escritórios e consultórios – a Cinelândia paulistana (região <strong>da</strong>s aveni<strong>da</strong>s São João eIpiranga) – e até mesmo uma elegante rua de apartamentos de alto luxo, queocuparam os terrenos <strong>da</strong>s antigas mansões <strong>da</strong> rua São Luiz. Este passou a ser o“Centro novo”. Para o “lado de lá” do Anhangabaú, o antigo centro tornou-se o “Centrovelho”, voltado para as cama<strong>da</strong>s populares. Suas lojas se “popularizaram”, b<strong>em</strong> comoseus cin<strong>em</strong>as (o Rosário, no Martinelli; o São Bento, na rua de mesmo nome; oAlhambra, na rua Direita; o Santa Helena, no palacete de mesmo nome na Praça <strong>da</strong>Sé, etc.). Nas ruas Quinze de Nov<strong>em</strong>bro e Boa Vista sobreviveram – pela força <strong>da</strong>tradição, talvez - os bancos e alguns profissionais ligados à área jurídica, visto que lápermaneceram o Fórum e o Palácio <strong>da</strong> Justiça.” (16)O sentido nobre de crescimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de já indicado por Antônio Prado teveseqüência nas déca<strong>da</strong>s seguintes, ou seja, a face sudoeste do centro recebeuconcentração absoluta dos recursos municipais e foi abasteci<strong>da</strong> com grandeinfraestrutural e melhoramentos urbanos. Além desse centro expandido estão osbairros de elites b<strong>em</strong> aparelhados. As faces leste e norte <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de ao contrário,desde o início do século, esta sendo ocupado pelas fábricas e os conseqüentesbairros operários, s<strong>em</strong> investimentos e resolvendo-se de forma totalmentedesordena<strong>da</strong>.No Brás configura-se um centro alternativo extr<strong>em</strong>amente dinâmico e prósperocom cin<strong>em</strong>as, cantinas e as festas <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des italiana e espanhola láconcentra<strong>da</strong>. Mas no resto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de mais na<strong>da</strong>, deixa-se <strong>em</strong> um abandono tal que secriará um dos mais probl<strong>em</strong>áticos sítios urbanos mundiais.Isso porque essa periferia não cessará de crescer até os nossos dias, s<strong>em</strong>controle, s<strong>em</strong> projeto, os planos propostos são míopes e irrealizáveis. O único objetivodo plano é ser elaborado, ele é <strong>em</strong> si um fim, porque não se formulam manejos desseplanos, metodologia e investimentos serão s<strong>em</strong>pre precários até o início do séculoXXI.As configurações sócio-econômicas, o crescimento industrial, as organizaçõesoperárias, b<strong>em</strong> como a resposta <strong>da</strong> intelectuali<strong>da</strong>de paulista durante a déca<strong>da</strong> de 50,estabelec<strong>em</strong> bases para uma proposta de socie<strong>da</strong>de, para um projeto social. De certaforma o desenvolvimento dos acontecimentos do período conduz<strong>em</strong> a esse objetivo. Oprojeto paulista constituiu-se como uma alternativa à carnavalização oficial getulistaproduzido na Capital Federal, salário mínimo e arquitetura neobarroca, pão e circo.Venceu a alegoria <strong>da</strong> forma moderna, s<strong>em</strong> contradições ou senso crítico, o triunfo <strong>da</strong>plástica, pura, o discurso acontece na esfera do encontro social, do bar, do salão, aarte que vai para a rua é pura estetização <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de s<strong>em</strong> conflitos.Ao contrário <strong>da</strong> cultura produzi<strong>da</strong> no Rio – do final <strong>da</strong> Guerra até atransferência <strong>da</strong> Capital, que fique claro -, cont<strong>em</strong>porizadora, s<strong>em</strong> conflitos, cortesã, acultura de SP se apresenta <strong>em</strong> termos de projeto alternativo, agressiva e conflitante,programática e seca. A objetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de que nasceu antipelágica, nos termos deL. Saia, permanece assim até os anos 50, e agora com uma produção cultural queresponde <strong>em</strong> altíssimo grau a essa condição.O projeto antipelágico de SP sucumbiu ao Nacional herdeiro <strong>da</strong> ditaduraVargas com seus tenentes, mas também com sua corte artística e intelectual.16. VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo, Studio Nobel/ FAPESP/ LincolnInstitute, 2001. p. 264-265.
6. ANOS 70: A NOVA REALIDADE URBANADestacamos agora um pequeno trecho de Luis Carlos Maciel, personag<strong>em</strong>destacado na cultura, ou contracultura, brasileira do baby boom, seu comentário <strong>em</strong>relação aos últimos anos <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de „ 60, tendo como cenário principal SP:“Em 1967, fui convi<strong>da</strong>do por José Celso Martinez Corrêa para fazer umlaboratório com os atores do Teatro Oficina. Ele queria revolucionar a forma deinterpretação, após ter visto Terra <strong>em</strong> transe. De suas experiências nesse laboratóriosurgiu a polêmica e inovadora montag<strong>em</strong> de O rei <strong>da</strong> vela. Em 1967 também, Caetano[Veloso] lançaria a música Tropicália e se encantaria com O rei <strong>da</strong> vela. Diferentesartistas, diversas artes, que protagonizaram aquele momento de extraordináriaefervescência cultural” (1)No Brasil pod<strong>em</strong>os dizer que a déca<strong>da</strong> de 60 representou a quebra precisa <strong>em</strong>dois momentos marcantes, a euforia positiva e producente dos processosdesencadeados nos 50 e as crises diversas que serão detona<strong>da</strong>s nos 70. A déca<strong>da</strong> de70 é a mais vertiginosa que<strong>da</strong> na real que o século XX presenciou, mais ain<strong>da</strong> que asGuerras, quando o Mal ain<strong>da</strong> é identificável, material.Obviamente já estamos <strong>em</strong> uma era <strong>em</strong> que não exist<strong>em</strong> mais fenômenoslocais, n<strong>em</strong> nacionais, tudo é reflexo <strong>da</strong>s grandes ondulações internacionais. Adéca<strong>da</strong> de 70 é um encontro com o desespero no mundo todo. A maior evidênciadisso é verificável nas expressões juvenis, por ser<strong>em</strong> <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s que mais criamexpectativas <strong>em</strong> relação ao futuro e, também, são os grupos sociais que dominarão<strong>em</strong> grande escala as vitrines <strong>da</strong>s mídia. Os 60 chegam ao final envoltos ain<strong>da</strong> pelaatmosfera dos incensos, canabis, sons e cores psicodélicos do flower power e dopeace & love. Os 70, <strong>em</strong> plena fúria niilista dos punks, hate & war, as bati<strong>da</strong>s nervosase o negro na indumentária.A déca<strong>da</strong> é marca<strong>da</strong> por crises, <strong>em</strong> todos os setores e de to<strong>da</strong>s as naturezas.Na economia, OPEP, o des<strong>em</strong>prego galopante nos países desenvolvidos, o quebraquebra– que vai tornar-se corriqueiro – <strong>da</strong>s nações <strong>em</strong> desenvolvimento. Na política,as que<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s ideologias, a ascensão de sentimentos xenófobos e neo-nazi naEuropa, a onipresença arma<strong>da</strong> dos EUA no mundo todo. Nas artes, o inexoráveldomínio <strong>da</strong>s mídia eletrônicas sobre as expressões imediatas e experimentais e adecorrente experimentação gratuita envolvi<strong>da</strong> <strong>em</strong> excentrici<strong>da</strong>des tais, para tambéminteressar às mídia. Nas religiões, o radicalismo <strong>da</strong>s posturas, a sectarização contráriaao ecumenismo dos anos 60. Nas tecnologias,...não. Não existe crise nodesenvolvimento <strong>da</strong>s tecnologias <strong>da</strong> enésima fase <strong>da</strong> Revolução Industrial. E, até, ocontrário, parte <strong>da</strong>s crises é proporciona<strong>da</strong> por essa veloci<strong>da</strong>de de desenvolvimento.Na mesma veloci<strong>da</strong>de dev<strong>em</strong>os mu<strong>da</strong>r a percepção, a sensibili<strong>da</strong>de, o intelecto, ocomportamento <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des, a ética, muito complexos os panoramas que sedescortinam para o fim de século.O espaço físico onde se processam e realizam to<strong>da</strong>s essas crises,evident<strong>em</strong>ente, são as grandes metrópoles internacionais. Nesse ambiente a crise éfacilmente identificável, tal o grau de degra<strong>da</strong>ção que passar<strong>em</strong>os a presenciar nadéca<strong>da</strong> to<strong>da</strong>. Não só os conjuntos habitacionais nas periferias, feitos de acordo comos princípios modernistas, mas que fomentam ain<strong>da</strong> mais a exclusão, e,principalmente, os centros urbanos entram <strong>em</strong> declínio material e abandono,preteridos pelas ilhas privatiza<strong>da</strong>s, dos shoppings centers comerciais ou culturais edos condomínios.De outro lado, as políticas urbanas leva<strong>da</strong>s a cabo pelas administrações,seguindo distorções simplificadoras do racionalismo, priorizam os fluxos, asestatísticas e as operações pragmáticas. A ci<strong>da</strong>de enquanto espaço suporte <strong>da</strong>smanifestações sociais, enquanto expressão <strong>da</strong> esfera pública, perde seu sentido. A1. MACIEL, Luiz Carlos. Geração <strong>em</strong> transe: m<strong>em</strong>órias do t<strong>em</strong>po do tropicalismo. Rio de Janeiro,Nova Fronteira, 1996. p. 19.
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