EDITORIAL Oideal de uma educação para todos, após três ... - APPOA
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SEÇÃO TEMÁTICACABISTANI, R. M. O. Autorida<strong>de</strong> e violência.trouxe como conseqüência <strong>uma</strong> valorização maior da família também, e daparticipação <strong>de</strong> ambos os pais da criança. Era <strong>uma</strong> recomendação pediátricaque as mulheres cuidassem elas mesmas <strong>de</strong> seus bebês e que os pais não<strong>de</strong>legassem sua autorida<strong>de</strong> a colégios.O dicionário Aurélio (p.204) <strong>de</strong>fine autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diversas maneiras.Selecionei aquelas que penso po<strong>de</strong>r articular a esta reflexão: 1- Direito oupo<strong>de</strong>r <strong>de</strong> se fazer obe<strong>de</strong>cer, <strong>de</strong> dar or<strong>de</strong>ns, <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões, <strong>de</strong> agir.... 2-Aquele que tem por encargo fazer respeitar as leis, representante do po<strong>de</strong>rpúblico. 3- Influência, prestígio, crédito. 4- Indivíduo <strong>de</strong> competência indiscutívelem <strong>de</strong>terminado assunto.Com a valorização da família enquanto instituição privada, o pai emnossa civilização passou a ocupar a função <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> junto aos filhos,isto é, aquele que faz valer a lei, que representa o público no espaço privadoda família, responsável pela formação da moralida<strong>de</strong> inicial da criança antesque ela enfrente a socialização secundária representada pela Escola, ou emtermos psicanalíticos, o responsável pela castração.Em Freud, a teoria do Complexo <strong>de</strong> Édipo remete ao lugar do pai, oumelhor dizendo, a função <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> se confun<strong>de</strong> com a temática do pai,situando como palco privilegiado o drama edípico, conforme diz COSTA(2000,p.87). Lacan chama “Nome-do-pai” a função simbólica paterna e afirma que“...se o nome do pai assegura essa função,Em nossa civilização, isso é <strong>de</strong>corrente da influência do monoteísmo,nada tendo <strong>de</strong> obrigatório nem <strong>de</strong> universal. O mito edípico é ativo no inconscientedo indivídio oci<strong>de</strong>ntal, masculino ou feminino, porém, em outras civilizações,as africanas por exemplo, o Édipo po<strong>de</strong>rá ser nada mais do que “umpormenor, em um mito imenso”, outras estruturas simbólicas encontrandosenele, em posição <strong>de</strong> promover a castração.” CHEMAMA(1995, p.57).Este recorrido permite afirmar que quando nossa cultura <strong>de</strong>nuncia afalta <strong>de</strong> limites, a agressivização das relações sociais e a própria violência,i<strong>de</strong>ntificando como causa a ausência <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> paterna, ela está apenasinterpretando um mal estar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mito edípico, sem consi<strong>de</strong>rar que a autorida<strong>de</strong>,enquanto <strong>uma</strong> função simbólica, po<strong>de</strong> ser ocupada por diferentesinstâncias e atores. Se essa mesma socieda<strong>de</strong> muda, no sentido <strong>de</strong> queoutros laços sociais se constituem, a função <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> também muda,ou circula, po<strong>de</strong>mos dizer mais apropriadamente.Uma pesquisa realizada em 1998 pela Datafolha, sobre o perfil dafamília brasileira, traz dados muito significativos, que nos permitem avançarem relação a essa análise.No que diz respeito à estrutura, a pesquisa mostra que a organizaçãobásica da família brasileira segue sendo a nuclear (pai, mãe e filhos), masesse mo<strong>de</strong>lo vem per<strong>de</strong>ndo espaço <strong>para</strong> outro mo<strong>de</strong>lo, o matrifocal (filhosque moram apenas com as mães). Para os entrevistados, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte danatureza dos laços que a <strong>de</strong>termina, a família é a instituição social maispresente na vida das pessoas. Apresenta-se cada vez mais mutifacetada,on<strong>de</strong> aumenta o número <strong>de</strong> grupos familiares diferentes da estrutura tradicional:os casados sem filhos, os solteiros com filhos, os solteiros com filhosque moram com os pais, os se<strong>para</strong>dos, ou viúvos com filhos, que constituiramnovos casamentos ou não.Outro dado importante é o <strong>de</strong> que a mãe assumiu papéis que eramtradicionalmente exercidos pelo pai, como por exemplo prover o sustento dafamília. Houve <strong>de</strong> fato <strong>uma</strong> redução do papel do pai na família, e esse incorporououtras responsabilida<strong>de</strong>s, porém são ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caráter mais lúdico.Os pais fazem ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer com as crianças e até compras, mas nãolavam roupas, nem ajudam os filhos com a lição <strong>de</strong> casa. Isto significa queas tarefas <strong>de</strong> caráter mais privado continuam sendo realizadas pelas mães.Estas, além <strong>de</strong> serem i<strong>de</strong>ntificadas como mais próximas dos filhos, <strong>de</strong> abarcarnovos papéis na vida famíliar, também <strong>de</strong>têm um certo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fazer valer asregras e princípios da casa. Porém, um dado bastante significativo na pesquisamostra que o pai é a segunda instância na criação dos filhos, isto é,quando as questões mais difíceis não são resolvidas na primeira instância(mãe), entra o pai, a segunda instância. Sabe-se que no nível da justiça, asegunda instância é a que resolve as disputas que perduram após <strong>uma</strong> <strong>de</strong>cisãoem primeira instância. Esse é um indicador da autorida<strong>de</strong> paterna, queprecipitadamente po<strong>de</strong>ríamos interpretar como <strong>uma</strong> função em <strong>de</strong>clínio.54 C. da <strong>APPOA</strong>, Porto Alegre, n. 98, jan. 2002 C. da <strong>APPOA</strong>, Porto Alegre, n. 98, jan. 200255