Estudo do comportamento da PIO <strong>de</strong> 24 horas e frequência <strong>de</strong> glaucoma em pacientes com síndrome...339INTRODUÇÃOAprevalência do glaucoma varia conforme apopulação estudada, mas é consenso estar porvolta <strong>de</strong> 2% na população branca acima <strong>de</strong> 40anos (1) . A pressão intraocular é o principal fator <strong>de</strong> riscopara o glaucoma, mas déficits microcirculatórios, imunida<strong>de</strong>alterada, excitotoxicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntre outros, po<strong>de</strong>mtambém estar implicados isoladamente ou <strong>de</strong> formacombinada (2,3) .A literatura tem mostrado que a prevalência <strong>de</strong>glaucoma em portadores <strong>de</strong> apnéia obstrutiva do sono émaior do que a da população em geral (4-6) . Mojon et al. (4)observaram 5 (7,2%) pacientes com glaucoma em 69portadores <strong>de</strong> síndrome <strong>de</strong> apnéia do sono. Dos cinco, trêstinham glaucoma <strong>de</strong> pressão normal e 2 glaucoma primário<strong>de</strong> ângulo aberto. Outros estudos sugerem associaçãoda apnéia do sono com glaucoma (7-9) . No entanto esta associaçãonão tem sido confirmada por outros autores. (10,11)Tendo em vista as contradições sobre a associação<strong>de</strong> glaucoma e síndrome da apnéia obstrutiva(SAOS) e a falta <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> pressãointra-ocular (principal fator <strong>de</strong> risco do glaucoma) emportadores <strong>de</strong> SAOS, este estudo teve como objetivos:<strong>de</strong>terminar a frequência <strong>de</strong> glaucoma e avaliar o comportamentoda pressão intra-ocular (PIO) <strong>de</strong> 24 horasem pacientes portadores da síndrome da apnéiaobstrutiva do sono.MÉTODOSForam estudados 11 pacientes consecutivos, portadoresda síndrome da apnéia obstrutiva do sono comdiagnóstico polissonográfico do Ambulatório <strong>de</strong> Distúrbiosdo Sono do HC da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong>Botucatu – UNESP atendidos no período <strong>de</strong> abril à <strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 2006.Foram analisados os dados <strong>de</strong>mográficos dos pacientes:ida<strong>de</strong>, sexo, raça/cor, peso, altura, índice <strong>de</strong> massacorporal e doenças associadas.Todos os pacientes realizaram polissonografia <strong>de</strong>noite inteira. A SAOS foi diagnosticada quando o índice<strong>de</strong> distúrbios respiratórios (RDI) era maior do que 5. Dolaudo da polissonografia foram analisados os dados <strong>de</strong>RDI, eficiência do sono, saturação média <strong>de</strong> O 2e índice<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar para efeito <strong>de</strong> diagnóstico <strong>de</strong> SAOS (12,13) .Todos os pacientes foram submetidos a exameoftalmológico completo que incluiu: história e antece<strong>de</strong>ntes,medida da acuida<strong>de</strong> visual (AV) a 6 metros comtabela <strong>de</strong> Snellen, refração dinâmica, biomicroscopia dosegmento anterior, biomicroscopia do segmento posteriorcom lente <strong>de</strong> Volk <strong>de</strong> 78D, campo visual (C.V.) comprograma 24-2 do perímetro <strong>de</strong> Humphrey egonioscopia. Foi realizada CTD (curva tensional diária– com 8 medidas <strong>de</strong> PIO: 6h <strong>de</strong>itado, 6h sentado 9h, 12h,15h, 18h, 21h e 24h). As medidas foram feitas comtonômetro <strong>de</strong> Goldman exceto a das 6h (<strong>de</strong>itado) quefoi realizada com tonômetro <strong>de</strong> Perkins. Todas as avaliaçõesda PIO foram feitas em ambiente hospitalar porum dos autores (MRBMS).O critério utilizado para diagnóstico <strong>de</strong> glaucomafoi: alteração <strong>de</strong> C.V. <strong>de</strong> pelo menos 2 pontos adjacentesnão periféricos com p < 5% no gráfico “pattern<strong>de</strong>viation” associado a um ponto com p < 1%, em localizaçãocompatível com <strong>de</strong>feito glaucomatoso e GHToutsi<strong>de</strong> normal limits associada a uma ou mais das alteraçõesdo nervo óptico e camada <strong>de</strong> fibras nervosas: relaçãoescavação disco ≥ 0,7, hemorragia no disco, <strong>de</strong>feitoem cunha, vaso em baioneta, sinal <strong>de</strong> Hoyt, assimetria<strong>de</strong> escavação > 0,2, na presença <strong>de</strong> ângulo aberto semalterações à gonioscopia.O diagnóstico <strong>de</strong> glaucoma <strong>de</strong> pressão normal foidado quando o paciente apresentava as alterações <strong>de</strong>scritasacima associadas a PIO < 21 mmHg.O critério utilizado para suspeito <strong>de</strong> glaucomafoi: CV anormal, porém não confirmado com outro exame,PIO > 21 mmHg, sem alteração <strong>de</strong> CV e <strong>de</strong> discoóptico, relação escavação / disco ≤ 0,6, perda <strong>de</strong> padrãoisn’t, assimetrias <strong>de</strong> escavação ≤ 0,2 com CV normal eângulo aberto sem alterações à gonioscopia.Os dados <strong>de</strong> PIO foram <strong>de</strong>scritos como média (M)e <strong>de</strong>svio padrão (DP) e foram comparados os valores <strong>de</strong>média <strong>de</strong> PIO dos olhos direitos (OD) e olhos esquerdos(OE) por meio do teste t-Stu<strong>de</strong>nt <strong>de</strong> amostras pareadas,consi<strong>de</strong>rado significativo quando p < 0,05.O estudo foi aprovado pelo Comitê <strong>de</strong> Ética emPesquisa (CEP 38/2006) e todos os pacientes assinaramTermo <strong>de</strong> Consentimento Livre e Esclarecido.RESULTADOSDos 11 pacientes, 3 (27,2%) eram do sexo femininoe 8 (72,7%) do sexo masculino. A ida<strong>de</strong> média dos 11pacientes foi <strong>de</strong> 51,2 anos, sendo a das mulheres <strong>de</strong> 51,3anos e a dos homens <strong>de</strong> 51,2. Dos 11 pacientes, 9 erambrancos e 2 negros/pardos (Tabela 1).Quanto ao RDI, 5 pacientes apresentaram RDI >30 n/h (número <strong>de</strong> distúrbios respiratórios por hora), consi<strong>de</strong>radoSAOS grave, 5 pacientes RDI entre 15 e 30 n/h, consi<strong>de</strong>rado SAOS mo<strong>de</strong>rada e somente 1 pacienteapresentou SAOS leve com RDI entre 5 a 15 n/h.O valor da média do índice <strong>de</strong> massa corporal(IMC) foi <strong>de</strong> 33,56 Kg/m 2 . Consi<strong>de</strong>rando-se como obesida<strong>de</strong>IMC > 30 Kg/m 2 , todos os pacientes individualmenteapresentaram IMC compatível com obesida<strong>de</strong>,exceto o <strong>de</strong> número 5 (IMC = 24,98 Kg/m 2 ).Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (6): 338-43
340Silva MRBM, Weber SATTabela 1Caracterização dos 11 portadores <strong>de</strong> SAOS (síndrome da apnéia obstrutivado sono) quanto à ida<strong>de</strong> (anos) sexo, raça, IMC e doenças sistêmicasassociadas (UNESP – Botucatu – 2006)Paciente Ida<strong>de</strong> (anos) Sexo Raça IMC Doenças sistêmicas1 41 M B 39,87 –2 52 M B 38,69 Doença coronária3 50 F N 36,41 HA4 67 M B 30,86 HA5 63 M B 24,98 HA, artrite reumatiói<strong>de</strong>6 57 M P 33,59 Diabetes7 48 F B 31,24 Doença coronária8 35 M B 33,83 –9 56 F B 25,089 HA10 48 M B 33,31 Hanseníase11 47 M B 37,27 HAMÉDIA 51,27 33,56M- masculino; F- feminino; B- branco; P- pardo; N- negro; IMC- índice <strong>de</strong> massa corporal (Kg/m 2 ); HA – hipertensãoarterialTabela 2Valores <strong>de</strong> pressão intraocular (PIO) em mmHg <strong>de</strong> ambos os olhos nosdiferentes horários, média e <strong>de</strong>svio-padrão da média da PIO (mmHg) <strong>de</strong> ambos os olhose valores <strong>de</strong> p em portadores <strong>de</strong> SAOS (UNESP – Botucatu – 2006)9h 12h 15h 18h 21h 24h 6h D 6h SOD OE OD OE OD OE OD OE OD OE OD OE OD OE OD OE1 17 16 20 22 17 18 19 18 15 11 19 14 21 16 25 232 19 18 20 21 20 22 20 19 18 23 17 17 20 20 18 173 15 14 16 16 14 14 14 15 12 12 12 15 14 13 14 134 16 14 13 15 16 15 15 14 15 14 16 12 15 17 14 165 14 14 14 14 14 14 13 13 15 14 16 14 16 17 16 146 17 17 12 13 11 12 13 12 11 12 10 10 20 20 15 157 20 21 15 15 14 14 14 13 18 21 19 24 28 28 20 218 24 24 20 18 20 20 20 20 21 21 19 19 24 32 24 279 9 8 12 12 14 12 14 12 11 10 12 12 13 12 14 1210 10 10 14 14 17 15 16 14 15 13 19 18 25 25 19 2011 12 12 12 12 10 10 9 9 8 8 8 14 8 10 14 12M 15,73 15,27 15,27 15,64 15,18 15,09 15,18 14,45 14,45 14,45 15,18 15,36 18,55 19,09 17,55 17,27DP 4,43 4,65 3,29 3,38 3,22 3,59 3,37 3,33 3,75 4,97 4,02 3,93 5,94 6,86 4,06 4,90p 0,095 0,306 0,809 0,023 1,000 0,826 0,573 0,625OD- olho direito; OE- olho esquerdo; M- média; DP- <strong>de</strong>svio padrão; p- comparação entre médias <strong>de</strong> OD e OE por teste <strong>de</strong> t <strong>de</strong> Stu<strong>de</strong>nt para amostras pareadasQuanto às doenças associadas, foram encontrados:hipertensão arterial em 6, doença coronariana em 2,diabetes em 1, artrite reumatói<strong>de</strong> em 1 e hanseníase em1. Apenas 2 pacientes não apresentavam nenhuma outrapatologia (Tabela 1).Todos os pacientes negavam ter glaucoma e negavamantece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> glaucoma na família.A Tabela 2 apresenta os valores das medidas daPIO <strong>de</strong> 24 horas (9h, 12h, 15h, 18h, 21h, 24h, 6h <strong>de</strong>itado e6h sentado) <strong>de</strong> ambos os olhos (AO) dos 11 pacientes,assim como a média e <strong>de</strong>svio-padrão dos valores emcada um dos horários e valores <strong>de</strong> p da comparação dosvalores <strong>de</strong> média <strong>de</strong> PIO entre os dois olhos. A médiados valores <strong>de</strong> PIO <strong>de</strong> 9 horas foi semelhante em AO,sendo <strong>de</strong> 15,73 mmHg e 15,27 mmHg respectivamenteem OD e OE (p = 0,095). A análise estatística mostrouque não houve diferença entre a PIO <strong>de</strong> OD e OE,exceto às 18:00h (p = 0,02). A partir das 12h observa-seque a PIO sofre ligeira queda que persiste até as 21h,quando se inicia elevação culminando com o pico às 6 hRev Bras Oftalmol. 2009; 68 (6): 338-43
- Page 1 and 2: Carcinoma basocelular após tratame
- Page 3 and 4: 322Revista Brasileira de Oftalmolog
- Page 5 and 6: 324Relato de Caso344 Síndrome do b
- Page 7 and 8: 326 Como (ainda) serf feliz na prof
- Page 9 and 10: 328Portes AJF, Gomes LP, Amaral BLM
- Page 11 and 12: 330Portes AJF, Gomes LP, Amaral BLM
- Page 13 and 14: 332ARTIGO ORIGINALAvaliação da mi
- Page 15 and 16: 334Tomimatsu MM, Barbosa MMVC, Yu C
- Page 17 and 18: 336Tomimatsu MM, Barbosa MMVC, Yu C
- Page 19: 338ARTIGO ORIGINALEstudo do comport
- Page 23 and 24: 342Silva MRBM, Weber SATda compatí
- Page 25: 344RELATO DE CASOSíndrome do bloqu
- Page 28 and 29: Síndrome do bloqueio capsular prec
- Page 30 and 31: Hipertensão ocular “mascarada”
- Page 32 and 33: Hipertensão ocular “mascarada”
- Page 34 and 35: Hipertensão ocular “mascarada”
- Page 36 and 37: RELATO DE CASO355Imunoterapia tópi
- Page 38 and 39: Imunoterapia tópica no tratamento
- Page 40 and 41: ARTIGO DE REVISÃO 359“Crosslinki
- Page 42 and 43: “Crosslinking”de colágeno no t
- Page 44 and 45: “Crosslinking”de colágeno no t
- Page 46 and 47: 365Índice remissivo do volume 68Au
- Page 48 and 49: 367ED. PÁG.Jales, Martha de Queiro
- Page 50 and 51: 369ED. PÁG.Santhiago, Marcony Rodr
- Page 52 and 53: 371Prolapso de gordura orbitária e
- Page 54 and 55: 373garismos arábicos entre parênt