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EDITORIAL Oideal de uma educação para todos, após três ... - APPOA

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RESENHARESENHAriam isoladas e protegidas dos conflitos da vida dos adultos.Atualmente, tem-se falado do “fim da infância”: diz-se que a infânciavem se per<strong>de</strong>ndo, que as crianças têm sido tratadas como adultos e que asocieda<strong>de</strong> tem roubado sua possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser infantil. Este fim apareceassociado à privação da educação escolar e a escolarização é apontadacomo um dos remédios <strong>para</strong> a perda da infância, cujo efeito seria <strong>uma</strong> “infância-sem-fim”.Assim, a Educação aparece como um dispositivo social que,ao mesmo tempo que constitui a infância, é <strong>uma</strong> das únicas salvaguardascontra sua morte anunciada.O relato da autora sobre esta história da infância-sem-fim percorrediversos caminhos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as antigas práticas <strong>de</strong> infanticídio, passando pelaexposição das crianças, até a exposição na Roda. Este último mecanismo,em que as crianças eram <strong>de</strong>positadas e recolhidas em instituições, permitiuracionalizar, or<strong>de</strong>nar e centralizar a antiga prática <strong>de</strong> exposição indiscriminada.Tanto as práticas <strong>de</strong> salvar as crianças “expostas” pelo recolhimento nasruas, no século XVII, quanto através da Roda, no século XVIII, <strong>de</strong>ram lugar,nos séculos XIX e XX, às práticas <strong>de</strong> educação, as quais implicavam, também,na “salvação”, disciplina e regulamentação das crianças.Ao longo do livro, vamos acompanhando como o corpo infantil foi sendogradualmente marcado <strong>de</strong> história, precipitando significações que atravessarame atravessam a noção <strong>de</strong> infância: <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, servil, insignificante,pura, inocente, sagrada, louca, doente, primitiva, adulta.A autora também sublinha o caráter constituinte que a escolarizaçãoabrangente da socieda<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal teve em relação à infância. Ao analisaras idéias <strong>de</strong> outros autores a este respeito, <strong>de</strong>monstra que, com a invençãoda imprensa, por Gutmberg, em 1450, e com o surgimento da necessida<strong>de</strong>social <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a ler e a escrever, é criada <strong>uma</strong> nova <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> adultez,baseada na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler, e também <strong>de</strong> infância, baseada na incapacida<strong>de</strong><strong>de</strong> fazê-lo.. Assim, os adultos passam a ter acesso a um meio <strong>de</strong>informação inacessível às crianças.Porém, com o surgimento <strong>de</strong> novos meios <strong>de</strong> comunicação, a partirda invenção do telégrafo, em 1844, esta divisão vai <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ter importân-cia, já que os adultos e as crianças passam a ter acesso às mesmas informações,principalmente, através da televisão. Como afirma a autora, “dianteda televisão, as crianças e os adultos são iguais, abastecem-se na mesmafonte <strong>de</strong> notícias e <strong>de</strong> entretenimento. A televisão faz com que termine adistinção historicamente construída: entre duas culturas, <strong>uma</strong> infantil, outraadulta, e entre dois tipos <strong>de</strong> conhecimento, como a leitura e a escrita haviampromulgado.” (p. 193-4) Com a televisão, encontramos <strong>uma</strong> aceleração do<strong>de</strong>senvolvimento infantil e a <strong>uma</strong> infantilização do adulto, já que diante <strong>de</strong>laambos ficam situados em <strong>uma</strong> mesma posição. No interior <strong>de</strong>ste contexto,a escola aparece como a instituição que trabalha a partir do pressuposto <strong>de</strong>que existem diferenças importantes entre a infância e a vida adulta e que, poreste motivo, os adultos têm coisas <strong>de</strong> valor <strong>para</strong> ensinar às crianças. Emboraa escola não possa diluir os efeitos da mídia, aparece como <strong>uma</strong> últimaforma <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa contra o <strong>de</strong>saparecimento da infância.A autora também analisa as relações entre os dispositivos <strong>de</strong> infantilida<strong>de</strong>e sexualida<strong>de</strong>, os quais combinam-se, produzindo a sexualizaçãodo infantil e a infantilização do sexo. Demonstra que <strong>todos</strong> os dispositivos <strong>de</strong>saber e po<strong>de</strong>r relacionados à sexualida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>limitados por Foucault, possuemrelações com o dispositivo <strong>de</strong> infantilida<strong>de</strong>, integrando e implicando emseus processos, o infantil.No final do livro, precipitam-se cinco figuras <strong>de</strong> <strong>uma</strong> ética da infantilida<strong>de</strong>,as quais emergem como um “retrato” das figuras infantis que percorremos aolongo das páginas. Figuras que surgem como ponto <strong>de</strong> basta <strong>de</strong>sta históriada infantilida<strong>de</strong> e cuja função é apontar alg<strong>uma</strong> resposta à questão a respeitodo tempo presente <strong>de</strong>sta história.Gerson Smiech Pinho78 C. da <strong>APPOA</strong>, Porto Alegre, n. 98, jan. 2002 C. da <strong>APPOA</strong>, Porto Alegre, n. 98, jan. 200279

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