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“<br />
oprimeiro problema do<br />
<strong>Brasil</strong> é a economia;<br />
o segundo maior é a<br />
economia, e o terceiro<br />
é a economia." A<br />
definição dada pelo<br />
secretário do Programa<br />
de Parcerias de<br />
Investimentos (PPI), Wellington Moreira<br />
Franco, não deixa dúvidas sobre<br />
qual assunto tem dominado seus pensamentos<br />
nos últimos meses. Fiel aliado<br />
do presidente Michel Temer, Moreira<br />
Franco está à frente do novo órgão<br />
desde a sua homologação, em<br />
maio. A pasta foi criada para dar fluidez<br />
a parcerias público-privadas, diminuindo<br />
a intervenção do Estado nos<br />
processos de concessão. A partir do<br />
apoio do MBC, o programa será capaz<br />
de definir os investimentos a serem<br />
alocados na carteira estratégica do<br />
governo. A parceria incluiu a análise<br />
do ciclo de vida dos projetos de infraestrutura<br />
e dos modais logísticos utilizados<br />
no país. Também buscou aprimorar<br />
a legislação vigente e alinhar<br />
as expectativas entre o setor privado<br />
e o setor público. Ou seja: o PPI é uma<br />
peça fundamental na estratégia do<br />
novo governo para atrair receitas e<br />
remover o <strong>Brasil</strong> do atoleiro econômico.<br />
"Estamos nos esforçando para<br />
tirar o <strong>Brasil</strong> do Serasa", compara ele.<br />
E esse pode ser um dos maiores desafios<br />
já enfrentados pelo sociólogo<br />
piauiense em seus mais de 40 anos<br />
de vida pública.<br />
Nascido em 1944 em Teresina, no<br />
Piauí, Moreira Franco já foi prefeito de<br />
Niterói (RJ), deputado federal, governador<br />
do Rio de Janeiro e assessor dos<br />
presidentes José Sarney, Fernando<br />
Henrique Cardoso e Lula. Ele ainda<br />
ocupou o cargo de ministro-chefe de<br />
Dilma Rousseff em duas secretarias<br />
distintas – Aviação Civil e Assuntos<br />
Estratégicos. Agora, ele ganha a missão<br />
de colocar o <strong>Brasil</strong> na rota dos investidores<br />
outra vez, reconstruindo a<br />
confiança perdida junto aos empre-<br />
sários daqui e de fora. "Vamos evitar<br />
o ambiente de insegurança, dúvida e<br />
inquietação que caracterizou o nosso<br />
passado", garante. A tarefa, entretanto,<br />
deve ser árdua.<br />
Os obstáculos para tornar o país<br />
atrativo não são pequenos – e incluem<br />
a histórica burocracia governamental,<br />
a constante pressão inflacionária e a<br />
rigidez da legislação. Não bastasse isso,<br />
a imagem do <strong>Brasil</strong> foi esfacelada<br />
no mercado internacional, devido à<br />
"rocambolesca" crise política dos últimos<br />
anos. "Os investidores precisam<br />
saber que esse é um governo sério,<br />
que a nação tem dirigentes sérios",<br />
comenta. Uma das ações pensadas<br />
pelo PPI para mudar esse quadro de<br />
descrédito é o Projeto Crescer.<br />
Lançado em setembro, o programa<br />
institui dez novas diretrizes ao modelo<br />
nacional de concessões – entre<br />
elas, a retomada do protagonismo das<br />
agências reguladoras no acompanhamento<br />
técnico das operações. A proposta<br />
é imprimir maior transparência<br />
e segurança nas relações público-privadas,<br />
o que deve contribuir para a<br />
retomada do crescimento e a geração<br />
de emprego e renda. Outro motivo<br />
de desconfiança dos investidores é a<br />
defasagem de infraestrutura. Segundo<br />
dados do Banco Mundial, a logística<br />
brasileira gera perdas anuais de R$ 121<br />
bilhões. Esse é um componente central<br />
do conhecido Custo <strong>Brasil</strong>, que faz<br />
as mercadorias produzidas em território<br />
nacional custarem até 30% a<br />
mais do que no exterior, conforme<br />
estimativas da Federação das Indústrias<br />
do Estado de São Paulo (Fiesp).<br />
No início deste ano, o MBC apresentou<br />
ao secretário uma projeção<br />
de investimentos necessários para<br />
diminuir os gargalos da logística brasileira.<br />
O documento aponta quais<br />
são os corredores com maior impacto<br />
estratégico para o país. Para mitigá-los,<br />
sugere aportes na ordem de<br />
R$ 660 bilhões – distribuídos entre<br />
portos, hidrovias, ferrovias e rodovias.<br />
"É uma contribuição excepcional",<br />
avalia Moreira Franco. "O governo<br />
deve abrir espaço a todos aqueles que<br />
tenham capacidade de pensar, estudar<br />
e pesquisar. Precisamos desse<br />
conjunto de informações."<br />
Quais são suas perspectivas para<br />
a economia brasileira?<br />
É uma análise de confiança. O<br />
presidente Michel Temer tem a consciência<br />
de que o primeiro problema<br />
do <strong>Brasil</strong> é a economia; o segundo<br />
maior é a economia, e o terceiro é a<br />
economia. Ou seja, há foco. Tendo<br />
foco, o presidente conseguiu montar<br />
uma equipe econômica com grande<br />
alinhamento conceitual sobre o tema,<br />
liderada pelo ministro Henrique<br />
Meirelles [da Fazenda]. Havia décadas<br />
que o país não tinha algo assim. Evita<br />
a perda de tempo com debates<br />
estéreis e divergências ideológicas. A<br />
equipe sabe que o país deve resolver<br />
a questão fiscal. O <strong>Brasil</strong> precisa sair<br />
do vermelho. Estamos com R$ 170<br />
bilhões de déficit para este ano. Em<br />
2017, a projeção é de R$ 134 bilhões.<br />
Receita e despesa precisam ser equi-<br />
Nós queremos contratos de concessão em<br />
que a qualidade do serviço seja medida e<br />
especificada com muita clareza e precisão.<br />
10 brasil novembro de 2016