dados, aquela emissora fará excelente propagada da luta que ora se desenvolve nas matasdo Araguaia.Desde o dia 10, eu (de agora em diante falarei na primeira pessoa do singular,acabarei com a “frescura” do “nós”) eu e o Ivo estamos sós. No acampamento, a vida émonótona e, naturalmente, leva à meditação. Fico a pensar nos camaradas da cidade a quemme ligam sólidos laços de amizade forjados em longos e longos anos de militânciapartidária. Aguardo com ansiedade notícias suas e também maior solidariedade e ajudaconcreta por parte deles à nossa luta. Lembro-me do pessoal de casa. Que estarão fazendoAl e Vic? Neste mês, o Marcelo, meu neto, faz seis anos. Estou me tornando um ancião.Ora bolas! Não me rendo, continuarei a ser sempre jovem, um revolucionário, um marxistaleninista.Não por acaso o comunismo é a juventude do mundo. Confio, com o mesmoardor de moço, na vitória da revolução no Brasil.19/6 – Tornei a sair ontem em tarefa de exploração com o Ivo (este, no dia anterior,abatera dois jacus e comemos até nos fartar). Desta vez subimos o igarapé maior e logoencontramos enorme castanheira. O chão estava coalhado de ouriços e recolhemos cerca deduas latas de castanhas, aumentando, assim, a nossa reserva de alimentos. Foi o Ivo queagüentou todo o peso durante mais de 3 horas de andanças. A viagem de regresso,deparamo-nos com um carumbé e jabota. Estava assegurado o “boião” de hoje e amanhã.No acampamento, como em toda a mata, apareceu outra personagem incômoda: a mutuca.Parece que com o calor ela prolifera. Atazana a nossa vida. Trata-se de uma mosca grande,munida de uma tromba, verdadeira seringa hipodérmica. Sua ferroada é bem dolorosa e seuzunido é de tirar a paciência de qualquer um. Quando pousa sobre a pessoa, fica imóvel,talvez inebriada pelo gosto do sangue. Então, é fácil mata-la.Ouvi novas reportagens sobre a “transcendental” visita de Fidel. Agora está naAlemanha Oriental. Continua a vender seu peixe podre, a fazer demagogia vulgar e a apoiarcom entusiasmo os revisionistas. Está muito feliz com a triste figura que vem fazendo e seafunda mais e mais no lodaçal do oportunismo.22/6 – Esquisito vem sendo o clima nesta segunda quinzena do mês de junho.Parece até que estamos na estação das águas. Vem chovendo com freqüência e alguns diasse apresentam nublados como o de hoje. Ontem mesmo choveu à noite e na manhã de 19caiu pesado “toró”. Tudo isso nos causa embaraços. Mas não tem grande importância. Logoo sol brilhará intensamente, e seus raios se infiltrarão entre as árvores e seu calor animará ohabitante da selva.No dia 20 não apareceram o Joaq e o Jo, como estava combinado. Penso que eracedo para chegarem. Aguardo ansioso a sua presença, pois trazem novidades do DA. Aquiestarão a 25.Hoje de manhã saí com o Ivo. Ele abateu um mutum e uma cotia. Assim, livrar-nosemosda “dieta” da polenta no leite da castanha de ontem e de hoje de manhã (durante o dianão se cozinha). A propósito da castanha do Pará, é preciso assinalar que, comendo-adiariamente, como fizemos, ela determina uma diarréia constante. Deve ser o seu óleo.Precisamos ser mais moderados na castanha, embora seu teor nutritivo seja elevado.O Ivo acaba de ter uma manifestação de malária. Tomou quinino e está de rede. Senão ficar logo bom será um espeto. Agora só conto com ele para atender os pontos, caçar erealizar outros misteres de que não tenho condições de fazer.23/6 – O dia começou com intensa atividade aérea do inimigo. Além do ruído dohelicóptero que ouvimos permanentemente, já passaram sobre nosso acampamento mais de
5 aviões, entre os quais um jato. Isto em apenas duas horas. Que será? Espero o regresso doJoaq e do Pe para saber o que há. Talvez eles saibam alguma coisa.Como agora estou livre, aproveito o tempo para recordar fatos que antecederam oataque das forças reacionária aos nossos PP AA. Havia muitos indícios de que essa agressãologo se verificaria. A 17 ou 18 de março, encontrava-se num dos PP AA do DC quando Peapareceu inesperadamente e comunicou que chegara um portador de Plo, avisando que umelemento que fugira daquele D fora preso. Era uma notícia grave. O desertor poderia nosdenunciar. Mas o aviso também informava que ele, até então, nada dissera. Isto serviu paraque afrouxássemos a vigilância. Medias concretas foram, no entanto, tomadas. Decidisuspender a minha programação no DC. Este destacamento foi posto em estado deemergência e ordens expressas foram dadas para reforçar a segurança. Os demais DD játinham sido avisados. Mas, apesar disso, não nos preocupamos suficientemente paraenfrentar uma surpresa e responder à altura a um ataque inimigo. Regressei ao PA do DG,onde funcionava a CM. Esta reuniu imediatamente e tomou uma série de outrasprovidências. Chegavam notícias de que em S. Geraldo estava estacionada pequena tropado Exército, mas que lá se encontrava apenas em função da repressão à caça e à pescailegais. Acreditamos em tal conversa. Companheiros nossos estiveram no vilarejo e nadaviram de anormal.Como se aproximava o dia da chegada do Cid, parti, a 9 de abril, juntamente com oJu, para o Peazão, de onde saíram os companheiros que iriam trazer aquele camarada. Bempróximo do nosso destino, ao passar pela casa do último morador, notei que este e maisoutro camponês nos olhavam admirados, dando a impressão de que queriam avisarqualquer coisa. Como não desejasse que conhecessem o Ju, não parei e continuei meucaminho. No Peazão tomei conhecimento de conversas estranhas de alguns camponesesamigos. Falavam de revolução e criticavam o governo. Um chegou a perguntar pelo nosso“fuzilão” e outro nos aplaudiu por armazenarmos sal. Também o Nu e o Nel encontraramcamponeses da região de onde foram obrigados a sair. Eles diziam claramente que sabiamos motivos de sua saída brusca e comprometiam-se a não falar com ninguém. Praticamente,o nosso segredo estava rompido.Na manhã seguinte, quando o Ju já partira para atender alguns doentes do G2, chegou oSand, informando que ele e o Lu encontraram um cidadão de S. Domingos e esteperguntara se eram “mineiros”. Diante da resposta negativa, comunicou que soubera emMarabá que um tenente, dispondo de um croquis que assinalava S. José e Bom Jesus(ambas corrutelas colocadas nos dois caminhos que levam ao Peazão), vinham “juntar” uns“mineiros”, entre os quais havia um velho com duas filhas, conhecido de um coronel, quese achava naquela cidade. Dizia conhece-lo (não sei se do rio Araguaia se do Rio deJaneiro). Não demos a necessária importância à comunicação porque o informante pareciasuspeito pelos seus antecedentes. Assim mesmo, tomaram-se algumas medidas. Decidiu-sedormir fora de casa e despachar o Piauí para S. Domingos para averiguar o que acontecia..Ao meio-dia de 12 de abril apareceram dois camponeses com a informação de dois tiposestranhos, com aspecto de investigadores, estavam investigando o caminho do Peazão.Utilizando um elemento da massa chegara até o entroncamento do caminho do Peazão coma estrada do Mano. Estava para nós bastante claro qual o seu objetivo. Quando nosdispúnhamos a tomar as providências exigidas, chegou a notícia de que soldados seaproximavam e estavam a uma distância que duraria duas ou três horas para percorrer.Assim, o G3 do DA se mobilizou e retirou-se, carregando o que podia. Foram feitas três
- Page 1 and 2: DE 1972 A 25 DE DEZEMBRO DE 197330/
- Page 3 and 4: No DB também o moral é elevado. O
- Page 5 and 6: porque não estamos em época de
- Page 7 and 8: Quando Joaq, o Jo e o Ivo partiram
- Page 9 and 10: 20 e 25 homens (a informação de q
- Page 11 and 12: 30/5 - No dia 28/5 Ju e Ivo partira
- Page 14 and 15: ou em outras formas de organizaçã
- Page 18 and 19: viagens do Peazão ao Peazinho. Mas
- Page 20 and 21: sustentar até agora. Realizando pr
- Page 22 and 23: 10/7 - Ao anoitecer, chegou o Joaq
- Page 24 and 25: lavradores que desbravam matas e cr
- Page 26 and 27: minhas possibilidades, jamais deixe
- Page 28 and 29: manifestações de massas, choques
- Page 30 and 31: assunto. Seja qual for a explicaç
- Page 32 and 33: deste, com o Joaq. Também o pessoa
- Page 34 and 35: mercadoria, o que possibilita à ma
- Page 37 and 38: A CM tem funcionado normalmente e t
- Page 39 and 40: DC (se for feito o contato):Prepara
- Page 41 and 42: nossos camaradas souberam? Será qu
- Page 43 and 44: A aviação inimiga prossegue sua a
- Page 45 and 46: companheira de mais de 30 anos, com
- Page 47 and 48: parte retirados das matas. A flores
- Page 49 and 50: grupos que deveriam atuar em conjun
- Page 51 and 52: estar agora concentradas nas cidade
- Page 53 and 54: Comando das FF GG do Araguaia a um
- Page 55 and 56: outros sacos de milho. Não realiza
- Page 57 and 58: FORÇAS GUERRILHEIRAS DO ARAGUAIACO
- Page 59 and 60: 4/12 - Peguei bruta malária, que m
- Page 61 and 62: Na atividade profissional tive opor
- Page 63 and 64: Elaboramos também um programa pol
- Page 65 and 66: O DA obteve importantes êxitos. Pe
- Page 67 and 68:
tomar medidas para organizar as res
- Page 69 and 70:
Os mensageiros do DB deram notícia
- Page 71 and 72:
Depois de todas essas baixas, o DC
- Page 73 and 74:
experiente do ponto de vista milita
- Page 75 and 76:
segundo as primeiras informações
- Page 77 and 78:
Passei a noite toda pensando na vid
- Page 79 and 80:
grupos, visitou 20 famílias. Compr
- Page 81 and 82:
tornar participante ativo da revolu
- Page 83 and 84:
um debate sobre a cultura. Abri a d
- Page 85 and 86:
inimigo não se atreve a penetrar n
- Page 87 and 88:
hectares), dividida em numerosos lo
- Page 89 and 90:
No primeiro aniversário da resist
- Page 91 and 92:
os patriotas e democratas, revela q
- Page 93 and 94:
d) as FF GG dominam a mata. A grand
- Page 95 and 96:
) Ajuda Política. Propaganda no Pa
- Page 97 and 98:
cumpriu o plano de abastecimento pa
- Page 99 and 100:
ainda, um morcego mordeu-me. Este h
- Page 101 and 102:
arroz. Há informação de que um j
- Page 103 and 104:
complemento na rede. Mas, todos os
- Page 105 and 106:
A Rádio Tirana nos dá boa notíci
- Page 107 and 108:
de Grupo e de Destacamento; e) Pape
- Page 109 and 110:
Tudo enfrenta com denodoPara livrar
- Page 111 and 112:
Durante esse período obtivemos not
- Page 113 and 114:
LutarDa Amazônia surge um grito va
- Page 115 and 116:
Terá então se esboroadoUm ciclo,
- Page 117 and 118:
mais curtos, em curiosa modulação
- Page 119 and 120:
ventania do diabo. Verdadeiro dilú
- Page 121 and 122:
porque nossa linha política, basta
- Page 123 and 124:
Se temos a perspectiva de criar uma
- Page 125 and 126:
omance (literatura de cordel), de a
- Page 127 and 128:
Um grupo chefiado pelo Mundico real
- Page 129 and 130:
um pequeno fazendeiro que no iníci
- Page 131 and 132:
Trata-se do camponês que apareceu
- Page 133 and 134:
O Destacamento Helenira concita a t
- Page 135 and 136:
hoje, cedo, voltou com um tatu. À
- Page 137 and 138:
marchas, etc. Caso contrário, enfr
- Page 139 and 140:
16/11 - No dia 14 chegaram ao acamp
- Page 141 and 142:
evólveres. Enfrentamos atualmente
- Page 143 and 144:
44; 2 quilos e meio de pólvora, ch
- Page 145:
Espero a vinda do Joaq para discuti