Campus-UP-0-v2
teste
teste
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
UM MUSEU PARA AS<br />
NOSSAS NEFERTITIS<br />
Do centro da cidade até à Foz do Douro, há uma matriz de ciência que se<br />
vai espalhar pelo Porto. A Galeria da Biodiversidade – Casa Andresen<br />
será o primeiro polo a inaugurar, de um roteiro científico que começará<br />
no Edifício Histórico da Reitoria da Universidade do Porto e terminará no<br />
Aquário da Foz. A verdadeira cidade CAMPUS vai nascer.<br />
Foi em dezembro de 1912 que uma equipa chefiada pelo arqueólogo alemão<br />
Ludwig Borchardt conseguiu chegar até ao atelier do escultor Thutmose, em El<br />
-Amarna (Antiga Akhetaton), no Egito, e entre outros artefactos descobriu o busto de<br />
Nefertiti. Na mesma década, outra equipa de arqueólogos alemães, um pouco mais para<br />
Oriente, recolhia objetos encontrados nas escavações de Assur, antiga capital da Assíria.<br />
Este lote de objetos foi confiscado pelo governo português em 1916, durante a Primeira<br />
Guerra Mundial, de um barco alemão refugiado no Tejo, o Cheruskia.<br />
Em 1921, por despacho, o Ministro da Instrução Pública da altura, Augusto Nobre, cedeu o<br />
espólio à U.Porto para a criação de um Museu de Arqueologia. Um ano depois, chegaram<br />
à Reitoria 140 das 450 caixas existentes. Este poderia ser o final da história se a Alemanha<br />
tivesse desistido da sua carga, o que não aconteceu. Em 1925 o arqueólogo alemão<br />
Walter Andrae veio a Portugal e conseguiu chegar a um acordo. As antiguidades assírias<br />
regressaram com ele e como forma de agradecimento o governo alemão ofereceu um lote<br />
de antiguidades egípcias, oriundas do Museu de Berlim, na Alemanha.<br />
A “Coleção Egípcia da Universidade do Porto” esteve em exposição no edifício da Reitoria,<br />
entre setembro de 2011 e março de 2012, e foi distinguida com o prémio de “Melhor<br />
Catálogo” de 2012, pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM), um dos mais<br />
importantes organismos ligados à museologia em Portugal.<br />
As expedições continuaram durante a Segunda Guerra Mundial e, por cá, foi eleito um<br />
Presidente da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais, para que<br />
as ações de investigação antropológica, etnológica e arqueológica fossem realizadas na<br />
Guiné, em Moçambique, em Timor e em Goa, na Índia. Era por carta que Mendes Correia ia<br />
sabendo novas das missivas dos seus colaboradores. A 19 de setembro de 1945, Santos<br />
Júnior desabafa estar há 37 dias a bordo. “É um desespero ver passar tantos dias sem<br />
poder trabalhar naquilo que me traz a África. Nunca supus que para chegar até à Beira<br />
gastasse 39 (!) dias”. A 9 de outubro de 1945, Joaquim dos Santos Júnior voltava a dar<br />
conta dos trabalhos no terreno que implicavam “medir” a diversidade do género humano:<br />
“Só pude estudar 44 bargués, 22 homens e 22 mulheres. (…) Tirei muitas fotografias e fiz<br />
alguns desenhos de tatuagens, de mãos e de pés, e alguns apontamentos esboçados de<br />
perfis labiais e de narinas. (…) No dia 3 de outubro fomos visitar as ruínas de Metáli e da<br />
Molanda na Serra Chôa. (…) Fizemos 35 quilómetros a pé. (...) Foi um dia de grande calor,<br />
e passámos um pouco de sede (...). Esta gente em África não se rala. Em África ninguém<br />
tem pressa. Queria seguir para Milange, onde me esperam umas pinturas rupestres, e<br />
estou aqui preso por não ter chegado o malfadado camião”.<br />
As expedições antropológicas a África sucedem-se, sob influência de Mendes Correia, e<br />
é com este professor da Faculdade de Ciências da U.Porto, mais tarde presidente da autarquia,<br />
que se inicia o ensino de Antropologia e se estabelece o Museu e Laboratório de<br />
Antropologia. Ora, “é na componente africana que estão algumas das nossas nefertitis”,<br />
afirma Nuno Ferrand (na foto), diretor do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto.<br />
Retirado durante a Segunda Guerra Mundial, o busto de Nefertiti regressou ao renovado<br />
Neues Museum, em Berlim, onde se encontra atualmente. Símbolo do Antigo Egito, o busto<br />
com cerca de 3.400 anos de idade tem direito a uma sala própria. “O museu tem quatro<br />
andares, mas é a Nefertiti que o grande público quer ver”, diz-nos Nuno Ferrand. Porque há<br />
uma narrativa que as pessoas querem acompanhar... “Nós também temos as nossas nefertitis<br />
e vai ser nos Leões, num museu moderno, que vamos poder contar as nossas histórias. E<br />
será com base nas nossas nefertitis que vamos construir a nossa narrativa”.<br />
cultura Texto Anabela Santos Fotos Egídio Santos 28<br />
<strong>Campus</strong> <strong>UP</strong> 0.indd 28 06/01/17 16:02