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versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

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O ADOLESCENTE E A VIVÊNCIA DA PATERNIDADE: UMA ABORDAGEM FENOMENOLÓGICAPara conseguir<strong>em</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar esse papel voltado para amanutenção financeira da nova família, o adolescente dribla arealida<strong>de</strong> tentando vencer as dificulda<strong>de</strong>s freqüent<strong>em</strong>enteencontradas nesse percurso.“...estou me dando ao máximo, toda consulta queela vai fazer, tudo que eu estou querendo fazer comela...” (Ulisses)“...estou pagando um lote, meu lote sai no final doano, enquanto isso eu vou morar, estou morando<strong>em</strong> casa, vou morar <strong>em</strong> casa com ela, meu pai <strong>em</strong>inha mãe falaram que a gente po<strong>de</strong> morar, tudoque precisar a gente vai mudar, sabe? Então, euestou me esforçando é nisso aí...” (Ulisses)“...eu vou casar agora, fazer tudo direitinho”(Hércules)“Ah, difícil, muito, principalmente, no meutrabalho...” (Apolo)A tão sonhada in<strong>de</strong>pendência, muitas vezes, é adiada, comoperceb<strong>em</strong>os no discurso <strong>de</strong> Eros, que informa ter sido precisomudar <strong>de</strong> planos juntamente com sua companheira para arcarcom os gastos referentes à gestação e aos preparativos parareceber o filho.“...porque nós tava planejando para casar daqui a 2anos, seria <strong>em</strong> 2004, e aí nós já estávamoscomeçando a juntar o dinheiro para começar aconstruir, aí tive que tirar o dinheiro para ajudar acomprar algumas coisas que precisasse...” (Eros)O adolescente percebe o quão difícil é ser adolescente,hom<strong>em</strong> e pai diante das novas situações que lhe sãoapresentadas, <strong>em</strong> consequência da gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> suacompanheira.“Você fica com aquilo na cabeça, nó agora vou terum filho! Vou ter que trabalhar, nó vou ter que fazerisso, vou ter que fazer aquilo...” (Hércules)“...importante é as coisas que a gente vai ter nofuturo, né, a educação, o meu filho, nossa, né, agente t<strong>em</strong> que investir na nossa educação,trabalhar. Eu tenho que trabalhar dobrado (riu).”(Ulisses)Neste discurso <strong>de</strong> Ulisses é d<strong>em</strong>onstrada, também, apreocupação com sua formação, a <strong>de</strong> sua companheira e <strong>de</strong>seu filho, o que d<strong>em</strong>onstra a visão dos jovens sobre aimportância da educação <strong>em</strong> suas vidas. No mesmo instante,porém, ele diz precisar “trabalhar dobrado” nesse momento,discurso que d<strong>em</strong>onstra como é difícil conciliar os estudos como trabalho, revelando, então, as exigências da realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> quevive esse adolescente.Nesta unida<strong>de</strong> t<strong>em</strong>ática perceb<strong>em</strong>os, ainda, as dificulda<strong>de</strong>sencontradas pelo menor <strong>em</strong> conseguir um <strong>em</strong>prego.“Gente <strong>de</strong> menor eles não dão <strong>em</strong>prego, fica maisdifícil, né. Agora você t<strong>em</strong> que trabalhar <strong>de</strong> dia, ouvocê ven<strong>de</strong>, igual eu sou pintor, tenho diploma <strong>de</strong>pintor, não é toda vez que t<strong>em</strong> serviço, um dia vocêt<strong>em</strong>, no outro você faz um pé, outro dia você t<strong>em</strong>dinheiro, outro você não t<strong>em</strong>, <strong>de</strong>sse jeito.” (Ulisses)Esta situação constitui mais um <strong>em</strong>pecilho para estes jovenspais. O probl<strong>em</strong>a é agravado quando consi<strong>de</strong>ramos que setrata <strong>de</strong> jovens que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> uma socieda<strong>de</strong> ainda<strong>de</strong>spreparada para acolher os adolescentes nessas condições,já que muitos <strong>de</strong>les realmente precisam conseguir recursosfinanceiros para manter<strong>em</strong> a nova família. Naturalmente, seriai<strong>de</strong>al que o indivíduo no período da adolescência estivessepreocupado com questões inerentes a essa fase. No entanto,como seres vulneráveis a diversos agravos, como a paternida<strong>de</strong>precoce, os adolescentes são verda<strong>de</strong>iramente surpreendidose obrigados a <strong>de</strong>sviar suas aspirações para esse novomomento <strong>de</strong> suas vidas.Aliada à adolescência, a paternida<strong>de</strong>, como perceb<strong>em</strong>os nos<strong>de</strong>poimentos dos adolescentes entrevistados, coloca essesjovens na posição <strong>de</strong> assumir<strong>em</strong> responsabilida<strong>de</strong>s querequer<strong>em</strong> a busca e a corrida contra os entraves cotidianos <strong>de</strong>nossa socieda<strong>de</strong>. A pouca ida<strong>de</strong>, a não conclusão dos estudose, conseqüent<strong>em</strong>ente, a falta <strong>de</strong> qualificação profissional sãofatores que, juntos, contribu<strong>em</strong> para o impasse vivenciadopelos adolescentes na condição <strong>de</strong> espera pelo nascimento dofilho. Assim, buscam ajuda <strong>de</strong> outras pessoas para enfrentaressa nova situação.A família como suporte necessárioOs discursos revelam que, com a concretização doinesperado, os adolescentes se encontram <strong>de</strong>spreparados paraassumir algumas tarefas, o que os leva a requerer <strong>de</strong> seusfamiliares condições para viver<strong>em</strong> com sua nova família.“Eu teria que arrumar fora, mas aí eu fico assim, pô,se eu não arrumar eu não vou dar conta e t<strong>em</strong> oapoio dos meus pais para eu estar fazendo o meupapel como pai.” (Apolo)“...estou pagando um lote, meu lote sai no final doano, enquanto isso eu vou morar, estou morando<strong>em</strong> casa, vou morar <strong>em</strong> casa com ela, meu pai <strong>em</strong>inha mãe falaram que a gente po<strong>de</strong> morar, tudoque precisar, a gente vai mudar, sabe. Então, euestou me esforçando é nisso aí...” (Ulisses)“...agora não é a mesma coisa <strong>de</strong> antes, que nós,que eu só vou casar quando… se eu morar lá nofundo, que eu não vou sair <strong>de</strong> perto da minha mãepor causa disso, n<strong>em</strong> ela quer sair <strong>de</strong> perto da mãe<strong>de</strong>la.” (Hércules)86 - Rev. Min. Enf., 7(2):82-8, jul./<strong>de</strong>z., 2003

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