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versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

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A CO-EXISTÊNCIA COM OS FAMILIARES DOS PACIENTES HOSPITALIZADOS: EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO NOSEU MUNDO-VIDA PROFISSIONALrealmente cumpr<strong>em</strong> a sua função, uma vez que são carinhosos,cuidadosos e preocupados como os parentes que seencontram enfermos.Quando tentam caracterizar os d<strong>em</strong>ais que não têm umaparticipação junto ao paciente conforme esperado, percebe-sea ve<strong>em</strong>ência com que se refer<strong>em</strong> a eles, listando váriasjustificativas para mostrar a maneira <strong>de</strong>scompromissada <strong>de</strong>tratar<strong>em</strong> as pessoas que lhes são próximas quandohospitalizadas. Nesses casos, <strong>de</strong> acordo com os <strong>de</strong>poimentos,os familiares costumam d<strong>em</strong>onstrar impaciência com osdoentes, <strong>de</strong>ixam-nos sozinhos no quarto e parec<strong>em</strong> estar nainstituição apenas por obrigação ou para provar<strong>em</strong> a todos e aeles mesmos que cumpr<strong>em</strong> o seu <strong>de</strong>ver na família e, assim,“tirar um peso da consciência”. Outros quer<strong>em</strong> se livrar dosafazeres domésticos e até se exibir<strong>em</strong> nos momentos <strong>em</strong> quese sent<strong>em</strong> com autonomia para <strong>de</strong>cidir sobre algo no contextohospitalar. Há também aqueles que procuram a enfermag<strong>em</strong>somente para saber<strong>em</strong> quando ocorrerá a alta do paciente.No relato <strong>de</strong> número quatro, o <strong>de</strong>poente mostra-se surpresocom o comportamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados familiares queparec<strong>em</strong> não saber as suas funções, pois permanec<strong>em</strong> naunida<strong>de</strong> somente para fiscalizar e reivindicar dos profissionais<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> aquilo que consi<strong>de</strong>ram certo e acham que <strong>de</strong>ve serseguido no tratamento. Se for para dificultar o trabalho daequipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>completa</strong> um dos enfermeiros, a presençados familiares no hospital torna-se <strong>de</strong>snecessária.Afirma não saber qual a real intenção dos acompanhantes.T<strong>em</strong> momentos que, indaga se eles não estão na unida<strong>de</strong>só para vigiar o que os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> faz<strong>em</strong> para opaciente. .(DISC. 4).Para ela, se for para atrapalhar, o acompanhante não énecessário (DISC. 1).Às vezes, são tão surpreen<strong>de</strong>ntes as atitu<strong>de</strong>s tomadas pelosfamiliares que levam os profissionais a questionar sobre suasexpectativas <strong>em</strong> relação a eles e acabam por reconhecer quealguns não têm capacida<strong>de</strong> para assumir o papel que <strong>de</strong>lesé esperado.No enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> um dos <strong>de</strong>poentes, a família <strong>de</strong>ve fazer parteda enfermag<strong>em</strong> e a enfermag<strong>em</strong> da família. Nesta trocaintersubjetiva, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que compreen<strong>de</strong> e ajuda opaciente, é possível cuidar <strong>de</strong> seus familiares no sentido <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> superar com mais facilida<strong>de</strong> as dificulda<strong>de</strong>s quevivenciam junto ao seu parente durante a hospitalização.(. .) acha que a família t<strong>em</strong> que fazer “parte da enfermag<strong>em</strong>”e a enfermag<strong>em</strong> “t<strong>em</strong> que fazer parte da família”. É precisoesta união para cuidar do paciente (DISC. 2).Acredita que fica mais fácil ajudar o paciente quando oenvolvimento com a família é maior (. .) Salienta o quanto éimportante a influência da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> junto aosfamiliares (DISC. 10).Ao intensificar a interação, amplia-se a troca <strong>de</strong> informaçõese a confiança entre o profissional e os familiares, o que po<strong>de</strong> seraproveitado por ele para incentivar mudanças significativas <strong>de</strong>promoção da saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> prol dos assistidos, ou seja, pacientese família.A leitura dos relatos reforça a idéia <strong>de</strong> que, não raro faz-senecessário <strong>de</strong>scobrir a história das gerações e as relações quepermeiam o contexto familiar. Só aproximando <strong>de</strong> seu espaçovivencial é que o enfermeiro vai conhecer como se dá ainteração na co-existência entre as pessoas <strong>de</strong> uma mesmafamília, os fatores predisponentes para certas enfermida<strong>de</strong>s e omodo como se cuidam no cotidiano. Po<strong>de</strong>-se dizer que aí estáuma fonte <strong>de</strong> saber essencial para conduzir as açõesda enfermag<strong>em</strong>.Alguns participantes da pesquisa <strong>de</strong>ixam evi<strong>de</strong>nte apreocupação <strong>em</strong> ouvir e tentar compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma <strong>em</strong>páticaos familiares, procurando ter com eles um encontroverda<strong>de</strong>iramente terapêutico.Observa que, ao ouvi-los, eles melhoram a sua ansieda<strong>de</strong><strong>em</strong> relação ao paciente. .(DISC. 6).Para ela é indiscutível o que sente quando se t<strong>em</strong> aoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajudar aqueles que a procuram paraconversar. (. .) Coloca-se no lugar do outro, todas as vezesque, no horário <strong>de</strong> visita, alguém v<strong>em</strong> perguntar-lhe sobre odoente. .(DISC. 10).Aqui cabe afirmar que, ao assumir a sua função, o enfermeirot<strong>em</strong> <strong>de</strong> se predispor a um envolvimento <strong>em</strong>pático com osfamiliares, recomenda-se todavia que haja uma <strong>em</strong>patiafundamentada na similitu<strong>de</strong> e não na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, conforme aleitura <strong>de</strong> Schutz. A sua proposta.“difere-se da <strong>de</strong>scrição <strong>em</strong>pática, pelo julgamento autoexplicativo,no qual a experiência vivenciada junto és<strong>em</strong>elhante, porque <strong>em</strong> princípio, ela é só s<strong>em</strong>elhante, masconserva um núcleo <strong>de</strong> diferença irredutível <strong>de</strong> mim para ooutro. O que caracteriza esta tentativa <strong>de</strong> compreensão é asimilitu<strong>de</strong> e não a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se pôr na pele do outro, daínão ser possível como fonte direta <strong>de</strong> conhecimento dooutro” 5 .O modo <strong>de</strong> aproximação fundamentada na compreensãopela i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> que o profissional toma o encargo do outroe sente como ele, acarreta-lhe <strong>de</strong>sgaste <strong>em</strong>ocional e afeta oseu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho na interação terapêutica.O relato abaixo retrata, com clareza, a dificulda<strong>de</strong> doenfermeiro ao entrar <strong>em</strong> contato como o sofrimento alheio jáque não consegue encontrar os limites que separam a suaexistência <strong>de</strong> outras pessoas. Ao tentar ajudá-las, envolve-se<strong>em</strong> uma espécie <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> projeção e assume comosendo suas, as dores que as acomet<strong>em</strong>.- Rev. Min. Enf., 7(2):93-101, jul./<strong>de</strong>z., 200395

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