t<strong>em</strong>po da fase ativa dotrabalho <strong>de</strong> parto. Consi<strong>de</strong>ra-se importante ressaltar que o local<strong>em</strong> que foi realizado o estudo, o estímulo à posição vertical éuma rotina da assistência <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e que o fato <strong>de</strong>ambos os grupos ter<strong>em</strong> permanecido boa parte da fase ativanessa posição, respectivamente 61% e 55%, po<strong>de</strong> terinfluenciado nos resultados.O estudo mostrou que o uso da bola do nascimento porparturientes po<strong>de</strong> ser um recurso a mais para o estímulo daposição vertical e <strong>de</strong>ve ser incentivado pelos profissionais <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> por tratar-se <strong>de</strong> uma opção a mais <strong>de</strong> conforto para apromoção da posição vertical durante o trabalho <strong>de</strong> parto,consi<strong>de</strong>rada mais fisiológica.O <strong>em</strong>prego da fala constitui-se, também, <strong>em</strong> uma opção quepossibilita à mulher ter maior autonomia sobre o seu própriocorpo e maior domínio sobre o processo do trabalho<strong>de</strong> parto.Esta pesquisa aponta, ainda, para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maisestudos que possibilit<strong>em</strong> a expressão da percepção dasmulheres com relação a essa nova modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> posiçãovertical, trazendo um novo olhar para essa área <strong>de</strong> atuação.138 - Rev. 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O USO DA BOLA DO NASCIMENTO NA PROMOÇÃO DA POSIÇÃO VERTICALEM PRIMÍPARAS DURANTE O TRABALHO DE PARTOSummaryThis study proposes the use of the Birth Ball as a tool for womenwho would like to be in more comfortable positions during theearly phase of labor. Forty women from the “Dr. DavidCapistrano” birthing center were involved, randomized into 2groups: those using the birth ball, and a control group. Theresults showed there was no statistically significant differencebetween the groups. This is probably the result of former routinesin the center, which already used the upright position.Keywords: Labor; Natural Childbirth / MethodsResumenEl presente estudio evalúa la utilización <strong>de</strong> la bola <strong>de</strong>nacimiento (BB) como recurso para la mujer que <strong>de</strong>seaadoptar posiciones más cómodas durante el trabajo <strong>de</strong> parto.Se realizó con 40 parturientas <strong>de</strong>l Centro <strong>de</strong> Parto NormalDr. David Capistrano, en dos grupos: uno con la BB y el otrocomo grupo <strong>de</strong> control. Los datos d<strong>em</strong>ostraron que no hubodiferencias significativas entre ellos. Después <strong>de</strong> efectuar lacomparación entre los 2 grupos <strong>de</strong> parturientes <strong>de</strong>l referidocentro se las estimulaba a adoptar posiciones más verticales,como parte <strong>de</strong> rutina <strong>de</strong>l servicio.Palabras clave: Trabajo <strong>de</strong> Parto; Parto Normal / MétodosReferências bibliográficas1. Johnston J. Birth balls. Midwifery Today 1997; 43: 59-65.2. Lopes TC. Bola do nascimento: uma opção <strong>de</strong> conforto duranteo trabalho <strong>de</strong> parto.In: Resumo <strong>de</strong> trabalhos do 76O InternationalConference on the Humanization of Childbirth 2000. Fortaleza,Brasil; 2000.3. Zaidan P. Parto s<strong>em</strong> estrese. Claudi 2000; 8: 22-3.4. Mitre IN. The influence of maternal position on duration of theactive phase of labor. Int J Gynecol Obstet 1974; 12: 181.5. H<strong>em</strong>minki E, Lench M, Saarikoski S, Henriksson L. Ambulationversus oxytocn in protracted labour: a pilot study. Eur J ObstetGynecol Reprod Biol 1985 Oct; 4 (20): 199-208.6. Melzack R, Bélanger E, Lacroix R. Labor pain: effect of maternalposition on front and back pain. J Pain Sympt Manag 1991 Nov;6 (8): 476-80.7. Flynn AM, Kelly J, Hollins G, Lynch PF. Ambulation in labour. BrMed J 1991 Aug; 5 (43): 591-3.8. Cal<strong>de</strong>iro-Barcia R et al. Effect of positions change on the intsityand frequency of uterine contractions during labor. Am J ObstetGynecol 1960; 80: 284-7.9. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Portaria 985, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong>1999. Brasília; 1999:51.10. Centro Latino Americano <strong>de</strong> Perinatologia e DesenvolvimentoHumano (CLAP-OPS/OMS). Saú<strong>de</strong> reprodutiva maternalperinatal: Atenção pré-natal e do parto <strong>de</strong> baixo risco. Uruguai;1996. Publicação cientifica nº1321.03.11. MacManus TJ, Cal<strong>de</strong>r AA. Upright posture and the efficiency oflabour. Lancet 1978 Jan.; 14: 72-4.12. Organização Mundial da Saú<strong>de</strong>. Maternida<strong>de</strong> Segura,assistênciaao parto normal; um guia prático. Genebra; 1996.(OMS/SRF/MSM/96.24)13. Lopes LC. A prática do aleitamento materno <strong>em</strong> usuárias doHospital Sofia Feldman.(Monografia <strong>de</strong> especialização <strong>em</strong>enfermag<strong>em</strong> obstétrica). Belo Horizonte: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>Minas Gerais; 2001. 40p.14. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Parto, aborto e puerpério: assistênciahumanizada à mulher. Brasília; 2001.15. Díaz AG, Schwarcz R, Cal<strong>de</strong>yro-Barcia R. Vertical position duringthe first stage of the course of labour, and neonatal outcome. EurJ Obstet Gynecol Reprod Biol 1980; 11: 1-7.16. Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canadá. Healthybeginnings. Gui<strong>de</strong>lines for care during pregancy and childbirth.Clincal practice gui<strong>de</strong>line. Chaper 5: First Stage of labour.Dec<strong>em</strong>ber, 1998.- Rev. Min. Enf., 7(2):134-9, jul./<strong>de</strong>z., 2003139


Revisão <strong>de</strong> LiteraturaINFECÇÕES HOSPITALARES: REPENSANDO A IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃODAS MÃOS NO CONTEXTO DA MULTIRRESISTÊNCIA.HOSPITAL INFECTIONS: RETHINKING THE IMPORTANCE OFHANDWASHING IN CONTEXT OF MULTI-RESISTANCE.INFECCIONES INTRA-HOSPITALARIAS: LA IMPORTANCIADE LA HIGIENIZACIÓN DE LAS MANOS EN EL CONTEXTODE LA MULTIRRESISTENCIAAdriana Cristina <strong>de</strong> Oliveira*RESUMOMais <strong>de</strong> um século após a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> S<strong>em</strong>melweis sobre a importância da lavag<strong>em</strong> das mãos, ainda existe uma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> impl<strong>em</strong>entála.Acredita-se que os microrganismos mais associados à ocorrência das infecções são pertencentes à flora transitória, po<strong>de</strong>ndo ser facilmenteeliminados pela higienização das mãos. Outra antiga preocupação v<strong>em</strong> ganhando enorme repercussão mundial no contexto das infecções hospitalares:a <strong>em</strong>ergência <strong>de</strong> microrganismos multirresistentes. Este artigo <strong>de</strong> revisão discute as atitu<strong>de</strong>s dos profissionais e a importância das ações do Programa<strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Infecção Hospitalar, como medida para reduzir a transmissão <strong>de</strong> microrganismos multirresistentes e aumentar a a<strong>de</strong>são à higienizaçãodas mãos.Palavras-Chave: Infecção Hospitalar / Prevenção e Controle; Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Mãos; Ambiente <strong>de</strong> Instituições <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.A s infecções hospitalares são aquelas adquiridas nohospital e que se manifestam durante a internação ou após aalta hospitalar. Representam um dos mais importantesprobl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública no mundo e sua ocorrência é tãoantiga quanto a história dos hospitais 1-2 .Des<strong>de</strong> os t<strong>em</strong>pos im<strong>em</strong>oriais a humanida<strong>de</strong> v<strong>em</strong> tentandoprover atenção, proteção e cuidados especiais às pessoasenfermas, a partir da segregação das mesmas, <strong>em</strong> locaisespecíficos até a criação dos hospitais.Registros do século IV d.C. <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> a ocorrência <strong>de</strong>gran<strong>de</strong>s epid<strong>em</strong>ias como varíola e peste bubônica, nos locaison<strong>de</strong> os doentes eram confinados, facilitando a transmissãodas infecções 1,3-4 .Nessa época, a diss<strong>em</strong>inação das doenças ocorria comfacilida<strong>de</strong>, dadas as condições propícias para a transmissão,<strong>em</strong> que a tría<strong>de</strong> epid<strong>em</strong>iológica - agente, hospe<strong>de</strong>iro e meioambiente – se encontrava <strong>em</strong> íntima correlação, sujeita aconstantes <strong>de</strong>sequilíbrios 3 .Consi<strong>de</strong>rando a precarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos humanos, a infraestruturaina<strong>de</strong>quada e o <strong>de</strong>sconhecimento da existência dosmicrorganismos, po<strong>de</strong>-se supor como as doenças sediss<strong>em</strong>inavam e quão alta era a mortalida<strong>de</strong> por infecção,apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecida, não mensurada e muitas vezesatribuída aos <strong>de</strong>uses, à magia ou até mesmo a fatoresrelacionados ao aspecto comportamental 1,3 .A criação dos hospitais r<strong>em</strong>onta aos séculos XVIII e XIX, naEuropa, basicamente para o tratamento <strong>de</strong> pessoas pobres,pois as <strong>de</strong> melhor situação financeira optavam por tratamentodomiciliar 1,4 .Na Áustria, <strong>em</strong> 1847, Ignaz Philipp S<strong>em</strong>melweis, obstetra, dohospital <strong>de</strong> Viena, <strong>em</strong> um trabalho <strong>de</strong> investigação sobreinfecções no pós-parto, associou a transmissão <strong>de</strong> infecções àprecarieda<strong>de</strong> da lavag<strong>em</strong> das mãos na enfermaria atendida porestudantes <strong>de</strong> medicina quando comparada com a mortalida<strong>de</strong>da enfermaria atendida exclusivamente por parteiras, numamesma maternida<strong>de</strong>, constatando maior índice <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>entre as parturientes atendidas pelos estudantes. E, assim, <strong>em</strong>15 <strong>de</strong> maio do mesmo ano, S<strong>em</strong>melweis instituiu aobrigatorieda<strong>de</strong> da lavag<strong>em</strong> das mãos com água clorada antesdo atendimento ao parto, fato este que reduziusubstancialmente as taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 12% para 3%entre as puérperas 1, 3-4 .Outra investigação merecedora <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque ocorreu naInglaterra, <strong>em</strong> 1863, quando Florence Nightingale, apósobservações feitas e com o objetivo <strong>de</strong> reduzir o risco <strong>de</strong>infecções, tão altos naquela época, passou a valorizar ascondições do paciente e do ambiente <strong>de</strong>stacando a limpeza,* Enfermeira. Professora Doutora do Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Básicada <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais. Contato:En<strong>de</strong>reço para correspondência:Av. Alfredo balena, 190Santa Efigênia - Belo Horizonte - MGCEP: 30130.100E-mail: adriana@enf.ufmg.br140 - Rev. Min. Enf., 7(2):140-44, jul./<strong>de</strong>z., 2003


INFECÇÕES HOSPITALARES: REPENSANDO A IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃODAS MÃOS NO CONTEXTO DA MULTIRRESISTÊNCIA.iluminação natural, odores, calor, ruídos e sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> esgoto,mais do que a arquitetura pura e simplesmente estética,reduzindo drasticamente as taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 42% paraíndices inferiores a 2%, entre os soldados <strong>de</strong> guerra 4,5 .Após a implantação <strong>de</strong>ssas medidas <strong>de</strong> prevenção, Florence<strong>de</strong>screveu as estratégias relacionadas com o cuidado dopaciente e o ambiente hospitalar, e suas teorias constituíram abase do mo<strong>de</strong>rno controle <strong>de</strong> infecção hospitalar 4-5 .Na segunda meta<strong>de</strong> do século XIX, época marcada porgran<strong>de</strong>s guerras e epid<strong>em</strong>ias, verifica-se que as condiçõeshospitalares ainda eram <strong>de</strong>ploráveis. Se, por um lado, a cirurgiaalcança gran<strong>de</strong>s progressos relacionados à introdução daanestesia geral, fato este que possibilitou uma maior segurançado cirurgião <strong>em</strong> relação ao controle da dor no ato operatório,tornando as cirurgias menos traumáticas e mais complexas,com maior perícia e habilida<strong>de</strong> do cirurgião, por outro lado, noperíodo pós-operatório, as supurações cirúrgicas continuavama fazer um elevado número <strong>de</strong> vítimas.Tais eventos eram responsáveis pelas altas taxas d<strong>em</strong>ortalida<strong>de</strong>, chegando a 90% por ocasião <strong>de</strong> guerras eepid<strong>em</strong>ias. Relatos da ausência <strong>de</strong> qualquer cuidado com ahigienização <strong>de</strong> ambientes, mãos, instrumentais ou roupaspod<strong>em</strong> ser ilustrados pela <strong>de</strong>scrição que se segue, “oscirurgiões protegiam suas roupas durante as cirurgias comaventais, capotes ou toalhas, usando-os <strong>em</strong> todas as cirurgias,s<strong>em</strong> a troca. Carregavam <strong>em</strong> suas lapelas, bolsos e até na casados botões: agulhas, fios <strong>de</strong> sutura e instrumentos, porachar<strong>em</strong> mais cômodo, fácil <strong>de</strong> transportar e consi<strong>de</strong>rando opouco t<strong>em</strong>po que tinham, habituavam-se a segurar o bisturi naboca enquanto operavam” 1,3No início do século XX, as gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scobertas nas áreas damedicina tropical, da bacteriologia e da parasitologiapossibilitaram o conhecimento das formas <strong>de</strong> transmissão dasdoenças através <strong>de</strong> agentes infecciosos. Começou assim umaoutra batalha, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agentes que combatess<strong>em</strong> osmicrorganismos. E assim, no século passado, no início dosanos 30, surgiram os primeiros antibióticos e as décadas <strong>de</strong> 40e 50 foram conhecidas como a “era <strong>de</strong> ouro dos antibióticos” 6 .Tão rápido quanto sua <strong>de</strong>scoberta apareceram os efeitoscolaterais <strong>de</strong>ssas drogas e surgiram as cepas <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadosmicrorganismos resistentes, <strong>de</strong>correntes do seu uso in<strong>de</strong>vido 3,5-6 .Em meados <strong>de</strong> 1950 e início <strong>de</strong> 1960, registrou-se umapand<strong>em</strong>ia <strong>de</strong> Staphilococcus aureus, pelo uso irrestrito dosnovos antibióticos (penicilinas) recém-<strong>de</strong>scobertos e utilizadosindiscriminadamente no período pós-guerra. Na ocasião,acreditava-se que o probl<strong>em</strong>a das infecções hospitalares estavaresolvido, porém, o cenário mundial contradisse estapressuposição, trazendo à tona o gran<strong>de</strong> probl<strong>em</strong>a daresistência bacteriana aos agentes antimicrobianos(multirresistência) 1,3-6 .No Brasil, a situação das infecções hospitalares não édiferente dos relatos registrados no Primeiro Mundo,<strong>de</strong>spertando crescente interesse pelo assunto a partir <strong>de</strong> 1960,<strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> do aumento do número <strong>de</strong> casos, da resistência dosmicrorganismos e da alta mortalida<strong>de</strong> observada <strong>em</strong> todo omundo. Somadas a isso também se <strong>de</strong>stacaram as questões<strong>de</strong> âmbito psicossocial e econômico experimentadas pelosfamiliares <strong>de</strong> pacientes acometidos, como <strong>de</strong>sgaste <strong>em</strong>ocionaldo paciente, <strong>de</strong> sua família e o prejuízo social causado peloafastamento do trabalho e a redução da renda familiar 5,6 .A prevenção e o controle das infecções hospitalares <strong>de</strong>v<strong>em</strong>aten<strong>de</strong>r a exigências éticas inerentes à prestação da assistênciaà saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> das instituições e dosprofissionais envolvidos direta ou indiretamente neste processo,além <strong>de</strong> contribuir para a redução dos gastos hospitalares 6-10 .Retornando ao passado, um gran<strong>de</strong> avanço na prevençãodas infecções hospitalares foi a constatação da importância dalavag<strong>em</strong> das mãos pelos profissionais antes e após examinar<strong>em</strong>o doente 1,3-4 .Atualmente, acredita-se que uma proporção consi<strong>de</strong>ráveldas infecções hospitalares pod<strong>em</strong> ser evitadas, sendo alavag<strong>em</strong> das mãos ainda bastante importante neste contexto,pois os microrganismos mais associados à ocorrência <strong>de</strong> taisinfecções são pertencentes à microbiota transitória (adquiridaatravés dos contatos estabelecidos com pessoas colonizadasou infectadas e/ou com objetos contaminados). Essesmicrorganismos pod<strong>em</strong> ser eliminados através da lavag<strong>em</strong> dasmãos, sendo que, quando não realizada ou se realizada <strong>de</strong>forma ina<strong>de</strong>quada, constitui uma pr<strong>em</strong>issa básica para atransmissão <strong>de</strong> microrganismos 7,8,9 .Entretanto, mais <strong>de</strong> um século e meio após a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong>S<strong>em</strong>melweis sobre a importância <strong>de</strong>ssa medida, ainda existeuma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> impl<strong>em</strong>entá-la entre os profissionaisda área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> 10-14 . Nesse sentido, as Comissões <strong>de</strong> Controle<strong>de</strong> Infecção Hospitalar (CCIH) incentivam a lavag<strong>em</strong> das mãos,<strong>de</strong> acordo com as recomendações do Ministério da Saú<strong>de</strong>,publicadas na sua última Portaria atualmente <strong>em</strong> vigor 2 .Contudo, não basta apenas o incentivo constante à lavag<strong>em</strong>das mãos. Convém repensar a difícil situação dos hospitais ed<strong>em</strong>ais serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do País representadas pela escassez<strong>de</strong> recursos humanos qualificados para a prestação <strong>de</strong>assistência <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que tanto se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, muitas vezesincompatível com a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r um gran<strong>de</strong>número <strong>de</strong> pacientes, falta <strong>de</strong> recursos materiais e <strong>de</strong>a<strong>de</strong>quadas condições <strong>de</strong> trabalho (ausência <strong>de</strong> pias paralavag<strong>em</strong> das mãos, falta <strong>de</strong> sabão, papel toalha, lixeirasa<strong>de</strong>quadas etc).Para agravar esta situação, uma antiga preocupação v<strong>em</strong>ganhando enorme repercussão mundial no contexto dasinfecções hospitalares, a <strong>em</strong>ergência <strong>de</strong> microrganismosmultirresistentes, que v<strong>em</strong> <strong>de</strong>spertando especial atenção dos- Rev. 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INFECÇÕES HOSPITALARES: REPENSANDO A IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃODAS MÃOS NO CONTEXTO DA MULTIRRESISTÊNCIA.serviços <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> infecção hospitalar, à medida que suaocorrência traz como conseqüência principal a diminuição <strong>de</strong>possibilida<strong>de</strong>s terapêuticas e o aumento do custo <strong>em</strong> relaçãoao arsenal terapêutico disponível.A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> microrganismo multirresistente(predominant<strong>em</strong>ente bactérias) não obe<strong>de</strong>ce a critérios b<strong>em</strong>estabelecidos, entretanto, para o Centro <strong>de</strong> Controle ePrevenção <strong>de</strong> Doenças <strong>de</strong> Atlanta (CDC-P), uma cepa éconsi<strong>de</strong>rada multirresistente quando resistente a três grupos <strong>de</strong>drogas. Porém o critério mais adotado na prática clínica é aresistência a duas ou mais drogas <strong>de</strong> classes distintas, para asquais as bactérias são habitualmente sensíveis 3 .Nesse contexto, encontram-se bactérias classificadas comoGram-positivas e Gram-negativas <strong>de</strong>terminando uma maiorserieda<strong>de</strong> e gravida<strong>de</strong> à questão abordada.Justificada a gran<strong>de</strong> preocupação com a <strong>em</strong>ergência dasbactérias multirresistentes, duas pr<strong>em</strong>issas consi<strong>de</strong>radas comobásicas permeiam o processo <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> controle <strong>de</strong>ssasituação. A primeira <strong>de</strong>las po<strong>de</strong> ser caracterizada como ocontrole e uso racional dos agentes antimicrobianos e asegunda, <strong>em</strong> relação ao maior envolvimento/a<strong>de</strong>são dosprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que prestam assistência direta ouindiretamente ao paciente, às práticas <strong>de</strong> controle e medidaseducativas, como a higienização das mãos, tendo <strong>em</strong> vista queestas aparec<strong>em</strong> como importante veículo da ca<strong>de</strong>iaepid<strong>em</strong>iológica pela transmissão cruzada 3,12 .Assim, a contínua <strong>em</strong>ergência <strong>de</strong> germes multirresistentes,nas instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> todo mundo, é um <strong>de</strong>safio quenão está sendo a<strong>de</strong>quadamente controlado por meio dasmedidas rotineiramente adotadas como: o isolamento <strong>de</strong>pacientes, racionalização <strong>de</strong> antibióticos e <strong>de</strong>scolonização <strong>de</strong>pacientes/profissionais 6-8,12 . Portanto, é crescente o interessepela revisão das práticas <strong>de</strong> lavag<strong>em</strong> das mãos <strong>em</strong> diversospaíses como Europa, Estados Unidos e Brasil.Estudos realizados na Europa e Estados Unidos por Wendt 11 ,a fim <strong>de</strong> verificar como é recomendado/realizado oprocedimento <strong>de</strong> lavag<strong>em</strong> das mãos, registrou algumasdivergências entre as realida<strong>de</strong>s avaliadas, comentadasa seguir.Na Europa a lavag<strong>em</strong> higiênica das mãos foi <strong>de</strong>finida comoum procedimento realizado após a contaminação das mãos eenvolve o uso <strong>de</strong> água e um anti-séptico com objetivo <strong>de</strong>r<strong>em</strong>over principalmente a flora transitória. A fricção higiênica dasmãos está recomendada quando não há sujida<strong>de</strong> visível,consistindo na aplicação <strong>de</strong> uma solução anti-séptica, s<strong>em</strong> autilização <strong>de</strong> água corrente (com o objetivo <strong>de</strong> r<strong>em</strong>over a floratransitória) e a lavag<strong>em</strong> das mãos, caracterizada pela utilização<strong>de</strong> água e sabão, sendo recomendado o uso do anti-sépticoapenas <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> alto risco.Nos Estados Unidos e Canadá a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> lavag<strong>em</strong> dasmãos correspon<strong>de</strong> ao uso <strong>de</strong> água e sabão não anti-séptico. E,a higiene das mãos se refere a um termo <strong>de</strong> maior abrangênciaaplicado tanto para a lavag<strong>em</strong> simples das mãos (água e sabão)como para a lavag<strong>em</strong> das mãos incluindo escovação e fricção<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que com o uso <strong>de</strong> sabão anti-séptico.Na Al<strong>em</strong>anha, recomenda-se a lavag<strong>em</strong> das mãos com águae sabão apenas para situação <strong>de</strong> baixo risco. E para algunsoutros países analisados, a fricção higiênica das mãos com umagente anti-séptico, só está indicada quando da ausência <strong>de</strong>pias, <strong>em</strong> situações <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência ou <strong>em</strong> casos <strong>de</strong> alto risco.Nesse mesmo estudo, o autor também relatou divergências <strong>em</strong>relação ao uso do sabão. Pelo guia do CDC, está indicado ouso do sabonete <strong>em</strong> barra ou líquido para a lavag<strong>em</strong> das mãos;<strong>em</strong> contrapartida, na Europa recomenda-se o sabonete líquidoe na Al<strong>em</strong>anha contra-indica-se o sabonete <strong>em</strong> barra.Como conseqüência das divergências observadas, <strong>em</strong>outubro <strong>de</strong> 2002, foi publicado pelo CDC, o gui<strong>de</strong>line <strong>de</strong>Higienização das mãos, trazendo a alteração da <strong>de</strong>nominação“Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mãos”, para “Higienização das mãos” <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong>do entendimento da maior abrangência/ampliação doprocedimento <strong>em</strong> questão. Esse guia traz a recomendação <strong>de</strong>higienização das mãos com água e sabão neutro e usoposterior <strong>de</strong> álcool (60% a 95%) glicerinado <strong>em</strong> caso <strong>de</strong>sujida<strong>de</strong> visível, ou o uso do álcool gel <strong>em</strong> situações <strong>em</strong> que nãosejam encontradas pias, b<strong>em</strong> como ao lado dos leitos dospacientes nas enfermarias, bastante s<strong>em</strong>elhante àsrecomendações utilizadas na Europa 9 .A partir <strong>de</strong> tais constatações, a Agência Nacional <strong>de</strong>Vigilância Sanitária (ANVISA) através do Programa Nacional <strong>de</strong>Controle <strong>de</strong> Infecção Hospitalar, no Brasil, t<strong>em</strong> tambémsugerido a adoção da <strong>de</strong>nominação “Higienização das mãos”como forma <strong>de</strong> ampliar o uso <strong>de</strong> água e sabão na lavag<strong>em</strong> dasmãos (como recomendado durante muito t<strong>em</strong>po) para aassociação <strong>de</strong> um anti-séptico nesse procedimento.Po<strong>de</strong>-se perceber, entretanto, que o objetivo <strong>de</strong> se associarum anti-séptico ao procedimento <strong>de</strong> lavag<strong>em</strong> das mãos visaaumentar a segurança para redução da flora transitória,caracterizando mais uma medida <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> se controlar adiss<strong>em</strong>inação dos microrganismos multirresistentes.A compreensão da importância epid<strong>em</strong>iológica <strong>de</strong>ssasituação fundamentou a alteração da <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong>“Lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mãos”, para “Higienização das mãos” b<strong>em</strong> comoa revisão das soluções utilizadas. Também representa umacontribuição para que os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (<strong>em</strong> todos osníveis) e as instituições abandon<strong>em</strong> <strong>de</strong>finitivamente a idéiasimplista <strong>de</strong> que o controle da infecção nos hospitais e, <strong>de</strong>forma geral, nos estabelecimentos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é <strong>de</strong> exclusivaresponsabilida<strong>de</strong> dos profissionais m<strong>em</strong>bros das CCIH e seenvolvam realmente como pessoas participantes e coresponsáveis<strong>de</strong>sse processo.Faz-se crucial, portanto, que antigas recomendações sejamrevistas, sustentando uma nova postura, baseada <strong>em</strong> um maior142 - Rev. Min. Enf., 7(2):140-44, jul./<strong>de</strong>z., 2003


INFECÇÕES HOSPITALARES: REPENSANDO A IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃODAS MÃOS NO CONTEXTO DA MULTIRRESISTÊNCIA.envolvimento e comprometimento por parte das pessoas <strong>em</strong>face da prevenção e do controle da infecção hospitalar,<strong>de</strong>stacando-se a serieda<strong>de</strong> da questão dos microrganismosmultirresistentes que têm se alastrado rapidamente no mundo,fazendo inúmeras vítimas e reduzindo as perspectivas <strong>de</strong>tratamento, tornando o ser humano refém dos microrganismos.Cabe ressaltar ainda que, a partir do momento <strong>em</strong> que novasperspectivas nesta área sejam vislumbradas e adotadas <strong>de</strong>forma conjunta, visando ao b<strong>em</strong>-estar do paciente,seguramente as atitu<strong>de</strong>s dos profissionais resultarão noaumento da satisfação e da motivação da equipe, com maiorespossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se reverter a situação atual, além <strong>de</strong>proporcionar uma melhor imag<strong>em</strong> institucional.Todas essas questões abordadas vêm como um reforço àsativida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser assumidas pelas Comissões eServiços <strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Infecção, principalmente aquelas queenfatizam o maior envolvimento/conscientização dosadministradores das instituições, públicas ou privadas, sobre aimportância do controle <strong>de</strong> infecção, da manutenção <strong>de</strong> umprograma <strong>de</strong> educação continuada para os profissionaisda saú<strong>de</strong>.Além disso, não se <strong>de</strong>ve per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista algumas dasmedidas simples que incentivam os profissionais a a<strong>de</strong>rir<strong>em</strong> aoprocedimento <strong>de</strong> higienização das mãos, como: o acesso fácila pias, a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um sabão/anti-séptico <strong>de</strong>vidamenteindicado pela CCIH, a presença do álcool glicerinado ou gel,papel toalha e lixeiras a<strong>de</strong>quadas.Outra ação que sensibiliza os profissionais po<strong>de</strong> ser traduzidapela divulgação periódica pela CCIH da situação das infecçõesna instituição, enfatizando a prevalência e o perfil <strong>de</strong>sensibilida<strong>de</strong>/resistência dos microrganismos nos diversossítios <strong>de</strong> ocorrência, po<strong>de</strong>ndo também ser confi<strong>de</strong>ncialmenterelacionada a taxa <strong>de</strong> infecção por profissional, especialmentepara o caso das infecções cirúrgicas 2,5,6 .Comprovadamente essas ações têm repercussões positivasno que se refere a uma maior a<strong>de</strong>são dos Profissionais <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> às campanhas educativas promovidas pelo Programa <strong>de</strong>Controle <strong>de</strong> Infecção Hospitalar (PCIH) baseadas no usoracional <strong>de</strong> antimicrobianos, na adoção das precauçõesindicadas para cada paciente (padrão, contato, com ar e poraerossol), na maior e melhor a<strong>de</strong>são à ação <strong>de</strong> higienizaçãodas mãos.Merece <strong>de</strong>staque ainda o fato <strong>de</strong> que somentecompreen<strong>de</strong>ndo os benefícios <strong>de</strong>ssas ações, é que muitosprofissionais po<strong>de</strong>rão refletir e repensar sobre a tendência <strong>de</strong>alguns serviços/instituições que supervalorizam adisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos tecnológicos, <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento dosrecursos humanos, esquecendo-se ou colocando <strong>em</strong> segundoplano o alcance <strong>de</strong> medidas simples e eficazes.Conclui-se esta revisão com a clareza <strong>de</strong> que algo t<strong>em</strong> <strong>de</strong> serfeito e rapidamente, pois, a questão da <strong>em</strong>ergência dosmicrorganismos multirresistentes é por d<strong>em</strong>ais séria ecomplexa. Novos comportamentos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser assumidos <strong>em</strong><strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> conceitos que dia-a-dia são discutidos, avaliadose apresentados à comunida<strong>de</strong> científica. E, ainda que qualquermedida adotada só será realmente eficaz se associado à suaimpl<strong>em</strong>entação, um maior <strong>em</strong>penho para motivar e treinarperiodicamente os profissionais, pois, a saída para o probl<strong>em</strong>acertamente não está centralizada <strong>em</strong> recomendaçõesinatingíveis para a prevenção e controle das infecçõeshospitalares e para a diss<strong>em</strong>inação dos microrganismosmultirresistentes, mas sim no somatório <strong>de</strong> cada atitu<strong>de</strong>profissional realizada <strong>de</strong> forma consciente, participativae responsável.SummaryMore than a century after S<strong>em</strong>melweis’ discovery of theimportance of handwashing, it is still difficult to impl<strong>em</strong>ent.It is believed that the microorganisms most associated withinfections belong to the transitory flora that could beeliminated easily by handwashing. However, anotherconcern has gained enormous attention around the world inthe context of hospital infections: the <strong>em</strong>ergence of multiresistantmicroorganisms. This article discusses theprofessional attitu<strong>de</strong>s and the importance of the actions ofthe Hospital Infection Control Program, as a measure toreduce the transmission of multi-resistant microorganismsand to increase compliance to handwashing.Keyword: Cross Infection/ Prevention and Control;Handwashing; Health Facility EnviromentResumenA pesar <strong>de</strong> haber transcurrido más <strong>de</strong> un siglo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> queS<strong>em</strong>melweis <strong>de</strong>scubrió la importancia <strong>de</strong>l acto <strong>de</strong> lavarse lasmanos, todavía hoy hay probl<strong>em</strong>as para que, efectivamente,se lleve a cabo. Se sabe que los microorganismos másasociados a las infecciones pertenecen a la flora transitoria,motivo por el cual podrían ser eliminados fácilmente con lahigiene <strong>de</strong> las manos. Otra antigua preocupación que estáadquiriendo enorme repercusión mundial en el contexto <strong>de</strong>las infecciones hospitalarias es el resurgimiento <strong>de</strong> losmicroorganismos multirresistentes. Este artículo <strong>de</strong> revisióndiscute las actitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> los profesionales y la importancia <strong>de</strong>las acciones <strong>de</strong>l Programa <strong>de</strong> Control <strong>de</strong> Infeccionesintrahospitalarias, como medidas que permitan reducir latransmisión <strong>de</strong> los microorganismos multirresistentes yaumentar la adherencia a la higiene <strong>de</strong> las manos.Palabras clave: Infeccion Hospitalaria / Prevencion eControl; Lavado <strong>de</strong> Manos; Ambiente <strong>de</strong> Instituciones<strong>de</strong> Salud- Rev. Min. Enf., 7(2):140-44, jul./<strong>de</strong>z., 2003143


INFECÇÕES HOSPITALARES: REPENSANDO A IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃODAS MÃOS NO CONTEXTO DA MULTIRRESISTÊNCIA.Agra<strong>de</strong>cimentoA autora agra<strong>de</strong>ce a Profa. Dra. Edna M. Rezen<strong>de</strong> pelasvaliosas sugestões durante a leitura <strong>de</strong>ste manuscrito.Referências bibliográficas1. Rodrigues EAC. Histórico das infecções hospitalares. In: RodriguesEAC, Mendonça JS, Amarante JMB, Alves Filho MB, Grinbaum RS,Richmann R. Infecções hospitalares: prevenção e controle. SãoPaulo: Sarvier; 1997. pte. 3, cap. 2, p.149-61.2. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Portaria 2616 <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1998.Diário Oficial da União; 1998. p.232-6.3. Fernan<strong>de</strong>s AT. As bases do hospital cont<strong>em</strong>porâneo: a enfermag<strong>em</strong>,os caçadores <strong>de</strong> micróbios e o controle <strong>de</strong> infecção. In: Fernan<strong>de</strong>sAT, editor. Infecções hospitalares e suas interfaces na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.São Paulo: Atheneu; 2000. cap. 7, p.91-128.4. Starling CEF, Pinheiros, SMC, Couto, BRGM. Vigilânciaepid<strong>em</strong>iológica das infecções hospitalares na prática diária, Ensaios.Belo Horizonte: Cutiara; 1992.5. Gontijo OMJ. Avaliação das comissões <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> infecçãohospitalar <strong>em</strong> Belo Horizonte: proposta para incr<strong>em</strong>ento daresolutivida<strong>de</strong>. [Tese <strong>de</strong> Doutorado]. Belo Horizonte: Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais; 1991.6. Hossne SW. Infecção hospitalar – aspectos éticos. Rev Ass MedBrasil 1995; 41(1):23-33.7. Wenzel RP; Osternan CA. Hospital adquired infection surveillance inUniversity hospital. Am J Epid<strong>em</strong>iol 1987; 103:253.8. Boyce JM, Rotter ML. Hospital higyene procedures: areas ofconsensus and ongoing controversies. J Hosp Infect 2001; 48: S1-S2.9. Gui<strong>de</strong>lines for hand hygiene in Health-care settings.Recommendations of the health-care infection control practicesadvisory Committee and the HIPAC/SHEA/APIC/IDSA HandHigyene task force. Centers for Disease Control and Prevention; Oct.2002, v. 51. 21p.10. Nichimura S, Kagehira M, Kono, F Nishimura M, Taenaka N.Handwaswing before entering the intensive care unit: What welearned from continuous vi<strong>de</strong>o-camera surveillance. Am J InfectControl 1999; 27:367-9.11. Aspock C, Koller W. A simple hand hygiene exercise. Am J InfectControl 1999; 27: 370-2.12. Larson EL, Bryan JL, Adler LM,Blane C. A multifaceted approach tochanging handwashing behavior. Am J Infect Control 1997; 25: 3-10.13. Larson EL., Kretzer E. Compliance with handwashing and barrierprecautions. J Hosp Infect 1995; 30 (Supl): 88-106.14. Larson EL, McGreer A, Quiasshi Z et al. Effect of an automated sinkon handwashing pratices and attitu<strong>de</strong>s in hight-risck units. InfectControl Hosp Epid<strong>em</strong>iol 1991;12:422-8.144 - Rev. Min. Enf., 7(2):140-44, jul./<strong>de</strong>z., 2003


MASTECTOMIA E SUA INFLUÊNCIA SOBRE A VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE:ANÁLISE DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO UTILIZANDO UMA BASE DE DADOS INFORMATIZADAMASTECTOMY AND ITS INFLUENCE ON SEXUAL EXPERIENCE:ANALYSIS OF SCIENTIFIC KNOWLEDGE WITH THE USE OF ACOMPUTER DATABASEMASTECTOMÍA Y SU INFLUENCIA SOBRE LA VIVENCIA DELA SEXUALIDAD: ANÁLISIS DE LA PRODUCCIÓN DELCONOCIMIENTO UTILIZANDO UNA BASE DE DATOSCOMPUTARIZADALuiza Akiko Komura Hoga*Lílian Santos**RESUMOTrata-se da análise da produção do conhecimento científico relativo à mastectomia e sua influência sobre a vivência da sexualida<strong>de</strong>. Foi feita umarevisão sist<strong>em</strong>ática da literatura nas seguintes bases <strong>de</strong> dados: Analysis and Retrieved Syst<strong>em</strong> On-Line (MEDLINE); Literatura Latino-Americana e doCaribe <strong>em</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong> (LILACS); Cummulative In<strong>de</strong>x for Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Banco <strong>de</strong> Dados Bibliográficos daUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (DEDALUS). Foram encontradas 53 publicações, 55% <strong>de</strong>las relacionadas a resultados <strong>de</strong> pesquisa, 32% a relatos daassistência e 13% à prática clínica, e este conjunto enfocava sobretudo o aspecto psicossocial da t<strong>em</strong>ática.Palavras-Chave: Mastectomia - Psicologia; Sexualida<strong>de</strong> - Psicologia; Pesquisa; Publicação.Ocâncer <strong>de</strong> mama constitui a primeira causa d<strong>em</strong>ortalida<strong>de</strong> por câncer entre as mulheres brasileiras. Nointervalo <strong>de</strong> 20 anos, no período compreendido entre 1979 e1999, houve aumento da mortalida<strong>de</strong> por essa doença, tendopassado <strong>de</strong> 5,77 para 9,75/1.000.000 <strong>de</strong> mulheres, conformedados do Instituto Nacional do Câncer 1 .A mastectomia é um procedimento cirúrgico que se tornanecessário <strong>em</strong> muitas mulheres acometidas pelo câncer d<strong>em</strong>ama. Ela modifica o esqu<strong>em</strong>a corporal da mulher e alterasua maneira <strong>de</strong> sentir e vivenciar o corpo. Supõe-se que taisalterações provoqu<strong>em</strong> conseqüências sobre a vivência dasexualida<strong>de</strong> e do relacionamento sexual e esses fatosjustificam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> domínio <strong>de</strong>ste âmbito doconhecimento por parte dos profissionais envolvidos com aassistência à mulher mastectomizada.A sexualida<strong>de</strong> envolve não só a relação hom<strong>em</strong>-mulher,mas todas as d<strong>em</strong>ais relações com os outros e o meioambiente e constitui um dos aspectos mais relevantes dapersonalida<strong>de</strong>. O conhecimento do estado da arte no que serefere à mastectomia e sua influência sobre a vivência dasexualida<strong>de</strong> é essencial para os profissionais envolvidos comeste âmbito da assistência à saú<strong>de</strong>.Objetivo do EstudoRealizar revisão sist<strong>em</strong>atizada da literatura científica relativaà mastectomia e sua influência sobre a vivênciada sexualida<strong>de</strong>.Metodologia do EstudoA revisão da literatura relativa ao t<strong>em</strong>a sob estudo foi feitanas seguintes bases <strong>de</strong> dados:* Livre docente <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Materno-Infantil e Psiquiátrica da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.** Enfermeira graduada pela <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> SãoPaulo.En<strong>de</strong>reço para correspondência:Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.Av. Dr. Eneas <strong>de</strong> Carvalho Aguiar, 419,São Paulo, SP. Brasil.CEP: 05403-000E-mail: kikatuca@usp.br- Rev. Min. Enf., 7(2):145-51, jul./<strong>de</strong>z., 2003145


MASTECTOMIA E SUA INFLUÊNCIA SOBRE A VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE:ANÁLISE DA PRODUÇÃODO CONHECIMENTO UTILIZANDO UMA BASE DE DADOS INFORMATIZADA• Analysis and Retrieved Syst<strong>em</strong> On-Line (MEDLINE);• Literatura Latino-Americana e do Caribe <strong>em</strong> Ciências daSaú<strong>de</strong> (LILACS);• Cummulative In<strong>de</strong>x for Nursing and Allied Health Literature(CINAHL),• Banco <strong>de</strong> Dados Bibliográficos da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> SãoPaulo (DEDALUS)As palavras-chave pesquisadas foram “mastectomia”,“câncer <strong>de</strong> mama”, “sexualida<strong>de</strong>” e “psicologia” constantes nalista <strong>de</strong> <strong>de</strong>scritores da Biblioteca Regional <strong>de</strong> Medicina -BIREME.Os critérios seguidos para a seleção das publicaçõesforam:• Utilizar o recurso “e” que significa incluir simultaneamenteas palavras-chave;• Conter pelo menos duas <strong>de</strong>stas palavras-chave no título doartigo;• Estar escrito nos idiomas inglês, espanhol ou português;• Possuir resumos disponíveis;• Ter sido publicado no período compreendido entre 1992e 2002.Processo <strong>de</strong> análise dos dados da literaturaNa análise dos dados da literatura foram consi<strong>de</strong>rados oano <strong>de</strong> publicação, o país e idioma <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> e o tipo <strong>de</strong>publicação. Este último it<strong>em</strong> foi subdividido segundo aclassificação “pesquisa”, “estudo clínico” ou “assistência”.ResultadosForam encontradas 53 publicações nas bases <strong>de</strong> dadospesquisadas, tendo sido 44 na fonte Medline e 9 na Dedalus.No Gráfico 1 é possível observar a distribuição daspublicações segundo o idioma <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>.O maior número <strong>de</strong> publicações relativas ao t<strong>em</strong>apesquisado foi no idioma inglês (73%), tendo sido os EstadosUnidos da América - EUA com (54%) e a Inglaterra (19%), ospaíses <strong>em</strong> que as publicações foram mais frequentes.Gráfico 1 - Idioma <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> das publicações - 1992-2002.IDIOMASNo Gráfico 2, é possível visualizar a distribuição segundo aclassificação adotada nesta pesquisa.Gráfico 2 - Tipo <strong>de</strong> publicação - 1992-2002.55%TIPOS DE PUBLICAÇÕES13%32%Pesquisa n = 29Clínico n = 7Assistencial n = 17Observa-se que, segundo a classificação adotada, o tipo <strong>de</strong>publicação mais freqüente foi o relativo a resultados <strong>de</strong>pesquisa (55%). Em seguida, aqueles relacionados àassistência (32%) e, por último, os que se referiam a relatos daprática clínica (13%). As publicações sobre pesquisa eassistência abordavam sobretudo os aspectos relacionados àesfera psicossocial, tendo sido observada maior ênfase nocomportamento sexual da mulher mastectomizada.No Gráfico 3, consta a distribuição das publicações segundoo ano.Gráfico 3 - Distribuição das publicações segundo o ano -1992-2002.109876543212174601992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 200231095622%6%17%2%73%TchecoInglêsEscocêsItalianoPortuguêsEste gráfico permite visualizar um aumento significativo <strong>de</strong>publicações ocorrido entre 1998 e 1999. É possível que issotenha se dado <strong>em</strong> razão do aumento <strong>de</strong> estudos clínicosrelativos à quimioterapia e sua influência sobre ocomportamento sexual f<strong>em</strong>inino, ocorrido nos anos queprece<strong>de</strong>ram essas publicações.146 - Rev. Min. Enf., 7(2):145-51, jul./<strong>de</strong>z., 2003


MASTECTOMIA E SUA INFLUÊNCIA SOBRE A VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE:ANÁLISE DA PRODUÇÃODO CONHECIMENTO UTILIZANDO UMA BASE DE DADOS INFORMATIZADAA mastectomia e sua influência sobre a vivência dasexualida<strong>de</strong>: o estado da arteÂmbito clínicoEstudos clínicos d<strong>em</strong>onstraram que o uso <strong>de</strong> algunsadjuvantes do tratamento quimioterápico como o Tamoxifeno eo Zola<strong>de</strong>x, medicamentos que proporcionam maior t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>ação da quimioterapia, aumentam a disfunção sexual nasmulheres por um período mais prolongado 2 . Não exist<strong>em</strong>evidências <strong>de</strong> que o carcinoma ductal invasivo surge apenas nafase juvenil. Um estudo 3d<strong>em</strong>onstrou não haver diferençaestatisticamente significante quanto ao surgimento <strong>de</strong>ste tipo<strong>de</strong> câncer entre mulheres <strong>de</strong> até 36 anos <strong>em</strong> comparaçãoàquelas menopausadas, que tinham ida<strong>de</strong>s entre 50 e 60 anos.Âmbito psicossocialA mastectomia envolve a mutilação do corpo f<strong>em</strong>inino eproduz conseqüências na esfera da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina. Osprincipais probl<strong>em</strong>as enfrentados pelas mulheresmastectomizadas refer<strong>em</strong>-se às alterações na imag<strong>em</strong>corporal, a vivência <strong>de</strong> sua sexualida<strong>de</strong> e f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>. Elas, <strong>de</strong>certa forma, reproduz<strong>em</strong> o estereótipo cultural <strong>de</strong>predominância machista existente nas socieda<strong>de</strong>s 4-9 .A realização da mastectomia modifica o esqu<strong>em</strong>a corporal damulher e altera sua maneira <strong>de</strong> sentir e vivenciar o corpo.Reações psicológicas comuns durante a <strong>de</strong>scoberta,diagnóstico e tratamento inclu<strong>em</strong> ansieda<strong>de</strong>, negação, raiva e<strong>de</strong>pressão. As formas <strong>de</strong> enfrentamento dos tratamentosrelativos ao câncer <strong>de</strong> mama constitu<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios aser<strong>em</strong> transpostos pelas mulheres mastectomizadas 10-12 .Em muitos serviços <strong>de</strong> assistência às mulheres acometidaspor câncer <strong>de</strong> mama, estas não são preparadasa<strong>de</strong>quadamente para suas experiências no período pósoperatório,n<strong>em</strong> são informadas sobre serviços <strong>de</strong> suporte eapoio. Como conseqüência, muitas <strong>de</strong>las continuamexperimentando sintomas físicos e <strong>de</strong>pressão até muito t<strong>em</strong>poapós o término do tratamento 13,14 .O processo <strong>de</strong> reabilitação da mulher mastectomizadaimplica a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recomeçar o aprendizado <strong>de</strong> muitashabilida<strong>de</strong>s. Isso envolve, entre outros, o reapren<strong>de</strong>r a vestir-se,banhar-se, caminhar sozinha ou fazer exercícios físicos.D<strong>em</strong>anda a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> redirecionar o seu papel no âmbitofamiliar, na comunida<strong>de</strong> à qual pertence e na própria socieda<strong>de</strong>.Isto requer a reformulação <strong>de</strong> seu autoconceito e auto-imag<strong>em</strong>,além da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> seu cotidiano 15-17. Estes autores ressaltam também que as mulheresmastectomizadas necessitam fazer muitas alterações <strong>em</strong> seuestilo <strong>de</strong> vida, <strong>em</strong> conseqüência da auto-estima diminuída.Além disso, passam por um processo <strong>de</strong> modificação dai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, que é produto <strong>de</strong> fatores importantes do ponto <strong>de</strong>vista da mulher, entre eles, o sentimento <strong>de</strong> perda daf<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong> e as dificulda<strong>de</strong>s no relacionamento conjugal, quesão conseqüentes à diminuição do interesse sexual por parte<strong>de</strong> seus parceiros.Estima-se que esses probl<strong>em</strong>as sejam <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> umasocieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> que há valorização das mamas como umsímbolo <strong>de</strong> f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>, sexualida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sejo e atração sexual,maternida<strong>de</strong> e beleza. São símbolos amplamente utilizados pelamídia, cujos valores são introjetados nas mulheres. Há <strong>de</strong> seconsi<strong>de</strong>rar, além dos já mencionados, o fato <strong>de</strong> a mama seruma representação <strong>de</strong> um órgão importante, do ponto <strong>de</strong> vistada imag<strong>em</strong> corporal f<strong>em</strong>inina, 18 e a falta da sensação <strong>de</strong> prazerna região mamária mutilada ser uma queixa comum àsmulheres submetidas à mastectomia 19,20 .Realizou-se estudo comparativo entre dois grupos d<strong>em</strong>ulheres submetidas a tratamento cirúrgico 21 . No primeiroadotou-se a técnica da mastectomia radical modificada e nosegundo, a mastectomia conservadora. Os autores concluíramque as mulheres do primeiro grupo apresentaram níveissignificativamente mais altos <strong>de</strong> tensão traumática e situacionalrelacionadas à vivência da sexualida<strong>de</strong> <strong>em</strong> comparação às dosegundo grupo.Estudo sobre a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> mulheresmastectomizadas d<strong>em</strong>onstrou que 30% <strong>de</strong>las enfrentaramprobl<strong>em</strong>as relacionados à sexualida<strong>de</strong>, fadiga e sintomas <strong>de</strong><strong>de</strong>pressão. Esse dado comprovou a necessida<strong>de</strong> do suportepsicossocial especificamente direcionado a esses aspectos 22 .Outra pesquisa cujo foco estava voltado à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<strong>de</strong> mulheres mastectomizadas d<strong>em</strong>onstrou que essas mulheresnão são prejudicadas <strong>em</strong> sua integralida<strong>de</strong> pelo câncer d<strong>em</strong>ama. Seus autores chegam a supor que elas não necessitam<strong>de</strong> suporte psicossocial organizado, mas evi<strong>de</strong>nciam que osprobl<strong>em</strong>as relacionados com o braço e a sexualida<strong>de</strong>necessitam <strong>de</strong> suporte. Consi<strong>de</strong>ram que estas são dimensõesque influenciam diretamente sobre a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida enecessitam, portanto, do suporte profissional 23 .Aspectos relativos às influências étnicas sobre a experiênciada mastectomia foram estudados na perspectiva comparativa<strong>de</strong> mulheres americanas e africanas 24 . Constatou-se que asmulheres <strong>de</strong> ambas etnias necessitavam igualmente <strong>de</strong>informações da equipe médica no que se referia à trajetória dadoença e às experiências relativas ao câncer <strong>de</strong> mama.Estudo analisando a influência da ida<strong>de</strong> sobre a experiênciada mastectomia pô<strong>de</strong> concluir a não existência <strong>de</strong> diferenças notocante aos aspectos relativos à angústia psicológica,satisfação matrimonial e a freqüência sexual 25 . Constatou-setambém que mulheres que tiveram a mama conservadaconseguiram manter sua auto-estima mais elevada. Exist<strong>em</strong>evidências <strong>de</strong> que as mamas oferec<strong>em</strong> “proteção psicológica”e, portanto, as mulheres que tiveram as mamas preservadas- Rev. Min. Enf., 7(2):145-51, jul./<strong>de</strong>z., 2003147


MASTECTOMIA E SUA INFLUÊNCIA SOBRE A VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE:ANÁLISE DA PRODUÇÃODO CONHECIMENTO UTILIZANDO UMA BASE DE DADOS INFORMATIZADAdisseram se sentir mais confortáveis diante da própria nu<strong>de</strong>z e<strong>em</strong> relação às carícias recebidas na região dos seios,sobretudo, as mais jovens.Outros autores contradiz<strong>em</strong> essas afirmativas e relatamque mulheres mais jovens com câncer <strong>de</strong> mama apresentamdistúrbios <strong>em</strong>ocionais mais graves se comparadas àquelascom ida<strong>de</strong> mais avançada 26,27 . Estes pesquisadoresressaltam a importância da variável ida<strong>de</strong> na vivência damastectomia, sobretudo <strong>em</strong> relação à satisfação conjugal.Eles pu<strong>de</strong>ram d<strong>em</strong>onstrar também a existência <strong>de</strong> umaassociação muito próxima entre ajustamento conjugal esatisfação sexual nas mulheres jovens. Esta associação nãofoi i<strong>de</strong>ntificada <strong>em</strong> mulheres com mais ida<strong>de</strong>.A disfunção sexual é um probl<strong>em</strong>a comum entre pacientesvitimadas pelo câncer <strong>de</strong> mama, sobretudo aquelas quesofr<strong>em</strong> mudanças na condição hormonal 28 . Concluiu-se queo tratamento sistêmico interfere na função sexual e po<strong>de</strong>ocasionar a menopausa pr<strong>em</strong>atura. A conseqüente perda <strong>de</strong>estrogênio provoca atrofia vaginal e diminuição nos níveis <strong>de</strong>androgênio e como conseqüência, a diminuição do <strong>de</strong>sejosexual. Os m<strong>em</strong>bros da equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> precisam, portanto,manter<strong>em</strong>-se atentos à complexida<strong>de</strong> que envolve osprobl<strong>em</strong>as enfrentados pelas mulheres mastectomizadas. Háum alerta do autor direcionado às conseqüências do câncer<strong>de</strong> mama no âmbito da sexualida<strong>de</strong>, e isso merece atençãoespecial por parte dos profissionais envolvidos coma assistência 25 .As mulheres mastectomizadas receb<strong>em</strong> pouca ounenhuma informação <strong>em</strong> relação aos efeitos do câncer sobresua intimida<strong>de</strong> sexual. A assistência à mulhermastectomizada requer atenção direcionada a esse aspectoquando se almeja uma assistência mais abrangente. Umamplo processo <strong>de</strong> educação <strong>de</strong>ssas mulheres érecomendado, sobretudo quanto aos efeitos do tratamento eformas <strong>de</strong> promoção da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>las 29,30 .Muitos pesquisadores d<strong>em</strong>onstraram preocupação voltadaàs re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suporte oferecidas às mulheres mastectomizadasnas distintas fases da doença, que inclu<strong>em</strong> a diagnóstica, acirúrgica e a <strong>de</strong> reabilitação. Concluiu-se que, no períododiagnóstico, o el<strong>em</strong>ento mais requerido pelas mulheres foi omédico e, na seqüência, os filhos e o marido. Durante ainternação hospitalar para a cirurgia, as figuras maisimportantes foram o marido e o grupo <strong>de</strong> apoioespecializado, além dos outros familiares, sobretudo do sexof<strong>em</strong>inino 8,15,31-33 . Todos reafirmaram a importância do papelrepresentado pelos maridos na fase <strong>de</strong> reabilitação dasmulheres. Eles representam uma das fontes mais importantes<strong>de</strong> respaldo durante essa fase da trajetória da mulher.Estudo comparativo enfocando as opções representadaspela prótese externa ou a reconstrução mamária d<strong>em</strong>onstrouque ambos os recursos estéticos eram importantes para apreservação da auto-imag<strong>em</strong> f<strong>em</strong>inina. Concluiu-se que asmulheres <strong>de</strong> ambos os grupos tinham uma visão positiva davida, pois julgavam que a sexualida<strong>de</strong> tinha uma abrangênciamaior que o fato <strong>de</strong> ter ou não as mamas. Na visão dasmulheres pesquisadas, a mastectomia era uma intervençãonecessária e representava a salvação <strong>de</strong> suas vidas 34 .A vivência do relacionamento conjugal após a mastectomia<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do tipo <strong>de</strong> suporte recebido e das experiênciasexistenciais preexistentes. Consequent<strong>em</strong>ente, apossibilida<strong>de</strong> do confronto com dificulda<strong>de</strong>s é maior quandoo casal já enfrentava probl<strong>em</strong>as no casamento, prévios aosurgimento da doença. Nessas circunstâncias, o processo <strong>de</strong>enfrentamento da doença produz reflexos negativos sobre avivência da sexualida<strong>de</strong>. Mulheres que vivenciam tal situaçãoencontram muitas dificulda<strong>de</strong>s para solucionar seusprobl<strong>em</strong>as, inclusive os relativos à sua sexualida<strong>de</strong> 12,15,31 .Outros el<strong>em</strong>entos que dificultam o relacionamento sexualconseqüentes à mastectomia são a vergonha do corpo e doparceiro sexual, o medo da rejeição e <strong>de</strong> uma possívelfrigi<strong>de</strong>z, insegurança quanto ao início <strong>de</strong> uma nova relaçãocom o sexo oposto e até mesmo a tomada dainiciativa sexual 15 .O câncer <strong>de</strong> mama afeta, portanto, vários âmbitos dasexualida<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina, inclusive a percepção da f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>.Desse modo, previamente à tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões relativasaos cuidados médicos, há a necessida<strong>de</strong> da educaçãodirecionada às mudanças da esfera sexual que afetam asmulheres submetidas às terapias do câncer <strong>de</strong> mama 35-37 .Aos profissionais da saú<strong>de</strong> cabe reconhecer a extensão doimpacto representado pelo tratamento do câncer sobre avivência da sexualida<strong>de</strong>. Isso requer a inclusão <strong>de</strong> talinformação como parte inerente ao processo <strong>de</strong>consentimento informado, que <strong>de</strong>ve antece<strong>de</strong>r a intervençãocirúrgica. Desse modo torna-se possível prover educaçãoapropriada sobre amplos aspectos que envolv<strong>em</strong> amastectomia. São aspectos que necessitam ser ressaltadosporque, na maioria das vezes, os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> não<strong>de</strong>stinam a <strong>de</strong>vida atenção a todos os aspectos queenvolv<strong>em</strong> o câncer <strong>de</strong> mama das mulheres e suasconseqüências. Supõe-se a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>ssesprofissionais se sentir<strong>em</strong> incomodados ou inseguros naabordag<strong>em</strong> da intimida<strong>de</strong> sexual da mulher e,consequent<strong>em</strong>ente, se restringir<strong>em</strong> aos estados clínicos daspacientes diante dos quais se sent<strong>em</strong> mais b<strong>em</strong>preparados 28,30,38-40 .É imprescindível que na abordag<strong>em</strong> à mulher vitimada pelocâncer <strong>de</strong> mama se possa contar com equipe multidisciplinarintegrada pelo médico, enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo,entre outros profissionais. O treinamento contínuo dosm<strong>em</strong>bros <strong>de</strong>ssa equipe, com abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong> amplosaspectos da mastectomia e suas conseqüências para a148 - Rev. Min. Enf., 7(2):145-51, jul./<strong>de</strong>z., 2003


MASTECTOMIA E SUA INFLUÊNCIA SOBRE A VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE:ANÁLISE DA PRODUÇÃODO CONHECIMENTO UTILIZANDO UMA BASE DE DADOS INFORMATIZADAmulher e sua família, contribui para a diminuição do impactoda doença nos processos <strong>de</strong> diagnóstico, tratamento e <strong>de</strong>reabilitação e, consequent<strong>em</strong>ente, para a sua qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida 41-45 .ConclusõesA revisão da literatura científica sobre o t<strong>em</strong>a mastectomiae sua influência sobre a vivência da sexualida<strong>de</strong> permitiuconstatar a existência <strong>de</strong> 53 publicações abordando estat<strong>em</strong>ática, no período compreendido entre 1992 a 2002. Entreelas foram encontradas 44 na fonte Medline e nove nafonte Dedalus.Na classificação das publicações segundo o tipoconstatou-se que 29 tratavam <strong>de</strong> resultados <strong>de</strong> pesquisa, 17eram estudos relativos à assistência e sete se referiam aestudos clínicos.Quanto ao ano <strong>de</strong> publicação observou-se maiorprevalência entre 1998 e 1999, sendo que os países qu<strong>em</strong>ais publicaram textos nesta t<strong>em</strong>ática foram os EstadosUnidos da América e a Inglaterra. O idioma mais prevalenteno que se referiu às publicações <strong>de</strong>sta t<strong>em</strong>ática foi o inglês.Dados da literatura relativos ao âmbito clínico revelaramque alguns medicamentos ag<strong>em</strong> no sentido <strong>de</strong> prolongar osefeitos da quimioterapia e, consequent<strong>em</strong>ente, os efeitoscolaterais <strong>de</strong>ste tratamento, inclusive no âmbito dasexualida<strong>de</strong>. Não há evidências científicas quanto àexistência <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> limite para a ocorrência do câncerductal invasivo.Estudos sobre a influência da mastectomia no âmbitopsicossocial d<strong>em</strong>onstraram que o câncer <strong>de</strong> mama afetamuitos aspectos da sexualida<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina, abrangendo tantoa dimensão física quanto a <strong>em</strong>ocional. Houve menção dasconseqüências da mastectomia sobre a auto-imag<strong>em</strong> damulher. Tais alterações abrangiam aspectos relativos àvergonha do corpo e do parceiro sexual, medo da rejeição,da frigi<strong>de</strong>z, do reinício dos relacionamentos sexuais e atémesmo, quanto à tomada <strong>de</strong> iniciativa neste âmbito.Exist<strong>em</strong> evidências científicas comprovando o impacto damastectomia sobre o estilo <strong>de</strong> vida das mulheres, a reduçãoda auto-estima, as alterações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, o sentimento <strong>de</strong>perda da f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong> e dificulda<strong>de</strong>s no relacionamentoconjugal. São alterações consequentes ao menor <strong>de</strong>sejosexual d<strong>em</strong>onstrado pelos parceiros.Houve referência ao fato <strong>de</strong> a mama se constituir numsímbolo <strong>de</strong> f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>, sexualida<strong>de</strong>, maternida<strong>de</strong> e beleza.Cabe, portanto, aos m<strong>em</strong>bros da equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, umamaior relevância aos inúmeros aspectos que envolv<strong>em</strong> ocâncer <strong>de</strong> mama e a mastectomia. Estas provocam gran<strong>de</strong>impacto sobre a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da mulher, o que requerpreparo e envolvimento dos profissionais envolvidos coma assistência.As pesquisas referidas e suas conclusões necessitam serdo conhecimento dos profissionais envolvidos com aassistência à mulher vitimada pelo câncer <strong>de</strong> mama esubmetida à mastectomia, para que a assistência prestadapor eles seja baseada <strong>em</strong> evidências científicas. Esta é umacondição essencial requerida dos profissionais que prestamassistência à saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Sobretudo no âmbito daenfermag<strong>em</strong>, esses profissionais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> enten<strong>de</strong>r que suaação <strong>de</strong>ve estar voltada à monitorização das condições daspacientes e prevenir catástrofes. Mais que isso, àenfermag<strong>em</strong>, sobretudo ao enfermeiro, cabe aresponsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> educar as pacientes sobre como vivercom sua enfermida<strong>de</strong> preservando o máximo sua qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida, assim como dar suporte aos m<strong>em</strong>bros da família nosprocesso <strong>de</strong> enfrentamento das doenças 46 .SummaryThis article is a review of scientific literature on mastectomyand its influence on sexual experience. The followingdatabases were reviewed: On-Line Analysis and RetrievalSyst<strong>em</strong> (MEDLINE); Caribbean and Latin-American HealthScience Literature (LILACS), Cumulative In<strong>de</strong>x for Nursing andAllied Health Literature (CINAHL); University of São PauloBibliographical Database (DEDALUS). 53 papers were found,55% of which inclu<strong>de</strong>d research findings, 32% relate<strong>de</strong>xperiences and 13% clinical practice. The latter focusedmainly on psychosocial aspects.Keywords: Mastectomy-Psychology, Sexuality-Psychology;Research; PublicationsResumenSe trata <strong>de</strong>l análisis <strong>de</strong> la producción <strong>de</strong>l conocimientocientífico referente a la mastectomía y su influencia sobrela vivencia <strong>de</strong> la sexualidad. Se realizó una revisiónsist<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> la literatura en las siguientes bases <strong>de</strong> datos:Analysis and Retrieved Syst<strong>em</strong> On-Line (MEDLINE);Literatura Latinoamericana y <strong>de</strong>l Caribe en Ciencias <strong>de</strong>la Salud (LILACS); Cummulative In<strong>de</strong>x for Nursing andAllied Health Literature (CINAHL), Banco <strong>de</strong> DatosBibliográficos <strong>de</strong> la Universidad <strong>de</strong> São Paulo(DEDALUS). Se encontraron 53 publicaciones entre lascuales el 55% estaba relacionado a resultados <strong>de</strong>investigación, el 32% a relatos <strong>de</strong> la asistencia y el 13%a la práctica clínica; este conjunto enfocaba, sobre todo, elaspecto psicosocial <strong>de</strong> la t<strong>em</strong>ática.Palabras clave: Mastectomía-Psicología; Sexualidad-Psicología; Investigacion; Publicaciones- Rev. Min. Enf., 7(2):145-51, jul./<strong>de</strong>z., 2003149


MASTECTOMIA E SUA INFLUÊNCIA SOBRE A VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE:ANÁLISE DA PRODUÇÃODO CONHECIMENTO UTILIZANDO UMA BASE DE DADOS INFORMATIZADAReferências bibliográficas1. Instituto Nacional do Câncer. Câncer <strong>de</strong> mama.[online].Brasília (DF); 1999. Disponível <strong>em</strong>http://www.inca.gov.br/cancer/mama/. Acesso <strong>em</strong>: 18 <strong>de</strong>nov. 2002.2. Berglund G, Nystedt M, Bolund C, Sjödén PO, Rutquist LE.Effect of endrocrine treatment on sexuality inpr<strong>em</strong>enopausal breast cancer patients: a prospectiverandomized study. J Clin Oncol 2001; 19(11): 2788-96.3. Granja NVM. Carcinoma da mama <strong>em</strong> mulheres jovens:análise da expressão das proteínas P53 e C - erb B-2 e doÍndice proliferativo. Ribeirão Preto: <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong><strong>de</strong> Ribeirão Preto USP; 2000.4. Langellier KM, Sullivan CF. Breast talk in breast cancernarratives. Qual Health Res 1998; 8(1): 76-94.5. 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ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO RECÉM-NASCIDO ASFIXIADO: REVISÃO DASRECOMENDAÇÕES DO GUIA PRÁTICO DE REANIMAÇÃO NEONATALIMMEDIATE CARE FOR ASPHYXIATED NEWBORN: NEONATALRESUSCITATION GUIDELINE RECOMMENDATIONS REVIEWASISTENCIA INMEDIATA AL RECIÉN NACIDO ASFIXIADO:REVISIÓN DE LAS RECOMENDACIONES DE LA GUÍAPRÁCTICA DE REANIMACIÓN NEONATALKarina Fernan<strong>de</strong>s*Amélia Fumiko Kimura**Sônia Maria Junqueira Vasconcellos<strong>de</strong> Oliveira**RESUMOEste trabalho aborda as modificações ocorridas nas recomendações do guia prático <strong>de</strong> reanimação neonatal <strong>de</strong> 2000 revisado pela American Acad<strong>em</strong>yof Pediatrics e American Heart Association para o atendimento do recém-nascido asfixiado. Apresenta consi<strong>de</strong>rações sobre a incidência da asfixiaperinatal, o protocolo atualizado <strong>de</strong> atendimento ao recém-nascido com fluido meconial, prevenção <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> calor, oxigenação e ventilação,massag<strong>em</strong> cardíaca, medicações, expansores <strong>de</strong> volume e acesso vascular. Traça consi<strong>de</strong>rações sobre a atribuição da enfermeira como el<strong>em</strong>entointegrante da equipe multidisciplinar.Palavras-Chave: Asfixia Neonatal / Enfermag<strong>em</strong>; Ressucitação Cardiopulmonar / Enfermag<strong>em</strong>; Serviço Hospitalar <strong>de</strong> Emergência.E m aproximadamente 90% dos partos ocorridos, osconceptos nasc<strong>em</strong> <strong>em</strong> boas condições <strong>de</strong> vitalida<strong>de</strong>requerendo pouca ajuda para adaptar-se à vida extra-uterina.Entretanto, <strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> 10% dos partos ocorridos <strong>em</strong>ambientes hospitalares, os recém-nascidos requer<strong>em</strong>assistência para o estabelecimento da função respiratória ecardíaca. Nos países <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>em</strong> 1% dos partos,<strong>em</strong>pregam-se medidas intensivas <strong>de</strong> reanimação/ressuscitaçãoneonatal para restabelecer a função cardiopulmonar do recémnascido.Estima-se a ocorrência <strong>de</strong> 5 milhões <strong>de</strong> mortesneonatais por ano no mundo, sendo 19% <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> asfixiano parto. Esse dado indica que aproximadamente um milhão d<strong>em</strong>ortes por asfixia po<strong>de</strong>riam ser evitadas com a adoção <strong>de</strong>técnicas apropriadas <strong>de</strong> reanimação neonatal 1,2 .Asfixia perinatal <strong>em</strong> recém-nascidos a<strong>de</strong>quados para a ida<strong>de</strong>gestacional é incomum nos países <strong>de</strong>senvolvidos. Entretanto,continua a ser um dos maiores probl<strong>em</strong>as nos países <strong>em</strong><strong>de</strong>senvolvimento e uma causa freqüente <strong>de</strong> admissões <strong>em</strong>unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> internação neonatal. A asfixia perinatal éresponsável por 25% a 35% das mortes neonatais nos países<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Nesses países, os fatores que contribu<strong>em</strong>para as altas taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> e morbida<strong>de</strong> neonatal são:<strong>de</strong>ficiência na quantida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> da assistência pré-natal,manejo ina<strong>de</strong>quado da assistência ao parto, atraso dapopulação na procura por assistência médica, além da falta <strong>de</strong>recursos para fornecer uma a<strong>de</strong>quada reanimação neonatal nascomplicações pós-asfixia 3 .Esse contexto sugere que milhares <strong>de</strong> recém-nascidospo<strong>de</strong>riam ser beneficiados se houvesse uma apropriada técnica<strong>de</strong> reanimação neonatal e se impl<strong>em</strong>entass<strong>em</strong> treinamentos atodos os profissionais envolvidos na assistência ao parto eno nascimento.Recomendações nos protocolos <strong>de</strong> atendimento:consenso internacional baseado <strong>em</strong> evidênciascientíficasDefinir as melhores práticas na reanimação neonatal émedida fundamental e <strong>de</strong>ve ser tomada como uma priorida<strong>de</strong>na assistência ao parto e nascimento 4 .Uma reanimação neonatal efetiva e eficaz requer um grupo<strong>de</strong> profissionais habilitados tecnicamente, com competência eque atu<strong>em</strong> como grupo <strong>de</strong> trabalho, com atribuições <strong>de</strong>finidase compartilhadas e aceitas por todos. Alguns el<strong>em</strong>entos sãonecessários e <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar explícitos para todos os profissionaisque atuam nessa equipe. Comunicação clara entre os m<strong>em</strong>bros* Enfermeira obstétrica. Mestranda do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong>Enfermag<strong>em</strong> da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da USP.** Enfermeira obstétrica. Profa. Dra. do Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>Materno-Infantil e Psiquiátrica da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da USP.En<strong>de</strong>reço para correspondência:Amélia Fumiko Kimura - <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da USP – Departamento <strong>de</strong>Enfermag<strong>em</strong> Materno-Infantil e Psiquiátrica. Av. Dr Enéas Carvalho <strong>de</strong> Aguiar,419. São Paulo. CEP:05403-000. Email: fumiko@usp.br.152 - Rev. Min. 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ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO RECÉM-NASCIDO ASFIXIADO: REVISÃO DASRECOMENDAÇÕES DO GUIA PRÁTICO DE REANIMAÇÃO NEONATALda equipe, respeito mútuo, abertura para aceitação <strong>de</strong> críticas,apoio entre os profissionais para o sucesso da reanimação sãoel<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> que se prescin<strong>de</strong> e contribu<strong>em</strong> para o sucesso dotrabalho da equipe 5 .Em 2000, a American Acad<strong>em</strong>y of Pediatrics e a AmericanHeart Association formularam um guia prático internacional parareanimação neonatal baseado <strong>em</strong> novas evidências científicas 1 .Esse guia foi resultado do processo <strong>de</strong> evolução das evidênciase recomendações publicadas <strong>em</strong> 1992 após a 5.ª Conferênciasobre Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados <strong>em</strong>Emergências Cardíacas.No Brasil, esse guia prático sofreu adaptações e foiendossado pela Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Pediatria <strong>em</strong> 2001.Com base neste material, a Coor<strong>de</strong>nadoria Geral <strong>de</strong> Programa<strong>de</strong> Reanimação Neonatal da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pediatria <strong>de</strong> SãoPaulo v<strong>em</strong> ministrando cursos com o objetivo <strong>de</strong> atualizar ecapacitar os profissionais que participam do atendimentoimediato ao recém-nascido <strong>em</strong> diversas instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> 6 .Em consequência <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> revisão com base <strong>em</strong>evidências, mudanças significativas ocorreram no protocolo <strong>de</strong>atendimento ao recém-nascido nas seguintes situações:1.Presença <strong>de</strong> fluido amniótico meconial. Se o recémnascidoapresenta <strong>de</strong>pressão respiratória ou respiraçãoausente, freqüência cardíaca inferior a 100 batimentos porminuto ou hipotonicida<strong>de</strong> muscular, recomenda-se aspirar ahipofaringe e intubar e aspirar a traquéia para r<strong>em</strong>oção domecônio residual das vias aéreas. Nessas situações utiliza-secânula conectada ao adaptador e à fonte <strong>de</strong> vácuo. Evidênciascientíficas apontam que a aspiração meconial, sob visualizaçãodireta da traquéia <strong>em</strong> recém-nascidos vigorosos, não altera oprognóstico e contribui para <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar complicações <strong>de</strong>vidoà intubação 6 . Estudo multicêntrico internacional realizado porWiswell, Gannon, Jacob et al. 7comparando manejoexpectante, intubação e aspiração <strong>de</strong> fluido meconial <strong>em</strong>recém-nascido vigoroso ao nascimento, chegou a resultadosque não mostram redução da incidência <strong>de</strong> síndrome daaspiração meconial ou outras complicações respiratórias. Osautores recomendam que nos casos <strong>de</strong> recém-nascido nãovigoroso, com fluido meconial presente, <strong>de</strong>ve-se manter aintubação e aspiração traqueal. 2. Prevenção da perda <strong>de</strong>calor, evitando-se a hipertermia. 3. Oxigenação eventilação. Recomenda-se oxigênio a 100% para ventilaçãoassistida. Se não houver oxigênio supl<strong>em</strong>entar disponível, aventilação por pressão positiva <strong>de</strong>ve ser iniciada com arambiente. Ventilar com balão e máscara facial ou balão e cânulatraqueal é preferível que utilizar máscara laríngea. 4.Compressão cardíaca. Recomenda-se massag<strong>em</strong> cardíacaquando a freqüência cardíaca estiver ausente ou inferior a 60batimentos por minuto. A massag<strong>em</strong> é indicada somentequando a expansão e ventilação pulmonar estiver<strong>em</strong>estabelecidas, ou seja, se após 30 segundos <strong>de</strong> ventilação eoxigenação a 100% o recém-nascido persistir com freqüênciacardíaca inferior a 60 batimentos por minuto. Preferencialmenteutiliza-se a técnica dos dois polegares: o profissional coloca amão envolvendo o tórax do recém-nascido e comprime comuma pressão que atinja cerca <strong>de</strong> um terço do diâmetro ânteroposteriortorácico, suficiente para gerar uma pulsação palpável.5. Medicamentos expansores <strong>de</strong> volume e acessovascular. Adrenalina, administrada na dose <strong>de</strong> 0,1 – 0,3 mL/kgpor dose <strong>de</strong> solução a 1:10.000 por via endotraqueal ouvenosa, quando a freqüência cardíaca for inferior a 60batimentos por minuto após 30 segundos <strong>de</strong> ventilaçãoa<strong>de</strong>quada e compressão cardíaca. Os expansores <strong>de</strong> volumepod<strong>em</strong> ser administrados <strong>em</strong>ergencialmente com soluçãocristalói<strong>de</strong> isotônica (soro fisiológico 0,9%, solução <strong>de</strong> ringerlactato ou sangue tipo O, Rh negativo) via umbilical ou por outroacesso venoso.As recomendações <strong>de</strong>sse guia prático representam o que d<strong>em</strong>ais efetivo existe sobre reanimação neonatal. Baseadas <strong>em</strong>resultados <strong>de</strong> pesquisas clínicas, as recomendações têm comofinalida<strong>de</strong> oferecer fundamentos para programas <strong>de</strong> educaçãoe treinamento e contribuir para padronizar a prática assistencialno atendimento imediato ao recém-nascido, particularmentequando as suas condições <strong>de</strong> nascimento requer<strong>em</strong> manobras<strong>de</strong> intervenção para o estabelecimento das funções vitais.Entretanto, é necessário acompanhar os resultados dosdiversos estudos que vêm sendo conduzidos sobre práticasrelacionadas à reanimação neonatal. A American Acad<strong>em</strong>y ofPediatrics, American Heart Association e o International LiaisonCommittee for Resuscitation (ILCOR) assumiram o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong>organizar e revisar as publicações <strong>de</strong> estudos clínicos <strong>de</strong> 5anos, ou seja, que no ano <strong>de</strong> 2005, sejam publicadasrecomendações estruturadas e atualizadas sobre as práticasque integram a reanimação neonatal, particularmente aquelespontos que constitu<strong>em</strong> controvérsias na condução daassistência. Entre esses pontos, Kattwinkel 4 cita aadministração <strong>de</strong> O 2 ambiente (21%) ao invés <strong>de</strong> O 2 a 100% ebolsa fria no segmento cefálico (hipotermia) para o recémnascidoasfixiado, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reduzir os efeitos dahipox<strong>em</strong>ia isquêmica celular. A indicação <strong>de</strong>ssas práticassuscitou polêmica entre os peritos que participaram da últimarecomendação, já que nos últimos 50 anos a manutenção <strong>de</strong>um ambiente termo neutro para o atendimento ao recémnascidoconstituiu-se numa prática regular e inquestionável.Essas práticas carec<strong>em</strong> ainda <strong>de</strong> resultados mais consistentes<strong>de</strong> pesquisas para ser<strong>em</strong> indicadas como práticasrecomendadas e seguras.Wyckoff, Perlman, Niermeyer 8 conclu<strong>em</strong> que a maioria dasevidências científicas sobre recomendações do uso <strong>de</strong> drogasna reanimação neonatal não é convincente. Os autores afirmamque a eficácia das medicações, a dosag<strong>em</strong> e as vias <strong>de</strong>- Rev. Min. Enf., 7(2):152-5, jul./<strong>de</strong>z., 2003153


ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO RECÉM-NASCIDO ASFIXIADO: REVISÃO DASRECOMENDAÇÕES DO GUIA PRÁTICO DE REANIMAÇÃO NEONATALadministração carec<strong>em</strong> <strong>de</strong> testes rigorosos <strong>em</strong>recém-nascidos.Com o processo <strong>de</strong> informatização e globalização,rapidamente os resultados das investigações clínicas sãodivulgados e acessados pelos profissionais, assim é necessáriorevisar constant<strong>em</strong>ente as práticas instituídas à luz dasevidências e buscar aprimorar a qualida<strong>de</strong> da assistência,eliminado as práticas comprovadamente prejudiciais eincentivando as recomendadas ou aquelas que beneficiam asaú<strong>de</strong> da criança.Consi<strong>de</strong>rações sobre a atribuição da enfermeiracomo el<strong>em</strong>ento integrante da equipe multidisciplinarno atendimento imediato ao recém-nascidoA habilida<strong>de</strong> para reconhecer o recém-nascido que seencontra <strong>em</strong> situação crítica ao nascimento, com dificulda<strong>de</strong>spara adaptar-se ao meio extra-uterino, t<strong>em</strong> sido atribuiçãoconduzida e coor<strong>de</strong>nada pelo pediatra 9 . Para tanto, énecessário que esse profissional adquira domínio <strong>de</strong><strong>de</strong>terminadas técnicas e habilida<strong>de</strong>s comportamentais paraatuar com sucesso <strong>em</strong> reanimação neonatal. Assim, <strong>em</strong> suaformação educacional, <strong>de</strong>ve-se buscar capacitá-lo para atuarnestas situações. Entretanto, é evi<strong>de</strong>nte que esse profissionalisoladamente não t<strong>em</strong> como dar conta do atendimento aorecém-nascido que nasce <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> vitalida<strong>de</strong>prejudicada. Conforme recomendam a American Acad<strong>em</strong>y ofPediatrics e a American Heart Association 1 uma das condiçõespara obter sucesso na reanimação neonatal é planejar eorganizar a estrutura da sala <strong>de</strong> reanimação, b<strong>em</strong> como contarcom uma equipe que atue <strong>de</strong> forma coor<strong>de</strong>nada e coesa.O sucesso da reanimação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da efetiva comunicaçãointerprofissional e muitos procedimentos da reanimação pod<strong>em</strong>ser antecipados e planejados se cada profissional estiver atentopara seu próprio papel.Nesse contexto, a equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, no cotidiano daprática assistencial é que assume a tarefa <strong>de</strong> manter organizadaa estrutura da sala <strong>de</strong> atendimento ao recém-nascido testandoo funcionamento dos equipamentos, mantendo os materiaisdisponíveis para uso imediato numa situação <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência.Ad<strong>em</strong>ais, no atendimento imediato ao recém-nascidograv<strong>em</strong>ente anoxiado, a enfermeira é o profissional que executacoor<strong>de</strong>nadamente com o neonatologista as manobras <strong>de</strong>reanimação 10 .Nesse contexto é imprescindível que os serviços d<strong>em</strong>aternida<strong>de</strong> trein<strong>em</strong> e capacit<strong>em</strong> periodicamente a equipe paraatuar <strong>em</strong> reanimação neonatal, levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração asevidências científicas. Outrossim, manter-se atualizadoacompanhando os resultados dos diversos estudos que têmsido conduzidos <strong>em</strong> todas as partes do mundo é um pontofundamental para subsidiar as reflexões sobre a assistênciaimpl<strong>em</strong>entada e evitar que se torne uma prática ritualizada.SummaryThis article <strong>de</strong>als with the treatment of asphyxiated newbornaccording to recommendations on the International Gui<strong>de</strong>linesfor Neonatal Resuscitation reviewed in 2000 by the AmericanAcad<strong>em</strong>y of Pediatrics and the American Heart Association. Birthasphyxia inci<strong>de</strong>nce, up-to-date practices for treating meconiumstained amniotic newborn fluid, heat loss prevention,oxygenation and ventilation, chest compression maneuvers,medication, volume expansion and vascular access are shown inthis review. The nurse’s role as a m<strong>em</strong>ber of staff whoparticipates in neonatal resuscitation is discussed by the authors.Keywords: Asphyxia Neonatorum - Nursing; CardiopulmonaryRessuscitation / Nursing; Emergence Service HospitalResumenEste trabajo enfoca las modificaciones llevadas a cabo en lasrecomendaciones <strong>de</strong> la guía práctica <strong>de</strong> reanimaciónneonatal <strong>de</strong>l 2000 revisado por la American Acad<strong>em</strong>y ofPediatrics e American Heart Association para la atención alrecién nacido asfixiado. Presenta consi<strong>de</strong>raciones sobre lainci<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> la asfixia perinatal, el protocolo actualizado<strong>de</strong> atención al recién nacido con líquido meconial,prevención <strong>de</strong> la pérdida <strong>de</strong> calor, oxigenación y ventilación,masaje cardíaco, medicaciones, expansores <strong>de</strong> volumen yacceso vascular. Traza consi<strong>de</strong>raciones sobre la atribución <strong>de</strong>la enfermera como el<strong>em</strong>ento integrante <strong>de</strong>l equipomultidisciplinario.Palabras clave: Asfixia Neonatal - Enfermería;Resucitacion Cardiopulmonar / Enfermeria; Servicio <strong>de</strong>Urgencia en HospitalReferências bibliográficas1. Niermeyer S, Kattwinkel J, Van Re<strong>em</strong>pts P et al. Internationalgui<strong>de</strong>line for neonatal resuscitation: An excerpt from thegui<strong>de</strong>lines 2000 for cardiopulmonary resuscitation and<strong>em</strong>ergency cardiovascular care: International consensus onscience. Pediatrics, [serial online] 2000; 106(3): E29.Disponível <strong>em</strong>: http://www.pediatrics.org/cgi/content/full/106/3/e29 . Acesso <strong>em</strong>: 18 ago 2002.2. Perlman J, Niermeyer S. Neonatal resuscitation. S<strong>em</strong>inNeonatol 2001; 6(3): 211.3. Dawodu A. Neonatology in <strong>de</strong>veloping countries: probl<strong>em</strong>s,practices and prospects. Ann Trop Paediatr 1998;18(suppl): S73-9.154 - Rev. Min. Enf., 7(2):152-5, jul./<strong>de</strong>z., 2003


ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO RECÉM-NASCIDO ASFIXIADO: REVISÃO DASRECOMENDAÇÕES DO GUIA PRÁTICO DE REANIMAÇÃO NEONATAL4. Kattwinkel J. Evaluating resuscitation practices on the basisof evi<strong>de</strong>nce: the findings at first glance may se<strong>em</strong> illogical. JPediatr 2003; 142(3): 221-2.5. Zaichkin J. Neonatal resuscitation <strong>em</strong>ergencies at birth:case reports, using NRP 2000 gui<strong>de</strong>lines. J Obstet GynecolNeonatal Nus 2002; 31(2): 355-64.6. Guinsburg R, Almeida MFB. Revisão: reanimação neonatal– Atualização 2001. [Mimeografado]7. Wiswell TE, Gannon CM, Jacob J et al. Delivery roommanag<strong>em</strong>ent of the apparently vigorous meconium-stainedneonate: Results of the multicenter, internationalcollaborative trial. Pediatrics 2000; 105(1): 1-7.8. Wyckoff MH, Perlman J, Niermeyer S. Medications duringresuscitation – what is the evi<strong>de</strong>nce? S<strong>em</strong>in Neonatol 2001;6(3): 251-9.9. Halamek LP, Kaegi DM. Who’s teaching resuscitation tohousestaff ?: Results of a national survey. Pediatrics 2001;107(2): 249-55.10. Smith CM, Watkins RC. Resuscitation of the newborn. CurrObstet Gynaecol 2003; 13(3): 134-41.- Rev. Min. Enf., 7(2):152-5, jul./<strong>de</strong>z., 2003155


Relato <strong>de</strong> ExperiênciaEM BUSCA DE UM OLHAR INTEGRAL: IMPLEMENTAÇÃO DO PROTOCOLO DE CONSULTA DE ENFERMAGEM NOATENDIMENTO A MULHERES COM CÂNCER GINECOLÓGICO NO HC/<strong>UFMG</strong>IN SEARCH OF A GLOBAL APPROACH: IMPLEMENTATION OFTHE NURSING CONSULTATION PROTOCOL IN CARING FORWOMEN WITH GYNECOLOGIC CANCER AT THE UNIVERSITYHOSPITAL OF THE FEDERAL UNIVERSITY OF MINAS GERAIS(<strong>UFMG</strong>).EN BUSCA DE UNA MIRADA INTEGRAL:IMPLEMENTACIÓN DEL PROTOCOLO DE CONSULTA DEENFERMERÍA EN LA ATENCIÓN A MUJERES CON CÁNCERGINECOLÓGICO EN EL HC/URMG.Aline Fernan<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Paula *Maria <strong>de</strong> Fátima Seixas <strong>de</strong> Souza e Silva **RESUMOTrata-se <strong>de</strong> um relato <strong>de</strong> experiência da implantação do protocolo para Consulta <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> às mulheres portadoras <strong>de</strong> câncer ginecológico,realizado entre Enfermeiras integrantes das equipes <strong>de</strong> oncoginecologia e mastologia do Ambulatório Carlos Chagas (ACC) do HC/<strong>UFMG</strong>. O presentetrabalho t<strong>em</strong> como objetivo divulgar a impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> um protocolo unificado para consulta da Enfermeira às pacientes com câncer ginecológicoe <strong>de</strong> mama, promovendo ações educativas e curativas a estas mulheres, com vistas também à promoção do auto-cuidado, além da integraçãomultiprofissional.Palavras-Chave: Referencia e Consulta; Enfermag<strong>em</strong> Oncológica; Avaliação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>; Neoplasias dos Genitais F<strong>em</strong>ininos / Enfermag<strong>em</strong>.Ocâncer ginecológico é uma das causas maisfreqüentes <strong>de</strong> morte na população f<strong>em</strong>inina da América Latinae do Caribe, e sua incidência encontra-se entre as mais altas domundo 1 . No Brasil, entre as neoplasias, é uma das maiorescausa <strong>de</strong> óbito entre as mulheres, juntamente com o câncer <strong>de</strong>pele e <strong>de</strong> pulmão 2 .O câncer ginecológico é hoje, no País, um sério probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> pública, sendo a redução <strong>de</strong> seu impacto possívelatravés <strong>de</strong> programas integrados <strong>de</strong> controle, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> queincorporados aos d<strong>em</strong>ais níveis do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> atençãoà saú<strong>de</strong>.O Ministério da Saú<strong>de</strong> (MS) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1986, através doPrograma <strong>de</strong> Assistência Integral à Saú<strong>de</strong> da Mulher (PAISM),preconiza a prevenção do câncer ginecológico como uma dasações básicas na assistência prestada à mulher e v<strong>em</strong>propondo esten<strong>de</strong>r a cobertura <strong>de</strong> atendimento ginecológico atodas as mulheres que se encontram na faixa etária reprodutivaatravés dos centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção primária. Tal propostaé hoje reforçada pelo SUS, <strong>em</strong>bora n<strong>em</strong> todos os centros <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> tenham essa ação implantada. De acordo com anormatização do MS, Ministério da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>verão serpriorizadas as mulheres que nunca realizaram o exame e as dafaixa etária reprodutiva, sendo que a periodicida<strong>de</strong> do exame<strong>de</strong>ve ser avaliada, caso a caso 3 .No ambulatório <strong>de</strong> ginecologia e obstetrícia do Hospital dasClínicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais HC/<strong>UFMG</strong>, aimplantação da Consulta da Enfermeira voltada para aoncologia teve seu início <strong>em</strong> 1995, no serviço <strong>de</strong> mastologia, apartir da avaliação da Enfermeira daquele serviço quanto ànecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um atendimento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> específico,individual e sist<strong>em</strong>atizado às clientes com câncer <strong>de</strong> mama,s<strong>em</strong> contudo per<strong>de</strong>r a concepção <strong>de</strong> integralida<strong>de</strong>da mulher 4 .* Mestre <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>, Enfermeira do Serviço <strong>de</strong> Cirurgia Pélvica doHC/<strong>UFMG</strong>.** Enfermeira do Serviço <strong>de</strong> Mastologia do HC/<strong>UFMG</strong>En<strong>de</strong>reço para correspondência:Aline Fernan<strong>de</strong>s <strong>de</strong> PaulaRua Romualdo Lopes Cançado, 224/ 104 Castelo - Belo Horizonte /MGCEP:30840-460afpaula@terra.com.br ou aline@hc.ufmg.br156 - Rev. Min. Enf., 7(2):156-62, jul./<strong>de</strong>z., 2003


EM BUSCA DE UM OLHAR INTEGRAL: IMPLEMENTAÇÃO DO PROTOCOLO DE CONSULTA DE ENFERMAGEM NOATENDIMENTO A MULHERES COM CÂNCER GINECOLÓGICO NO HC/<strong>UFMG</strong>Com a consolidação da equipe multiprofissional do serviço<strong>de</strong> cirurgia pélvica do HC/<strong>UFMG</strong>, <strong>em</strong> 2002, fomos nosaproximando da realida<strong>de</strong> das mulheres portadoras <strong>de</strong> câncerginecológico – <strong>em</strong> especial <strong>de</strong> colo, <strong>de</strong> ovário, <strong>de</strong> endométrio,entre outros. Surgia aí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> implantarmos aConsulta da Enfermeira para essa clientela, numa concepçãoque a cont<strong>em</strong>plasse não apenas como uma pelve a ser tratada,mas também como mulher, mãe, trabalhadora, enfim, como umser integral, <strong>em</strong> todos os momentos por ela vivenciados natrajetória do tratamento do câncer.Foi sob essa ótica que as Enfermeiras dos serviços d<strong>em</strong>astologia e cirurgia pélvica <strong>de</strong>senvolveram um protocolounificado, visando cont<strong>em</strong>plar a não somente as pacientes comcâncer <strong>de</strong> mama ou pélvico, mas mulheres que trabalham,sonham, sofr<strong>em</strong>, enfim, viv<strong>em</strong> como todas as outras.Objetivos• Apresentar um protocolo <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> unificado, quecont<strong>em</strong>ple as necessida<strong>de</strong>s da mulher com câncerginecológico e <strong>de</strong> mama como ser integral;• Sist<strong>em</strong>atizar e documentar a Assistência da Enfermeiraprestada a essas mulheres;• Incentivar a formação <strong>de</strong> novos núcleos s<strong>em</strong>elhantes, atravésda divulgação da experiência vivida pelas autoras, visando aoaumento da cobertura preventiva para neoplasiasginecológicas na população f<strong>em</strong>inina brasileira.O ProtocoloPara atingir os objetivos almejados pelas Enfermeiras, foi<strong>de</strong>senvolvido um protocolo unificado (Anexo I), que fosse capaz<strong>de</strong> cont<strong>em</strong>plar as mulheres com câncer <strong>de</strong> mama e/ouginecológico.Na construção do protocolo unificado foi utilizado o mo<strong>de</strong>loaté então <strong>em</strong>pregado no Serviço <strong>de</strong> Mastologia do HC/<strong>UFMG</strong>.A partir daí foram avaliadas as necessida<strong>de</strong>s comuns entre asusuárias <strong>de</strong>sse serviço e as mulheres com câncer ginecológico,sendo garantido no protocolo um espaço para os pontosespecíficos <strong>de</strong> cada serviço.Mediante essa avaliação, foi <strong>de</strong>senvolvido um protocolo <strong>de</strong>Enfermag<strong>em</strong> unificado, que se encontra anexado a estetrabalho. O protocolo se divi<strong>de</strong> <strong>em</strong>: (1) História: hábitosalimentares, eliminação vesical e intestinal, hábitos <strong>de</strong> sono,repouso e lazer, sexualida<strong>de</strong>, sintoma inicial, históriaginecológica pregressa, sintomas durante o curso, presença <strong>de</strong>fadiga, alterações do humor e cognição, forma clínica evolutiva,sintomas atuais, tratamentos prévios, uso <strong>de</strong> medicação (vias,doses, grau <strong>de</strong> adaptação), capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência paraas ativida<strong>de</strong>s da vida diária (alimentar-se, realizar cuidadoshigiênicos, vestir-se, <strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>s domésticas).(2)Exame físico: ectoscopia, postura, peso, estatura, estadonutricional, linguag<strong>em</strong>, humor, cooperação, respiração, sinaisvitais, estado do abdome, m<strong>em</strong>bros (pele, circulação,musculatura e articulações). (3) Intervenção: orientação para oautocuidado e encaminhamentos (fisioterapia, psicologia,serviço social entre outros), orientação ambulatorial para o pré,trans e pós-operatório imediato, visitas pré e pós-operatóriasna unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> internação, orientações para alta domiciliar. (4)Avaliação ambulatorial pós cirúrgica: avaliação do grau <strong>de</strong>in<strong>de</strong>pendência, da qualida<strong>de</strong> do autocuidado domiciliar,avaliação da ferida operatória, retirada <strong>de</strong> pontos, curativos eencaminhamentos. (5) Tratamento compl<strong>em</strong>entar: orientaçãopara quimioterapia, radioterapia, braquiterapia,quimioirradiação.Consi<strong>de</strong>rações FinaisA expectativa das autoras com relação ao Protocolounificado é <strong>de</strong> que sejam garantidas orientações sist<strong>em</strong>atizadase uniformes a todas as mulheres com câncer ginecológico / d<strong>em</strong>amas <strong>em</strong> tratamento no Ambulatório do HC. Será possível,<strong>de</strong>ssa forma, proporcionar a todas elas, <strong>em</strong> última instância,melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida/sobrevida, uma vez que clientes b<strong>em</strong>orientadas são menos passíveis <strong>de</strong> complicações duranteo tratamento.A unificação do protocolo <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>, o registro dasinformações/orientações fornecidas e as impressões daEnfermeira colhidas durante o atendimento a essa clientelaproporcionarão mais condições para avaliar a evolução dasmulheres durante o tratamento, b<strong>em</strong> como oferecerãosubsídios para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> futuros trabalhos,baseados nos registros dos atendimentos.Em nossa opinião, o ponto mais importante <strong>de</strong>ssa novaproposta é vislumbrarmos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a mulher (esua família) tome consciência sobre seu probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> formalúcida, com simplicida<strong>de</strong> e tranqüilida<strong>de</strong>, se posicione diante domesmo e assuma, <strong>de</strong>finitivamente, as ré<strong>de</strong>as <strong>de</strong> seutratamento, <strong>de</strong> seu corpo e <strong>de</strong> sua vida.SummaryThis is a report on the experience of impl<strong>em</strong>entation of a nursingconsultation protocol for women diagnosed with gynecologiccancer, carried out by nurses on the mastology andoncogynecology team of the University Hospital of the <strong>UFMG</strong>, atthe Carlos Chagas Ambulatory.This study intends to publish a unified protocol for the nursingteam when examining patients with breast and gynecologiccancer, thereby providing educational and curative actions forthese patients, as well as promoting self-cure andmultidisciplinary integration.- Rev. Min. Enf., 7(2):156-62, jul./<strong>de</strong>z., 2003157


EM BUSCA DE UM OLHAR INTEGRAL: IMPLEMENTAÇÃO DO PROTOCOLO DE CONSULTA DE ENFERMAGEM NOATENDIMENTO A MULHERES COM CÂNCER GINECOLÓGICO NO HC/<strong>UFMG</strong>Keyword: Referral and Consultation; Oncologic Nursing;Nursing; F<strong>em</strong>ale Genital Neoplasm / NursingResumenSe trata <strong>de</strong>l relato <strong>de</strong> una experiencia <strong>de</strong> implantación <strong>de</strong>lprotocolo para Consulta <strong>de</strong> Enfermería a las mujeresportadoras <strong>de</strong> cáncer ginecológico, realizado entre lasenfermeras integrantes <strong>de</strong> los equipos <strong>de</strong> ginecologíaoncológica y mastología <strong>de</strong>l Ambulatorio Carlos Chagas(ACC) <strong>de</strong>l HC/<strong>UFMG</strong>. El presente trabajo tiene comoobjetivo divulgar la puesta en marcha <strong>de</strong> un protocolounificado para las consultas realizadas por enfermeras a laspacientes con cáncer ginecológico y mamario, promoviendoacciones educativas y curativas a estas mujeres, con mirastambién a promover el auto-cuidado, ad<strong>em</strong>ás <strong>de</strong> laintegración multiprofesional.Palabras clave: R<strong>em</strong>ision y Consulta; EnfermeriaOncologica; Evaluacion en Enfermeria; Neoplasma <strong>de</strong> losGenitales F<strong>em</strong>eninos / EnfermeriaReferências bibliográficas1. OPAS. Repartição Sanitária Pan-Americana. Manual <strong>de</strong>normas e procedimentos para o controle do câncer cérvicouterino.Nova Iorque: Escritório Regional da OMS; 1985.95p. (Série PALTEX para coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong> programas <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>, n.º 6)2. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Instituto Nacional do Câncer.Controle do câncer: uma proposta <strong>de</strong> integração ensinoserviço.3ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro; 1999.3. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Instituto Nacional do Câncer.Estimativa <strong>de</strong> incidência e mortalida<strong>de</strong> por câncer no Brasil2000. Rio <strong>de</strong> Janeiro; 2000.4. Silva MFSS. Mastologia: o papel da enfermeira na equip<strong>em</strong>ultidisciplinar. In: Chaves IG. Mastologia: aspectosmultidisciplinares. Rio <strong>de</strong> Janeiro: MEDSI; 1999. p.309-321.158 - Rev. Min. Enf., 7(2):156-62, jul./<strong>de</strong>z., 2003


EM BUSCA DE UM OLHAR INTEGRAL: IMPLEMENTAÇÃO DO PROTOCOLO DE CONSULTA DE ENFERMAGEM NOATENDIMENTO A MULHERES COM CÂNCER GINECOLÓGICO NO HC/<strong>UFMG</strong>ANEXO IUNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS HOSPITAL DAS CLÍNICAS – <strong>UFMG</strong>SERVIÇO DE ONCOLOGIA GINECOLÓGICAI- IDENTIFICAÇÃOData: ........../.............../..........Nome: ............................................ Registro: ............... Data <strong>de</strong> nascimento: ......./..…./..……...Ida<strong>de</strong>:...... anos Raça: ( ) branca ( ) parda ( ) negra ( ) orientalNaturalida<strong>de</strong>: ........................................................................................... Estado: .……..............Procedência: ...........................................................................................................………...........En<strong>de</strong>reço: ...................................................................................... Bairro: .............………..........Cida<strong>de</strong>: ................................................................................ Estado: ................ CEP: …….........Telefones para contato: 1- ...................................................2-...................................................3- ...................................................Estado civil: ( ) casada ( ) solteira ( ) separada ( ) viúva ( ) u.estávelFilhos? ( ) não ( ) sim quantos? ......................Nome do companheiro .........................................................................................................<strong>Escola</strong>rida<strong>de</strong> formal: ( ) nenhuma ( ) fundamental ( ) médio ( ) superiorProfissão:.............................................................................................................................II-ASPECTO BIOFÍSICOMenarca: ......... anos Ciclo ( ) irregular ( ) regular ............ diasFluxo: ( ) normal ( ) diminuído ( ) aumentado............. absorventes/diaControle ginecológico: ❑ Não ❑ Sim Periodicida<strong>de</strong> .........……………….........Vida sexual ativa? ❑ Não ❑ SimInício da ativida<strong>de</strong> sexual ........... anos Método contraceptivo <strong>em</strong> uso: ...........…………...........Usa Preservativo? ❑ Não ❑ SimJá engravidou? ❑ Não ❑ Sim G..P..A.. ( )PN ( )PC ( )PFDeseja ter mais filhos? ❑ Não ❑ SimClimatério ❑ Não ❑ Sim ........................ anosManifestações ❑ Não ❑ Sim❑ Estresse ❑ Calor ❑ Irritação ❑ Retenção hídrica ❑ Outras .............……...............Menopausa aos ........... anos Faz/fez TRH? ❑ Não ❑ Sim ....................……………..Queixas? ❑ Não ❑ Sim ..............................................Sexualida<strong>de</strong> / libido ( ) normal ( )diminuída ( )frigi<strong>de</strong>z ( )outras .............…III- PERFIL BIOPSICOSSOCIALAlimentação: ❑ caseira ❑ industrializada ...............................................…….................❑ via oral ❑ parenteral ❑ por sonda ............................……....................Ing. hídrica: ❑ preservada ❑ diminuída ❑ aumentada ....………........................................Sente algum probl<strong>em</strong>a para alimentar-se? ❑ Não ❑ Sim ...........................................Tabus / intolerâncias? ❑ Não ❑ Sim ...........................................Fuma? ❑ Não ❑ Sim Quantos cigarros por dia? ..........................- Rev. Min. Enf., 7(2):156-62, jul./<strong>de</strong>z., 2003159


EM BUSCA DE UM OLHAR INTEGRAL: IMPLEMENTAÇÃO DO PROTOCOLO DE CONSULTA DE ENFERMAGEM NOATENDIMENTO A MULHERES COM CÂNCER GINECOLÓGICO NO HC/<strong>UFMG</strong>Bebe? ❑ Não ❑ Sim Quantos ml por dia? ...................................T<strong>em</strong> alergia? ❑ Não ❑ Sim A quê? ........................................................Medicam. <strong>em</strong> uso? ❑ Não ❑ Sim Qual? ..........................................................Desconforto físico? ❑ Não ❑ Sim Qual? .......................................................O que faz para aliviar? .......................................................................................................Já internou-se alguma vez? ❑ Não ❑ Sim Quando /On<strong>de</strong>?....…….................Por quê? ..............................................................................................................................Pratica exercícios físicos? ❑ Não ❑ Sim Qual? .......................................Religião:.............................. Lazer: ...................................................................................Com qu<strong>em</strong> vive? .................................................................................................................Como é o relacionamento entre vocês? ...............................................................................Função respiratória: ❑ preservada ❑ alterada ..................................................................Eliminação renal: ❑ preservada ❑ alterada ..................................................................Eliminação intestinal: ❑ preservada ❑ alterada .................................................................Sono ❑ preservado ❑ aumentado ❑ diminuído ...................................Após o sono, sente-se pronto para as ativida<strong>de</strong>s diárias? ❑ Sim ❑ Não ...........................Conhecimento da doença? ❑ Não ❑ Sim O quê? ...........................................IV- ASPECTO PSICOEMOCIONALCaracterística: ❑ coloquial ❑ verborréico ❑ per<strong>de</strong>-se nas perguntas❑ expressivo ❑ sintetiza idéias ❑ passivoEntendimento <strong>de</strong> idéias/perguntas ❑ precário ❑ parcial ❑ totalVocabulário ❑ nervoso ❑ relaxado ❑ assertivo ❑ passivoApresentação pessoal ❑ boa ❑ regular ❑ máSentimentos <strong>em</strong> relação à vida e ao momento que está vivendo: ............................................Percepção da Enfermeira: .....................................................................................................V- EXAME FÍSICO ESPECÍFICOEstado geral ( ) bom ( ) regular ( ) mau ........................................................Facies ( ) normal ( ) alterada tipo ..................................................................Dor ( ) não ( ) sim ...............................................................................Postura: ( ) ereta ( ) boa ( ) sofrível ( ) máPeso aparente ( ) normal ( ) magro ( ) obesaG. consciência ( ) alerta ( ) obnubilada ( ) torpor ( ) comaGrau <strong>de</strong> cooperação ( ) cooperativo ( ) não cooperativaLesões pele / úlceras <strong>de</strong> pressão ❑ Não ❑ SimSinais vitais: PA ............. ... T. .............. P ....... ............ R .........................Observações ......................................................................................................................VI- PROPOSTA TERAPÊUTICA:Diagnóstico .........................................................................................................................❑ Cirurgia ........................................................................................................................❑ Quimioterapia .................................................................................................................❑ Radioterapia ..................................................................................................................❑ Outros ..............................................................................................................................Observações: .......................................................................................................................Decidido <strong>em</strong> reunião clínica <strong>em</strong>: ........../............./...........160 - Rev. Min. Enf., 7(2):156-62, jul./<strong>de</strong>z., 2003


EM BUSCA DE UM OLHAR INTEGRAL: IMPLEMENTAÇÃO DO PROTOCOLO DE CONSULTA DE ENFERMAGEM NOATENDIMENTO A MULHERES COM CÂNCER GINECOLÓGICO NO HC/<strong>UFMG</strong>VII- AÇÕES DA ENFERMEIRA❑ Orient. pré-operatórias ❑ Orient. Radioterapia ❑ Orient. QuimioterapiaEncaminhamentos ❑ S. social ❑ Psicologia❑ Fisioterapia ❑ Farmácia ❑ OutrosDiagnóstico / intervenções .................................................................................................Assinatura/ COREN-MG.................................................... Data.........../............/............VIII- VISITA NA UNIDADE DE INTERNAÇÃOPré-operatória?❑ Não ❑ Sim Data ........../.........../............Pós-operatória?❑ Não ❑ Sim Data ........../.........../............Experiência quanto à internação :Cuidados/ equipe <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> ( ) precário ( ) razoável ( ) bom ( )ótimoRelacionamento com outros clientes ( ) precário ( ) razoável ( ) bom ( )ótimoSentimentos <strong>em</strong> relação ao momento vivenciado: .............................................................Impressão da Enfermeira: ....................................................................................................Assinatura/ COREN: ....................................................................... Data: ........./........./........IX- AVALIAÇÃO DE ENFERMAGEM PÓS-CIRURGIA (AMBULATORIAL)Apresenta úlceras <strong>de</strong> pressão/lesões cutâneas ❑ Não ❑ Sim ................................Possui sondas, drenos ou ostomias? ❑ Não ❑ Sim .................................AUTOCUIDADO DOMICILIARCuidador: ............................................................................................................................Grau <strong>de</strong> parentesco: .............................................................................................................Realiza cuidados higiênicos ❑ s<strong>em</strong> ajuda ❑ ajuda parcial ❑ totalmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteDeita-se sobre o lado/área operada ❑ Não ❑ SimUsa algum tipo <strong>de</strong> prótese ❑ Não ❑ Sim ..............................................Lava a área operada ❑ Não ❑ SimUsa sabão ❑ Não ❑ Sim ...............................................Utiliza outras substâncias ❑ Não ❑ Sim ...............................................Seca a área da sutura s<strong>em</strong> esfregar ❑ Não ❑ SimMantém a área <strong>de</strong> sutura ❑ Exposta ❑ OcluídaUsa alguma cobertura especial ❑ Não ❑ Sim ...............................................CARACTERÍSTICAS DA ÁREA OPERADASinais flogísticos ❑ Não ❑ Sim ❑ Calor ❑ Rubor❑ Prurido ❑ Dor ❑ Secreção ❑ Deiscência ❑ Dormência❑ Seroma❑ H<strong>em</strong>atomaCARACTERÍSTICAS DO BRAÇO HOMÓLOGO❑ Calor ❑ Rubor ❑ Prurido❑ Dor ❑ Ed<strong>em</strong>a ❑ Postura tensa❑ Postura relaxada ❑ Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilização ❑ Unhas muito curtas- Rev. Min. Enf., 7(2):156-62, jul./<strong>de</strong>z., 2003161


EM BUSCA DE UM OLHAR INTEGRAL: IMPLEMENTAÇÃO DO PROTOCOLO DE CONSULTA DE ENFERMAGEM NOATENDIMENTO A MULHERES COM CÂNCER GINECOLÓGICO NO HC/<strong>UFMG</strong>❑ R<strong>em</strong>oção <strong>de</strong> cutículas❑ EscoriaçõesCONDUTA DE ENFERMAGEM❑ Curativo ❑ Retirada <strong>de</strong> ponto total ❑ Retirada <strong>de</strong> ponto alternado❑ Hidratação da pele ❑ Enfaixamento ❑ Orientação <strong>de</strong> autocuidadoEncaminhamentos: ❑ Assistência Social ❑ Psicologia❑ Fisioterapia ❑ Farmácia ❑ OutroObservações: ......................................................................................................................Impressão da Enfermeira: ..................................................................................................Assinatura/ Coren ............................................................... Data: ........../........../.........X- ORIENTAÇÕES PARA TRATAMENTO COMPLEMENTARResultado do exame anatomopatológico: ...............................................................................❑ Quimioterapia ( ) não foi indicada ( ) não realizada .............................( ) orientação realizada <strong>em</strong> ...../......./.......❑ Radioterapia ( ) não foi indicada ( ) não realizada ..............................( ) orientação realizada <strong>em</strong> ...../......./.......❑ Outros ..............................................................................................................................Observações: .......................................................................................................................Assinatura/ Coren ............................................................... Data: ........../........../.........162 - Rev. Min. Enf., 7(2):156-62, jul./<strong>de</strong>z., 2003


CONSULTORES/PARECERISTAS - REME - 2003• Aidê Ferreira Ferraz• Andréa Gazzinelli Corrêa <strong>de</strong> Oliveira• Clarice Marcolino• Daclé Vilma Carvalho• Edna Maria <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong>• Francisco Carlos Félix Lana• Jorge Gustavo Velasquez Melen<strong>de</strong>z• Lélia Maria Ma<strong>de</strong>ira• Maria Lígia Mohallen Carneiro• Maguida Costa Stefanelli• Maria Édila Abreu Freitas• Maria Imaculada <strong>de</strong> Fátima Freitas• Marília Alves• Matil<strong>de</strong> Meire Miranda Ca<strong>de</strong>te• Mërcia Heloísa Ferreira Cunha• Roseni Rosângela <strong>de</strong> Sena• Sônia Maria Soares• Tânia Couto Machado Chianca- Rev. Min. Enf., 7(2):163, jul./<strong>de</strong>z., 2003163


Normas <strong>de</strong> Publicação1. A REME - Revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> é umapublicação da REDE DE ESCOLAS DE ENFERMA-GEM DE MINAS GERAIS, com periodicida<strong>de</strong>s<strong>em</strong>estral, t<strong>em</strong> por finalida<strong>de</strong> contribuir paraa produção, divulgação e utilização do conhecimentoproduzido na enfermag<strong>em</strong> e áreas correlatas,abrangendo as t<strong>em</strong>áticas ensino, pesquisae assistência.2. A REME t<strong>em</strong> a seguinte estrutura: Editorial; ArtigosOriginais, Resumos <strong>de</strong> Teses e Dissertações,Relatos <strong>de</strong> Experiência, Atualização e Revisão);Notas e Informações (atualização <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong>e <strong>em</strong> áreas afins, notas <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> investigação,resenhas e notícias diversas); Normas<strong>de</strong> publicação.3. Os trabalhos recebidos serão analisados peloCorpo Editorial da REME, que se reserva o direito<strong>de</strong> aceitar ou recusar os trabalhos submetidos.4. Os trabalhos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser encaminhados <strong>em</strong> disquete,programa “Word for Windows”, <strong>versão</strong> 6.0 ousuperior, letra “Times New Roman”, tamanho 12,digitados <strong>em</strong> espaço duplo, <strong>em</strong> duas vias, impressas<strong>em</strong> papel padrão ISO A4 (212 x 297 mm), commargens <strong>de</strong> 25 mm, padrão carta ou a laser, limitando-sea 20 laudas, incluindo título, texto, agra<strong>de</strong>cimentos,referências, tabelas, legendas e ilustrações.Dev<strong>em</strong> vir acompanhadas <strong>de</strong> ofício <strong>de</strong>encaminhamento contendo nome dos autores,en<strong>de</strong>reço para correspondência, e-mail, telefone efax, e ser<strong>em</strong> en<strong>de</strong>reçados à REME.5. A primeira página <strong>de</strong>verá conter o título do trabalho;nomes dos autores, com o grau acadêmicomais alto e instituição, en<strong>de</strong>reço para correspondênciae entida<strong>de</strong>s financiadoras (alocadas <strong>em</strong>nota <strong>de</strong> rodapé); resumos e palavras-chave.O título, resumo e palavras-chave <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser <strong>em</strong>português, inglês e espanhol. As versões doresumo <strong>em</strong> inglês e espanhol <strong>de</strong>verão vir no finaldo trabalho, antes das referências bibliográficas.O resumo <strong>de</strong>ve conter, no máximo, 100 palavras.6. Os <strong>de</strong>senhos e gráficos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser apresentados<strong>em</strong> papel vegetal, fotografias e/ou “sli<strong>de</strong>s” <strong>em</strong>branco e preto numerados, indicando o local a serinserido no texto; abreviaturas, gran<strong>de</strong>zas, símbolos,unida<strong>de</strong>s e referências bibliográficas <strong>de</strong>v<strong>em</strong>observar as Normas Internacionais <strong>de</strong> Publicação.7. Para efeito <strong>de</strong> normalização, serão adotados osRequerimentos do Comitê Internacional <strong>de</strong> Editores<strong>de</strong> Revistas Médicas. Estas normas po<strong>de</strong>rãoser encontradas na íntegra nas seguintes publicações:International Committé of Medical Journal.Editors, Uniforms requeriments for manuscriptssubmitted to biomedical journals; Can. Med.Assoc. J. 1995; 152(9):1459-65 e <strong>em</strong> espanhol, noBol. Of. Sanit. Panam. 1989; 107 (5): 422-31.8. Todo trabalho <strong>de</strong>verá ter a seguinte estruturae ord<strong>em</strong>:a) título (com tradução para inglês e espanhol);b) nome completo do autor (ou autores), acompanhado(s)<strong>de</strong> seu(s) respectivos(s) título(s);c) resumo do trabalho <strong>em</strong> português, s<strong>em</strong> exce<strong>de</strong>rum limite <strong>de</strong> 100 palavras;d) Palavras-chave (três a <strong>de</strong>z), <strong>de</strong> acordo com alista Medical Subject Headings (MeSH) do In<strong>de</strong>xMedicus;e) texto: introdução, material e método ou <strong>de</strong>scriçãoda metodologia, resultados, discussão e/oucomentários e conclusões;f) Resumo <strong>em</strong> língua inglesa (Summary) e espanhola(Resumen), consistindo na correta <strong>versão</strong>do resumo para aquelas línguas;g) Key-words/Palabras-clave (palavras-chave<strong>em</strong> língua inglesa e espanhola) <strong>de</strong> acordo coma lista Medical Subject Headings (MeSH) doIn<strong>de</strong>x Medicus;h) Agra<strong>de</strong>cimentos (opcional)i) Referências bibliográficas como especificado noit<strong>em</strong> 10.k) En<strong>de</strong>reço do autor para correspondências9. As ilustrações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser colocadas imediatamenteapós a referência a elas. Dentro <strong>de</strong> cada categoria<strong>de</strong>verão ser numeradas seqüencialmentedurante o texto. Ex<strong>em</strong>plo: (Tab. 1, Fig. 1, Gráf. 1).Cada ilustração <strong>de</strong>ve ter um título e a fonte <strong>de</strong>on<strong>de</strong> foi extraída. Cabeçalhos e legendas <strong>de</strong>v<strong>em</strong>ser suficient<strong>em</strong>ente claros e compreensíveis s<strong>em</strong>necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consulta ao texto. As referênciasàs ilustrações no texto <strong>de</strong>verão ser mencionadasentre parênteses, indicando a categoria e onúmero da ilustração. Ex: (Tab. 1). As fotografias<strong>de</strong>verão ser <strong>em</strong> preto e branco, apresentadas <strong>em</strong>envelope à parte, ser<strong>em</strong> nítidas e <strong>de</strong> bom contraste,feitas <strong>em</strong> papel brilhante e trazer no verso:nome do autor, título do artigo e número com queirão figurar no texto.10. As referências bibliográficas são numeradasconsecutivamente, na ord<strong>em</strong> <strong>em</strong> que são mencionadaspela primeira vez no texto. São apresentadas<strong>de</strong> acordo com as normas do ComitêInternacional <strong>de</strong> Editores <strong>de</strong> Revistas Médicas,citado no it<strong>em</strong> 5. Os títulos das revistas sãoabreviados <strong>de</strong> acordo com o In<strong>de</strong>x Medicus, napublicação "List of Journals In<strong>de</strong>xed in In<strong>de</strong>xMedicus", que se publica anualmente comoparte do número <strong>de</strong> janeiro, <strong>em</strong> separata. Asreferências no texto <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser citadas mediantenúmero arábico, correspon<strong>de</strong>ndo às referênciasno final do artigo. Nas referências bibliográficas,citar como abaixo:10.1 PERIÓDICOSa) Artigo padrão <strong>de</strong> revista. Incluir o nome <strong>de</strong>todos os autores, quando são seis ou menos.Se são sete ou mais, anotar os três primeiros,seguidos <strong>de</strong> et al.Nascimento ES Compreen<strong>de</strong>ndo o quotidiano<strong>em</strong> saú<strong>de</strong>. Enf Rev 1995; 2(4): 31-8.b) Autor corporativo:The Royal Mars<strong>de</strong>n Hospital Bone-MarrowTransplantation Team. Failure os syngeneicbone-marrow graft without preconditioningin post hepatitis marrow aplasia. Lancet 1977;2:242-4.c) S<strong>em</strong> autoria (entrar pelo título):Coffee drinking and cancer of the pancreas(Editorial). Br Med J 1981; 283: 628-9.d) Supl<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> revista:Mastri AR. Neuropathy of diabetic neurogenicblad<strong>de</strong>r. Ann Intern Med 1980; 92 (2pte 2):316-8.Frumin AM, Nussabaum J, Esposito M.Functional asplenia: d<strong>em</strong>onstration of esplenicactivity by bone marrow sean (resum<strong>em</strong>). Blood1979; 54 (supl. 1): 26ª.10.2 LIVROS E OUTRAS MONOGRAFIASa) Autor(es) - pessoa física:Rezen<strong>de</strong> ALM, Santos GF, Cal<strong>de</strong>ira VP,Magalhães ZR. Ritos <strong>de</strong> morte na l<strong>em</strong>brança<strong>de</strong> velhos. Florianópolis: Editora da UFSC,1996:156.b) Editor, compilador, coor<strong>de</strong>nador como autor:Griffith-Kenney JW, Christensen PJ, eds. Nuringprocess: application of theories, frameworks andmo<strong>de</strong>ls. A multifocal approach to individuals,families and communities. St. Louis: Mosby;1986: 429.10.2.1- Capítulo <strong>de</strong> livro:Chompré RR, Lange I, Monterrosa E. Politicalchallenges for nursing in Latin America. The nextcentury. In: Fagin CM, ed. Nursing lea<strong>de</strong>rshipglobal strategies: International NursingDevelopment of the 21St. Century. New York:National League for Nursing; 1990: 221-28.10.2.2 - Trabalhos apresentados <strong>em</strong> congressos,s<strong>em</strong>inários, reuniões etc.:Cunha MHF, Jesus MCP, Peixoto MRB. Ahermenêutica e as pesquisas qualitativas <strong>em</strong>Enfermag<strong>em</strong>. In: Anais do 48º CongressoBrasileiro <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>. 1996, 460. SãoPaulo: Associação Brasileira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>;1996.10.2.3 - Monografia que forma parte <strong>de</strong> umasérie:Bailey KD. Typologies and taxonomies: anintroduction to classification techniques. In:Lewis-Beck MS, ed. Quantitative applicationin the Social Sciences. Thousand-Oaks: Sagepublications; 1994: 7-102.10.2.4 - Publicação <strong>de</strong> um organismo:Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Portaria 196, <strong>de</strong> 24<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1983. Brasília; 1983:5.10.3 - TESESChianca TCM. Análise sincrônica e diacrônica <strong>de</strong>falhas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> pós-operatório imediato.(Tese <strong>de</strong> doutorado). Ribeirão Preto, SãoPaulo: Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo; 1997; 151.10.4 - ARTIGO DE JORNALChompré RR, Lange I. Interes y dificulda<strong>de</strong>s pararealizar estudios <strong>de</strong> maestria y doutorado enenfermería <strong>de</strong> America Latina: Horizonte <strong>de</strong>Enfermería, Santiago, 1990; Ano 1:1.10.5 - ARTIGO DE REVISTA (não científica)Neves MA et al. Técnicas <strong>de</strong> limpeza e <strong>de</strong>sinfecçãoda sala <strong>de</strong> operação: estudo da eficáciaapós cirurgia infectada. Ars Cyrandi Hosp 1986;4:15-23.11. Agra<strong>de</strong>cimentos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> constar <strong>de</strong> parágrafo àparte, colocado antes das referências bibliográficas,após as key-words.12. As medidas <strong>de</strong> comprimento, altura, peso e volume<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser expressas <strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s do sist<strong>em</strong>amétrico <strong>de</strong>cimal (metro, quilo, litro) ou seusmúltiplos e submúltiplos. As t<strong>em</strong>peraturas <strong>em</strong>graus Celsius. Os valores <strong>de</strong> pressão arterial <strong>em</strong>milímetros <strong>de</strong> mercúrio. Abreviaturas e símbolos<strong>de</strong>v<strong>em</strong> obe<strong>de</strong>cer padrões internacionais. Ao<strong>em</strong>pregar pela primeira vez uma abreviatura, esta<strong>de</strong>ve ser precedida do termo ou expressão completos,salvo se se tratar <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> d<strong>em</strong>edida comum.13. Os casos omissos serão resolvidos pela CorpoEditorial.14. A publicação não é responsável pelas opiniões<strong>em</strong>itidas nos artigos.15. Os artigos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser enviados para:At/REME - Revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong><strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da U.F.M.G.,Av. Alfredo Balena, 190, sala 607CEP: 30130-100 • Belo Horizonte - MGTel:. (31) 3248-9876164 - Rev. Min. Enf., 7(2):164, jul./<strong>de</strong>z., 2003

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