diante fatos observáveis. 20 Diante disso, tem-se que o méto<strong>do</strong> cienficoemprega<strong>do</strong> pela criminologia aspira à construção de teorias, <strong>da</strong>s quaisdeverão derivar hipóteses que serão, por fim, subme<strong>da</strong>s à refutação.A tarefa para quem trabalha com criminologia é, definivamente,descobrir a maior quan<strong>da</strong>de possível de erros <strong>na</strong>s teorias para encontrarsempre uma teoria melhor. 21 Uma vez que supera com êxito os critériosde refutação, leva<strong>da</strong>s em consideração as demais quali<strong>da</strong>des já elenca<strong>da</strong>s,resta clara a <strong>na</strong>tureza <strong>da</strong> criminologia como ciência. Sen<strong>do</strong> uma ciênciavolta<strong>da</strong> ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> crime, serão os avanços criminológicos de grandeuli<strong>da</strong>de para a construção de um conceito de delito.Mais <strong>do</strong> que uma ciência, a criminologia é ciência autônoma e independente,não sen<strong>do</strong> parte integrante <strong>da</strong> esfera <strong>do</strong> direito pe<strong>na</strong>l ou mesmo<strong>da</strong> políca crimi<strong>na</strong>l. Para que realizem de forma ple<strong>na</strong> seus estu<strong>do</strong>s,busca ser, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> <strong>do</strong> possível, livre de valorações por parte de qualquer<strong>do</strong>s criminólogos envolvi<strong>do</strong>s em sua pesquisa. Dessa forma, procuraessta ciência alcançar maior pureza <strong>na</strong>s informações colhi<strong>da</strong>s, bem comoobjevi<strong>da</strong>de, realismo e constante progresso. 22CRIMINOLOGIA E DOGMÁTICA JURÍDICOPENALNeste momento, urge fazer a seguinte ressalva: também o direitope<strong>na</strong>l estu<strong>da</strong> o crime, o criminoso e, em sua essência, a crimi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de.Da mesma forma, a políca crimi<strong>na</strong>l não prescinde de in<strong>da</strong>gar quanto aoestu<strong>do</strong> desses três objetos. Diante dessa constatação, é possível que surjao seguinte queso<strong>na</strong>mento: seriam, então, a mesma coisa a criminologia,o direito pe<strong>na</strong>l e a políca crimi<strong>na</strong>l?Parece evidente que não 23 , embora não pareça jusficável apartálasradicalmente em nome <strong>da</strong> autonomia cienfica. 24 Dentre as inúmerasdiferenças que possuem entre si tais esferas de estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> fenômeno crimi<strong>na</strong>l,SHECAIRA optou por apontar uma em especial:20 SERRANO MAÍLLO, Alfonso, op. cit., p. 27.21 CERETTI, A<strong>do</strong>lfo, op. cit. p. 213.22 SERRANO MAÍLLO, Alfonso, op. cit., p. 36 - 40.23 SHECAIRA, Sérgio Salomão, op. cit. p. 39.24 SOUZA, Artur de Brito Gueiros; JAPIASSÚ, Carlos Eduar<strong>do</strong> Adriano. Curso de direito pe<strong>na</strong>l: parte geral. Rio deJaneiro: Elsevier, 2012, p. 18.160❙R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 61, p. 153-173, jan.-fev.-mar. 2013❙
“... a criminologia, além de requerer consideráveis esforços,exige profun<strong>do</strong>s conhecimentos psicológicos e sociológicos,por ser uma discipli<strong>na</strong> que trabalha com méto<strong>do</strong>s diferentes<strong>da</strong>queles normalmente uliza<strong>do</strong>s <strong>na</strong> esfera jurídico-pe<strong>na</strong>l”. 25Apesar <strong>da</strong>s diferenças, existem pontos de semelhança entre estastrês disntas esferas que tor<strong>na</strong>m imprescindível o exame <strong>do</strong> direito pe<strong>na</strong>le <strong>da</strong> políca crimi<strong>na</strong>l para que se realize o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> criminologia. Issoporque tais discipli<strong>na</strong>s encontram-se inmamente relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s, dependen<strong>do</strong>mutuamente umas <strong>da</strong>s outras para se fazerem compreender, umavez que “não existe problema jurídico-<strong>do</strong>gmáco que não requeira umconhecimento de suas bases criminológicas” 26 .O objeto <strong>do</strong> presente trabalho é a criminologia, e, embora guardeinevitável relação com o direito pe<strong>na</strong>l e com a políca crimi<strong>na</strong>l, não serãoessas duas discipli<strong>na</strong>s a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s com especial atenção neste estu<strong>do</strong>. Acriminologia, de acor<strong>do</strong> com a clássica concepção de Sutherland, é o “conjuntode conhecimentos sobre o delito como fenômeno social. Inclui emseu âmbito os processos de elaboração <strong>da</strong>s leis, de infração <strong>da</strong>s leis e dereação à infração <strong>da</strong>s leis.” 27A tendência no sen<strong>do</strong> <strong>da</strong> integração entre a <strong>do</strong>gmáca pe<strong>na</strong>l e discipli<strong>na</strong>santropológicas e sociológicas – como é o caso <strong>da</strong> criminologia – fará comque sejam ob<strong>do</strong>s melhores resulta<strong>do</strong>s nos estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> ciência. Especificamentecom relação à formulação de um conceito de delito, este será maiscompleto quanto maior a ciência se ulizar <strong>do</strong> auxílio <strong>da</strong>s demais discipli<strong>na</strong>s.Importante ressaltar que isso não significa que o direito pe<strong>na</strong>l ou apolíca crimi<strong>na</strong>l sejam meramente auxiliares <strong>da</strong> criminologia. Assim comoo inverso não é ver<strong>da</strong>deiro, é preciso ter em mente que se está diante detrês esferas autônomas e independentes umas <strong>da</strong>s outras, que contamcom seus respecvos resulta<strong>do</strong>s e conceitos para alcançarem suas própriasrealizações, disntamente.Por meio dessa integração entre a ciência <strong>da</strong> criminologia e as discipli<strong>na</strong>spe<strong>na</strong>is, a criminologia enriquece seu campo de estu<strong>do</strong>, de formaa obter resulta<strong>do</strong>s mais completos para seus queso<strong>na</strong>mentos. Desta forma,com relação ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> delinquente, a criminologia irá buscar nos25 GIMBERNAT ORDEIG, Enrique. Conceito e méto<strong>do</strong> <strong>da</strong> ciência <strong>do</strong> direito pe<strong>na</strong>l, p. 34 apud SHECAIRA, op. cit. p. 39.26 MORILLAS CUEVA, Lorenzo. Meto<strong>do</strong>logia y Ciencia Pe<strong>na</strong>l. Gra<strong>na</strong><strong>da</strong>: Universi<strong>da</strong>d de Gra<strong>na</strong><strong>da</strong>, 1990, p. 316 apudSOUZA, Artur de Brito Gueiros; JAPIASSÚ, Carlos Eduar<strong>do</strong> Adriano, op. cit. p. 18.27 SERRANO MAÍLLO, Alfonso, op. cit., p. 21.❙R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 61, p. 153-173, jan.-fev.-mar. 2013❙ 161