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versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

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INFECÇÕES HOSPITALARES: REPENSANDO A IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃODAS MÃOS NO CONTEXTO DA MULTIRRESISTÊNCIA.iluminação natural, odores, calor, ruídos e sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> esgoto,mais do que a arquitetura pura e simplesmente estética,reduzindo drasticamente as taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 42% paraíndices inferiores a 2%, entre os soldados <strong>de</strong> guerra 4,5 .Após a implantação <strong>de</strong>ssas medidas <strong>de</strong> prevenção, Florence<strong>de</strong>screveu as estratégias relacionadas com o cuidado dopaciente e o ambiente hospitalar, e suas teorias constituíram abase do mo<strong>de</strong>rno controle <strong>de</strong> infecção hospitalar 4-5 .Na segunda meta<strong>de</strong> do século XIX, época marcada porgran<strong>de</strong>s guerras e epid<strong>em</strong>ias, verifica-se que as condiçõeshospitalares ainda eram <strong>de</strong>ploráveis. Se, por um lado, a cirurgiaalcança gran<strong>de</strong>s progressos relacionados à introdução daanestesia geral, fato este que possibilitou uma maior segurançado cirurgião <strong>em</strong> relação ao controle da dor no ato operatório,tornando as cirurgias menos traumáticas e mais complexas,com maior perícia e habilida<strong>de</strong> do cirurgião, por outro lado, noperíodo pós-operatório, as supurações cirúrgicas continuavama fazer um elevado número <strong>de</strong> vítimas.Tais eventos eram responsáveis pelas altas taxas d<strong>em</strong>ortalida<strong>de</strong>, chegando a 90% por ocasião <strong>de</strong> guerras eepid<strong>em</strong>ias. Relatos da ausência <strong>de</strong> qualquer cuidado com ahigienização <strong>de</strong> ambientes, mãos, instrumentais ou roupaspod<strong>em</strong> ser ilustrados pela <strong>de</strong>scrição que se segue, “oscirurgiões protegiam suas roupas durante as cirurgias comaventais, capotes ou toalhas, usando-os <strong>em</strong> todas as cirurgias,s<strong>em</strong> a troca. Carregavam <strong>em</strong> suas lapelas, bolsos e até na casados botões: agulhas, fios <strong>de</strong> sutura e instrumentos, porachar<strong>em</strong> mais cômodo, fácil <strong>de</strong> transportar e consi<strong>de</strong>rando opouco t<strong>em</strong>po que tinham, habituavam-se a segurar o bisturi naboca enquanto operavam” 1,3No início do século XX, as gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scobertas nas áreas damedicina tropical, da bacteriologia e da parasitologiapossibilitaram o conhecimento das formas <strong>de</strong> transmissão dasdoenças através <strong>de</strong> agentes infecciosos. Começou assim umaoutra batalha, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agentes que combatess<strong>em</strong> osmicrorganismos. E assim, no século passado, no início dosanos 30, surgiram os primeiros antibióticos e as décadas <strong>de</strong> 40e 50 foram conhecidas como a “era <strong>de</strong> ouro dos antibióticos” 6 .Tão rápido quanto sua <strong>de</strong>scoberta apareceram os efeitoscolaterais <strong>de</strong>ssas drogas e surgiram as cepas <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadosmicrorganismos resistentes, <strong>de</strong>correntes do seu uso in<strong>de</strong>vido 3,5-6 .Em meados <strong>de</strong> 1950 e início <strong>de</strong> 1960, registrou-se umapand<strong>em</strong>ia <strong>de</strong> Staphilococcus aureus, pelo uso irrestrito dosnovos antibióticos (penicilinas) recém-<strong>de</strong>scobertos e utilizadosindiscriminadamente no período pós-guerra. Na ocasião,acreditava-se que o probl<strong>em</strong>a das infecções hospitalares estavaresolvido, porém, o cenário mundial contradisse estapressuposição, trazendo à tona o gran<strong>de</strong> probl<strong>em</strong>a daresistência bacteriana aos agentes antimicrobianos(multirresistência) 1,3-6 .No Brasil, a situação das infecções hospitalares não édiferente dos relatos registrados no Primeiro Mundo,<strong>de</strong>spertando crescente interesse pelo assunto a partir <strong>de</strong> 1960,<strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> do aumento do número <strong>de</strong> casos, da resistência dosmicrorganismos e da alta mortalida<strong>de</strong> observada <strong>em</strong> todo omundo. Somadas a isso também se <strong>de</strong>stacaram as questões<strong>de</strong> âmbito psicossocial e econômico experimentadas pelosfamiliares <strong>de</strong> pacientes acometidos, como <strong>de</strong>sgaste <strong>em</strong>ocionaldo paciente, <strong>de</strong> sua família e o prejuízo social causado peloafastamento do trabalho e a redução da renda familiar 5,6 .A prevenção e o controle das infecções hospitalares <strong>de</strong>v<strong>em</strong>aten<strong>de</strong>r a exigências éticas inerentes à prestação da assistênciaà saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> das instituições e dosprofissionais envolvidos direta ou indiretamente neste processo,além <strong>de</strong> contribuir para a redução dos gastos hospitalares 6-10 .Retornando ao passado, um gran<strong>de</strong> avanço na prevençãodas infecções hospitalares foi a constatação da importância dalavag<strong>em</strong> das mãos pelos profissionais antes e após examinar<strong>em</strong>o doente 1,3-4 .Atualmente, acredita-se que uma proporção consi<strong>de</strong>ráveldas infecções hospitalares pod<strong>em</strong> ser evitadas, sendo alavag<strong>em</strong> das mãos ainda bastante importante neste contexto,pois os microrganismos mais associados à ocorrência <strong>de</strong> taisinfecções são pertencentes à microbiota transitória (adquiridaatravés dos contatos estabelecidos com pessoas colonizadasou infectadas e/ou com objetos contaminados). Essesmicrorganismos pod<strong>em</strong> ser eliminados através da lavag<strong>em</strong> dasmãos, sendo que, quando não realizada ou se realizada <strong>de</strong>forma ina<strong>de</strong>quada, constitui uma pr<strong>em</strong>issa básica para atransmissão <strong>de</strong> microrganismos 7,8,9 .Entretanto, mais <strong>de</strong> um século e meio após a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong>S<strong>em</strong>melweis sobre a importância <strong>de</strong>ssa medida, ainda existeuma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> impl<strong>em</strong>entá-la entre os profissionaisda área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> 10-14 . Nesse sentido, as Comissões <strong>de</strong> Controle<strong>de</strong> Infecção Hospitalar (CCIH) incentivam a lavag<strong>em</strong> das mãos,<strong>de</strong> acordo com as recomendações do Ministério da Saú<strong>de</strong>,publicadas na sua última Portaria atualmente <strong>em</strong> vigor 2 .Contudo, não basta apenas o incentivo constante à lavag<strong>em</strong>das mãos. Convém repensar a difícil situação dos hospitais ed<strong>em</strong>ais serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do País representadas pela escassez<strong>de</strong> recursos humanos qualificados para a prestação <strong>de</strong>assistência <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que tanto se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, muitas vezesincompatível com a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r um gran<strong>de</strong>número <strong>de</strong> pacientes, falta <strong>de</strong> recursos materiais e <strong>de</strong>a<strong>de</strong>quadas condições <strong>de</strong> trabalho (ausência <strong>de</strong> pias paralavag<strong>em</strong> das mãos, falta <strong>de</strong> sabão, papel toalha, lixeirasa<strong>de</strong>quadas etc).Para agravar esta situação, uma antiga preocupação v<strong>em</strong>ganhando enorme repercussão mundial no contexto dasinfecções hospitalares, a <strong>em</strong>ergência <strong>de</strong> microrganismosmultirresistentes, que v<strong>em</strong> <strong>de</strong>spertando especial atenção dos- Rev. Min. Enf., 7(2):140-44, jul./<strong>de</strong>z., 2003141

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