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versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

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O ADOLESCENTE E A VIVÊNCIA DA PATERNIDADE: UMA ABORDAGEM FENOMENOLÓGICAOs adolescentes que participaram <strong>de</strong>ste estudo foramabordados no Ambulatório da FAIS/HSF, ao acompanhar<strong>em</strong> asadolescentes grávidas no Grupo <strong>de</strong> Adolescentes e na consultapré-natal. As entrevistas foram realizadas <strong>em</strong> local privado, livre<strong>de</strong> influências externas. Antes, porém, do processo <strong>de</strong>entrevista, procuramos aten<strong>de</strong>r às exigências do ConselhoNacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, respaldando-nos na Resolução 196/96,que trata <strong>de</strong> pesquisas envolvendo seres humanos. Apósapresentação sucinta da pesquisa, os sujeitos foramconvidados a participar do estudo, sendo informados sobre anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter o seu consentimento por escrito. Asentrevistas foram conduzidas com o uso do gravador, conformeaquiescência dos participantes.Com o intuito <strong>de</strong> preservar o sigilo das informações e oanonimato dos participantes do estudo, seus nomesverda<strong>de</strong>iros foram substituídos por pseudônimos, figurasmasculinas da mitologia grega.O critério utilizado para <strong>de</strong>finir os sujeitos <strong>de</strong>sse estudoconsistiu apenas no fato <strong>de</strong> ser adolescente do sexo masculinoe estar à espera do nascimento do filho, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>ter outros filhos, do seu estado civil, da escolarida<strong>de</strong> ou daida<strong>de</strong> gestacional da companheira.No estudo fenomenológico não existe um número <strong>de</strong> sujeitospré-<strong>de</strong>terminado; por esse motivo a <strong>de</strong>limitação da quantida<strong>de</strong><strong>de</strong> adolescentes ouvidos durante a realização <strong>de</strong>ste trabalhobaseou-se na repetição <strong>de</strong> conteúdos <strong>de</strong> seus relatos, ou seja,na saturação dos dados.Foram, então, entrevistados seis adolescentes, os quaisforam <strong>de</strong>nominados: Dionísio, Apolo, Ulisses, Hércules, Eros eSansão. Possuíam ida<strong>de</strong> entre 16 e 19 anos e eram solteiros.Quanto à escolarida<strong>de</strong> Dionísio e Eros possuíam ensinofundamental incompleto e os d<strong>em</strong>ais ensino médio incompleto,sendo que apenas Ulisses e Eros continuavam os estudos. Amaioria dos adolescentes exercia ativida<strong>de</strong> r<strong>em</strong>unerada, comopintor, moto-boy, auxiliar <strong>de</strong> escritório, ven<strong>de</strong>dor, enquantoApolo e Hércules estavam <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados. Todos aguardavamo nascimento do primeiro filho e suas companheiras eram todasadolescentes.Os <strong>de</strong>poimentos dos adolescentes foram transcritos, asunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significado grifadas e numeradas <strong>de</strong> acordo com aquestão norteadora. Com o enfoque no fenômeno situado,apreend<strong>em</strong>os as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significado para revelar seusverda<strong>de</strong>iros sentidos 9 . Dessa maneira, foram construídas, pormeio do conteúdo dos discursos, as seguintes unida<strong>de</strong>st<strong>em</strong>áticas: A espera do filho como uma experiência agradável;Amadurecendo com a paternida<strong>de</strong>; Assumindo a paternida<strong>de</strong>;A família como suporte necessário; Ambivalência<strong>de</strong> sentimentos.A CONSTRUÇÃO DOS RESULTADOSA espera do filho como uma experiência agradávelOs discursos revelam que os adolescentes perceb<strong>em</strong> agravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> sua companheira como uma experiência agradável,d<strong>em</strong>onstrando b<strong>em</strong>-estar e alegria por vivenciar<strong>em</strong> ess<strong>em</strong>omento <strong>de</strong> espera pelo nascimento do filho. Reconhec<strong>em</strong> quea gravi<strong>de</strong>z trouxe mudanças significativas para suas vidas,assim como para a vida <strong>de</strong> sua parceira, e revelam suasatisfação a partir da gravi<strong>de</strong>z.A satisfação d<strong>em</strong>onstrada pelos jovens pais foi referida aoacompanhar<strong>em</strong> suas parceiras às consultas <strong>de</strong> pré-natal e àsreuniões do Grupo <strong>de</strong> Adolescentes, sendo também, referida aconcretização do sonho <strong>de</strong> constituir uma família. A espera donascimento do filho fez com que os adolescentes adquiriss<strong>em</strong>responsabilida<strong>de</strong>; que tomass<strong>em</strong> <strong>de</strong>cisões, enfim, permitiu quetraçass<strong>em</strong> uma direção <strong>em</strong> meio às alterações e conflitos<strong>de</strong>correntes da adolescência.A compreensão <strong>de</strong>sses discursos nos coloca <strong>em</strong> confrontocom a idéia <strong>de</strong> que os adolescentes não <strong>de</strong>sejam a paternida<strong>de</strong>nessa fase <strong>de</strong> suas vidas. Como apontam Trinda<strong>de</strong> e Bruns 10 , apaternida<strong>de</strong> proporciona sentimentos <strong>de</strong> alegria, perda,responsabilida<strong>de</strong>, já que o cotidiano dos adolescentes éatravessado <strong>de</strong> modo súbito pelo nascimento <strong>de</strong> um filho.Nesta pesquisa, <strong>em</strong> que abordamos adolescentes aindaconvivendo com a espera e possibilida<strong>de</strong> do nascimento dofilho, a situação, pelo que perceb<strong>em</strong>os <strong>em</strong> suas falas, ébastante similar à citada pelas referidas autoras. A paternida<strong>de</strong>,nesta pesquisa, foi d<strong>em</strong>onstrada como um evento inesperadoe, pela felicida<strong>de</strong> e satisfação proporcionada, revelou ter sido<strong>de</strong>sejada como uma experiência capaz <strong>de</strong> impulsionarmudanças, criar perspectivas, e concretizar realizaçõesinternas.“...pra mim está sendo uma experiência muitoboa...” (Ulisses)“Mudou muito. Para melhor, estou muito feliz.”(Dionísio)“Ah, eu achei bom, porque, assim é o que eus<strong>em</strong>pre quis ter, um lar, uma família, um filho,constituir uma família, eu acho bom, me sinto b<strong>em</strong>fazendo isso... não achei tão difícil, assim ... acheilegal, suficiente.” (Sansão)No discurso <strong>de</strong> Sansão perceb<strong>em</strong>os que esse primeiromomento da experiência da paternida<strong>de</strong>, representado pela“gravi<strong>de</strong>z do casal”, trouxe a idéia <strong>de</strong> que não seria tão difícilenfrentar esse processo, e, <strong>de</strong>ssa forma, exercer o papel <strong>de</strong> pai.Esse <strong>de</strong>poimento caracteriza a idéia pré-concebida do jov<strong>em</strong>,84 - Rev. Min. Enf., 7(2):82-8, jul./<strong>de</strong>z., 2003

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