EDITORIAL Oideal de uma educação para todos, após três ... - APPOA
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SEÇÃO TEMÁTICAESPIG, A. S. O papel social do aluno...O PAPEL SOCIAL DO ALUNOADOLESCENTE E A FUNÇÃO DA ESCOLA 1Ana Sílvia EspigNosso interesse pelo adolescente transformou-se em reflexão e pesquisa,a partir dos trabalhos que temos <strong>de</strong>senvolvido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a nossadissertação <strong>de</strong> mestrado, fazendo confluir a prática clínica psicanalíticacom a explicitação do papel social do adolescente. O gran<strong>de</strong> <strong>para</strong>doxoque temos encontrado <strong>de</strong> contínuo é que, aos adolescentes, estão ligadasas maiores preocupações sociais – aumento da <strong>de</strong>linqüência, da violência,do uso <strong>de</strong> drogas, prostituição, a dificulda<strong>de</strong> em ter limites – e o estilo <strong>de</strong>vida do adolescente como a possibilida<strong>de</strong> da realização dos sonhos do adulto.Como a maioria dos pesquisadores sobre a adolescência, nós tambémacreditávamos conhecer o adolescente. A literatura especializada nosfazia acreditar n<strong>uma</strong> etapa pré-estabelecida da vida, com data <strong>de</strong> entrada e<strong>de</strong> saída, outorgando características variadas e previsíveis, comportamentosjustificados <strong>de</strong>vido à faixa etária, isto é, as crises e/ou conflitos apresentadoseram aceitos como sinônimos da ida<strong>de</strong>. Hoje, no entanto, a adolescêncianos parece mais <strong>uma</strong> passagem necessária e menos <strong>uma</strong> questão <strong>de</strong>ida<strong>de</strong> do que <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>.Aqui preten<strong>de</strong>mos apresentar cinco aspectos essenciais, que ocorrem<strong>de</strong> maneira integrada na vida do adolescente (e que dizem respeito aoseu papel social), que em muito nos tem ajudado a pensar o nosso tema,<strong>para</strong> chegarmos a elaborar alg<strong>uma</strong>s idéias sobre o papel do aluno adolescentee a função da escola.1. O adolescente como mo<strong>de</strong>lo social e consumidor:O adolescente passou a ter um papel forte quanto ao estabelecimentoda moda e do mercado, tornando-se mo<strong>de</strong>lo e consumidor, lançando produtose estilo <strong>de</strong> vida. Estamos em <strong>uma</strong> socieda<strong>de</strong> que toma o adolescente1Este texto foi a base <strong>para</strong> a palestra proferida no Fórum Mundial <strong>de</strong> Educação.como mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> vida, o que vem se intensificando nas últimas décadas. Poroutro lado, n<strong>uma</strong> tentativa <strong>de</strong> retardar a velhice, a adolescência tornou-se<strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> i<strong>de</strong>al e imperativo a ser preservado e obe<strong>de</strong>cido, tanto físicocomo psicológico. Não se aspira mais à autorida<strong>de</strong> e à sabedoria da velhice– a própria autorida<strong>de</strong> passou a ser questionada – mas a velhice é algo a serpostergado sob as vestes da eterna juventu<strong>de</strong> adolescente.Essa “cultura” adolescente, integrada à socieda<strong>de</strong> capitalista, funcionasegundo a lei do mercado, voltada <strong>para</strong> a produção e o consumo <strong>de</strong>produtos que visam realizar os <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong>.Neste novo cenário sociocultural, as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s não mais se organizame se configuram em torno <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais caros à mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> tais como acidadania, mas sob o império <strong>de</strong> um novo senhor: o consumo. Nesta perspectiva,o adolescente torna-se um expoente, assumindo um lugar privilegiadocomo representante e mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> consumo a ser seguido.2. Indiferença às questões sociais:Surge <strong>uma</strong> nova imagem <strong>de</strong> cidadão, que assume comportamentosconectados mais pelo imaginário do consumo e menos pelos <strong>de</strong>sejos comunitários.Per<strong>de</strong>-se o i<strong>de</strong>al coletivo e assume-se <strong>uma</strong> postura narcísica eindividual, que por sua vez acaba por atuar como um mo<strong>de</strong>lo homogenizante.Esta nova geração não carrega sonhos <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> social, mas <strong>de</strong> bemestar individual.O posicionamento reivindicatório do adolescente, <strong>de</strong> maneira geral,<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ter as características das reivindicações dos anos 70 e agora po<strong>de</strong>ser lido como <strong>uma</strong> tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se <strong>de</strong> um impasse, na realida<strong>de</strong>sem buscar sua resolução, como <strong>uma</strong> posição produzida por um projetonarcisista em busca <strong>de</strong> auto-satisfação, cuja extensão social não vai alémdos amigos.3. Valorização da liberda<strong>de</strong> e dos direitos:N<strong>uma</strong> socieda<strong>de</strong> baseada na expressão e na afirmação da personalida<strong>de</strong>individual, a obrigação junto aos pais per<strong>de</strong> irremediavelmente sua for-58 C. da <strong>APPOA</strong>, Porto Alegre, n. 98, jan. 2002 C. da <strong>APPOA</strong>, Porto Alegre, n. 98, jan. 200259