12.07.2015 Views

Nov-Dez - Sociedade Brasileira de Oftalmologia

Nov-Dez - Sociedade Brasileira de Oftalmologia

Nov-Dez - Sociedade Brasileira de Oftalmologia

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Hipertensão ocular “mascarada” por e<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> córnea após cirurgia da catarata349INTRODUÇÃOAtonometria <strong>de</strong> aplanação por Goldmann (TAG),padrão ouro para a <strong>Oftalmologia</strong> é o método<strong>de</strong> aferição mais utilizado no mundo para medidada pressão intraocular (PIO), que se baseia no princípio<strong>de</strong> Imbert-Fick. Com isso, sofre influência <strong>de</strong> característicasda córnea, <strong>de</strong>stacando-se a espessura (1,3) . Demodo geral, assume-se que quanto mais fina seja a córnea,menor será sua resistência, causando uma menor medidada pressão, ou seja, valor hipoestimado. Por outro lado,quanto mais grossa a córnea, maior seria sua resistênciae maior a pressão medida, valor hiperestimado por meioda TAG. Além da espessura, outras características comoa curvatura da córnea, também são reconhecidamenteimportantes, <strong>de</strong> modo que córneas mais planas ten<strong>de</strong>m aapresentar maior resistência para a aplanação e gerarvalores mais elevados (4,5) . Entretanto, a medida da pressãointra-ocular sofre influência da córnea <strong>de</strong> forma maiscomplexa. Em um mo<strong>de</strong>lo matemático, Liu e Roberts 5 ,observaram uma maior influência <strong>de</strong> variações relacionadascom a tensão da superfície relacionadas pela resistênciada córnea (módulo <strong>de</strong> Young), potencialmente<strong>de</strong>terminando maior “erro” na TAG, comparando-se comos efeitos relacionados com a espessura central e com aceratometria.O estudo das proprieda<strong>de</strong>s biomecânicas dacórnea, tema <strong>de</strong> crescente interesse e objetivo <strong>de</strong> importantesestudos relacionados com córnea, glaucoma e cirurgiarefrativa, era limitado a mo<strong>de</strong>los matemáticos eestudos experimentais até a introdução do Ocularresponse analyzer (ORA – Reichert), em 2005 por Luce,PhD 6 . O ORA monitora dinamicamente a resposta <strong>de</strong>aplanamento da córnea pelo jato <strong>de</strong> ar, <strong>de</strong> modo a <strong>de</strong>terminarproprieda<strong>de</strong>s biomecânicas da córnea, juntamentecom as medidas da pressão intraocular. Além da medidada PIO calibrada <strong>de</strong> acordo com o “padrão ouro”,TAG (IOPg – gold standard, Goldmann correlatedIntraocular pressure), existe um cálculo para <strong>de</strong>terminaruma pressão compensada da córnea <strong>de</strong> acordo comas proprieda<strong>de</strong>s biomecânicas encontradas (IOPcc –corneal compensated Intraocular pressure). Além dasmedidas pressóricas, IOPg e IOPcc, o ORA <strong>de</strong>termina ahisterese corneana (CH – Corneal Hysteresis) que é umparâmetro relacionado com a visco-elasticida<strong>de</strong> dacórnea e o fator <strong>de</strong> resistência corneana (CRF – ornealresistance factor) (6-9) .De forma paralela ao progresso relacionadocom a caracterização das proprieda<strong>de</strong>s biomecânicasda córnea, o estudo tomográfico representa uma evoluçãona avaliação da geometria e arquitetura dacórnea (10-13) . A abordagem tomográfica possibilita reconstruçãodo mapa paquimétrico, com informaçõesda espessura corneana <strong>de</strong> limbo a limbo. Com isso, épossível i<strong>de</strong>ntificar o ponto central e <strong>de</strong>terminar seuvalor e localização. Consi<strong>de</strong>rando-se que a córnea sejaum menisco, mais fino na região central e mais espessona periferia, um método gráfico para <strong>de</strong>screver operfil <strong>de</strong> progressão paquimétrico foi proposto porAmbrósio, juntamente com o Grupo <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong>Tomografia e Biomecânica <strong>de</strong> Córnea do Rio <strong>de</strong> Janeiro(CTSP – Corneal Thickness Spatial Profile) emcolaboração com a Oculus (11,12) . Os gráficos foram incorporadosno programa <strong>de</strong> análise do Pentacam (12) .Com isso, foi possível caracterizar uma variaçãopopulacional normal Gaussiana na taxa <strong>de</strong> aumentoda espessura do ponto mais fino em direção a periferia.Adicionalmente, observamos diferenças significativasna distribuição espacial da paquimetria entrecórneas normais e com ectasia, que apresentam umpadrão mais acelerado <strong>de</strong> engrossamento do pontomais fino em direção a periferia, bem como entrecórneas normais e com e<strong>de</strong>ma, que apresentam umaatenuação no padrão <strong>de</strong> aumento da espessura (12) . Emoutras palavras, é possível com esta análise se diferenciaruma córnea fina normal <strong>de</strong> uma afinadaectásica e uma córnea grossa normal, <strong>de</strong> uma córneacom e<strong>de</strong>ma (13) .Neste artigo, relatamos um caso <strong>de</strong> uveítehipertensiva pós-cirurgia <strong>de</strong> catarata, realizada porfacoemulsificação e implante <strong>de</strong> lente intraocular (LIO)sem intercorrências. O quadro era mascarado por umamedida <strong>de</strong> TAG mais baixa por diminuição da resistênciada córnea por causa <strong>de</strong> e<strong>de</strong>ma leve (subclínico).Paradoxalmente, no caso <strong>de</strong> e<strong>de</strong>ma, apesar do aumentoda espessura, ocorre diminuição das proprieda<strong>de</strong>sbiomecânicas <strong>de</strong>vido à maior presença <strong>de</strong> água entre aslamelas <strong>de</strong> colágeno no estroma, que se comporta comouma esponja. Adicionalmente o e<strong>de</strong>ma era compatívelcom relativa transparência estromal, mas dificultava aavaliação do flare e <strong>de</strong> células na câmara interior. Estesfatores e características clínicas combinados tornam ocaso bastante peculiar e relevante como exemplo paraa importância da propedêutica com base na avaliaçãotomográfica e biomecânica da córnea.Relato <strong>de</strong> casoPaciente do sexo feminino, 81 anos, aposentada,natural do Rio <strong>de</strong> Janeiro, sem comorbida<strong>de</strong>s sistêmicasou oculares pré-existentes, foi encaminhada para segun-Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (6): 348-54

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!