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(Rosemary Beach

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DELLA<br />

Se eu deixasse, Woods me levaria no colo para dentro de casa. Seu cuidado era tanto que, se eu<br />

não o amasse, teria ficado irritada. Ele estava preocupado comigo e merecia compreender alguma<br />

coisa. Talvez não tudo, mas precisava saber de algo.<br />

– Eu tive um pai e um irmão mais velho, mas não me lembro deles. Eu era pequena demais<br />

quando tudo aconteceu.<br />

Eu não sabia se iria ter outra crise ao contar isso, mas eu precisava tentar. Ele se sentou ao meu<br />

lado e passou o braço pelas minhas costas, me aninhando no seu peito. Era como se soubesse que eu<br />

precisava disso. Enlaçou os seus dedos nos meus e apertou a minha mão. Eu ia ficar bem. Ele estava<br />

ali comigo.<br />

– Certo dia, eles saíram para fazer compras. Eu era recém-nascida e a minha mãe estava me<br />

dando de mamar. Eles nunca voltaram. Morreram baleados em um mercadinho local. Um cara<br />

qualquer ficou irritado e matou dez pessoas antes de também ser alvejado por tiros. Meu pai e meu<br />

irmão estavam na fila do caixa quando ele entrou. Foram os primeiros a serem mortos.<br />

Minha mãe havia me contado essa história muitas vezes. Era a forma que ela usava para me<br />

alertar sobre os perigos de sair na rua. Abracei Woods mais forte, concentrada em me manter<br />

focada e em não me perder nas lembranças.<br />

– Eu estou aqui. Você está comigo – garantiu-me ele.<br />

Sua outra mão encontrou a minha.<br />

– Minha avó materna era doente mental. Eu não a conheci. Ela estava internada em uma casa<br />

especial. Não tínhamos nenhum outro parente. Meu pai cresceu em um orfanato. Meus pais não<br />

tinham irmãos. Minha avó perdeu o contato com a realidade logo depois do nascimento da minha<br />

mãe. Meu avô fugiu e minha mãe foi criada pela minha bisavó paterna, que morreu quando ela<br />

tinha 16 anos. Meus pais se conheceram em um abrigo para menores, aos 17. Nas fotografias que<br />

havia em casa, eu via uma mulher saudável e uma boa mãe. Meu irmão parecia amá-la. Ela parecia<br />

feliz. Mas eu nunca conheci essa mulher. Nós nos mudamos logo depois que o meu pai e o meu<br />

irmão foram mortos. Saímos de uma cidadezinha em Nebraska para outra cidade ainda menor na<br />

Geórgia. As primeiras lembranças que tenho são da casa em Macon. Os olhos vidrados e os gritos da<br />

minha mãe eram tudo o que eu conhecia. Ela podia ser muito doce algumas vezes, mas, em outras,<br />

era assustadora. E conversava muito com o meu irmão. Passei anos sem entender com quem ela<br />

estava conversando. Éramos apenas nós duas. Mas acho que ela o via.<br />

Fechei os olhos com a lembrança da minha mãe falando com meu irmão morto como se ele<br />

estivesse lá. O prato de comida que ela preparava para ele ficava intacto, mofando em cima da mesa.<br />

Uma vez ficou tão podre que eu não conseguia entrar na cozinha sem ficar nauseada. Depois de um

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