You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
58<br />
SOBRE “PERDAS CULTURAIS” EM SEXUALIDADES INDÍGENAS<br />
Paulo <strong>de</strong> Tássio Borges da Silva<br />
Doutorando em Educação/Proped-UERJ<br />
E-mail: paulo<strong>de</strong>tassiosilva@yahoo.com.br<br />
Em quase uma década <strong>de</strong> pesquisas com povos indígenas brasileiros, em particular, povos<br />
indígenas da região nor<strong>de</strong>ste, as expressões <strong>de</strong> gênero e sexualida<strong>de</strong>s tem me feito refletir<br />
acerca <strong>de</strong> seus lugares e não lugares, bem como suas fronteiras e cruzamentos no que veio<br />
sendo <strong>de</strong>lineado e normalizado como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> indígena. Neste sentido, apontei, numa<br />
discussão anterior, uma vinculação das práticas <strong>de</strong> sexualida<strong>de</strong>s não heterossexuais às perdas<br />
culturais e à “mistura i<strong>de</strong>ntitária”. Nesta perspectiva, é negociado um bloco <strong>de</strong> indianida<strong>de</strong><br />
homogêneo, numa lógica <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação em que o Estado brasileiro <strong>de</strong>fine o que vem a ser<br />
índio mais ou menos “puro”, obe<strong>de</strong>cendo uma regra <strong>de</strong> inteligibilida<strong>de</strong> baseada num fetiche<br />
i<strong>de</strong>ntitário calcificado, sendo essa <strong>de</strong>finição requisito <strong>de</strong> acesso às políticas públicas e<br />
programas indigenistas pelas etnias. Na busca por uma categoria que não fosse colonizadora<br />
das sexualida<strong>de</strong>s indígenas, e enten<strong>de</strong>ndo que o termo “homossexualida<strong>de</strong> indígena” levaria a<br />
uma concepção binária com a “heterossexualida<strong>de</strong> indígena”, optei, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />
perspectiva <strong>de</strong>rridiana (DERRIDA, 1997, 1994), tratar como rasura a questão, usando o termo<br />
“sexualida<strong>de</strong>s indígenas in<strong>de</strong>cidíveis”, percebendo estas como “condições <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s”,<br />
lugares do “não-conceito”. Vale dizer que, muitos são os relatos e as pesquisas que trazem<br />
experiências <strong>de</strong> “sexualida<strong>de</strong>s indígenas in<strong>de</strong>cidíveis” no Brasil (MOTT, 1998; TORRES,<br />
2011; TREVISAN, 1986; CANCELA, SILVEIRA & MACHADO, 2010; SILVA, 2012). No<br />
entanto, vivências sexuais indígenas que fogem à representação da heterossexualida<strong>de</strong> são<br />
tratadas como características <strong>de</strong> povos com “perdas culturais”. Neste sentido, ainda há uma<br />
vinculação espectral <strong>de</strong> perdas culturais em torno das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s indígenas ao evolucionismo<br />
cultural, o que faz Oliveira (1998) nos convidar a pensar numa etnologia que vá além das<br />
perdas e ausências culturais: uma etnologia dos índios misturados. Desta forma, acredita-se<br />
que para se avançar no estudo das “sexualida<strong>de</strong>s indígenas in<strong>de</strong>cidíveis”, o diálogo <strong>de</strong>verá<br />
perpassar as fronteiras e os cruzamentos em que os povos indígenas se encontram e <strong>de</strong>sejam<br />
estar, o que se vincula à intenção <strong>de</strong>sta proposta.<br />
Palavras-chave: Povos Indígenas; Espectro; Sexualida<strong>de</strong>s Indígenas.