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NUNO CRATO “FOI UM DESASTRE”<br />
Como presidente da Comissão Parlamentar de Educação e Ciência,<br />
teve de lidar com temas bastante polémicos, como o fim dos exames<br />
nacionais nos 4.º e 6.º anos e a suspensão dos contratos de associação.<br />
Para alguém com pouca experiência política, tem sido difícil gerir<br />
assuntos de tão grande melindre?<br />
Eu na Comissão não falo. Tento moderar, mas de uma forma muito<br />
silenciosa. Procuro que toda a gente [deputados e membros do Governo]<br />
tenha a oportunidade de exprimir as suas opiniões, de forma<br />
equitativa. Isso não quer dizer que não tenha as minhas opiniões. Por<br />
exemplo, em relação às escolas, não tenho nada contra o ensino privado.<br />
Tem todo o direito de existir. Agora, eu não quero que os meus<br />
impostos sejam para as escolas privadas. Os meus impostos são para<br />
garantir que haja uma oferta pública de ensino para todos e com a<br />
melhor educação possível. Se os pais decidirem que querem mandar<br />
os filhos para escolas privadas, têm todo o direito de o fazer, mas não<br />
é com os meus impostos.<br />
Não estamos em Portugal a criar uma situação em que os pobres vão<br />
para as escolas públicas e os ricos vão para as escolas privadas?<br />
É um risco. Há pessoas que julgam que, mandando os seus filhos para<br />
escolas privadas, têm a garantia de ter uma educação, senão melhor,<br />
pelo menos diferente. Mas, como sabemos, há muitas surpresas: há<br />
pessoas que vão para as melhores escolas e melhores universidades<br />
e saem uns trastes. O ambiente que uma pessoa tem em casa também<br />
tem uma influência enorme. Isso faz parte das diferenças que existem<br />
no mundo. Na educação, a diferença maior não é entre privado e público<br />
mas entre as pessoas. Mas o que eu queria era que o nível da<br />
educação na escola pública fosse cada vez maior.<br />
Em Portugal, as políticas de educação mudam de governo para governo,<br />
o que não permite estabilizar e dar a desejável constância ao<br />
sistema de ensino.<br />
Isso é um problema em todo o mundo, infelizmente. Cada Governo<br />
quer deixar a sua marca. O que gostaríamos era de ter uma política de<br />
longo prazo, com pequenas alterações à medida que vamos avançando.<br />
Agora, não se esqueça que quem introduziu variações dramáticas<br />
no sistema de educação foi o Governo anterior, do ministro Nuno Crato.<br />
Eu apreciava o Nuno Crato, antes de ele ser ministro, pelas posições<br />
que tinha sobre o ensino da Matemática, de que era um grande<br />
divulgador. Mas acho que foi um desastre [como ministro]. Não houve<br />
uma coisa que ele tenha feito com que eu estivesse de acordo. Uma!<br />
E não foi só em relação à educação, foi também em relação à ciência.<br />
Aí, acho que foi um desastre total.<br />
FINANCIAMENTO VAI “CRESCER DEVAGARINHO”<br />
Foi assinado um acordo entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e<br />
Ensino Superior e as instituições que estabiliza os orçamentos das universidades<br />
e politécnicos durante três anos. É possível fazer progredir<br />
o ensino superior, a ciência e a inovação em Portugal sem um reforço<br />
efetivo do financiamento público às instituições do ensino superior?<br />
A evolução de um país tem a ver com os níveis de financiamento, mas<br />
também com os níveis de confiança das pessoas num futuro melhor.<br />
E o que estava a acontecer no Governo anterior é que a esperança<br />
num futuro melhor tinha quase desaparecido. Até 2010/2011, por ter<br />
felizmente um ministro como Mariano Gago, o país acreditou que va-<br />
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