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artigos, coleciona prémios (entre os quais, o Microbiology Outreach<br />

Award da Society for General Microbiology ou o Award for Outstanding<br />

PhD student in Science Communication do Imperial College of<br />

London) e vai enriquecendo a “caderneta” de coisas invisíveis com nomes<br />

impronunciáveis. Primeiro com a Pseudomonas aeruginosa, uma<br />

bactéria associada às infeções respiratórias adquiridas em hospitais,<br />

a que dedica a tese de doutoramento. Depois com a Staphylococcus<br />

aureus, outra bactéria perigosa para o ser humano e na qual desvendou<br />

uma fraqueza que pode ser usada no desenvolvimento de terapias<br />

contra infeções bacterianas.<br />

ESTA CIÊNCIA NÃO É PARA VELHOS<br />

Em Londres, a vida da jovem investigadora não se resume, contudo, às<br />

páginas das publicações científicas onde se torna uma habituée. “No<br />

segundo ano do doutoramento já tinha um paper publicado e sentia<br />

que podia concluir o projeto se quisesse. Mas ainda tinha dois anos de<br />

bolsa e sentia que podia fazer mais alguma coisa”, recorda. Entre os<br />

jantares com os amigos e um pezinho de dança nos bares do Soho,<br />

abraçou-a em 2012, à mesa de um pub, quando aceitou o desafio de<br />

organizar o encontro anual da PARSUK, uma rede de investigadores e<br />

estudantes portugueses a residir no Reino Unido.<br />

Na verdade, o que começou por ser a preparação de uma conferência<br />

resultaria num “ponto de viragem” na vida de Joana. “Um dos cientistas<br />

tinha um contacto próximo com a comunidade tradicional de imigrantes<br />

portugueses no Reino Unido e sensibilizou-nos para o facto de nós,<br />

imigrantes qualificados, podermos fazer a ponte com essa comunidade”.<br />

Decidida a “dar o exemplo”, despiu a bata e foi para o terreno com<br />

outros investigadores portugueses. “Organizámos uma atividade em<br />

que fomos a uma aula de Português numa escola inglesa falar sobre<br />

ciência”. O sucesso foi tal que, juntamente com outra antiga estudante<br />

da U.Porto (Tatiana Correia, licenciada em Física pela FC<strong>UP</strong>), decidiu<br />

dar continuidade ao projeto. “Candidatámo-nos a concursos de empreendedorismo<br />

social e a tudo a que nos candidatámos, ganhámos.<br />

Isso deu-nos coragem para fundar a primeira spin-off da PARSUK”.<br />

Nome: Native Scientist, uma empresa sem fins lucrativos que usa a<br />

ciência para ensinar línguas a crianças bilingues dos 7 aos 12 anos.<br />

Focado inicialmente na comunidade portuguesa em Londres, o projeto<br />

criado há três anos já chegou a centenas de crianças no Reino Unido,<br />

tendo-se expandido, entretanto, para as comunidades imigrantes em<br />

França e na Alemanha. A receita repete-se. “Os investigadores vão<br />

às escolas e falam com as crianças sobre o seu trabalho, em estilo<br />

speed dating. O objetivo é que elas possam conhecer o que fazem os<br />

cientistas e, assim, criar memórias positivas na sua língua materna”. No<br />

ato de inspirar os mais novos através da ciência, Joana descobriu-se.<br />

Aprendeu a montar uma empresa e venceu “o medo que os cientistas<br />

têm de falar da sua ciência”. Pelo caminho, percebeu que o sucesso<br />

não fala a uma só língua. “Senti sempre que o poder estava em mim<br />

e não dependia do facto de ser portuguesa, espanhola ou inglesa…”.<br />

O REGRESSO A CASA<br />

Uma carreira bem-sucedida, uma empresa em expansão e uma vida<br />

preenchida em Londres. E eis que Joana decide voltar. “Estás maluca!”,<br />

disseram-lhe os amigos. Não estava. Uma experiência menos positiva<br />

no pós-doutoramento, que inicia em 2014 no Imperial College, foi o gatilho<br />

para o que viria a seguir. “Quis ser persistente, mas a certa altura<br />

já não conseguia e comecei a delinear a minha estratégia de saída”.<br />

Portugal surge no topo das preferências, mas faltava responder à pergunta<br />

que se formava na mente da investigadora. “Se este laboratório<br />

estivesse na China, tu ias para a China?”. Durante alguns meses, desdobra-se<br />

entre as atividades da Native Scientist e a pesquisa de todos os<br />

laboratórios de microbiologia existentes no país. Entre eles, encontra o<br />

grupo Molecular Microbiology do i3S, liderado pelo investigador francês<br />

Didier Cabanes. “Percebi logo que respondia à minha pergunta. Vim a<br />

uma entrevista, ele gostou, eu também, fizemos candidaturas a financiamento<br />

e acabei por vir”.<br />

No regresso a Portugal, Joana trouxe um penteado novo e uma prestigiada<br />

bolsa Marie Sklodowoska-Curie no valor de 150 mil euros, que<br />

vai aplicar nos próximos dois anos no estudo dos “mecanismos utilizados<br />

pela Listeria [uma bactéria semelhante às que estudou em Londres]<br />

para se adaptar ao meio ambiente em que vive”. Pelo meio, ela<br />

própria é um exemplo de adaptação. Ao i3S, onde diz ter encontrado<br />

“condições tão boas ou melhores do que as que usufrui lá fora”. E à<br />

cidade. “Levou-me quase um ano a adaptar a Londres e, em três semanas,<br />

adaptei-me ao Porto. Cá sinto uma serenidade que lá fora não<br />

encontro”, revela. Também por isso, o futuro escreve-se em tons de<br />

azul no horizonte da investigadora que ambiciona “descobrir o porquê<br />

das coisas”. “O meu sonho é ser group leader e gostaria de dar esse<br />

salto antes dos 35”, projeta. O outro é “ter uma empresa na área da<br />

biotecnologia. Esse bichinho está dentro de mim”.<br />

sub-35 Texto Tiago Reis Fotos Egídio Santos 54<br />

<strong>Campus</strong> <strong>UP</strong> 0.indd 54 06/01/17 16:03

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