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Grabois - Carta Capital

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Estamos convencidos de que a nossa causa é justa e certos de que a simpatia da esmagadoramaioria da população está do nosso lado. Não é ocasional o fato de a ditadura baixar pesadacortina de silêncio, através de férrea censura à imprensa, ao rádio e à televisão, sobre osacontecimentos que ora se verificam no Sul do Pará. É o temor de que o exemplo frutifique.Nada, porém, poderá deter a avalanche da revolta popular contra a tirania. A chama darebelião para pôr abaixo a ditadura foi acesa no Araguaia e, com o decorrer do tempo,alastrar-se-á por todo o Brasil.Sejam quais forem as vicissitudes que teremos que passar – a fome e o cansaço, osferimentos, as doenças e a morte, a prisão e a tortura – não arriaremos nossa bandeiralibertária e de redenção nacional. Ninguém poderá abafar as profundas e arraigadasaspirações de liberdade do povo brasileiro, do qual somos legítimos representantes. Ondehá opressão sempre há de existir resistência e luta. As causas justas, mais dia menos dia,triunfam. Hoje, em nosso país, combate-se e morre-se pela liberdade. Por tudo isso, nãoserá em vão o sacrifício e o sangue derramado por milhares de jovens desprendidos eabnegados para conquistar a democracia e para instaurar um regime que ampare todos osbrasileiros.Queira aceitar as nossas mais respeitosas saudações.De algum lugar das matas amazônicas, 20 de julho de 1972.José Carlos, Joça, Alice, Beto e Luiz, moradores do sítio Faveira, às margens do Araguaia.Ontem, mudamos de acampamento. A água estava insuportável e causando desinteria. Nonovo lugar havia um olho d’água que foi transformado em cacimba. O “precioso líquido –chavão dos focas da imprensa burguesa – é excelente, e precioso mesmo. Pensamos emficar neste acampamento, que se situa num alto, durante bastante tempo, pois nos meses deagosto, setembro e, talvez outubro as grotas estão secas. Os companheiros estãopesquisando outros acampamentos com este.Pe voltou da referência com o Osv. Nem sombra dele. A próxima referência será a 28.Praticamente, estamos desligados do DB.Já quase à noite, às 18:50, apareceu o Zezinho que fora buscar alguns materiais em nossosdepósitos. No caminho matou um porcão. Vinha sobrecarregado. Como perdera o rumo, foipara ele verdadeiro sacrifício chegar até o acampamento. É um camarada de fibra.A Rádio Tirana voltou a retransmitir o artigo do Cid, que foi publicado hoje no “ZeriPopulit”, órgão central do CC do PTA. Cada vez mais admiro os camaradas albaneses. Sãonossos bons amigos.22/7 – Nenhuma novidade especial. Joaq está atacado de malária e estendido na rede. Pepadece de terrível desinteria, sente intensas cólicas e está enfraquecido. Continua, noentanto, trabalhando. Zezinho saiu para uma espera. Aproveito a tranqüilidade doacampamento para transcrever a carta que o Osv iria enviar a seus amigos de Palestina,Itamirim e Araguatins. A carta é a seguinte:Prezado amigoComo já deve ser do seu conhecimento, encontro-me nas matas do Araguaia, de armas nasmãos, enfrentando soldados do governo que pretendem me apanhar vivo ou morto. Emnome de nossa antiga amizade, tomo a liberdade de lhe escrever a fim de explicar osmotivos porque me acho nessa situação e as razões da luta em que estou empenhado.Há mais de 6 anos morava nesta região, dedicando-me, honesta e pacificamente, ao durotrabalho do garimpo ou do marisco. Você é testemunha do meu comportamento, tanto emAraguatins e Marabá, como em Itamirim e Palestina. Nunca prejudiquei ninguém nemofendi qualquer pessoa. Sempre fui benquisto e alvo de muitas atenções. Na medida de

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