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A ciência das<br />

pequenas<br />

coisas<br />

Em 2007, Joana Moscoso deixou Portugal levando<br />

na mochila uma quase-licenciatura em Biologia e<br />

o sonho de menina de vingar na investigação científica.<br />

Nove anos depois, a bióloga-empresária<br />

apaixonada pelo mundo das bactérias desafiou a<br />

lógica e está de volta para fazer o que melhor sabe.<br />

O coração ainda aperta e “há fogo de artifício no cérebro” quando<br />

Joana Moscoso contempla o céu azul no caminho que percorre<br />

a pé de casa até ao trabalho. Esse é apenas um dos pequenos prazeres<br />

de que não prescinde desde que, em janeiro deste ano, trocou<br />

Londres pelo Porto. Veio contra a maré. “Quando decidi vir falava-se<br />

muito na crise. O meu próprio pai telefonou-me um dia e disse: ‘Filha,<br />

não achas que entraste num avião para ir para longe e agora estás a<br />

atirar-te do avião a meio do caminho?’”. Atirou-se. “Muito a medo”. Mas<br />

não se arrepende. “Tem sido uma boa e verdadeira surpresa”, sorri,<br />

tendo como fundo as paredes recém-inauguradas do Instituto de Investigação<br />

e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), onde<br />

está a desenvolver um projeto de investigação na área da microbiologia<br />

molecular.<br />

Era uma vez uma menina de sorriso cativante, que sonhava com coisas<br />

tão pequeninas que nem as conseguia ver. Assim podia começar a<br />

história desta bióloga nascida há 31 anos no Porto, mas com sotaque<br />

roubado a Valença do Minho, cidade onde, aos 12 anos, teve uma revelação<br />

à mesa do café dos pais. “Lembro-me de estar na esplanada a<br />

olhar para o chão e a pensar: nós não conseguimos ver, mas este chão<br />

está cheio de coisas vivas. Desde aí vivo fascinada pelos organismos<br />

vivos que não se veem”, conta. A queda para a matemática ainda se<br />

intrometeu na hora de se candidatar à universidade, mas a decisão<br />

estava tomada. “Ensinaram-me que temos que seguir as coisas pelo<br />

coração, por aquilo que nos apaixone. E o que eu queria era a Biologia”.<br />

Em 2004, o coração trouxe-a para a Faculdade de Ciências da U.Porto<br />

(FC<strong>UP</strong>). Do curso destaca a “formação abrangente” e as aulas no<br />

edifício dos Leões (atual Reitoria) e no Jardim Botânico, locais “emblemáticos”<br />

onde aprende o ABC da Biologia com “grandes professores”.<br />

Entre estes destaca-se Fernando Tavares, o professor favorito com<br />

quem descobre o mundo da microbiologia e que, no último ano do curso,<br />

ajuda Joana a concretizar a ”imensa vontade de ir lá para fora estudar”,<br />

através do programa Erasmus. Aos 21 anos, sonha com um estágio de<br />

três meses em Amesterdão, com estadia incluída numa casa-barco. A<br />

mãe nem por isso. “Para lá não vais porque as drogas são livres!”, ouve.<br />

Pim pam pum, o destino é a Universidade de Umeå, a maior cidade do<br />

norte da Suécia, situada a 100 quilómetros do círculo polar ártico. Nos<br />

meses seguintes, dedica-se ali ao estudo de um grupo de bactérias capazes<br />

de degradar derivados do petróleo. “Foi uma experiência espetacular<br />

porque o sol punha-se às 11 e meia e à uma da manhã estava a<br />

nascer outra vez”. Pelo meio, perdeu-se no tempo. “Era suposto ser um<br />

estágio de três meses, mas fiz por estar seis meses a fazer mais trabalho”.<br />

Por esta altura, a microbiologia molecular já a tinha conquistado.<br />

CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS<br />

Após o estágio na Suécia, Joana Moscoso regressou a Portugal determinada<br />

a prosseguir uma carreira científica ao mais alto nível. Terminada<br />

a licenciatura, inscreve-se no mestrado em Biologia da FC<strong>UP</strong>,<br />

mas já com o pensamento a 18 mil quilómetros de distância, na Universidade<br />

Nacional da Austrália, em Camberra. Parte um ano depois,<br />

em 2008, para desenvolver o trabalho laboratorial do projeto de mestrado,<br />

o qual dedica ao estudo de uma bactéria que entra no organismo<br />

através dos alimentos, causando diarreias. No diário dos onze meses<br />

que passou na capital australiana ficam palavras como “perseverança”<br />

e “desafio à imaginação”. Conclusão. “Depois de estar na Austrália,<br />

cheguei à conclusão de que o queria mesmo era estar na Europa”.<br />

Novo regresso, nova partida, desta vez para o prestigiado Imperial<br />

College London, no Reino Unido, onde Joana chega em 2009 para desenvolver<br />

o projeto de doutoramento, ao abrigo de uma bolsa da Fundação<br />

para a Ciência e a Tecnologia. Nos seis anos seguintes, escreve<br />

sub-35 Texto Tiago Reis Fotos Egídio Santos 52<br />

<strong>Campus</strong> <strong>UP</strong> 0.indd 52 06/01/17 16:03

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