Artigas se apresenta como o que estamos querendo caracterizar como a linguag<strong>em</strong> deSP para a arquitetura. Mas isso é reducionista, a presença marcante de Rino, eOswaldo Bratke também, no panorama cultural <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de é decisiva para os rumosque a arquitetura paulista tomará nos próximos anos.Em Arquitetura Moderna Paulistana, de Xavier, L<strong>em</strong>os e Corona, entre 1949 e60 eles são os mais citados com 4 obras ca<strong>da</strong> um (5) . Portanto, pod<strong>em</strong>os considerar osmais atuantes na cena de SP na déca<strong>da</strong>. Levi representando mais um certot<strong>em</strong>peramento tradicional <strong>em</strong> seu moderno de formação italiana e Artigas, formadopela Politécnica paulista e com atuação exuberante nos debates culturais e políticos<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, enquadrava-se mais precisamente nos contornos que definiam as novasgerações vanguardistas de SP. Contudo, ambos desenvolv<strong>em</strong> uma afinaçãodisciplinar <strong>em</strong> suas obras que identificam a arquitetura aqui pratica<strong>da</strong>, pelo menos nosbons t<strong>em</strong>pos.Artigas, a par do discurso político desenvolverá um agudo senso sintático àestrutura de seus edifícios, um dos discursos sintáticos mais precisos queconhec<strong>em</strong>os. A estrutura <strong>em</strong> seus edifícios alcança essa entropia, consegue sozinhaser forma, significado, construtibili<strong>da</strong>de, materiali<strong>da</strong>de, um texto inteiro.Rino Levi, de outro lado investe também nas questões disciplinares, osdetalhamentos – imensamente famosos-, a construtibili<strong>da</strong>de, a resolução dosprogramas, defin<strong>em</strong> sua arquitetura. O projetar <strong>em</strong> altíssimo nível de especiali<strong>da</strong>deprofissional, um dos mais belos ex<strong>em</strong>plos do operar arquitetura como conhecimentoespecializado e profundo. Por essa via que Rino se afasta <strong>da</strong>s questões políticas eassume posicionamentos de reformismo liberal que tanto vai desagra<strong>da</strong>r as correntesanalíticas <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s futuras.Portanto, a presença de Artigas é o que concentrará as atenções para asgerações <strong>em</strong> formação pelo momento e, mais ain<strong>da</strong>, na déca<strong>da</strong> seguinte. Umapresença marca<strong>da</strong> por uma arquitetura rigorosa e pelo posicionamento político. “Oarquiteto de São Paulo pretendia d<strong>em</strong>onstrar uma tese: que a responsabili<strong>da</strong>de doarquiteto se sustentava no conceito de projeto como instrumento de <strong>em</strong>ancipaçãopolítico e ideológico”. (6)Na déca<strong>da</strong> dos 50 o arquiteto inicia o período <strong>da</strong>s obras mais plenas <strong>em</strong>termos <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> por ele cria<strong>da</strong>. Yves Bruand ajusta essa produção dentro de seu“O aparecimento do brutalismo e seu sucesso <strong>em</strong> São Paulo” (7) , contrapondo esseperíodo ao anterior, organicista wrightiano, ou menos funcionalista. Bruand qued<strong>em</strong>onstra, <strong>em</strong> sua obra clássica, desconhecer os processos <strong>da</strong> arquitetura <strong>em</strong> SP,simplifica sobre maneira o processo do artista. O olhar do crítico limita-se a observarinfluências internacionais diretas. Contudo não exist<strong>em</strong> dois momentos autônomos edistintos, o organicista e um outro brutalista.Artigas não chegou aos seus resultados por ser ou não uma arquiteturamoderna, inclusive questionou várias vezes a vali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Arquitetura Moderna nasocie<strong>da</strong>de brasileira (8) . Ela é o resultado de um processo definido por uma posturaintelectual e ideológica, de seu princípio até anti-corbusiano, o contato próximo com aobra de Bratke, até sua expressão final, mais radical que o próprio Corbusier, ouqualquer outro dos mestres, <strong>em</strong> termos políticos, formais e construtíveis, umaarquitetura enquanto disciplina, espaço e estrutura, s<strong>em</strong> beleza fácil por convicção, oucom outra natureza de beleza, a beleza do construído, do cultural, do objeto social.Arquitetura s<strong>em</strong> concessões de espécie alguma, e pessoal. Isso nunca é d<strong>em</strong>aisl<strong>em</strong>brar, a linguag<strong>em</strong> <strong>da</strong> arquitetura de Artigas não persegue modelos, persegue5. São elas: Artigas: Residência do arquiteto (49), Estádio do S. Paulo F. C. (52), Resid. José Bittencourt(56), Resid. Rubens Mendonça (58). Rino: Resid. Milton Guper (51), Laboratório Paulista de Biologia (56),Resid. Castor Perez (58), Galeria R. Monteiro (60). Ambos produziram b<strong>em</strong> mais durante a déca<strong>da</strong>,porém essas são as apresenta<strong>da</strong>s pelo livro.6. SEGAWA, H. op. cit. p. 144.7. BRUAND, Yves. Arquitetura Cont<strong>em</strong>porânea no Brasil. São Paulo, Perspectiva, 1981. p. 295-319.8. Explicitado <strong>em</strong> seu texto: Le Corbusier e o imperialismo.
invenções construtíveis. De preferência <strong>em</strong> soluções altamente sofistica<strong>da</strong>s – como oclube na Guarapiranga.O próprio Bruand, depois de atribuir aos arquitetos de SP uma certa falta detalento (9) , chega a se impressionar com a expressão quase agressiva do arquiteto:“Com efeito, para Artigas, não pode haver separação entre arte, a socie<strong>da</strong>de e a açãoindividual, que s<strong>em</strong>pre deve refletir uma toma<strong>da</strong> de posição filosófica traduzi<strong>da</strong> <strong>em</strong>termos utilitários no plano prático” (10) . Bruand entendeu uma parte significativa doprocesso de SP por meio de Artigas, mas a priori já havia feito sua opção pelo “triunfo<strong>da</strong> plástica” (11)Entretanto o posicionamento político de Artigas lhe conferiu um caráterconsideravelmente dogmático, que por vezes interfere diretamente <strong>em</strong> sua atuação nacultura paulistana e até <strong>em</strong> sua arquitetura. No plano <strong>da</strong>s discussões o levou acondutas de reação às posturas artísticas que poderiam lhe ser muito úteis, mesmoporque relacionavam-se muito mais intimamente com sua linguag<strong>em</strong> do que a arte deposicionamento puramente ideológico dogmático ou propagandístico. Episódios comosuas críticas à I Bienal ou suas divergências com a Arte Concreta ilustram isso, comodescreve França Lourenço: “a [crítica] mais contundente é de VilanovaArtigas,...mostrando agora seu afastamento do MAM...identifica o evento como„expressão <strong>da</strong> decadência burguesa‟... Mário Pedrosa... faz a defesa l<strong>em</strong>brando qu<strong>em</strong>uitos dos movimentos radicais e au<strong>da</strong>ciosos vêm de artistas <strong>da</strong> União Soviética,como Kasimir Malevitch e Alexander Rodchenko, o que deixa dúvi<strong>da</strong>s quanto àafirmação de „decadência burguesa‟” (12)Muito <strong>da</strong>s <strong>pesquisa</strong>s com a linguag<strong>em</strong> <strong>da</strong>s vanguar<strong>da</strong>s seriam bastante férteis<strong>em</strong> contato com a cabeça criadora de Artigas, as operações com as linguagens que osconcretistas faz<strong>em</strong> nos mostra como a absorção crítica e seletiva <strong>da</strong>s experiências devanguar<strong>da</strong> resultou <strong>em</strong> soluções notáveis aplica<strong>da</strong>s a urbe SP. Artigas se negou a issopor intransigência e, até, certa teimosia, de forma até a limitar sua <strong>pesquisa</strong> com alinguag<strong>em</strong> arquitetônica. Contudo, sua presença frente os novos arquitetos,principalmente na FAU-USP, proporcionou uma geração que parte de suasexperiências, que como já diss<strong>em</strong>os são muito sofistica<strong>da</strong>s, e promoverão a ampliação<strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> do mestre.Desses novos arquitetos, o de maior destaque é, s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>, Paulo Mendes<strong>da</strong> Rocha. Seu primeiro grande projeto é o ginásio para o Clube Paulistano <strong>em</strong> 1957,nesse momento ele já deixa claro, tanto a influência do mestre, quanto à ampliação <strong>da</strong>linguag<strong>em</strong>, especialmente os relativos à poética. Mendes <strong>da</strong> Rocha pode serconsiderado, não ain<strong>da</strong> no final dos 50, mas um pouco adiante, o arquiteto que maisse aproxima <strong>da</strong>s experiências realiza<strong>da</strong>s pelos poetas concretos <strong>em</strong> termos d<strong>em</strong>anipulação <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> (ver<strong>em</strong>os a respeito, mais adiante). Outro grande ex<strong>em</strong>plodo trabalho dos novos arquitetos nesse sentido é o Edifício 5º Aveni<strong>da</strong> de Pedro PauloSaraiva e Miguel Juliano, projetado <strong>em</strong> 1959 para a Av. Paulista.Cabe ain<strong>da</strong> apontar que durante to<strong>da</strong> a déca<strong>da</strong>, a par do IV Centenário, asarquiteturas de Artigas ou Levi não são, <strong>em</strong> hipótese alguma, fatos isolados. Não sóno Ibirapuera a arquitetura moderna se manifestava, ao contrário, to<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong>de estásendo reconstruí<strong>da</strong> e amplia<strong>da</strong> lançando mão dos procedimentos modernos, <strong>em</strong> todosos níveis, para o b<strong>em</strong> e para o mal, com quali<strong>da</strong>de ou não, com objetivos culturais,técnicos, ou econômicos. Tão moderno como as experiências com as linguagensabstratas nas artes são os jogos lingüísticos <strong>da</strong> especulação imobiliária ou <strong>da</strong>sadministrações públicas totalmente desprepara<strong>da</strong>s para o tamanho <strong>da</strong> encrenca <strong>em</strong>que se transformara a metrópole.9. Bruand justificando porque pouco se falou <strong>da</strong> arquitetura <strong>em</strong> São Paulo”:...houve dois motivosprincipais: de um lado, a menos vivaci<strong>da</strong>de dos talentos paulistas e o atraso maior com que seimpuseram,...” Será?! – BRUAND, Y. op. cit. p. 249.10. BRUAND, Y. op. cit. p. 295.11. BRUAND, Y. op. cit. p. 151.12. LOURENÇO, M. C. F. op. cit. p. 220.
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