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Revista Curinga Edição 05

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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já foi selecionado como um dos melhores trabalhos de graduação do mundo da área de Arquitetura para<br />

exibição nos Estados Unidos, no Massachussetts Institute of Technology Department of Architecture (MIT). A<br />

internacionalização do movimento ajuda no esforço contínuo de legitimar o assentamento rururbano.<br />

As roupas para embelezar Dandara já foram encomendadas, só que a entrega deve demorar<br />

um tempo a mais do que o desejado pelos moradores. Quem já teve de experimentar a realidade<br />

de uma cidade falsamente acolhedora como Belo Horizonte não hesita em expressar gratidão<br />

aos responsáveis pelo teto em que dorme, estejam eles no plano físico ou espiritual ligado à<br />

religiosidade. Ainda assim, o texto sai quase decorado das portas quando se pergunta o que ainda<br />

falta na comunidade. Não há luz elétrica normatizada, tampouco água e sistema para escoar<br />

o esgoto, que corre a céu aberto em alguns pontos. A solução emergencial é a de apelar para<br />

“gatos” que puxam os itens básicos da distribuição pública. Da mesma forma, instituições<br />

de ensino e unidades de saúde parecem fazer vistas grossas para atender às necessidades<br />

dandarenses. Há, segundo os moradores, uma escola pública logo atrás do terreno que<br />

não aceita a matrícula da maioria das crianças e adolescentes da comunidade, já que<br />

eles não possuem um comprovante legal de moradia.<br />

O lugar, porém, já está incrustrado na personalidade dos moradores como se eles<br />

tivessem passado todas as fases de suas histórias naquele pedaço de terra, como se<br />

pudessem desenterrar o álbum de fotos antigas de cada um na próxima esquina.<br />

As críticas encalcam uma vontade de desmontar a figura criada pela mídia acerca<br />

do modo de vida em um terreno ocupado. Alguns até se arrependeram assim<br />

que chegaram, outros passaram por um período de adaptação ao local, malencarado<br />

à primeira vista, mas a vontade que reina é a de não mais deixar<br />

aquele espaço que já é quase totalmente deles. O tempo abrandou os medos<br />

e a palavra ganhou potência.<br />

A terra que tanto foi furada, escavada e prensada jamais deixou de<br />

ser cuidada, como uma cirurgia em que é preciso um pouco de vigor<br />

na operação para que o resultado esperado seja possível. Em meio a<br />

Dandara pode-se notar árvores de grande porte ou até menores com<br />

frutos carnosos que foram conservadas. Este apreço não é acidental,<br />

porque, desde o princípio, foi decidido em grupo que a transformação<br />

daquele espaço generoso aconteceria com perspectivas viáveis<br />

para encaixar a narrativa do agrupamento na coletânea de Belo<br />

Horizonte. Dandara exige arremate e reconhecimento.<br />

O caminho de chegada é o mesmo que revela o retorno,<br />

um ciclo de passagens para fortalecer a sensação de que o<br />

terreno agora deixa marcas de ansiedade na barra da calça.<br />

É preciso sentir para entender, olhar para acreditar. E<br />

pisar para pertencer. Os valores são os mesmos dentro<br />

e fora, mas o que diferencia é a intensidade como cada<br />

qual se une para batalhar um bem comum. O título<br />

aponta na esquina e, com os faróis altos, lembra que<br />

o tempo do contato estabelecido já se excede. No<br />

peito as pegadas e na cabeça a aproximação com<br />

um corpo social formado ao alcance e acesso<br />

de quem se colocar à prova, e, nos dedos, o<br />

ressentimento de uma vizinhança com uma<br />

opinião construída da porta para dentro. Os<br />

metros quadrados transpassam conceitos e<br />

inebriam a percepção das pessoas destes<br />

dias, que se dão por satisfeitas por<br />

conhecer os arredores através somente<br />

de megabytes intocáveis. Mas para<br />

bom entendedor, meia Dandara<br />

basta. E também uma passagem de<br />

ônibus. Parada solicitada.

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