PME Magazine - Edição 8 - Abril 2018
Isabel Neves é a figura de capa da PME Magazine de abril. Leia a edição digital aqui.
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OPINIÃO<br />
A URGÊNCIA DA ÉTICA<br />
Anabela Vaz Ribeiro integra a APEE desde 2015<br />
Anabela Vaz Ribeiro, presidente da subcomissão de sustentabilidade da<br />
Associação Portuguesa de Ética Empresarial - APEE<br />
Inês Antunes<br />
Nos últimos anos, sobretudo depois de 2008, muito se tem falado de melhorar<br />
a competitividade das empresas, necessidade de internacionalização,<br />
voltar as empresas para os mercados externos como forma de sobreviver<br />
à crise e alcançar os níveis de crescimento que necessitamos para nos desenvolvermos.<br />
Quando se debate este tema, associa-se sempre à questão<br />
da modernização das empresas, necessidade de inovação, qualificação dos<br />
recursos humanos, introdução de mais tecnologia e adaptação à digitalização<br />
da economia, mas pouco se fala dos modelos de governação das empresas<br />
e das filosofias de gestão que lhes estão subjacentes.<br />
Na realidade, isto é fruto de diversas ordens de razões, a primeira das quais<br />
relacionada com a desvalorização da importância das questões associadas<br />
à governação, porque isso ainda é visto por muitos empresários como uma<br />
questão puramente interna na qual terceiros não têm que interferir, a segunda<br />
porque até aqui estas questões não estavam em cima da mesa, apenas<br />
contava o que as empresas faziam, ou seja, os produtos que tinham capacidade<br />
para colocar no mercado ou as atividades que tinham capacidade para<br />
desenvolver e, por último, porque há falta de conhecimento neste domínio e<br />
falta de experiência na implementação de modelos de governação eficazes<br />
e que respondam às necessidades dos requisitos das partes interessadas e<br />
dos tempos atuais.<br />
“AS ESCOLAS NÃO ENSINAM ÉTICA, QUANDO<br />
DEVERIA SER ALGO TRANSVERSAL"<br />
Analisando com mais profundidade cada tipologia, a desvalorização destas<br />
questões resulta do facto de que os gestores e empresários consideravam<br />
que os clientes e o mercado não precisavam de saber como era efetuada a<br />
gestão, sob que valores e princípios, com que fundamento ou assente em<br />
que filosofia de gestão. A segunda ordem de razões tem que ver com a falta<br />
de importância para o mercado: estas questões não tinham relevância até há<br />
poucos anos, estávamos na era do produto e do mercado e as questões da<br />
ética das empresas eram vistas como algo inerente e delegado no fundador<br />
ABRIL <strong>2018</strong><br />
WWW.<strong>PME</strong>MAGAZINE.COM<br />
ou gestor da empresa<br />
e que não carecia<br />
de ser demonstrado<br />
ao cliente, consumidor<br />
ou ao mercado.<br />
O foco estava no resultado<br />
da produção<br />
ou no serviço prestado,<br />
independentemente<br />
dos custos<br />
sociais ou ambientais<br />
incorridos para<br />
chegar a esse resultado.<br />
E, por fim, porque<br />
se sabe pouco<br />
sobre o assunto. Há<br />
falta de maturidade.<br />
As escolas não ensinam ética,<br />
os institutos não ensinam ética e<br />
as universidades não ensinam ética,<br />
exceto em cadeiras específicas<br />
quando deveria ser algo transversal,<br />
como o português ou a matemática.<br />
“SE QUEREMOS<br />
O RESPEITO PELOS<br />
VALORES UNIVERSAIS,<br />
TEMOS DE INVESTIR NO<br />
ENSINO DOS MESMOS"<br />
As sociedades são fundadas num<br />
conjunto de valores e contam com<br />
as famílias e as instituições para os<br />
apreender, difundir e aplicar. Mas,<br />
por muitos motivos, desde o estilo<br />
de vida atual, à diminuição da formação<br />
de base religiosa e ao poder<br />
do mercado, estas questões perdem<br />
visibilidade, assume-se que<br />
estão presentes e depois verifica-<br />
-se que afinal não estão. Se queremos<br />
o respeito pelos valores universais,<br />
temos que investir no ensino<br />
dos mesmos, na sua aplicação e no<br />
exemplo. Muitos exemplos atuais<br />
são pobres, nada inspiradores e, por<br />
vezes, até maus exemplos.<br />
Felizmente, a situação está a mudar.<br />
E porquê? A mudança ocorre<br />
para dar resposta a necessidades<br />
diferentes. Não ocorre porque sim.<br />
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