13.07.2015 Views

O mundo pelo buraco da fechadura - Fonoteca Municipal de Lisboa

O mundo pelo buraco da fechadura - Fonoteca Municipal de Lisboa

O mundo pelo buraco da fechadura - Fonoteca Municipal de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

nagem a sair <strong>de</strong> um caule <strong>de</strong> uma árvore,no segundo, a aninhar-se nassuas raízes: “Têm uma ambigui<strong>da</strong><strong>de</strong>que não quis resolver, e precisamenteficou mais forte porque ficou ambíguoem mim”, consi<strong>de</strong>ra. “Não seise as personagens são sobreviventesou novos homens”. A mesma interrogaçãoesten<strong>de</strong>-se a “A Troca” e, emparticular, a “Le Homme Qui Rit”, filmeque mostra um homem estendidona praia, a rir-se enquanto as vagaslhe batem no corpo: “As pessoas po<strong>de</strong>mestar olhar para um náufrago,mas afirmo no título que ele não é umnáufrago. É apenas um homem queri. Não se sabe se está a rir porquesobreviveu, porque está <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>ou porque acabou <strong>de</strong> chegar. E nãosabemos que tipo <strong>de</strong> viagem está paraacontecer, ou já aconteceu”.Outros filmes dispensam, aparentemente,as personagens. Descrevemantes situações, cenas nas quais seinsinuam metáforas, pequenas alegorias,como o certeiramente intitulado“História <strong>da</strong> Selva”, que narra a resistência<strong>de</strong> um bichinho <strong>de</strong> conta a ummanipulador e gigante <strong>de</strong>do. Os sentidosque este filme sugere são múltiplose, na sua modéstia visual, tocamuma rara universali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Já “Degelo”é um dos filmes visualmente mais apelativos<strong>de</strong> “Les Limites du Desert”. “Éuma peça <strong>de</strong> que gosto particularmente.Por ser <strong>de</strong>sconcertante e se tratar<strong>de</strong> uma imagem muito calma. Um riacho<strong>de</strong> água a correr e dois elementosque nós, enquanto seres humanos,reconhecemos: o peso e o real. Mostroum martelo e uma pena e coloco-osO duplo <strong>de</strong> “O Outro”, um dossímbolos <strong>da</strong> exposiçãoao mesmo nível sobre a água <strong>de</strong> modoa que não se <strong>de</strong>sloquem. Como umaprovocação às leis <strong>da</strong> física”. O filmeremete, também, para o processo <strong>de</strong>trabalho que antece<strong>de</strong>u a exposição.Referimos-mos ao afastamento a queo artista se sujeitou para com “a solidãonecessária voltar a escrever, apropor arte, a ver as portas que tinhamficado abertas e que podia resolver<strong>de</strong> outra forma”.Nesta obra, uma <strong>da</strong>s portas quecontinua aberta é a sua dimensão políticae histórica. “O meu trabalho nãofoge <strong>da</strong> condição humana. Sempre foiuma coisa que me interessou, inclusivepessoalmente, e se isso aconteceé natural que transbor<strong>de</strong> para o quefaço e naquilo que procuro. Sei quesão palavras fora <strong>de</strong> mo<strong>da</strong>, mas quepossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>de</strong> amor, <strong>de</strong>ver<strong>da</strong><strong>de</strong> existe hoje? Estas perguntas,assim como as questões básicas <strong>da</strong>metafísica, continuam para mim apaixonantes.É claro que po<strong>de</strong>mos vê-lasnuma caneca ou numa t-shirt, mascontinuo a achar que uma <strong>da</strong>s coisasque me permitem afirmar que souartista é precisamente essa busca, essaprocura”.“Les Limites du Desert” é novo território,ou o momento mais recente<strong>de</strong>ssa viagem. Embarquemos nela.Provavelmente o <strong>de</strong>serto ficará paratrás. Ou será outra coisa qualquerquando a travessia terminar.Ver agen<strong>da</strong> <strong>de</strong> exposições pág. 48A ambigui<strong>da</strong><strong>de</strong> é um dos traços<strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Tabarra: nãosabemos porque ri “L’Hommequi Rit”reclusão para inaugurar “Les Limites du Désert”, na Galeria Graça Brandão. É o regresso <strong>de</strong> umaàs questões essenciais <strong>da</strong> condição humana. José MarmeleiraÍpsilon • Sexta-feira 21 Maio 2010 • 23

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!