“Snuff – vítimas do prazer”, não só pela linguag<strong>em</strong>, ou meta linguag<strong>em</strong>, mais pelasidéias que ele contém.De forma caricata e perversa, ele cria uma alegoria <strong>da</strong>s relações imperialistasamericanas, tão fala<strong>da</strong>s na época, que asume um comportamento crítico s<strong>em</strong>passivi<strong>da</strong>de na obra de Reichenbach, focando a história de produtores americanos decin<strong>em</strong>a pornô que começam a atuar na ci<strong>da</strong>de e filmam suas atrizes sendo estupra<strong>da</strong>se assassina<strong>da</strong>s de ver<strong>da</strong>de.Outros casos recorrentes de uma <strong>pesquisa</strong> cin<strong>em</strong>atográfica experimental ealternativa que dev<strong>em</strong> ser l<strong>em</strong>brados: Antonio Calmon <strong>em</strong> “Paranóia” de 1976 e“Gente fina é outra coisa” de 77, grandes retratos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na urbana e o delicado epreciso filme baseado <strong>em</strong> Amar: verbo intransitivo de Mário de Andrade, dirigido porEduardo Escorel <strong>em</strong> 1975 com o nome de “Lição de amor”. Como também a primeiraobra e mais caracteristicamente urbana e marginal de Hector Babenco, “O rei <strong>da</strong>noite”, também de 75. Depois Hector dirigirá uma produção carioca engaja<strong>da</strong> contra aditadura, “Lúcio Flávio, passageiro <strong>da</strong> agonia”, antes de seu, também urbano <strong>em</strong>arginal, “Pixote” que lhe trará fama e carreira internacionais....vídeo: Em função do interesse <strong>da</strong>s novas gerações de SP pelas mídia etecnologias, um fato marcante na cultura <strong>da</strong> urbe, na área dos audiovisuais é a vídeoarte.Grupos formam-se na ci<strong>da</strong>de, alguns alcançando êxitos profissionais e nasexperiências com a linguag<strong>em</strong> videográfica, é o caso do Olhar Eletrônico e do TVDO.Ambos part<strong>em</strong> do estudo do médium como expressão disciplinar, não como registrorealista ou ficção calca<strong>da</strong> na a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong>s linguagens do cin<strong>em</strong>a e do teatro. Mas, omaior interesse de ambos são os fluxos <strong>da</strong>s culturas e comportamentos <strong>da</strong> urbepaulista....literatura: A literatura underground de SP vai concentrar-se <strong>em</strong> posturas dotipo <strong>da</strong>quelas apresenta<strong>da</strong>s pela geração beat, retratos <strong>da</strong>s ruas impressos <strong>em</strong>condições totalmente alternativas e vendi<strong>da</strong> de mão <strong>em</strong> mão pelas ruas e bares <strong>da</strong>ci<strong>da</strong>de, poucos se destacam <strong>em</strong> produção, mais <strong>em</strong> atuação pelos cenários <strong>da</strong> SP dos70, são bastante característicos. É a chama<strong>da</strong> geração mimeógrafo, o Sangue Novo,poetas jovens que freqüentavam as noites <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, tendo como QG um barchamado Redondo, na esquina <strong>da</strong> Consolação com a Ipiranga (pelo menos é onde eumais os via) ilustra b<strong>em</strong> essa geração de poetas urbanos.Não especificamente literatura mas também <strong>em</strong> mídia impressa, as revistasalternativas de cultura são um fenômeno b<strong>em</strong> peculiar <strong>da</strong> época. Ex<strong>em</strong>plos: Cine olho,Alienarte, querendo rever os legados <strong>da</strong>s gerações anteriores, tanto que as primeirasentrevistas <strong>da</strong> Alienarte são com Zé Celso e <strong>Jorge</strong> Mautner e o principal interesse dosprimeiros números <strong>da</strong> Cine olho é o cin<strong>em</strong>a de vanguar<strong>da</strong> soviético <strong>em</strong> artigos deArlindo Machado. Tinham como postura editorial e forma gráfica sentido oposto aosjornais alternativos políticos, como Versus, A voz <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de ou O trabalho....no teatro: Zé Celso retorna do exílio <strong>em</strong> 1978 e reabre o Oficina <strong>em</strong> 79, com“O ensaio geral do carnaval do povo”, proporcionando algum movimento no mar d<strong>em</strong>onotonia, <strong>da</strong>s encenações sub-produto televisivo ou <strong>da</strong>s já desgasta<strong>da</strong>s e inúteismontagens de crítica política, n<strong>em</strong> a repressão se ´preocupa com elas nos finais dos70.A presença do encenador de volta a SP não atrai atenção do grande público,mas, dos setores ligados a cultura, muita. Tanto que grupos como o Ornitorrinco deCacá Rosset ou o Pó de minoga provocarão uma cena muito mais interessante nospróximos anos. O próprio Oficina se tornará, se não um sucesso de público, pelomenos muito mais evidente ao grande público depois dos anos 90 com montagenscomo As bacantes ou Cacil<strong>da</strong>!, entre o espanto e a fascinação de uma audiência jádesacostuma<strong>da</strong> aos grandes happenings que haviam sido as apresentações teatrais<strong>da</strong> passag<strong>em</strong> dos 60 para os 70.Essa cultura de sub-mundo encaminha<strong>da</strong> pelos artistas de SP na déca<strong>da</strong> de 70d<strong>em</strong>onstra que, por um lado, a urbe continua antipelágica, por outro, uma espantosacapaci<strong>da</strong>de de se a<strong>da</strong>ptar às situações mais adversas e ári<strong>da</strong>s.
6.3 ...e a arquitetura?De to<strong>da</strong>s as manifestações culturais a arquitetura, s<strong>em</strong> a menor dúvi<strong>da</strong>, é qu<strong>em</strong>ais t<strong>em</strong> dificul<strong>da</strong>des <strong>em</strong> ser produzi<strong>da</strong> de forma alternativa, fora de um sist<strong>em</strong>a sócio- econômico que lhe imponha condições muito precisa. De tal forma, o ambiente dosanos 70 vai provocar estragos muito maiores nessa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de artística que nasd<strong>em</strong>ais. Vejamos essa afirmação de Vilanova Artigas para termos idéia <strong>da</strong> situação:“Depois de cassado, vivi a déca<strong>da</strong> de 70 cercado pelo medo. Desse período só mel<strong>em</strong>bro do medo. Terror que fez meus colegas calar<strong>em</strong> a boca na Universi<strong>da</strong>de” (4) .Artigas foi cassado de suas funções na USP <strong>em</strong> 1969 pelo AI-5, nos anos 70 não parasuas ativi<strong>da</strong>des como arquiteto, ao contrário só <strong>em</strong> 1976 ele projetou oito escolasestaduais.To<strong>da</strong>via, esse medo a que ele se refere e nos dá uma idéia de improdutivi<strong>da</strong>de,se deve totalmente ao clima cultural, obviamente decorrente do político, <strong>em</strong> que seencontra o país. Não existe mais a cultura fervente <strong>da</strong>s primeiras Bienais e os grandedebates, não existia mais ecos entre as artes n<strong>em</strong> tampouco espaços para projetoscoletivos. O que tínhamos no lugar era a necessi<strong>da</strong>de urgente de sobrevivênciaindividual e, muitas vezes, clandestina.Se para as outras artes essa atmosfera gerou condições de expressõesinusita<strong>da</strong>s e <strong>da</strong> descoberta de outros meios para alcançar as audiências, para aarquitetura tal situação promoveu desastres praticamente irr<strong>em</strong>ediáveis até os diasatuais.Os arquitetos, <strong>da</strong> mesma forma que as d<strong>em</strong>ais artes, irão de profissionalizar, aeficiência e competência técnicas são o que garante a sobrevivência profissional, osdiscursos possíveis à arquitetura não encontram ecos no corpo social, principalmentenos poderes constituídos, tanto político quanto o econômico, que já fez sua opçãodesde a marcha com Deus pela d<strong>em</strong>ocracia nos anos 60. Assim, o nível <strong>da</strong>oficiali<strong>da</strong>de na arquitetura corresponde a trabalhar para essa ideologia. Probl<strong>em</strong>aabsolutamente insolúvel para to<strong>da</strong> aquela geração forma<strong>da</strong> <strong>em</strong> torno de Artigas, oumesmo <strong>em</strong> torno de Rino Levi.A déca<strong>da</strong> será marca<strong>da</strong> por obras de escritórios como Aflalo, Croce &Gasperini, Ruy Ohtake, Abrahão Sanovicz, arquitetos talentosos porém, longe deoferecer<strong>em</strong> um discurso arquitetônico amplo e ao mesmo t<strong>em</strong>po definido, umalinguag<strong>em</strong> completa para a arquitetura ao nível de Artigas ou Rino.A geração é numerosa, forma<strong>da</strong> nos anos 50 e altamente qualifica<strong>da</strong> paratrabalhar<strong>em</strong> nos anos 70, Eduardo Longo, Fábio Penteado, Décio Tozzi, Pedro PauloSaraiva, Francisco Petracco, Eduardo de Almei<strong>da</strong>, porém a arquitetura produzi<strong>da</strong>mantém-se restrita ao que já havia sido experimentado nos anos 50 e 60. Apesar <strong>da</strong>quali<strong>da</strong>de do que foi produzido não se apresenta como produto de uma nova situaçãourbana.Falta à arquitetura desse período o grau de especulação vanguardista quefomentou as grandes transformações culturais na ci<strong>da</strong>de. Com certeza t<strong>em</strong>osexceções, <strong>em</strong> micro-cosmos, a esse quadro. No grande panorama a mais identificávelé a de Paulo Mendes <strong>da</strong> Rocha, a mais plena mentali<strong>da</strong>de criadora, investigativa equestionadora nos padrões <strong>da</strong> tradição cultural <strong>da</strong> urbe SP.Já nos 70 a arquitetura de Paulo se apresenta como uma grande síntese <strong>da</strong>cultura <strong>da</strong> urbe, ele vai além do discurso de Artigas, a sua poética construtiva é muitomais intensa que a retórica social do mestre, que s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong> o foi. O que Paulo faz éir adiante do mestre como s<strong>em</strong>pre deveria ser. Do projeto para o concurso do CentroPompidou <strong>em</strong> 1971 ao MUBE <strong>em</strong> 1988, Mendes <strong>da</strong> Rocha configurou uma arquiteturaprovi<strong>da</strong> unicamente <strong>da</strong> secura do essencial, puramente SP, a arquitetura que se4. Vilanova Artigas: arquitetos brasileiros – brazilian architects. São Paulo, Inst. Lina Bo e P. M. Bardi /Fun<strong>da</strong>ção Vilanova Artigas, 197. p. 33.
- Page 1 and 2: SP.CULTURAJorge Bassani* Capítulo
- Page 3 and 4: 2. SP Império, século XIX, o ambi
- Page 5 and 6: Compondo o quadro, é a conseqüent
- Page 7 and 8: Ouvidor feita por Militão de Azeve
- Page 9 and 10: tradições culturais da colônia,
- Page 11 and 12: Academia de Direito: “Reduzido a
- Page 13 and 14: pela República altera significativ
- Page 15 and 16: De suas casas em SP, a de João Den
- Page 17 and 18: no Vale do Anhagabaú em frente ao
- Page 19 and 20: na economia cafeeira, acima de qual
- Page 21 and 22: 1922, no ano da SAM, junto aos bair
- Page 23 and 24: voltar de uma temporada de estudos
- Page 25 and 26: imigração se intensifica ainda ma
- Page 27 and 28: contra a arte abstrata. Da mesma fo
- Page 29 and 30: invenções construtíveis. De pref
- Page 31 and 32: Nesse sentido trabalharam profundam
- Page 33 and 34: 6. ANOS 70: A NOVA REALIDADE URBANA
- Page 35 and 36: Todavia, a par dessas heranças dos
- Page 37 and 38: 6.2- A cultura underground e de pes
- Page 39: expressões, o trabalho de Regina t
- Page 43 and 44: mais profundas de como reorganizar
- Page 45 and 46: subterrâneo, do centro para o sul