antecedentes. N<strong>em</strong> os protagonistas <strong>da</strong> Tropicália tinham ido tão longe. Era músicaconcreta “in concreto”. Foi no Festival de Globo de 1972...a explosão <strong>da</strong> letra <strong>em</strong>estilhaços de poesia e a sua implosão nos ocos do silêncio...racharam a cabeça <strong>da</strong>música popular” (2) e mais ain<strong>da</strong> a cabeça <strong>da</strong> estrutura plastifica<strong>da</strong> do festival televisivo<strong>em</strong> rede nacional <strong>da</strong>, mais que pelágica, Rede Globo, <strong>em</strong>presa priva<strong>da</strong>, porém, órgãooficial de comunicação <strong>da</strong> Ditadura Militar.A experiência artística, mais que música popular, de WF explicita acontinui<strong>da</strong>de, não só <strong>da</strong>s <strong>pesquisa</strong>s <strong>da</strong> construtiva déca<strong>da</strong> de 50 <strong>em</strong> SP, masprincipalmente a efervescência cultural que permanece nos undergrounds <strong>da</strong> urbe,longe dos olhos, e <strong>da</strong> compreensão, dos militares ou dos espaços <strong>da</strong>s artes oficiais ecomerciais.Depois, mais para o final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> assistir<strong>em</strong>os outras aparições comoa de Walter, Arrigo Barnabé é um deles, e b<strong>em</strong> típico de SP. Primeiro porque nãonasceu aqui, integrado a setores <strong>da</strong> USP mais <strong>da</strong>do às <strong>pesquisa</strong>s, absorverapi<strong>da</strong>mente os fluxos dinâmicos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e os recoloca, antropofagicamente, comolinguagens dos sons. “Diversões Eletrônicas”, apresenta<strong>da</strong> no Festival Universitário <strong>da</strong>TV Cultura de SP é b<strong>em</strong> o caso, o trabalho, show e disco, “Clara Crocodilo”, no iníciodos 80, mais ain<strong>da</strong>. Itamar Assunção com sua ban<strong>da</strong> “Isca de polícia” seguirá passosparecidos, mas com operações diferentes, mais musical, mais ligado ao s<strong>em</strong>ântico <strong>da</strong>marginali<strong>da</strong>de urbana, quase cin<strong>em</strong>atográfico, enquanto que Arrigo á mais forma,sintático, e estrutural <strong>em</strong> relação às composições. Contudo, ambos tenham sededicado nos anos futuros às <strong>pesquisa</strong>s <strong>da</strong>s raízes <strong>da</strong> música brasileira.Na seqüência o espaço foi aberto para eventos menos profundos massignificativos para cultura <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, como o grupo Rumo e a geração Lira Paulistana,teatro, mais um pequeno auditório, localizado nos fundos e no sub-solo de um prédiona Praça Benedito Calixto, <strong>em</strong> Pinheiros, bairro ocupado pelos universitário <strong>da</strong> USP,junto ao gueto <strong>da</strong> Vila Ma<strong>da</strong>lena – a antiga, não essa coisa que está lá hoje. Depoisain<strong>da</strong> os punks, explodindo nas periferias de SP, Cólera, Olho Seco e outros são oretrato disso e não a fajutag<strong>em</strong> que foi parar nas mídias. O rock alternativo no iníciodos 80 é a face mais classe-média e universitária desse fenômeno, que produziucoisas interessantes com o Ira! ou, mais alternativo, Akira S e as garotas que erraram.To<strong>da</strong>s essas expressões já registram os novos rumos <strong>da</strong> cultura urbanainternacional, o desespero perante uma reali<strong>da</strong>de material monstruosa coordena<strong>da</strong> porum monstro maior e imaterial, a indústria midiática. Júlio Barroso a mais completatradução paulista dessa época <strong>da</strong> cultura internacional - mais <strong>em</strong> termos de posturacultural que pela música propriamente dita <strong>da</strong> “Gang 90” -,pode ser colocado, pelascircunstâncias, quase como nosso Ian Curtis....nas artes plásticas: Muito mais difícil é traçar um recorte alternativo aooficial, nas plásticas. Primeiro porque a cisão entre uma e outra, nesse caso, é muitomenos precisa do que na música popular, evident<strong>em</strong>ente. Segundo porque o própriocircuito específico transita entre o oficial e o underground, as Bienais confirmam isso,tanto v<strong>em</strong>os o eterno dejavu que marcará o fim do século, como experiências maisradicais, porém na maior parte dos casos, muito efêmeras.Também a própria disciplinari<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s artes plásticas lhe impõe umaatmosfera distante <strong>da</strong>s raízes mais undergrounds como as periferias e o sub mundourbano.Portanto as experiências mais expressivas nessa área virão do ambienteuniversitário como é o caso de Regina Silveira ou Julio Plaza. Presenças marcantesna cultura dos 70, ambos <strong>pesquisa</strong>ram as questões <strong>da</strong> imag<strong>em</strong> no mundo <strong>da</strong>s mídiaeletrônicas com caminhos diferentes. A primeira <strong>em</strong> sua possível materiali<strong>da</strong>de,trabalhando a questão no disciplinar <strong>da</strong>s artes plásticas, nos seus materiais e2. CAMPOS, Augusto; in: encarte cd Walter Franco – série dois momentos. Warner Music, 2000.
expressões, o trabalho de Regina t<strong>em</strong> matéria, mesmo os Simulacros que virão econfigurarão a expressão maior de sua <strong>pesquisa</strong>, ain<strong>da</strong> é imag<strong>em</strong> produzi<strong>da</strong> com asmão <strong>em</strong> material recortado e apresentado nas paredes e pisos dos museus e galerias.Júlio Plaza trabalha a <strong>pesquisa</strong> a partir <strong>da</strong> própria mídia, <strong>em</strong> uma linha queMcLluhan chamaria de “o meio é a mensag<strong>em</strong>”. Trabalha com livros na companhia deAugusto de Campos, com vídeo-texto, com vídeo, computadores. Um termo correntena época, <strong>em</strong> função dessas múltiplas experiências do artista e professor, é o de “artee tecnologia”, vários eventos são organizados na ci<strong>da</strong>de durante os anos 80 com essat<strong>em</strong>ática e agrupará um número significativo de novos artistas <strong>em</strong> torno dessa<strong>pesquisa</strong>.Nos meios tradicionais, dev<strong>em</strong>os chamar a atenção para o primoroso trabalhode Ubirajara Ribeiro. Embora seja um artista do desenho e a veiculação de sua arteseja <strong>da</strong> forma tradicional, exposições <strong>em</strong> galerias do circuito. A quali<strong>da</strong>de e o desenho,<strong>em</strong> sua linguag<strong>em</strong>, mais SP que qualquer outra, muito mais que as paisagens frígi<strong>da</strong>sde um Gregório Gruber ou Newton Mesquita por ex<strong>em</strong>plo, o colocam <strong>em</strong> destaque,mesmo sua postura perante o mercado, mais, com relação a vi<strong>da</strong>, o coloca <strong>em</strong> umaposição de extr<strong>em</strong>a auto marginali<strong>da</strong>de, underground ao extr<strong>em</strong>o.Mesmo a atuação mais marginal e anti-oficial nas artes visuais que surgirãocom força máxima no final dos 70, t<strong>em</strong> sua orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> grupos ligados àsUniversi<strong>da</strong>des. È o caso do grafiti. As pinturas com tinta spray que começaram aocupar os muros e prédios de SP foram impulsiona<strong>da</strong>s principalmente por AlexVallauri, que ficou um t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> Nova Iorque e ao voltar imprimiu sua estética kitsh, aRainha do frango assado, <strong>em</strong> vários muros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> publicação do texto deJean Baidrillard, “Kool killer, ou a insurreição pelos signos” (3) na Cine olho, <strong>em</strong> 1979.Vallauri era próximo aos grupos de intervenção urbana, como 3nós3 / Manga Rosa,também de universitários, como o pessoal de ECA que publicava a Cine olho.Esses grupos e os grafiteiros formam um capítulo à parte no underground <strong>da</strong>sartes plásticas paulistanas, exatamente por ser<strong>em</strong> os que mais irão radicalizar essapostura. Negando o mercado, o circuito, a arte não é uma questão de especialista esim um fenômeno <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des e dessa forma deve ser produzi<strong>da</strong> e exposta, <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dee para a ci<strong>da</strong>de. Por esse motivo tratar<strong>em</strong>os deles <strong>em</strong> separado mais à frente....no cin<strong>em</strong>a: Como já diss<strong>em</strong>os as produções cin<strong>em</strong>atográficas estavamcentra<strong>da</strong>s no Rio, b<strong>em</strong> como o controle <strong>da</strong>s verbas oficiais, que com certeza, nãointeressava a ninguém que viess<strong>em</strong> parar na antipelágica SP.Isso diminui mas não impede produções paulistas mais de <strong>pesquisa</strong> e dequestionamento culturais além <strong>da</strong>quelas <strong>da</strong> Boca do lixo. O caso ex<strong>em</strong>plar e maissignificativo é Carlos Reichenbach.A déca<strong>da</strong> anterior havia deixado o marco de marginali<strong>da</strong>de e radicali<strong>da</strong>de docin<strong>em</strong>a brasileiro que foi “O bandido <strong>da</strong> luz vermelha” de Rogério Sganzerla, produzido<strong>em</strong> 1968, muito mais radical <strong>em</strong> linguag<strong>em</strong> do que qualquer obra do Cin<strong>em</strong>a Novo,inclusive ”Deus e a diabo na terra do sol” de Glauber Rocha, e infinitamente maisurbano <strong>em</strong> t<strong>em</strong>a, forma e significado. A história romancea<strong>da</strong> do famoso, e real,bandido têm como cenário uma urbe decadente, promiscua e violenta.Reichenbach, por caminho diferente, chega ao mesmo fim, uma linguag<strong>em</strong>s<strong>em</strong> os padrões, a essas altura diluídos e fossilizados, do Cin<strong>em</strong>a Novo, produto deum meio urbano complexo e fascinante, cheio de personagens e formas inusita<strong>da</strong>s <strong>em</strong>isteriosas, ao lado de uma hipocrisia escancara<strong>da</strong> e prevalescente. Em 1975 eleapresenta “Lílian M: relatório confidencial” com uma estética carregadíssima, longe dobom gosto institucionalizado e do maneirismo esteticizante <strong>da</strong> miséria do cin<strong>em</strong>aengajado, puro cin<strong>em</strong>a urbano, e paulista. Contudo, a obra de Carlos mais adequadopara d<strong>em</strong>onstrar a cultura de SP imersa na reali<strong>da</strong>de internacional dos 70, talvez seja3. Baudrillard, Jean. L’ échange symbolique et la mort. Gallimard, 1976. Traduzido por FernandoMesquita para a revista Cine Olho, n. 5/6.
- Page 1 and 2: SP.CULTURAJorge Bassani* Capítulo
- Page 3 and 4: 2. SP Império, século XIX, o ambi
- Page 5 and 6: Compondo o quadro, é a conseqüent
- Page 7 and 8: Ouvidor feita por Militão de Azeve
- Page 9 and 10: tradições culturais da colônia,
- Page 11 and 12: Academia de Direito: “Reduzido a
- Page 13 and 14: pela República altera significativ
- Page 15 and 16: De suas casas em SP, a de João Den
- Page 17 and 18: no Vale do Anhagabaú em frente ao
- Page 19 and 20: na economia cafeeira, acima de qual
- Page 21 and 22: 1922, no ano da SAM, junto aos bair
- Page 23 and 24: voltar de uma temporada de estudos
- Page 25 and 26: imigração se intensifica ainda ma
- Page 27 and 28: contra a arte abstrata. Da mesma fo
- Page 29 and 30: invenções construtíveis. De pref
- Page 31 and 32: Nesse sentido trabalharam profundam
- Page 33 and 34: 6. ANOS 70: A NOVA REALIDADE URBANA
- Page 35 and 36: Todavia, a par dessas heranças dos
- Page 37: 6.2- A cultura underground e de pes
- Page 41 and 42: 6.3 ...e a arquitetura?De todas as
- Page 43 and 44: mais profundas de como reorganizar
- Page 45 and 46: subterrâneo, do centro para o sul