O TRABALHO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – PERFIL DAS EQUIPESCom relação aos médicos, 50% apresentam menos <strong>de</strong> 10anos <strong>de</strong> formação, chamando atenção o fato <strong>de</strong> que 1 dosmédicos apresenta menos <strong>de</strong> 5 anos <strong>de</strong> formado (2 anos).Cabe-nos ressaltar que uma das equipes não conta com oprofissional médico, contrariando um dos critérios para aimplantação das equipes do PSF.É importante consi<strong>de</strong>rar que o PSF t<strong>em</strong> se apresentadocomo uma alternativa efetiva <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos para osprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Ainda, com relação ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> formaçãocontínua, praticamente todos os médicos e enfermeirosprosseguiram sua formação, sendo que 3 dos enfermeiros,possu<strong>em</strong> formação no nível <strong>de</strong> residência ou especialização;dos médicos, apenas 1 não apresenta residência médica e 1apresenta mestrado e doutorado.Com relação à formação dos ACS, apenas 10,3%apresentam o primeiro grau incompleto, chamando atenção ofato <strong>de</strong> 10,3% apresentar<strong>em</strong> curso superior completo. Esse fatopo<strong>de</strong> indicar a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho,restando muitas vezes, mesmo ao trabalhador comescolarida<strong>de</strong>, poucas alternativas para o exercício da profissão.A maior concentração está entre os que possu<strong>em</strong> o 2º graucompleto e incompleto, representando 31,0% e 20,7%respectivamente. É importante frisar que a qualificação mínimaexigida pelo Ministério da Saú<strong>de</strong> é que o trabalhador sejaalfabetizado, isto é, saiba ler e escrever, e que nas equipesinvestigadas, a formação encontrada é b<strong>em</strong> acima da exigida.Tabela 3 - Distribuição dos agentes comunitários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> -ACS das equipes <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família segundo escolarida<strong>de</strong>.Ribeirão Preto, 2001Grau <strong>de</strong> <strong>Escola</strong>rida<strong>de</strong> N o %S<strong>em</strong> escolarida<strong>de</strong>AlfabetizadoPrimeiro grau incompletoPrimeiro grau completoSegundo grau incompletoSegundo grau completoTerceiro grau incompletoTerceiro grau completoTotal--35693329--10,317,220,931,010,310,3100Quanto ao t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> no PSF, 50% dostrabalhadores estão há menos <strong>de</strong> um ano atuando, e os d<strong>em</strong>ais50% encontram-se com 1 a 3 anos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> no Programa,conforme se observa na Tabela 4.Chama atenção o fato <strong>de</strong> que todos os médicos apresentammenos <strong>de</strong> 1 ano <strong>de</strong> inserção no Programa, enquanto mais <strong>de</strong>50% dos enfermeiros e dos ACS têm <strong>de</strong> 1 a 3 anos, po<strong>de</strong>ndosignificar menor rotativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes <strong>em</strong> relação ao trabalhadormédico.Po<strong>de</strong>-se afirmar que o conjunto dos trabalhadoresentrevistados foi inserido recent<strong>em</strong>ente no PSF, principalmenteao se consi<strong>de</strong>rar que 11 municípios tiveram sua habilitação paraimpl<strong>em</strong>entação do PSF a partir do final do segundo s<strong>em</strong>estre<strong>de</strong> 2000, conforme o Quadro 1.Tabela 4 - Distribuição dos trabalhadores das equipes <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> da Família <strong>de</strong> municípios da DIR XVIII segundo t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong> no Programa. Ribeirão Preto, 2001Categoria ProfissionalACSAux. Enf.EnfermeiroMédicoTotal 20---2* Consi<strong>de</strong>rando um salário mínimo vigente no período <strong>de</strong> coleta dos dados no valor<strong>de</strong> $ 152,00** Um dos enfermeiros não respon<strong>de</strong>u a este it<strong>em</strong>128 - Rev. Min. Enf., 7(2):124-33, jul./<strong>de</strong>z., 2003
O TRABALHO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – PERFIL DAS EQUIPESganham entre 8 e 10 salários, enquanto 50% dos médicosreceb<strong>em</strong> mais <strong>de</strong> 20 salários.Análise da experiência profissional anterior enecessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> capacitaçãoEm relação às experiências anteriores na área da saú<strong>de</strong>,observa-se na Tabela 6 que a gran<strong>de</strong> maioria dos ACS não teveexperiências anteriores na área da saú<strong>de</strong>, sendo que 1 dos ACSnão respon<strong>de</strong>u a esta questão. Já, quase a totalida<strong>de</strong> dosauxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> teve experiências, sendo que 87,5%trabalharam anteriormente na área hospitalar. Nenhum dosauxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> apresentou experiência anterior <strong>de</strong>trabalho no PSF.Tabela 6 - Distribuição dos trabalhadores das equipes <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> da Família <strong>de</strong> municípios da DIR XVIII segundoexperiência anterior na área da saú<strong>de</strong>, no PSF e nos serviços <strong>de</strong>atenção primária. Ribeirão Preto, 2001Categoria ProfissionalACS*Aux. Enfermag<strong>em</strong>Enfermeiro**MédicoExperiênciana área <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> antesdo PSFSim Não7754Experiência anteriorTodos os enfermeiros e médicos tiveram experiênciaanterior <strong>em</strong> serviços <strong>de</strong> atenção primária à saú<strong>de</strong> antes doPSF, contudo, apenas 1 enfermeiro e 2 médicosapresentaram experiência anterior <strong>de</strong> trabalho no PSF, comum t<strong>em</strong>po variando <strong>de</strong> 2 meses a 2 anos (enfermeiro).Quando indagados sobre as alterações <strong>em</strong> relação àr<strong>em</strong>uneração após trabalhar no PSF, 60% dos enfermeirosrefer<strong>em</strong> que esta aumentou, já 37,5% dos auxiliares <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> refer<strong>em</strong> que houve diminuição do salário,enquanto 75% disseram que o número <strong>de</strong> horastrabalhadas aumentou.Tanto para os médicos quanto para os enfermeiros,segundo seus relatos, a relação com os pacientesmelhorou. Já o prestígio profissional não se alterou para50% dos médicos, e para 60% dos enfermeiroseste melhorou.No conjunto dos trabalhadores das equipes investigadas,63% refer<strong>em</strong> que há dificulda<strong>de</strong> na prática do trabalho,sendo que a maior <strong>de</strong>ficiência é a falta <strong>de</strong> conhecimentoespecífico para o <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho, citada pelosACS e auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Há também dificulda<strong>de</strong><strong>em</strong> dar orientação à comunida<strong>de</strong>, principalmente <strong>em</strong>assuntos relacionados ao uso <strong>de</strong> álcool e drogas, à DST /AIDS, à gravi<strong>de</strong>z na adolescência e à prostituição.211--Experiênciaanterior noPSFSim1012Não27832Experiênciaanterior <strong>em</strong>serviços <strong>de</strong>APSSim--54* 1 ACS não respon<strong>de</strong>u a esta questão da experiência anterior na área da saú<strong>de</strong>** 1 enfermeira não respon<strong>de</strong>u à questão da experiência anterior no PSFNão----É importante ressaltar que os t<strong>em</strong>as citados são t<strong>em</strong>ascomplexos e que envolv<strong>em</strong> aspectos não apenas biológicos,mas configuram-se como probl<strong>em</strong>as com interface nadimensão social, cultural, econômica, ética.Segundo uma das enfermeiras, há “ausência <strong>de</strong> conteúdoteórico e prático no curriculum das escolas <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública”. Todos os profissionaisda equipe sent<strong>em</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimorar osconhecimentos, sendo que as áreas mais citadas pelos os ACSforam: saú<strong>de</strong> da criança, mulher, idoso, adulto e imunização,aprimoramento nos procedimentos <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, on<strong>de</strong>relatam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r<strong>em</strong> o “básico” ou então“curso <strong>de</strong> auxiliar <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> direcionado aos ACS”.Esta é uma questão importante a ser colocada na agendadas equipes <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família e dos gestores municipais -qual o perfil do agente comunitário <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>? Quais são osaspectos fundamentais necessários à sua formação? Espera-seque esse trabalhador tenha um perfil <strong>de</strong> formação “s<strong>em</strong>elhante”ao do auxiliar <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>?Para os auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> o t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> maiornecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capacitação é imunização. Possivelmente, a<strong>de</strong>ficiência apresentada neste t<strong>em</strong>a se dê <strong>em</strong> função <strong>de</strong> aexperiência anterior majoritária dos auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>ser na área hospitalar, on<strong>de</strong> a prática da imunização não fazparte da agenda cotidiana <strong>de</strong> trabalho.Os médicos e enfermeiros citaram todas as áreas comotendo necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimoramento, sendo que, para osenfermeiros, aparec<strong>em</strong> t<strong>em</strong>as como métodos contraceptivos eabordag<strong>em</strong> da família na comunida<strong>de</strong>.Em relação à modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimoramento, 40% dosenfermeiros têm interesse <strong>em</strong> fazer outra especialização commais <strong>de</strong> 360h <strong>de</strong> duração, sendo que a maioria dos médicostambém d<strong>em</strong>onstra esse interesse.Consi<strong>de</strong>rações FinaisNo <strong>de</strong>senvolvimento da presente investigação po<strong>de</strong>-se verificarque na região da DIR XVIII, para o período <strong>de</strong> janeiro a julho <strong>de</strong>2001, houve uma ampliação <strong>de</strong> 100% no número <strong>de</strong> equipes <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> da Família. Esse aumento po<strong>de</strong> estar indicando umaa<strong>de</strong>são dos municípios a uma proposta político-assistencial doMinistério da Saú<strong>de</strong> que v<strong>em</strong> sendo tratada como uma estratégiapara re<strong>versão</strong> do atual mo<strong>de</strong>lo assistencial.As equipes investigadas, na maioria composta por mulheres,apresentam profissionais com experiência anterior na área dasaú<strong>de</strong> e <strong>em</strong> atenção primária à saú<strong>de</strong>, sendo que dos ACS,apenas 10,3% apresentam o primeiro grau incompleto,chamando atenção o fato <strong>de</strong> 10,3% apresentar<strong>em</strong> cursosuperior completo. Ainda se po<strong>de</strong> constatar que ostrabalhadores entrevistados foram inseridos recent<strong>em</strong>ente noPSF, principalmente ao se consi<strong>de</strong>rar que 11 municípios- Rev. Min. Enf., 7(2):124-33, jul./<strong>de</strong>z., 2003129