lavradores que desbravam matas e criam riqueza na região. Também não nos conformamoscom os pesados tributos cobrados ilegalmente pelo INCRA. Camponeses que vivemabandonados e na miséria são obrigados a pagar, a título de taxas, quantias elevadas, muitoacima de suas possibilidades, sem nada receberem em troca. Igualmente, sempreestigmatizamos a exploração e opressão a que estão sujeitos os castanheiros, ostrabalhadores das companhias de extração de madeira e os peões das grandes fazendas, cujasituação pode ser considerada à dos parias e dos escravos.Nosso inconformismo deve ter chegado aos ouvidos das autoridades ditatoriais. Porisso, tais autoridades voltaram-se furiosamente contra nós. Agrediram-nos brutalmente,queimaram casas, danificaram plantações, apoderaram-se indevidamente de bens e objetosde uso pessoal. Mas resolvemos reagir e resistir por todos os meios ao governo déspota eantipopular. Decidimos enfrentar a ditadura com a força, embrenhando-nos nas matas earmando-nos com o que podíamos. Inspira-nos a idéia de emancipar o Brasil do opróbriodo regime ditatorial ou morrer lutando pela liberdade e felicidade de nosso povo. Nãoqueremos ser cúmplices, pela omissão de um governo que escraviza a Nação, entrega asriquezas do país aos trustes estrangeiros, prende, espanca, tortura e assassina patriotas detodas as condições sociais, de todas as convicções políticas, religiosas e filosóficas.Assim articulamo-nos com outros elementos descontentes da região para defender nossasvidas, acabar com a grilagem, lutar pela democracia, por uma Nação livre e independente.Diante de tal atitude, o governo dos generais, o governo mais tirânico que o Brasil já teve,propala cinicamente que somos marginais, contrabandistas, assassinos e assaltantes debancos. Mas todos devem saber que isso não passa de grosseira calúnia. Inúmeras pessoasque nos conhecem estão inteiradas de que não cometemos nenhum crime, nem fizemosqualquer mal. A ditadura também espalha que somos terroristas, É outra mentira. Jamaisrecorremos ao terrorismo, método de luta que condenamos, embora reconheçamos comopatriotas e democratas os inúmeros jovens brasileiros que são compelidos a apelar para talmétodo a fim de combater o terror negro implantado pelos militares em todo o país.Muitos dos que estão de armas nas mãos têm instrução superior ou são universitários eestudantes secundários. Ao nosso lado estão operários e camponeses esclarecidos. Hápessoas de diferentes matizes políticos e religiosos, inclusive católicos. Todos elespoderiam viver comodamente, desfrutar a paz, o conforto e o bem-estar em seus lares.Fiéis, porém à sua consciência, escolheram o caminho da luta, preferiram morar na selva,passar fome, dormir ao relento e, se necessário, sacrificar a vida, a se calar diante de umregime que infelicita o país há mais de 8 anos. Os que se portam desse modo agem comomilhares e milhares de brasileiros – entre os quais se incluem muitos padres católicos -que, nas cidades, combatem o jugo dos generais e de um punhado de ricaços nacionais eestrangeiros. Vão ao encontro dos mais legítimos anseios do nosso povo que aspira àliberdade e não quer viver sufocado sob o tacão da ditadura.Com este pensamento, os combatentes que empunham armas na selva amazônicaorganizaram um movimento para dirigir a resistência armada contra a ditadura e paraconquistar um governo verdadeiramente popular, autenticamente democrático e livre datutela dos monopólios internacionais, principalmente o norte-americano. Fundaram oMovimento de Libertação do Povo, cujo programa é a sua bandeira de luta. Permitimo-nos,Exmo Sr Bispo, enviar-lhe o Manifesto que lança esse Movimento para que V Excia seinteire plenamente de nossos objetivos ao enfrentarmos, com decisão e coragem, as forçasrepressivas do governo.
Estamos convencidos de que a nossa causa é justa e certos de que a simpatia da esmagadoramaioria da população está do nosso lado. Não é ocasional o fato de a ditadura baixar pesadacortina de silêncio, através de férrea censura à imprensa, ao rádio e à televisão, sobre osacontecimentos que ora se verificam no Sul do Pará. É o temor de que o exemplo frutifique.Nada, porém, poderá deter a avalanche da revolta popular contra a tirania. A chama darebelião para pôr abaixo a ditadura foi acesa no Araguaia e, com o decorrer do tempo,alastrar-se-á por todo o Brasil.Sejam quais forem as vicissitudes que teremos que passar – a fome e o cansaço, osferimentos, as doenças e a morte, a prisão e a tortura – não arriaremos nossa bandeiralibertária e de redenção nacional. Ninguém poderá abafar as profundas e arraigadasaspirações de liberdade do povo brasileiro, do qual somos legítimos representantes. Ondehá opressão sempre há de existir resistência e luta. As causas justas, mais dia menos dia,triunfam. Hoje, em nosso país, combate-se e morre-se pela liberdade. Por tudo isso, nãoserá em vão o sacrifício e o sangue derramado por milhares de jovens desprendidos eabnegados para conquistar a democracia e para instaurar um regime que ampare todos osbrasileiros.Queira aceitar as nossas mais respeitosas saudações.De algum lugar das matas amazônicas, 20 de julho de 1972.José Carlos, Joça, Alice, Beto e Luiz, moradores do sítio Faveira, às margens do Araguaia.Ontem, mudamos de acampamento. A água estava insuportável e causando desinteria. Nonovo lugar havia um olho d’água que foi transformado em cacimba. O “precioso líquido –chavão dos focas da imprensa burguesa – é excelente, e precioso mesmo. Pensamos emficar neste acampamento, que se situa num alto, durante bastante tempo, pois nos meses deagosto, setembro e, talvez outubro as grotas estão secas. Os companheiros estãopesquisando outros acampamentos com este.Pe voltou da referência com o Osv. Nem sombra dele. A próxima referência será a 28.Praticamente, estamos desligados do DB.Já quase à noite, às 18:50, apareceu o Zezinho que fora buscar alguns materiais em nossosdepósitos. No caminho matou um porcão. Vinha sobrecarregado. Como perdera o rumo, foipara ele verdadeiro sacrifício chegar até o acampamento. É um camarada de fibra.A Rádio Tirana voltou a retransmitir o artigo do Cid, que foi publicado hoje no “ZeriPopulit”, órgão central do CC do PTA. Cada vez mais admiro os camaradas albaneses. Sãonossos bons amigos.22/7 – Nenhuma novidade especial. Joaq está atacado de malária e estendido na rede. Pepadece de terrível desinteria, sente intensas cólicas e está enfraquecido. Continua, noentanto, trabalhando. Zezinho saiu para uma espera. Aproveito a tranqüilidade doacampamento para transcrever a carta que o Osv iria enviar a seus amigos de Palestina,Itamirim e Araguatins. A carta é a seguinte:Prezado amigoComo já deve ser do seu conhecimento, encontro-me nas matas do Araguaia, de armas nasmãos, enfrentando soldados do governo que pretendem me apanhar vivo ou morto. Emnome de nossa antiga amizade, tomo a liberdade de lhe escrever a fim de explicar osmotivos porque me acho nessa situação e as razões da luta em que estou empenhado.Há mais de 6 anos morava nesta região, dedicando-me, honesta e pacificamente, ao durotrabalho do garimpo ou do marisco. Você é testemunha do meu comportamento, tanto emAraguatins e Marabá, como em Itamirim e Palestina. Nunca prejudiquei ninguém nemofendi qualquer pessoa. Sempre fui benquisto e alvo de muitas atenções. Na medida de
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hoje, cedo, voltou com um tatu. À
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evólveres. Enfrentamos atualmente
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Espero a vinda do Joaq para discuti