O USO DA BOLA DO NASCIMENTO NA PROMOÇÃO DA POSIÇÃO VERTICALEM PRIMÍPARAS DURANTE O TRABALHO DE PARTOTHE USE OF THE BIRTH BALL IN PROMOTING THE UPRIGHTPOSITION DURING LABOR IN FIRST DELIVERIESEL USO DE LA BOLA DE NACIMIENTO PARA PROMOVERLA POSICIÓN VERTICAL DE PRIMÍPARAS EN ELTRABAJO DE PARTO.Tatiana Coelho Lopes*Lélia Maria Ma<strong>de</strong>ira **Suelene Coelho ***RESUMOO estudo avalia a utilização da bola do nascimento como recurso para a mulher que <strong>de</strong>seja adotar posições mais confortáveis durante o trabalho <strong>de</strong>parto. Foi realizado com 40 parturientes <strong>de</strong> um Centro <strong>de</strong> Parto Normal, divididas <strong>em</strong> dois grupos, um que utilizou a Bola do nascimento e outro queserviu <strong>de</strong> controle. Os dados d<strong>em</strong>onstraram não haver diferenças significativas entre os dois grupos, após analise das variáveis, <strong>de</strong>vido ao fato dasparturientes do referido Centro, já ser<strong>em</strong> estimuladas à adotar posições mais verticais, como parte da rotina do serviço.Palavras-Chave: Trabalho <strong>de</strong> Parto; Parto Normal / Métodos.A bola do nascimento t<strong>em</strong> sido utilizada como umrecurso a mais, para oferecer opções à mulher que <strong>de</strong>sejaadotar posição não supina durante a primeira fase do trabalho<strong>de</strong> parto. Esta também é conhecida como bola suíça paraginástica. Segundo Johnston 1 , sua utilização na área donascimento se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> que ela proporciona àparturiente uma boa postura, estabilização, possibilida<strong>de</strong> d<strong>em</strong>ovimentos e relaxamento pélvico.De acordo com a autora, o uso da bola t<strong>em</strong> o potencial <strong>de</strong>aliviar as tensões nervosas por trazer l<strong>em</strong>branças dasbrinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> criança, além <strong>de</strong> favorecer que os joelhos daparturiente fiqu<strong>em</strong> afastados, não havendo, portanto, nenhumatensão na musculatura adutora. Dessa forma, a pressão da bolasobre o períneo é igualada fazendo com que a cintura pélvicafique posicionada à frente <strong>em</strong> relação à coluna espinhal,proporcionando um melhor posicionamento para o feto. Anatureza dinâmica da superfície <strong>de</strong> suporte faz com quequalquer movimento que a mulher inicie <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ie uma onda<strong>de</strong> movimentos correspon<strong>de</strong>ntes. Assim, o balanço pélvicotanto latero-lateral, quanto ântero-posterior é facilmenterealizado, gerando exercícios leves da musculatura abdominal,dorsal e do assoalho pélvico s<strong>em</strong> que haja controle consciente 1 .Na assistência ao parto normal, cada vez mais se t<strong>em</strong>questionado se os altos níveis <strong>de</strong> intervenção são valiosos enecessários. Na literatura pesquisada foram encontradosrelatos <strong>de</strong> utilização da bola suíça por enfermeiras e parteirasdos Estados Unidos e Austrália, que enfatizam a suacontribuição na dilatação do colo uterino das parturientes. Aintrodução da bola do nascimento reforça a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> posiçõesverticais que favorec<strong>em</strong> um posicionamento confortável damulher durante o parto, o que contribui para a suahumanização. Observou-se que o uso da bola gera um alíviomaior da dor na região lombar, possibilitando maior conforto àmulher 1 . Verificou-se, também, a sua utilização como umrecurso que auxilia a mulher a adotar posições verticais duranteo trabalho <strong>de</strong> parto, favorecendo o processo do nascimento 2 .No Brasil, a bola do nascimento t<strong>em</strong> sido introduzida noscentros <strong>de</strong> parto normal e maternida<strong>de</strong>s como uma forma <strong>de</strong>ajudar a mulher a dar à luz <strong>de</strong> forma mais natural contribuindopara o alívio da dor durante as contrações 3 .A manutenção da mulher na posição vertical durante otrabalho <strong>de</strong> parto, <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da posição horizontal, t<strong>em</strong>sido recomendada por vários estudos. De acordo com Mitre 4 ,parturientes primíparas que permaneceram sentadas durante otrabalho <strong>de</strong> parto tiveram uma redução significativa da duração<strong>de</strong>sse período, <strong>de</strong>vido à pressão exercida pela pare<strong>de</strong>abdominal e o diafragma sobre o útero. O autor d<strong>em</strong>onstrou,ainda, que houve uma maior tolerância ao trabalho <strong>de</strong> partopelas parturientes que permaneceram nesta posição, o quepo<strong>de</strong> estar relacionado ao maior conforto que ela proporciona.Em um estudo com 57 pacientes, comparando o uso daocitocina com a <strong>de</strong>ambulação para parturientes <strong>em</strong> trabalho <strong>de</strong>parto com distócia, d<strong>em</strong>onstrou-se que as mulheres que* Fisioterapeuta do Hospital Sofia Feldman <strong>em</strong> Belo Horizonte/MG,aluna especial do Curso <strong>de</strong> Mestrado <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> da USP /Ribeirão Preto.** Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>, professora aposentada do DepartamentoMaterno-Infantil e Saú<strong>de</strong> Pública da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>.*** Mestre <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>, professora do Departamento Materno-Infantil e Saú<strong>de</strong> Pública da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>,doutoranda <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela USP.En<strong>de</strong>reço para correspondência:Tatiana Coelho LopesRua Silva Jardim, nº1208. Bairro São Geraldo – Santa Luziae-mail: tatiana@sinteseag.com.brFone: 96375197/ 3641-1700134 - Rev. Min. Enf., 7(2):134-9, jul./<strong>de</strong>z., 2003
O USO DA BOLA DO NASCIMENTO NA PROMOÇÃO DA POSIÇÃO VERTICALEM PRIMÍPARAS DURANTE O TRABALHO DE PARTOpertenciam ao grupo <strong>de</strong>ambulação necessitaram <strong>de</strong> menosanalgesia na primeira fase do trabalho <strong>de</strong> parto, tiveram umamenor ocorrência <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> fórceps e menor variação dosbatimentos fetais antes do período expulsivo. Além disso,relataram experiência mais positiva <strong>em</strong> relação ao parto do queo grupo que utilizou a ocitocina 5 .Estudos <strong>de</strong>senvolvidos por vários autores 6, 7, 8 para avaliar osefeitos da posição materna na contratilida<strong>de</strong> uterina e no alívioda dor apontaram que as mulheres que permaneceram naposição vertical, durante o trabalho <strong>de</strong> parto, tiveram aintensida<strong>de</strong> das contrações aumentadas significativamente,<strong>em</strong>bora com uma freqüência menor; sentiram menor<strong>de</strong>sconforto <strong>em</strong> relação às contrações e tiveram menornecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> analgesia quando comparadas comparturientes <strong>em</strong> posição horizontal. Verificou-se, também, que aforça da gravida<strong>de</strong> combinada com o peso do feto exercia umapressão adicional <strong>de</strong> 10-35mmHg no colo uterino.Embora a literatura consultada indique a posição verticalcomo uma das mais favoráveis ao trabalho <strong>de</strong> parto, observaseque a maior parte das maternida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> nosso país aindanão estão preparadas para tal, por questões culturais oumesmo por falta <strong>de</strong> conhecimento científico e <strong>de</strong> tecnologiaapropriada para o seu uso.Tendo <strong>em</strong> vista que a bola do nascimento é um recurso quepo<strong>de</strong> ser usado na promoção da posição vertical durante otrabalho <strong>de</strong> parto, realizou-se o presente estudo com o objetivo<strong>de</strong> analisar algumas variáveis do trabalho <strong>de</strong> parto <strong>em</strong>primíparas, tendo como foco o uso da bola, no Centro <strong>de</strong> PartoNormal “Dr. David Capistrano da Costa Filho”, <strong>em</strong> BeloHorizonte, Minas Gerais.ObjetivoVerificar se o uso da bola do nascimento, como um recursoque promove a posição vertical da mulher, durante a fase ativado trabalho <strong>de</strong> parto, exerce alguma influência nos resultadosmaternos <strong>em</strong> parturientes primíparas <strong>de</strong> baixo risco.Materiais e MétodosCenário do EstudoO estudo foi realizado no Centro <strong>de</strong> Parto Normal (CPN) “Dr.David Capistrano da Costa Filho”, que está localizado no DistritoSanitário Norte <strong>de</strong> Belo Horizonte. Nesse centro presta-seassistência ao parto <strong>de</strong> risco habitual, tentando preservar ascaracterísticas <strong>de</strong> um parto domiciliar. Dessa forma, procura-setornar o nascimento mais um ato fisiológico do que médico,restituindo-lhe sua dimensão social. O centro funciona <strong>de</strong> formaintegrada ao Hospital Sofia Feldman, que é referência para umapopulação <strong>de</strong> aproximadamente 400.000 habitantes, dosDistritos Sanitários Norte e Nor<strong>de</strong>ste. Destina 100% <strong>de</strong> seusleitos à clientela do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS) e ofereceassistência ambulatorial e hospitalar à mulher, ao recémnascido,à criança e ao adolescente. Possui serviços <strong>de</strong> prénatale planejamento familiar; maternida<strong>de</strong>; alojamento conjuntoe Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cuidados Intermediários e Intensivos Neonatais.No CPN, a responsável pela assistência ao parto normal <strong>de</strong>risco habitual e s<strong>em</strong> distócia é a enfermeira obstétrica,obe<strong>de</strong>cendo às orientações do Ministério da Saú<strong>de</strong> contidas naPortaria nº 985/99. A estrutura do CPN é composta por 5 quartosPPP (pré-parto, parto e puerpério) com banheiro e varanda. Éincentivado que uma pessoa da família permaneça com a mulherdurante todo o trabalho <strong>de</strong> parto, parto e pós-parto.Coleta <strong>de</strong> DadosA coleta <strong>de</strong> dados ocorreu no CPN no período entre janeiro <strong>em</strong>aio <strong>de</strong> 2002 com a participação <strong>de</strong> 40 parturientes quepreencheram os critérios <strong>de</strong> inclusão por ocasião da admissão:ser primípara, gestação a termo, feto único <strong>em</strong> posição cefálica,m<strong>em</strong>branas ovulares íntegras, líquido amniótico claro, trabalho<strong>de</strong> parto <strong>de</strong> início espontâneo, dilatação cervical menor ou iguala 4-5cm.Após a admissão, as parturientes foram abordadas pelapesquisadora que explicou o objetivo do estudo e as convidoupara participar da pesquisa. Em seguida, foi sorteado o grupoao qual a mulher pertenceria, através <strong>de</strong> envelopepardo lacrado.Houve a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> 40 parturientes que foram distribuídas daseguinte forma: as parturientes do grupo A tinham a boladisponível no quarto e receberam explicação dos benefícios doseu uso, além <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> estimuladas a permanecer na bola,mas tinham a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> adotar a posição que achass<strong>em</strong>mais confortável. As do grupo B não tinham a bola disponível noquarto e eram estimuladas a seguir a própria rotina do CPN,que também estimula a adoção <strong>de</strong> posições verticais.A posição das parturientes, <strong>em</strong> ambos os grupos, foiverificada pela pesquisadora <strong>de</strong> 15/15min durante toda a faseativa do trabalho <strong>de</strong> parto e anotada <strong>em</strong> um protocolo <strong>de</strong> coleta<strong>de</strong> dados <strong>de</strong> acordo com a evolução do trabalho <strong>de</strong> parto. Osexames <strong>de</strong> verificação da dilatação cervical foram realizadospela enfermeira obstétrica <strong>de</strong> acordo com a rotina do CPN(3/3h). A fase ativa do trabalho <strong>de</strong> parto, neste estudo, foiconsi<strong>de</strong>rada 4-5cm da linha <strong>de</strong> base do partograma do CentroLatinoamericano <strong>de</strong> Perinatologia (CLAP) 10 .Não foram realizados exames <strong>de</strong> verificação cervical para apesquisa porque, <strong>de</strong> acordo com o estudo <strong>de</strong> Mcmanus eCal<strong>de</strong>r 11 , isso po<strong>de</strong>ria influenciar na duração do trabalho <strong>de</strong>parto. Intervenções, como rompimento artificial <strong>de</strong> m<strong>em</strong>branas(RAM), e o uso <strong>de</strong> Ocitocina foram realizados <strong>de</strong> acordo com a- Rev. Min. Enf., 7(2):134-9, jul./<strong>de</strong>z., 2003135