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Nov-Dez - Sociedade Brasileira de Oftalmologia

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EDITORIAL325Como (ainda) ser feliz na profissãoApós quatro décadas <strong>de</strong> tranquilo exercício da oftalmologia julgo-me autorizado a tentarcompartilhar algumas idéias <strong>de</strong> como ainda é possível ser feliz como médico. A mensagem<strong>de</strong>stina-se principalmente aos mais jovens.Vivemos tempos <strong>de</strong> materialismo exaltado e <strong>de</strong> aparências. Para Gilles Lipovetsky, filósofofrancês contemporâneo, no pós-mo<strong>de</strong>rnismo a “imagem” domina a realida<strong>de</strong>. Ser alguém é aparecerna tela e no website. Aquilo que é visto <strong>de</strong>fine o que <strong>de</strong>ve ser; quase ninguém mais se importa com oque é realida<strong>de</strong>. A imagem pública é o objeto <strong>de</strong> culto.Múltiplas instituições vivem atualmente uma crise <strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong>. As pessoas <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong>crer em sua serieda<strong>de</strong>. Isso se reflete na economia, na política e também, é óbvio, na vida diária <strong>de</strong>cada um. A Medicina não ficou imune à <strong>de</strong>scrença. Tanto as crises econômica e política quanto amédica po<strong>de</strong>m ser atribuídas a uma outra muito maior e pouco comentada – a crise ética.Não é objetivo <strong>de</strong>ste trabalho discutir o que é ética, já que po<strong>de</strong>mos simplificar o conceito comuma frase milenar: “Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam”. O egocentrismo, oindividualismo e a indiferença por conceitos fundamentais para a boa convivência, aliados à exacerbaçãodo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ter, consumir e ostentar, têm gerado monstros insensíveis e vorazes.Gran<strong>de</strong>s corporações estudam como programar a obsolescência <strong>de</strong> seus produtos, geram expectativas<strong>de</strong>smedidas e irreais quanto à eficácia <strong>de</strong> seus lançamentos (muitas vezes meras reedições <strong>de</strong>fracassos passados) e cooptam profissionais bem conhecidos para ajudar a validá-los e vendê-los.A ânsia pela fama, pelo conforto e por contas bancárias muito acima do razoável ajudam a vercom naturalida<strong>de</strong> tais <strong>de</strong>sfigurações da ativida<strong>de</strong> médica. O respeito pelo semelhante é posto <strong>de</strong>lado, importando o paciente apenas como objeto <strong>de</strong> ganho, lícito ou não.Títulos <strong>de</strong> pós-graduação e <strong>de</strong> docência, assim como posições <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na classe e nacomunida<strong>de</strong>, são buscados a todo custo por alguns para uso como púlpitos <strong>de</strong> on<strong>de</strong> possam bradarsua sapiência “indiscutível” ou escudos contra sanções <strong>de</strong> qualquer or<strong>de</strong>m.Qual a finalida<strong>de</strong> disso tudo? Será que tal conduta gera felicida<strong>de</strong> genuína? Sabemos que não.Quase sempre (o tempo tem mostrado <strong>de</strong> maneira eloquente) o resultado é uma chusma <strong>de</strong> doenças,<strong>de</strong>sastres (pessoais ou familiares), <strong>de</strong>sgraças <strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>silusão. Não é o mero acúmulo <strong>de</strong>bens materiais e/ou <strong>de</strong> honrarias que produz felicida<strong>de</strong>.Buscar a paz <strong>de</strong> espírito, a saú<strong>de</strong> do corpo eo equilíbrio familiar são receitas milenares, mais simples e tremendamente eficazes. Isso significaexercer a profissão com amor ao semelhante, solidarieda<strong>de</strong> com os companheiros, mo<strong>de</strong>ração nacompetição e a certeza <strong>de</strong> que (como dizia Ortega y Gasset) “o homem é apenas meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> simesmo; a outra é sua circunstância”. Portanto, não há porquê <strong>de</strong>sesperar-se por não pertencer aoclube dos famosos, não ostentar o título <strong>de</strong> professor <strong>de</strong> alguma Universida<strong>de</strong> importante, não ser aestrela dos congressos. Nem todos são bafejados com circunstâncias favoráveis à notorieda<strong>de</strong>.Não se trata <strong>de</strong> fazer apologia da mediocrida<strong>de</strong>. Antes, preten<strong>de</strong>mos estimular os colegas aver com alegria as vitórias (quando merecidas) <strong>de</strong> seus pares. “Se você não po<strong>de</strong> ser um pinheiro damontanha seja a relva do vale, mas seja a relva mais ver<strong>de</strong>jante”, escreveu o poeta. E diante dosucesso imerecido lembremo-nos que, pior do que sofrer injustiças é praticá-las.Sobretudo, mantenhamos sempre viva a idéia da transitorieda<strong>de</strong> da vida, aliada à outra <strong>de</strong> queestamos aqui para servir. Em nossa profissão isso significa ter o doente como preocupação máximaRev Bras Oftalmol. 2009; 68 (6): 325-6

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