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– Shhhh, Della, está tudo bem. Estou aqui. Shhhh.<br />
A voz estava distante, mas eu podia ouvir. As imagens da morte da minha mãe desapareceram<br />
lentamente conforme eu me concentrava mais na voz. Os soluços eram meus. Eu os reconheci.<br />
– Isso mesmo. Você está bem. Eu estou aqui – disse a voz suavemente.<br />
Abri os olhos e me dei conta de que a voz era do Tripp. O medo no rosto dele falava por si só.<br />
Ele estava me segurando nos braços e me balançava para a frente e para trás dizendo palavras<br />
tranquilizadoras. Ele não estava preparado para o que acabara de ver. Pude ver as perguntas nos<br />
seus olhos.<br />
– Sinto muito... – consegui dizer com a voz rouca.<br />
Estava com a garganta ardendo por gritar. Sempre ficava assim quando acordava desse jeito.<br />
Braden fora a primeira pessoa a vivenciar aquilo comigo. Minha psicóloga diagnosticou o meu<br />
problema como terror noturno. Disse que o meu trauma se expressava quando eu estava dormindo,<br />
ao baixar a guarda. Infelizmente, nada do que eu fazia parecia ajudar. Quando eu dormia, minha<br />
mãe sempre vinha. E trazia consigo as lembranças.<br />
– Pronto – disse ele, pondo o dedo nos meus lábios e balançando a cabeça. – Não faça isso. Você<br />
não tem por que se desculpar.<br />
Não disse mais nada. Saí do colo dele e voltei para o lado da cama em que dormia. Tripp não se<br />
mexeu. Continuou onde estava.<br />
– Você faz isso sempre? – perguntou ele, por fim.<br />
– Sim – respondi.<br />
Porque acontecia na maioria das noites. Mas normalmente eu acordava sozinha depois que as<br />
imagens da noite em que encontrei minha mãe voltavam.<br />
– E você lida com isso sozinha, todas as noites?<br />
Fiz que sim com a cabeça.<br />
– Porra... – sussurrou ele e se levantou. – Della, por que você está sozinha? Você não devia estar<br />
sozinha! Como conseguiu fazer isso esse tempo todo? – Tripp esfregou as mãos nos olhos e pelos<br />
cabelos, em um gesto de frustração. – Isso foi forte demais. Você sabe quanto é assustador? Meu<br />
Deus, Della, você não pode ficar sozinha.<br />
Puxei as cobertas até o queixo e me recostei na cabeceira da cama. Foi ali que Tripp se deu<br />
conta de que viajar comigo era muito mais do que ele poderia querer. Fora apenas uma questão de<br />
tempo.<br />
– Estou ótima. Alguém ao meu lado não faz os sonhos irem embora. Eu os tenho de qualquer<br />
maneira. Vou embora de manhã.<br />
Tripp balançou a cabeça e se aproximou, sentando-se na minha frente.<br />
– Você não vai a lugar algum de manhã. O que quer que esteja passando pela sua cabeça está<br />
errado. Isso não muda nada para mim, Della. Eu só não estava preparado.<br />
Eu não tinha certeza se acreditava nele, mas assenti mesmo assim.<br />
– De manhã, vou levar você para jogar golfe. Depois, vamos almoçar. Está na hora de nós nos<br />
conhecermos melhor.