Avaliação da microbiota ocular em pacientes com disfunção do filme lacrimal333INTRODUÇÃOOfilme lacrimal, além <strong>de</strong> lubrificar a superfícieocular, tem a importante função <strong>de</strong> protegê-lacontra a ação <strong>de</strong> vários patógenos. A lágrimacontém proteínas como a lisozima, a lactoferrina,imunoglobulina A, entre outras substâncias, que exercemativida<strong>de</strong> antimicrobiana (1-3) .Além disso, a mucinaproduzida por células caliciformes da conjuntiva promoveuma barreira física que impe<strong>de</strong> tanto a a<strong>de</strong>rênciacomo a penetração <strong>de</strong> muitos patógenos através doepitélio da superfície ocular (1-3) . Seal et al. mostraramque existe redução tanto da lactoferrina quanto dalisozima na lágrima <strong>de</strong> indivíduos com disfunção do filmelacrimal (4) .Alguns estudos <strong>de</strong>monstraram um aumento daativida<strong>de</strong> da enzima metaloproteinase-9 no epitéliocorneano, em resposta à insuficiência do filme lacrimal,e que resultou em perda das “tight junctions” da barreiraepitelial corneana (5) . A <strong>de</strong>ficiência do filme lacrimalaliada à fragilida<strong>de</strong> epitelial corneana em olhos secospo<strong>de</strong>m facilitar a instalação <strong>de</strong> infecções oculares.Terapias anti-inflamatórias como esterói<strong>de</strong>s tópicose ciclosporina A têm sido prescritas em vários casos<strong>de</strong> disfunção do filme lacrimal, com melhora dos sintomas.A administração <strong>de</strong> imunomoduladores po<strong>de</strong>, contudo,alterar a ativida<strong>de</strong> imune na superfície ocular, aumentandoassim a predisposição à infeçcão (1) .A oclusão <strong>de</strong> ponto lacrimal com plugs é umaopção terapêutica em casos <strong>de</strong> disfunção do filme lacrimal,uma vez que diminuem a drenagem lacrimal atravésdos canalículos (1, 6, 7) . Apesar <strong>de</strong> ser um método relativamentefácil e seguro, há estudos mostrando bactériascapazes <strong>de</strong> formar um biofilme a<strong>de</strong>rente à superfície doplug (6) .O objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi avaliar a microbiotaconjuntival em olhos com disfunção do filme lacrimal, ea modificação <strong>de</strong>sta microbiota pela colocação do plug<strong>de</strong> silicone no canalículo inferior.MÉTODOSNesta série <strong>de</strong> casos intervencionais não comparativosforam avaliados 68 olhos <strong>de</strong> 41 pacientes (29 dosexo feminino, e 12 do sexo masculino) portadores <strong>de</strong>disfunção do filme lacrimal, durante o período <strong>de</strong> 2002 a2007. Os critérios <strong>de</strong> exclusão foram pacientes em uso<strong>de</strong> antibioticoterapia ou <strong>de</strong> terapias anti-inflamatóriascomo corticói<strong>de</strong>s ou imunossupressores tópicos ousistêmicos. Foram incluídos pacientes com diagnóstico<strong>de</strong> disfunção do filme lacrimal em tratamento somentecom lágrimas artificiais. O diagnóstico <strong>de</strong> disfunção dofilme lacrimal foi feito pela presença <strong>de</strong> pelo menos umdos sintomas (sensação <strong>de</strong> olho seco, ardor ou dor ousensação <strong>de</strong> corpo estranho, prurido e lacrimejamento),associados aos achados <strong>de</strong> exame oftalmológico(biomicroscopia avaliando-se conjuntiva e córnea, tempo<strong>de</strong> rompimento do filme lacrimal e teste com coloraçãovital rosa bengala).Na biomicroscopia anterior foram valorizados sinaiscomo presença <strong>de</strong> hiperemia conjuntival, muco,oleosida<strong>de</strong> excessiva do filme lacrimal, e <strong>de</strong> ceratitefilamentar. Tempo <strong>de</strong> rompimento do filme lacrimal inferiora 10 segundos foi consi<strong>de</strong>rado indicativo <strong>de</strong>disfunção do filme lacrimal (8) . No teste com coloraçãovital rosa bengala foi instilada 1 gota da solução a 1% eo paciente foi orientado a piscar várias vezes. Para interpretaçãodo resultado, sob luz anerita ver<strong>de</strong>, a superfícieocular foi dividida em 3 partes: conjuntiva bulbar nasale temporal e córnea. Cada área foi graduada <strong>de</strong> 0 a 3pontos, em que “0” significava ausência <strong>de</strong> coloração e“3” correspondia à coloração confluente, para um máximo<strong>de</strong> 9 pontos em cada olho. Olhos com valores superioresa 3 pontos foram consi<strong>de</strong>rados portadores <strong>de</strong>disfunção do filme lacrimal (9) .Durante o estudo, houve 22 pacientes (30 olhos),do total <strong>de</strong> 41 pacientes (68 olhos), que precisaram recorrerà oclusão <strong>de</strong> ponto lacrimal com plug <strong>de</strong> silicone.Estes pacientes foram submetidos à cultura <strong>de</strong> amostrascolhidas do fundo-<strong>de</strong>-saco conjuntival antes e após ummês da oclusão do ponto lacrimal inferior.Colheita e CulturaTodos os pacientes tiveram amostras, para cultivo,obtidas do fundo-<strong>de</strong>-saco da conjuntiva inferior, comzaragatoa estéril; o material foi imediatamente inoculadoem Brain heart infusion broth (BHI broth) (Difco, LePont <strong>de</strong> Claix/France) e encaminhado ao laboratório.Após apresentar turbi<strong>de</strong>z, as amostras <strong>de</strong> BHI foramsemeadas em meios sólidos <strong>de</strong> ágar sangue <strong>de</strong> carneiroa 5% (AS) (Difco, Le Pont <strong>de</strong> Claix/France) e ágar chocolate(AC) (Difco, Le Pont <strong>de</strong> Claix/France) para posteriori<strong>de</strong>ntificação dos microrganismos presentes.A sensibilida<strong>de</strong> aos antimicrobianos oxacilina,amicacina, tobramicina, ciprofloxacino, ofloxacino,gatifloxacino e moxifloxacino foi testada pelo método<strong>de</strong> disco difusão <strong>de</strong> acordo com as recomendações doClinical Laboratory Standards Institute (CLSI, Filadélfia,EUA) e <strong>de</strong>terminação das concentrações inibitóriasmínimas por Etest ® (AB Biodisk, Solna, Suécia). Todo oRev Bras Oftalmol. 2009; 68 (6): 332-7
334Tomimatsu MM, Barbosa MMVC, Yu CZ, Hirai FE, Höfling-Lima ALprocessamento das amostras e as respectivas análisesmicrobiológicas foram realizados no laboratório <strong>de</strong>microbiologia ocular do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> <strong>Oftalmologia</strong>da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo.Análise estatísticaDados foram apresentados pela frequência, pelasmédias ± <strong>de</strong>svios-padrão ou proporções. Para comparação<strong>de</strong> variáveis categóricas foi utilizado o teste exato<strong>de</strong> Fisher. Valores <strong>de</strong> p ≤ 0,05 foram consi<strong>de</strong>rados estatisticamentesignificantes. A análise foi realizada com osoftware Stata v.10 (College Park, Texas).RESULTADOSA ida<strong>de</strong> dos pacientes incluídos no estudo variou<strong>de</strong> 20 a 88 anos com média ± <strong>de</strong>svio-padrão <strong>de</strong> 58,0 ±15,71 e mediana <strong>de</strong> 59 anos; 70,73% eram do sexo femininoe 29,27%, do masculino.Dos 68 olhos avaliados, 21 tiveram cultivos negativose 47 apresentaram crescimento bacteriano nasamostras colhidas. <strong>Nov</strong>e diferentes espécies <strong>de</strong> bactériasforam i<strong>de</strong>ntificadas: Staphylococcus coagulase negativa(SCN) em 34 amostras (66,66%), StaphylococcusTabela 1Microbiota dos 47 olhos com disfunção do filme lacrimal com cultura positivaBactéria Frequência %Staphylococcus coagulase negativa 34 66,66Staphylococcus aureus 7 13,72Corynebacterium sp 3 5,86Enterobacter aerogenes 2 3,92Corynebacterium xerosis 1 1,96Streptococcus hemolítico do grupo viridans 1 1,96Proteus mirabilis 1 1,96Serratia sp 1 1,96Alcaligenes xylosoxidans 1 1,96Total 51* 100* Dentre as 47 amostras, quatro tiveram crescimento <strong>de</strong> duas bactérias distintasTabela 2Microbiota dos olhos com cultura positiva antes e após o implante <strong>de</strong> plug*Bactéria Pré-plug % Pós-plug %Staphylococcus coagulase negativa 16 64 19 70,38Sensível à oxacilina 14 87,50 14 73,68Staphylococcus aureus 4 16 1 3,70Sensível à oxacilina 4 100 1 100Corynebacterium sp 1 4 1 3,70Serratia sp 1 4 1 3,70Streptococcus hemolítico do grupo viridans 1 4 3 11,12Alcaligenes xylosidans spp 1 4Corynebacterium xerosis 1 4Citrobacter feundii 1 3,70Moraxella nonliquefaciens 1 3,70Total 25 100 27 100*Alguns olhos apresentaram crescimento <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> uma bactéria, conforme <strong>de</strong>talhado na Tabela 3Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (6): 332-7
- Page 1 and 2: Carcinoma basocelular após tratame
- Page 3 and 4: 322Revista Brasileira de Oftalmolog
- Page 5 and 6: 324Relato de Caso344 Síndrome do b
- Page 7 and 8: 326 Como (ainda) serf feliz na prof
- Page 9 and 10: 328Portes AJF, Gomes LP, Amaral BLM
- Page 11 and 12: 330Portes AJF, Gomes LP, Amaral BLM
- Page 13: 332ARTIGO ORIGINALAvaliação da mi
- Page 17 and 18: 336Tomimatsu MM, Barbosa MMVC, Yu C
- Page 19 and 20: 338ARTIGO ORIGINALEstudo do comport
- Page 21 and 22: 340Silva MRBM, Weber SATTabela 1Car
- Page 23 and 24: 342Silva MRBM, Weber SATda compatí
- Page 25: 344RELATO DE CASOSíndrome do bloqu
- Page 28 and 29: Síndrome do bloqueio capsular prec
- Page 30 and 31: Hipertensão ocular “mascarada”
- Page 32 and 33: Hipertensão ocular “mascarada”
- Page 34 and 35: Hipertensão ocular “mascarada”
- Page 36 and 37: RELATO DE CASO355Imunoterapia tópi
- Page 38 and 39: Imunoterapia tópica no tratamento
- Page 40 and 41: ARTIGO DE REVISÃO 359“Crosslinki
- Page 42 and 43: “Crosslinking”de colágeno no t
- Page 44 and 45: “Crosslinking”de colágeno no t
- Page 46 and 47: 365Índice remissivo do volume 68Au
- Page 48 and 49: 367ED. PÁG.Jales, Martha de Queiro
- Page 50 and 51: 369ED. PÁG.Santhiago, Marcony Rodr
- Page 52 and 53: 371Prolapso de gordura orbitária e
- Page 54 and 55: 373garismos arábicos entre parênt