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DIAGRAMA nº1

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Entrevista Graça Fonseca Diagrama • <strong>mar</strong>ço <strong>2017</strong><br />

desde o início, todos nós ganharemos mais<br />

um guardião de medidas de modernização.<br />

Medidas construídas, implementadas<br />

e valorizadas por quem trabalha na<br />

administração do estado. Trata-se de uma<br />

segunda vertente deste primeiro ano que<br />

valorizamos muito.<br />

A terceira tem tudo a ver com aquilo que<br />

há pouco falávamos, o envolvimento dos<br />

ministérios e dos serviços. Conseguimos,<br />

ao longo deste ano, gerar uma boa rede de<br />

colaboração entre os vários ministérios para<br />

o Simplex. As reuniões dos pontos focais são<br />

momentos descontraídos e de cooperação,<br />

sempre muito positivas.<br />

Quer definir serviço público?<br />

Vou antes definir o que não deve ser um<br />

serviço público, dando como referência<br />

um dos filmes mais extraordinários que vi<br />

e me tocou ao longo da minha vida.<br />

«I, Daniel Blake», de Ken Loach.<br />

Acho que deveria ser um filme obrigatório<br />

nas escolas, nas universidades, nas empresas<br />

e nos serviços públicos. Devia ser visto por<br />

todos. Retrata aquilo que não deve ser o<br />

serviço público, que não deve ser qualquer<br />

serviço que lide com pessoas. Passa-se no<br />

Reino Unido e todo o filme é exatamente<br />

o oposto daquilo que deve ser o serviço<br />

público. O cidadão é tratado como mais<br />

um processo administrativo, é apenas um<br />

número nas estatísticas do desemprego e<br />

dos que recebem apoios sociais do Estado.<br />

Há pouco falávamos da robotização: neste<br />

filme os humanos, ou seja quem está à frente<br />

daquele serviço público, comportam-se<br />

como robots. A dimensão da empatia é o que<br />

vai distinguir, cada vez mais, os humanos da<br />

inteligência artificial. Na verdade, tudo o que<br />

queremos é ser vistos como indivíduos.<br />

O serviço público é a prestação de um<br />

serviço que resulta de uma situação ou um<br />

problema. A espectativa é que a situação seja<br />

vista de forma individual e não como mais<br />

um problema igual a tantos outros.<br />

Eu acho que os serviços públicos em<br />

Portugal não têm esta dimensão que estou<br />

aqui a falar, mesmo em situações de maior<br />

complexidade, as pessoas são atendidas com<br />

aquele bom acolhimento português, mas é<br />

óbvio que situações como aquela que o filme<br />

relata, existem. Acho que é a antítese daquilo<br />

que deve ser o serviço público. Por vezes,<br />

fazemos a mesma coisa durante dez anos e<br />

acabamos por mecanizar as nossas tarefas.<br />

Mas devemos sempre lembrar-nos que nós<br />

não somos autómatos, nós somos pessoas e,<br />

um dia, seremos nós a estar do outro lado.<br />

Quer deixar uma mensagem a todos nós,<br />

que prestamos serviço público?<br />

Olhar sempre para as pessoas, não numa<br />

base de desconfiança mas de confiança.<br />

Angustia-me um pouco, sou sincera,<br />

este clima de desconfiança em que todos<br />

vivemos. Partimos, quase sempre, de uma<br />

relação de desconfiança e eu acho que isso é<br />

uma das grandes questões que se colocam<br />

do ponto de vista da democracia e da<br />

confiança nas próprias instituições.<br />

Os serviços devem tratar as pessoas na<br />

base da confiança, é o primeiro pressuposto.<br />

Se houver razões para não haver confiança,<br />

aí existem mecanismos disponíveis para<br />

fazer o necessário. É preciso, de facto,<br />

haver esta noção de que as pessoas são todas<br />

diferentes. Umas que têm mais acesso a<br />

meios digitais, outras serão mais ou menos<br />

simpáticas. Faz parte da vida tentarmos<br />

tratar todas de forma igual, ouvindo e<br />

resolvendo os problemas, essa é a mensagem<br />

principal. Desconfiança gera desconfiança,<br />

perceção negativa gera perceção negativa,<br />

e andamos sempre um pouco nisto. Esta<br />

é sempre a minha mensagem, quer para

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