MASTECTOMIA E SUA INFLUÊNCIA SOBRE A VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE:ANÁLISE DA PRODUÇÃODO CONHECIMENTO UTILIZANDO UMA BASE DE DADOS INFORMATIZADAdisseram se sentir mais confortáveis diante da própria nu<strong>de</strong>z e<strong>em</strong> relação às carícias recebidas na região dos seios,sobretudo, as mais jovens.Outros autores contradiz<strong>em</strong> essas afirmativas e relatamque mulheres mais jovens com câncer <strong>de</strong> mama apresentamdistúrbios <strong>em</strong>ocionais mais graves se comparadas àquelascom ida<strong>de</strong> mais avançada 26,27 . Estes pesquisadoresressaltam a importância da variável ida<strong>de</strong> na vivência damastectomia, sobretudo <strong>em</strong> relação à satisfação conjugal.Eles pu<strong>de</strong>ram d<strong>em</strong>onstrar também a existência <strong>de</strong> umaassociação muito próxima entre ajustamento conjugal esatisfação sexual nas mulheres jovens. Esta associação nãofoi i<strong>de</strong>ntificada <strong>em</strong> mulheres com mais ida<strong>de</strong>.A disfunção sexual é um probl<strong>em</strong>a comum entre pacientesvitimadas pelo câncer <strong>de</strong> mama, sobretudo aquelas quesofr<strong>em</strong> mudanças na condição hormonal 28 . Concluiu-se queo tratamento sistêmico interfere na função sexual e po<strong>de</strong>ocasionar a menopausa pr<strong>em</strong>atura. A conseqüente perda <strong>de</strong>estrogênio provoca atrofia vaginal e diminuição nos níveis <strong>de</strong>androgênio e como conseqüência, a diminuição do <strong>de</strong>sejosexual. Os m<strong>em</strong>bros da equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> precisam, portanto,manter<strong>em</strong>-se atentos à complexida<strong>de</strong> que envolve osprobl<strong>em</strong>as enfrentados pelas mulheres mastectomizadas. Háum alerta do autor direcionado às conseqüências do câncer<strong>de</strong> mama no âmbito da sexualida<strong>de</strong>, e isso merece atençãoespecial por parte dos profissionais envolvidos coma assistência 25 .As mulheres mastectomizadas receb<strong>em</strong> pouca ounenhuma informação <strong>em</strong> relação aos efeitos do câncer sobresua intimida<strong>de</strong> sexual. A assistência à mulhermastectomizada requer atenção direcionada a esse aspectoquando se almeja uma assistência mais abrangente. Umamplo processo <strong>de</strong> educação <strong>de</strong>ssas mulheres érecomendado, sobretudo quanto aos efeitos do tratamento eformas <strong>de</strong> promoção da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>las 29,30 .Muitos pesquisadores d<strong>em</strong>onstraram preocupação voltadaàs re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suporte oferecidas às mulheres mastectomizadasnas distintas fases da doença, que inclu<strong>em</strong> a diagnóstica, acirúrgica e a <strong>de</strong> reabilitação. Concluiu-se que, no períododiagnóstico, o el<strong>em</strong>ento mais requerido pelas mulheres foi omédico e, na seqüência, os filhos e o marido. Durante ainternação hospitalar para a cirurgia, as figuras maisimportantes foram o marido e o grupo <strong>de</strong> apoioespecializado, além dos outros familiares, sobretudo do sexof<strong>em</strong>inino 8,15,31-33 . Todos reafirmaram a importância do papelrepresentado pelos maridos na fase <strong>de</strong> reabilitação dasmulheres. Eles representam uma das fontes mais importantes<strong>de</strong> respaldo durante essa fase da trajetória da mulher.Estudo comparativo enfocando as opções representadaspela prótese externa ou a reconstrução mamária d<strong>em</strong>onstrouque ambos os recursos estéticos eram importantes para apreservação da auto-imag<strong>em</strong> f<strong>em</strong>inina. Concluiu-se que asmulheres <strong>de</strong> ambos os grupos tinham uma visão positiva davida, pois julgavam que a sexualida<strong>de</strong> tinha uma abrangênciamaior que o fato <strong>de</strong> ter ou não as mamas. Na visão dasmulheres pesquisadas, a mastectomia era uma intervençãonecessária e representava a salvação <strong>de</strong> suas vidas 34 .A vivência do relacionamento conjugal após a mastectomia<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do tipo <strong>de</strong> suporte recebido e das experiênciasexistenciais preexistentes. Consequent<strong>em</strong>ente, apossibilida<strong>de</strong> do confronto com dificulda<strong>de</strong>s é maior quandoo casal já enfrentava probl<strong>em</strong>as no casamento, prévios aosurgimento da doença. Nessas circunstâncias, o processo <strong>de</strong>enfrentamento da doença produz reflexos negativos sobre avivência da sexualida<strong>de</strong>. Mulheres que vivenciam tal situaçãoencontram muitas dificulda<strong>de</strong>s para solucionar seusprobl<strong>em</strong>as, inclusive os relativos à sua sexualida<strong>de</strong> 12,15,31 .Outros el<strong>em</strong>entos que dificultam o relacionamento sexualconseqüentes à mastectomia são a vergonha do corpo e doparceiro sexual, o medo da rejeição e <strong>de</strong> uma possívelfrigi<strong>de</strong>z, insegurança quanto ao início <strong>de</strong> uma nova relaçãocom o sexo oposto e até mesmo a tomada dainiciativa sexual 15 .O câncer <strong>de</strong> mama afeta, portanto, vários âmbitos dasexualida<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina, inclusive a percepção da f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>.Desse modo, previamente à tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões relativasaos cuidados médicos, há a necessida<strong>de</strong> da educaçãodirecionada às mudanças da esfera sexual que afetam asmulheres submetidas às terapias do câncer <strong>de</strong> mama 35-37 .Aos profissionais da saú<strong>de</strong> cabe reconhecer a extensão doimpacto representado pelo tratamento do câncer sobre avivência da sexualida<strong>de</strong>. Isso requer a inclusão <strong>de</strong> talinformação como parte inerente ao processo <strong>de</strong>consentimento informado, que <strong>de</strong>ve antece<strong>de</strong>r a intervençãocirúrgica. Desse modo torna-se possível prover educaçãoapropriada sobre amplos aspectos que envolv<strong>em</strong> amastectomia. São aspectos que necessitam ser ressaltadosporque, na maioria das vezes, os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> não<strong>de</strong>stinam a <strong>de</strong>vida atenção a todos os aspectos queenvolv<strong>em</strong> o câncer <strong>de</strong> mama das mulheres e suasconseqüências. Supõe-se a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>ssesprofissionais se sentir<strong>em</strong> incomodados ou inseguros naabordag<strong>em</strong> da intimida<strong>de</strong> sexual da mulher e,consequent<strong>em</strong>ente, se restringir<strong>em</strong> aos estados clínicos daspacientes diante dos quais se sent<strong>em</strong> mais b<strong>em</strong>preparados 28,30,38-40 .É imprescindível que na abordag<strong>em</strong> à mulher vitimada pelocâncer <strong>de</strong> mama se possa contar com equipe multidisciplinarintegrada pelo médico, enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo,entre outros profissionais. O treinamento contínuo dosm<strong>em</strong>bros <strong>de</strong>ssa equipe, com abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong> amplosaspectos da mastectomia e suas conseqüências para a148 - Rev. Min. Enf., 7(2):145-51, jul./<strong>de</strong>z., 2003
MASTECTOMIA E SUA INFLUÊNCIA SOBRE A VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE:ANÁLISE DA PRODUÇÃODO CONHECIMENTO UTILIZANDO UMA BASE DE DADOS INFORMATIZADAmulher e sua família, contribui para a diminuição do impactoda doença nos processos <strong>de</strong> diagnóstico, tratamento e <strong>de</strong>reabilitação e, consequent<strong>em</strong>ente, para a sua qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida 41-45 .ConclusõesA revisão da literatura científica sobre o t<strong>em</strong>a mastectomiae sua influência sobre a vivência da sexualida<strong>de</strong> permitiuconstatar a existência <strong>de</strong> 53 publicações abordando estat<strong>em</strong>ática, no período compreendido entre 1992 a 2002. Entreelas foram encontradas 44 na fonte Medline e nove nafonte Dedalus.Na classificação das publicações segundo o tipoconstatou-se que 29 tratavam <strong>de</strong> resultados <strong>de</strong> pesquisa, 17eram estudos relativos à assistência e sete se referiam aestudos clínicos.Quanto ao ano <strong>de</strong> publicação observou-se maiorprevalência entre 1998 e 1999, sendo que os países qu<strong>em</strong>ais publicaram textos nesta t<strong>em</strong>ática foram os EstadosUnidos da América e a Inglaterra. O idioma mais prevalenteno que se referiu às publicações <strong>de</strong>sta t<strong>em</strong>ática foi o inglês.Dados da literatura relativos ao âmbito clínico revelaramque alguns medicamentos ag<strong>em</strong> no sentido <strong>de</strong> prolongar osefeitos da quimioterapia e, consequent<strong>em</strong>ente, os efeitoscolaterais <strong>de</strong>ste tratamento, inclusive no âmbito dasexualida<strong>de</strong>. Não há evidências científicas quanto àexistência <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> limite para a ocorrência do câncerductal invasivo.Estudos sobre a influência da mastectomia no âmbitopsicossocial d<strong>em</strong>onstraram que o câncer <strong>de</strong> mama afetamuitos aspectos da sexualida<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina, abrangendo tantoa dimensão física quanto a <strong>em</strong>ocional. Houve menção dasconseqüências da mastectomia sobre a auto-imag<strong>em</strong> damulher. Tais alterações abrangiam aspectos relativos àvergonha do corpo e do parceiro sexual, medo da rejeição,da frigi<strong>de</strong>z, do reinício dos relacionamentos sexuais e atémesmo, quanto à tomada <strong>de</strong> iniciativa neste âmbito.Exist<strong>em</strong> evidências científicas comprovando o impacto damastectomia sobre o estilo <strong>de</strong> vida das mulheres, a reduçãoda auto-estima, as alterações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, o sentimento <strong>de</strong>perda da f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong> e dificulda<strong>de</strong>s no relacionamentoconjugal. São alterações consequentes ao menor <strong>de</strong>sejosexual d<strong>em</strong>onstrado pelos parceiros.Houve referência ao fato <strong>de</strong> a mama se constituir numsímbolo <strong>de</strong> f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>, sexualida<strong>de</strong>, maternida<strong>de</strong> e beleza.Cabe, portanto, aos m<strong>em</strong>bros da equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, umamaior relevância aos inúmeros aspectos que envolv<strong>em</strong> ocâncer <strong>de</strong> mama e a mastectomia. Estas provocam gran<strong>de</strong>impacto sobre a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da mulher, o que requerpreparo e envolvimento dos profissionais envolvidos coma assistência.As pesquisas referidas e suas conclusões necessitam serdo conhecimento dos profissionais envolvidos com aassistência à mulher vitimada pelo câncer <strong>de</strong> mama esubmetida à mastectomia, para que a assistência prestadapor eles seja baseada <strong>em</strong> evidências científicas. Esta é umacondição essencial requerida dos profissionais que prestamassistência à saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Sobretudo no âmbito daenfermag<strong>em</strong>, esses profissionais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> enten<strong>de</strong>r que suaação <strong>de</strong>ve estar voltada à monitorização das condições daspacientes e prevenir catástrofes. Mais que isso, àenfermag<strong>em</strong>, sobretudo ao enfermeiro, cabe aresponsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> educar as pacientes sobre como vivercom sua enfermida<strong>de</strong> preservando o máximo sua qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida, assim como dar suporte aos m<strong>em</strong>bros da família nosprocesso <strong>de</strong> enfrentamento das doenças 46 .SummaryThis article is a review of scientific literature on mastectomyand its influence on sexual experience. The followingdatabases were reviewed: On-Line Analysis and RetrievalSyst<strong>em</strong> (MEDLINE); Caribbean and Latin-American HealthScience Literature (LILACS), Cumulative In<strong>de</strong>x for Nursing andAllied Health Literature (CINAHL); University of São PauloBibliographical Database (DEDALUS). 53 papers were found,55% of which inclu<strong>de</strong>d research findings, 32% relate<strong>de</strong>xperiences and 13% clinical practice. The latter focusedmainly on psychosocial aspects.Keywords: Mastectomy-Psychology, Sexuality-Psychology;Research; PublicationsResumenSe trata <strong>de</strong>l análisis <strong>de</strong> la producción <strong>de</strong>l conocimientocientífico referente a la mastectomía y su influencia sobrela vivencia <strong>de</strong> la sexualidad. Se realizó una revisiónsist<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> la literatura en las siguientes bases <strong>de</strong> datos:Analysis and Retrieved Syst<strong>em</strong> On-Line (MEDLINE);Literatura Latinoamericana y <strong>de</strong>l Caribe en Ciencias <strong>de</strong>la Salud (LILACS); Cummulative In<strong>de</strong>x for Nursing andAllied Health Literature (CINAHL), Banco <strong>de</strong> DatosBibliográficos <strong>de</strong> la Universidad <strong>de</strong> São Paulo(DEDALUS). Se encontraron 53 publicaciones entre lascuales el 55% estaba relacionado a resultados <strong>de</strong>investigación, el 32% a relatos <strong>de</strong> la asistencia y el 13%a la práctica clínica; este conjunto enfocaba, sobre todo, elaspecto psicosocial <strong>de</strong> la t<strong>em</strong>ática.Palabras clave: Mastectomía-Psicología; Sexualidad-Psicología; Investigacion; Publicaciones- Rev. Min. Enf., 7(2):145-51, jul./<strong>de</strong>z., 2003149