Capítulo 1 - Introdução 2mas que, experimentalmente, exibem or<strong>de</strong>namento magnético. Em particular, o célebre mo<strong>de</strong>lo<strong>de</strong> <strong>Ising</strong> é o exemplo mais simples <strong>de</strong> um ferromagneto estudado durante décadas, e tem contribuído<strong>de</strong>cisivamente no entendimento <strong>de</strong> fenômenos coletivos. Faremos uma breve exposição<strong>de</strong> alguns <strong>de</strong> seus aspectos básicos.1.1.1 Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>Ising</strong>O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>Ising</strong> foi proposto por Lenz [2] em 1920 para o seu aluno <strong>Ising</strong> [3] que, usandométodo combinatorial, obteve uma solução exata para o caso unidimensional, constatando nãohaver transição <strong>de</strong> fase em temperatura finita [4].O mo<strong>de</strong>lo consiste <strong>de</strong> variáveis <strong>de</strong> spin s i = ±1 localizadas em cada um dos N sítios <strong>de</strong>uma re<strong>de</strong> d-dimensional, que interagem entre si <strong>de</strong> acordo com o HamiltonianoH = − ∑ 〈i,j〉J ij s i s j − h ∑ is i , (1.1)on<strong>de</strong> J ij é a interação <strong>de</strong> troca, h um campo magnético externo e 〈i,j〉 <strong>de</strong>nota interação entreprimeiros vizinhos. A campo nulo (h = 0), o Hamiltoniano (1.1) exibe simetria por inversão<strong>de</strong> spin, isto é, a energia é invariante sob uma troca simultânea dos sinais dos spins.Evi<strong>de</strong>ntemente, este mo<strong>de</strong>lo é uma i<strong>de</strong>alização. Po<strong>de</strong>mos imaginar o sistema como constituído<strong>de</strong> moléculas localizadas nos sítios da re<strong>de</strong>. Cada molécula representa um magnetomicroscópico (momento <strong>de</strong> dipolo), que se restringe a apontar ao longo <strong>de</strong> uma direção preferencial,para cima (s i = +1) ou para baixo (s i = −1). Uma <strong>de</strong>scrição mais sofisticada <strong>de</strong>velevar em conta que o momento magnético da molécula é um vetor que aponta em qualquerdireção. O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Heisenberg, cujo HamiltonianoH = − ∑ 〈i,j〉J ij ⃗s i · ⃗s j , (1.2)reflete esta proprieda<strong>de</strong>. Entretanto, seu estudo analítico ou numérico é bem mais difícil, poisos operadores <strong>de</strong> spin não comutam neste caso, sendo necessário um tratamento quântico.Mesmo <strong>de</strong>sprezando a não-comutativida<strong>de</strong> (mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> Heisenberg clássicos), o que po<strong>de</strong> serjustificado a altas temperaturas, o problema ainda é difícil pois o parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m é uma
Capítulo 1 - Introdução 3quantida<strong>de</strong> vetorial ( ao contrário do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>Ising</strong>, em que este é escalar). Apesar <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los<strong>de</strong> spin quânticos, em d dimensões po<strong>de</strong>rem ser mapeados em sistemas <strong>de</strong> spin clássicosem d + 1 dimensões, ainda assim teremos que tratar com vetores. Por outro lado, existem proprieda<strong>de</strong>suniversais que in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da estrutura interna dos materiais, importando apenas adimensionalida<strong>de</strong> do espaço e a simetria do parâmetro <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m. Isto permite ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><strong>Ising</strong> <strong>de</strong>screver as proprieda<strong>de</strong>s críticas <strong>de</strong> uma dada classe <strong>de</strong> materiais.<strong>Estudo</strong>s experimentais mostram que certos cristais com anisotropia uniaxial, on<strong>de</strong> os spinsse alinham ao longo <strong>de</strong> uma direção específica, apresentam comportamento crítico do tipo<strong>Ising</strong>. No antiferromagneto Rb 2 CoF 4 , as interações intraplanos são bem mais fortes do queas interações interplanos, <strong>de</strong>vido à anisotropia da re<strong>de</strong>. O comportamento crítico do calor específico<strong>de</strong>ste material [5], obtido por técnicas <strong>de</strong> birefringência, está em completo acordo com oresultado exato para o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>Ising</strong> bidimensional. Para o antiferromagneto FeF 2 , medidasdo calor específico [6], da susceptibilida<strong>de</strong> e comprimento <strong>de</strong> correlação [7] por espalhamento<strong>de</strong> neutrons, medidas <strong>de</strong> β em filmes ultrafinos [8, 9], exibem o comportamento crítico previstoteoricamente para sistemas <strong>de</strong> <strong>Ising</strong> tridimensionais. Outros exemplos <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> <strong>Ising</strong>po<strong>de</strong>m ser encontrados nas Refs. 10–12, para o caso puro, e 13 para o caso <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado.1.1.2 Transições <strong>de</strong> faseUma quantida<strong>de</strong> termodinâmica <strong>de</strong> interesse na <strong>de</strong>scrição das transições <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> segundaor<strong>de</strong>m é o comprimento <strong>de</strong> correlação. Suponha que conhecemos algumas proprieda<strong>de</strong>s macroscópicas(<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, magnetização) <strong>de</strong> um material, um ferromagneto por exemplo, o qualdividimos em duas partes iguais, mantendo suas variáveis externas, tais como temperatura ecampo magnético, fixas. As proprieda<strong>de</strong>s macroscópicas <strong>de</strong> cada parte serão as mesmas daquelasda amostra original. Entretanto, este comportamento não se reproduzirá in<strong>de</strong>finidamentenum processo iterativo, visto que as proprieda<strong>de</strong>s microscópicas dos constituintes da matéria(átomos) são distintas daquelas macroscópicas. Haverá um limite neste processo em que asproprieda<strong>de</strong>s macroscópicas <strong>de</strong> cada subsistema (pequeno, mas ainda macroscópico) não serãomais as mesmas para cada parte. O limiar <strong>de</strong>sta regularida<strong>de</strong> é caracterizado por uma escala<strong>de</strong> comprimento, o comprimento <strong>de</strong> correlação ξ 1 do material. O comprimento <strong>de</strong> correlaçãoé uma função <strong>de</strong> parâmetros externos tais como a temperatura e a pressão em um fluido.1 ξ me<strong>de</strong> a distância espacial sobre a qual as flutuações dos graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> microscópicosestão correlacionados.