EDITORIAL Oideal de uma educação para todos, após três ... - APPOA
EDITORIAL Oideal de uma educação para todos, após três ... - APPOA
EDITORIAL Oideal de uma educação para todos, após três ... - APPOA
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
NOTÍCIASNOTÍCIASFASES INTERNO INSTITUIÇÃOFilantrópica (1500-1874) Bastardo BeneméritaFilantrópica-Higienista (1872-1922) Exposto Entida<strong>de</strong> SanitaristaAssistencial (1924-1964) Assistido Promotoria SocialInstitucional (1964-1990) “Menor” “Institucionalização”Desinstitucionalização-ECA (1990-?) Detentor <strong>de</strong> Direitos Asseguradora <strong>de</strong> DireitosO trabalho e as conclusões <strong>de</strong> Roberto da Silva vão centrar-se sobreos efeitos da institucionalização: a perda da singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um dosque estiveram sob os efeitos das instituições totais, incluindo-se aí diversasgerações <strong>de</strong> internos, técnicos, funcionários e o próprio autor. Isto explicariao alto índice <strong>de</strong> reingresso, agora em instituições prisionais, <strong>de</strong> ex-internosdas Febens à diferença da inexistência <strong>de</strong> incidência criminal dos <strong>de</strong> períodosanteriores. O processo <strong>de</strong> criminalização da criança órfã e abandonadafoi um fenômeno histórico, temporal e espacialmente localizado na fase <strong>de</strong>nominada“institucionalização”, que foi a característica predominante e particulardo sistema Funabem/Febem, i<strong>de</strong>alizado sob o espírito da doutrina dasegurança nacional, a partir <strong>de</strong> 1964. Não obstante, a <strong>de</strong>rrocada da i<strong>de</strong>ologiapolítico-militar, que sustentava e se beneficiava do mecanismo das instituiçõestotalizantes, o autor alerta que a “cultura institucionalizada” ainda sobrevivee sua extinção <strong>de</strong>finitiva constitui o principal <strong>de</strong>safio do Estatuto daCriança e do Adolescente.Isto posto, é <strong>de</strong>snecessário dizer que o tema das instituições totaisfoi o que animou o nosso acalorado <strong>de</strong>bate nesta segunda reunião. Emboranem <strong>todos</strong> os que lá estiveram possuam experiência institucional, <strong>todos</strong>sofremos os efeitos <strong>de</strong>sta “cultura” e nos vemos convocados a incluir-nos aí<strong>para</strong> que algo <strong>de</strong>ssa “máquina discursiva” se rompa. E, neste sentido, esteparece ser o gran<strong>de</strong> diferencial <strong>de</strong>ste livro <strong>de</strong> Roberto da Silva: mesmo cientedos limites do alcance <strong>de</strong> seu trabalho nos rumos da política, legislação eassistência dispensadas às crianças órfãs e abandonadas, isto não o eximeda responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, como sujeito da própria história, pôr em discussão ahistória assistencial brasileira <strong>para</strong> aí reconstruir a sua história e a <strong>de</strong> tantosoutros Robertos da Silva. Aliás, esse tema da responsabilida<strong>de</strong> individualversus a responsabilida<strong>de</strong> social, inaugurado por Hanna Arendt, é um temaque sempre se atualiza a cada vez que nos <strong>de</strong><strong>para</strong>mos com as “falhas” <strong>de</strong>nossa organização social. É, justamente, nas brechas da História coletiva,que cada um <strong>de</strong> nós se sente chamado a falar, a dar seu testemunho, aincluir-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua história individual. Ante a História que nos antece<strong>de</strong>,ultrapassa e segue seu <strong>de</strong>stino, o que fazer?Falar... Permitam-nos aqui um parênteses. É no mínimo curioso observarcomo, na cultura contemporânea, o pensar e o falar per<strong>de</strong>ram seuvalor na oposição ao fazer. Lembremo-nos, por exemplo, <strong>de</strong> O banquete, <strong>de</strong>Platão, em que presenciamos as longas meditações <strong>de</strong> Sócrates inerte àsoleira <strong>de</strong> <strong>uma</strong> casa, frente à porta, com um dos pés fora do solo, como numpasso interrompido. Neste sentido, po<strong>de</strong>ríamos pensar que o impulso ao atoe ao fazer é característico da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>? Fecha parênteses.Voltando à reunião, pusemo-nos a falar sobre as instituições totais,enten<strong>de</strong>ndo-as como um fato discursivo, como um discurso que se caracterizariapor um saber total, um saber sobre o objeto que se preten<strong>de</strong> totalizante.Do lado do objeto, isso não lhe <strong>de</strong>ixa outra saída senão a constituição <strong>de</strong><strong>uma</strong> subjetivida<strong>de</strong> justamente na produção <strong>de</strong> falhas <strong>de</strong>sse saber, como, porexemplo, no caso dos filhos do governo, a <strong>de</strong>linqüência. E, assim, o circuitose mantém, pois já vimos como, ante a falha, somos levados a produzir umsaber total que a obture.A partir da discussão, ficou claro como esses lugares, o do saber e odo objeto, são lugares <strong>de</strong> <strong>uma</strong> estrutura discursiva, razão pela qual são particularmentecambiáveis e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> a quem se en<strong>de</strong>reça aquele quefala. Por isso, se em um <strong>de</strong>terminado contexto o perito institucional po<strong>de</strong>sustentar o saber perante um interno; em outro, ele po<strong>de</strong> se ver nesta condiçãoobjetal perante os dispositivos técnico-burocráticos e políticos da instituição.Guardadas as <strong>de</strong>vidas proporções, o que isso teria a ver com o infantilque anima a cada um <strong>de</strong> nós? Não seria essa a mesma estrutura discursivaencenada no fantasma neurótico, no qual é justamente naquilo que ao objetofalta <strong>para</strong> fazer gozar o Outro que se constitui um sujeito? Qual a diferença6 C. da <strong>APPOA</strong>, Porto Alegre, n. 98, jan. 2002 C. da <strong>APPOA</strong>, Porto Alegre, n. 98, jan. 20027