se ela alienava as massas <strong>em</strong> seu caráter educacional ou desvirtuador. Bobagens, omédium é amoral, a socie<strong>da</strong>de que lhe dá as finali<strong>da</strong>des. Com as posterioresrevoluções nas comunicações digitais essas discussões ficam totalmente s<strong>em</strong> sentido.Agora, 20 anos depois <strong>da</strong> TV ser implanta<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong>de, sua definição deimag<strong>em</strong> é bastante satisfatória e acessível mesmo para as massas e já se consolidoucomo grande display para ven<strong>da</strong>s, de tudo, coisas, sonhos, políticos. Ela vaideterminar as linguagens, as mo<strong>da</strong>s e os profissionais que centralizarão a cenacultural oficial, especialmente na música e na dramaturgia percebe-se tal fato.E nestas condições a produção e consumo culturais estão bastante intensos.Os teatros se reproduz<strong>em</strong> <strong>em</strong> espaços e companhias, os restaurantes na mesmaproporção. O programa-de-fim-de-s<strong>em</strong>ana-classe-média, o espetáculo, musical outeatral seguido de pizza nas cantinas do Bexiga, o bairro boêmio <strong>da</strong> época. Os cafés,as boites, livrarias – se b<strong>em</strong> que a literatura passa por dificul<strong>da</strong>des de público, custose censura – se multiplicam pela ci<strong>da</strong>de. Assim como a tv, a cultura urbana é múltipla,cabe de tudo, rock ou gafieira, comédias ou dramas políticos.Nos circuitos especializados <strong>da</strong>s artes plásticas t<strong>em</strong> impulso decisivo aprofissionalização do mercado para artistas brasileiros vivos, e jovens. A geração <strong>da</strong>pop art politiza<strong>da</strong>, Tozzi, Antonio Henrique do Amaral, Gilberto Salvador, Granato, setorna a geração dos pintores profissionais - liberais. A atuação <strong>da</strong> Escola Brasil e seus“alunos” Fajardo, Baravelli, as presenças marcantes de Nelson Leirner, Wesley DukeLee, movimentam o circuito. A Escola Brasil com a proposta de configurar uma escolapaulista de desenho cont<strong>em</strong>porâneo consegue manter um pouco do el<strong>em</strong>entarismo <strong>da</strong>arquitetura <strong>da</strong> vanguar<strong>da</strong> paulista. Desta forma d<strong>em</strong>onstra como as artes dos circuitos,dos artistas-profissionais não estão, sendo coloca<strong>da</strong>s aqui, <strong>em</strong> todos os casos, comosub-produto de uma cultura mais au<strong>da</strong>ciosa, simplesmente estamos observando ospanoramas que se formam no período.Como o cin<strong>em</strong>a <strong>da</strong> Boca do Lixo, e as conheci<strong>da</strong>s pornochancha<strong>da</strong>s, quepod<strong>em</strong> até ser popularescas, - como também os filmes de Mazzaropi, no final tudosaído do mesmo caldeirão <strong>da</strong>s repressões ao pensar pela ditadura militar - edesprovi<strong>da</strong>s de pretensões artísticas, mas faz<strong>em</strong> parte <strong>da</strong> cultura <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e tambémproporcionam um patamar mínimo para a formação de profissionais do cin<strong>em</strong>a <strong>em</strong> SP.De outro lado a obra intimista, e alternativa ao Cin<strong>em</strong>a Novo, do cineasta Walter HugoKhoury, <strong>em</strong> que as personagens são altamente marca<strong>da</strong>s pelas tensões e angústiasproporcionado pela vi<strong>da</strong> na urbe, a própria ci<strong>da</strong>de, s<strong>em</strong> uma representação direta, épersonag<strong>em</strong> ativa e com profundi<strong>da</strong>de psicológica.Em nível nacional é a época <strong>da</strong> Embrafilme, do cin<strong>em</strong>a tutelado e controlado, omaior épico de propagan<strong>da</strong> nacionalista do período foi a produção de OswaldoMassaini <strong>em</strong> 1972, “Independência ou morte” com Tarcísio Meira e Glória Menezes edireção de Carlos Coimbra. Deprimente e ex<strong>em</strong>plar: atores televisivos, produtor piegasde direita, diretor inexpressivo, enfoque burlesco e pretensamente histórico <strong>da</strong>Independência do país. É também a época de “Dona flor e seus dois maridos”,folclorização absoluta e absur<strong>da</strong> do Brasil por meio <strong>da</strong> obras literária de <strong>Jorge</strong> Amado,produzido pelo império dos Barretos, dirigido por Bruno, objeto típico do controle <strong>da</strong>sproduções cin<strong>em</strong>atográfica e dos recursos pelos produtores e diretores do Rio, comtambém o é “Chica <strong>da</strong> Silva” de Carlos Diegues, a mesma imag<strong>em</strong> de Brasilcarnavalizado, s<strong>em</strong> substância e s<strong>em</strong> <strong>pesquisa</strong> de linguag<strong>em</strong> que, contudo,monopoliza os parcos recursos para o cin<strong>em</strong>a no país.As Bienais prossegu<strong>em</strong> na déca<strong>da</strong> refletindo as novas configurações culturaise, agora, com certa ingerência do marcado, orienta<strong>da</strong>s pelas mo<strong>da</strong>s internacionaiscria<strong>da</strong>s pelas mídia, também aparece de forma ca<strong>da</strong> vez mais marcante a figura doformatador por meio de curadorias, que mais que na<strong>da</strong> propõ<strong>em</strong> enquadrar oinenquadrável, o insólito <strong>da</strong>s rebeldias controla<strong>da</strong>s e oficializa<strong>da</strong>s. Tanto é, que ointeresse ficará concentrado nas salas especiais de um Beyus ou um Fluxos, ou <strong>em</strong>uma retrospectiva de Flávio de Carvalho.
6.2- A cultura underground e de <strong>pesquisa</strong>:A urbani<strong>da</strong>de com significados difusos e fragmenta<strong>da</strong> dos 70, soma<strong>da</strong> àrepressão política <strong>da</strong> ditadura, soma<strong>da</strong> a ascensão prodigiosa de uma culturaburguesa e mercadológica de peças de teatro, comédias e romances e showsmusicais, <strong>em</strong> mega-eventos de exposições, <strong>em</strong> grandes produções profissionais ecaras, soma<strong>da</strong>s a pulverização <strong>da</strong>s ideologias, soma<strong>da</strong>s à falta de sentimento cívicoou comunal face ao governo de exceção... Como resultado t<strong>em</strong>os o fenômeno culturalmais expressivo de SP nos setenta, o que se convencionou chamar de underground,subcultura, alternativo, marginal, ou qualquer termo equivalente.Muito provavelmente esse comportamento é observado <strong>em</strong> to<strong>da</strong> a história, asexpressões culturais não oficiais ou institucionais s<strong>em</strong>pre ocorreram, <strong>em</strong> certa medi<strong>da</strong>delas começam as grandes revoluções nas artes. Contudo é difícil imaginar umBrunelleschi como um out sider total(<strong>em</strong>bora Borromini seja fácil imaginar nessasituação) e, mais, que essa condição definiria as bases de sua revolução naarquitetura do século XV e <strong>em</strong> to<strong>da</strong> história futura. A condição de marginal, deunderground ser a própria base lingüística <strong>da</strong> expressão cultural é um fenômeno,primeiro, <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de, mas com contornos definitivos só na era <strong>da</strong> cultura d<strong>em</strong>assas, <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de midiatiza<strong>da</strong>.Os anos 60 difundiu internacionalmente, claro, os fenômenos culturais dounderground, primeiros os beats, parte <strong>da</strong> pop art – não esquec<strong>em</strong>os que outra parte étop de linha no mercado de arte novaiorquino -, depois a cultura dos guetos negrosamericanos, os hyppies, o sub mundo – ou o mais over dos mundos – <strong>da</strong> cultura <strong>da</strong>sruas, por vezes dos centros universitários; contudo a cisão mais dramática de cultura esubcultura underground ficará por conta dos setentas.Quando as mídias coordenam as manifestações e são controla<strong>da</strong>s pelosgrandes conglomerados econômicos, deve-se travar uma luta de abrir brechas oucavar espaços de veiculação. O sentido de guerrilha urbana, político nos anos 60,assume um significado de guerrilha cultural nos anos 70.Em SP essas coisas são mais claramente observa<strong>da</strong>s nos finais <strong>da</strong> déca<strong>da</strong>,quando já t<strong>em</strong>os os primeiros sinais de abertura política, quando o movimentoestu<strong>da</strong>ntil volta às ruas – a <strong>da</strong>ta é 1976 e o fato, missa de sétimo dia do jornalistaWladimir Herzog, assassinado na prisão -, alguns contatos são restabelecidos, <strong>em</strong> 79ocorrerá o show televisivo <strong>da</strong> volta dos anistiados, no Jornal Nacional.Ao final dos anos 70 os espaços <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de tiveram que ser reconquistadosapós a repressão às manifestações dos dez anos anteriores, <strong>em</strong> que o espaço urbanofoi fechado a qualquer tipo de ação que não as estritamente operacionais dosmecanismos de funcionamento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, exacerba-se o caráter técnico-mecânicofuncionaldo pensar a ci<strong>da</strong>de <strong>em</strong> seu planejamento, decorrente do pensamento„militarista‟ <strong>da</strong> administração pública <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as áreas. Poucas vezes os artistas earquitetos conseguiram furar este esqu<strong>em</strong>a e levar seus trabalhos e <strong>pesquisa</strong>s para oespaço <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.Antes de se instituir, a partir <strong>da</strong> metade dos anos 80, a grande fraude queserão os anos futuros com os yuppies, o neo-liberalismo, a falsas rebeldias préfabrica<strong>da</strong>s,tipo um tal de transvanguar<strong>da</strong>, as <strong>pesquisa</strong>s e eventos que marcam apassag<strong>em</strong> de déca<strong>da</strong>s são numerosos e muito diversificados, seria necessário umtrabalho aparte para um levantamento ain<strong>da</strong> que superficial <strong>da</strong> cena cultural <strong>em</strong> SPdos 70. O que vamos colocar a seguir são alguns ex<strong>em</strong>plos, muito marcantes, masnão <strong>em</strong> condições de d<strong>em</strong>onstrar a totali<strong>da</strong>de, mais a título de ilustração dessepanorama cultural....na música: Antes de tudo Walter Franco, na<strong>da</strong> que foi produzido na déca<strong>da</strong>anterior e nos anos 70 é mais profundo, mais subversivo, instigante e revolucionáriono tratar a linguag<strong>em</strong> que a música de Walter Franco e explosão que foi suaapresentação de “Cabeça” no festival televisivo, agora carioca após a fase áureadesse tipo de evento <strong>em</strong> SP dos fins dos 60. Como descreve Augusto de Campos:“Quando WF apareceu, de “cabeça”, na música popular brasileira, quase não tinha
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