11.07.2015 Views

versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A CO-EXISTÊNCIA COM OS FAMILIARES DOS PACIENTES HOSPITALIZADOS: EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO NOSEU MUNDO-VIDA PROFISSIONAL(. .) não gosta <strong>de</strong> envolver-se muito com os familiares,porque fica <strong>de</strong>primida e acaba por carregar os probl<strong>em</strong>asdas pessoas para casa. Segundo ela, isto não a impe<strong>de</strong> <strong>de</strong>estar s<strong>em</strong>pre ali, esclarecendo, apoiando e resolvendoalgum probl<strong>em</strong>a (DISC. 10).Do enfermeiro espera-se a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r osofrimento dos pacientes, mantendo um certo distanciamentoque lhe permita ajudá-los a se cuidar s<strong>em</strong> negligenciar ocuidado consigo mesmo. Espera-se que esteja atento para agircom a intenção <strong>de</strong> cuidar-cuidando-se. É pertinente reportar-sea Hei<strong>de</strong>gger 6 quando afirma que o cuidado é um fenômenoontológico-existencial básico. Existir é cuidar <strong>de</strong> ser. É umatarefa que todo hom<strong>em</strong> ao ser lançado no mundo t<strong>em</strong> quecumprir. Ele cuida <strong>de</strong> ser, cuidando <strong>de</strong> ser, cuidando dos entesque lhe faz<strong>em</strong> frente. O modo <strong>de</strong> cuidar do cuidar-<strong>de</strong>-ser é quelhe assegura o possível, o seu po<strong>de</strong>r-ser.Outra dificulda<strong>de</strong> mencionada por um dos profissionais norelacionamento com a família é <strong>de</strong> não conseguir se fazercompreen<strong>de</strong>r por ela, quando consi<strong>de</strong>ra ser aquilo que pensa omelhor para o paciente. L<strong>em</strong>bra que não compreen<strong>de</strong>ndo ascondutas do enfermeiro, a família, às vezes, chega a situaçõesextr<strong>em</strong>as, <strong>de</strong> procurar garantir na justiça os direitos queacredita ter quando algum <strong>de</strong> seus parentes está hospitalizado.(. .) Quando o paciente morreu, disseram que iriam lhebater. Foram reclamar à diretoria acusando-a <strong>de</strong> “maleducada” e <strong>de</strong> não lhes permitir entrar na unida<strong>de</strong>. Já achamaram duas vezes no Fórum por causa <strong>de</strong>stassituações (. .) (DISC. 1).De acordo com os comentários as dificulda<strong>de</strong>s tambémacontec<strong>em</strong> no domicílio on<strong>de</strong> se prolonga o acompanhamentodo profissional na recuperação do paciente. A não aceitação doenfermeiro pelos familiares apresenta-se como barreira que oimpe<strong>de</strong> <strong>de</strong> se reconhecer <strong>em</strong> sua função e <strong>de</strong> exercê-la, s<strong>em</strong> sesentir mero invasor do mundo-vida-familiar.Não obstante, os <strong>de</strong>sencontros da relação enfermeiro-famíliaafastam a possibilida<strong>de</strong>, não só <strong>de</strong> unir<strong>em</strong>-se <strong>em</strong> busca daquiloque é melhor para o paciente, como se <strong>de</strong>scobrir<strong>em</strong> pelasolidarieda<strong>de</strong>, tão essencial àqueles que vivenciam a situação<strong>de</strong> doença <strong>de</strong> um parente.A família como co-responsável no processo <strong>de</strong> cuidar-<strong>de</strong>serO contato dos enfermeiros com as famílias dos pacientes, noseu mundo-vida-profissional, é muito freqüente.Inicialmente, elas manifestam o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> conversar como osmédicos, a fim <strong>de</strong> saber<strong>em</strong> sobre os exames e a terapêuticaque será dispensada aos parentes. Quase s<strong>em</strong>pre, porém,recorr<strong>em</strong> aos enfermeiros com as mesmas dúvidas, peloslimites que têm para compreen<strong>de</strong>r a linguag<strong>em</strong> técnica usadapor esses profissionais.Comenta que é comum o médico orientar as famílias e elasvêm procurá-la porque não compreend<strong>em</strong> o que foi dito.(. .) também por saber<strong>em</strong> que é a enfermag<strong>em</strong> qu<strong>em</strong> ficamais t<strong>em</strong>po ao lado do paciente (DISC. 6).A linguag<strong>em</strong> adotada pelos enfermeiros ao se comunicar<strong>em</strong>com os familiares revela-se, portanto, como um fator essencialna interação entre ambos e, certamente, trazendoconseqüências favoráveis para o paciente.Assim sendo, certos enfermeiros perceb<strong>em</strong>-se como fonte<strong>de</strong> referência para as famílias quando estas quer<strong>em</strong> se informarsobre o estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e o tratamento <strong>de</strong> seus parentes, umavez que interag<strong>em</strong> <strong>de</strong> maneira clara, simples, respeitando onível cultural da cada pessoa que a eles recorr<strong>em</strong>. De acordocom um <strong>de</strong>poente, as famílias d<strong>em</strong>onstram encontrar na suaequipe a segurança que procuram, além do fato <strong>de</strong> ter<strong>em</strong>“vergonha” e medo <strong>de</strong> abordar o médico para obter qualqueresclarecimento <strong>de</strong> que necessitam. A comunicação mostra-seaqui como espaço aberto <strong>em</strong> que o enfermeiro, <strong>de</strong>vido às suashabilida<strong>de</strong>s, v<strong>em</strong> atuando expressivamente como educador.Consi<strong>de</strong>ra que a família enten<strong>de</strong> mais o vocabulário daequipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> do que do médico. Comenta que,<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> receber<strong>em</strong> orientações médicas, as famílias vêmprocurá-la, pois não compreend<strong>em</strong> o que lhes foi dito(. .)(DISC.6).Nela procura a segurança que muitas vezes não encontrano médico, até porque t<strong>em</strong> medo <strong>de</strong> abordá-lo (DISC. 2).A função <strong>de</strong> estar-com a família, sobretudo orientando-aquanto ao modo <strong>de</strong> ajudar o paciente, é reconhecida pelosenfermeiros como importante e ampla <strong>em</strong> relação aos aspectosa ser<strong>em</strong> abordados. Vão <strong>de</strong> simples informações sobre a rotinada instituição às orientações referentes à doença e aoscuidados, inclusive àqueles a ser<strong>em</strong> executados após a altahospitalar, quando não mais contar<strong>em</strong> com a ajuda direta dosprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Apesar <strong>de</strong> enfatizar<strong>em</strong> a importância do diálogo na açãohumana do cuidar, os enfermeiros confessam que, <strong>em</strong> algumassituações, faltam-lhes condições para orientar ou informar asfamílias a respeito dos pacientes. Isto porque osesclarecimentos que buscam pod<strong>em</strong> estar fora do âmbito <strong>de</strong>sua atuação profissional ou pela própria incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>lidar<strong>em</strong> com certos assuntos, como aqueles referentes à morte.A enfermag<strong>em</strong>, muitas vezes, fica impossibilitada <strong>de</strong> ajudaras famílias porque não t<strong>em</strong> acesso a certos exames.(DISC. 10).Em se tratando <strong>de</strong> algo relacionado à morte, a equipe t<strong>em</strong>muita dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar com os familiares, visto que cadaum reage <strong>de</strong> um jeito. .(DISC. 6).Fica claro, <strong>em</strong> um dos <strong>de</strong>poimentos, que ainda é um tabupara a enfermag<strong>em</strong> falar acerca da morte com as famílias. O96 - Rev. Min. Enf., 7(2):93-101, jul./<strong>de</strong>z., 2003

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!