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edição de 16 de julho de 2018

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inspiração<br />

Como explorar o lado B da Riviera<br />

O circuito <strong>de</strong> artes da Riviera Francesa, como o Museu Matisse, está<br />

na programação dos publicitários durante a semana do Cannes Lions<br />

juliana Nascimento<br />

Especial para o PROPMARK<br />

Minha primeira ida a Cannes foi em 2006.<br />

Tínhamos acabado <strong>de</strong> ganhar uma conta<br />

global e digital na então Datamidia,FCBi - e eu<br />

e o VP <strong>de</strong> Criação da agência fizemos as malas<br />

e nos colocamos a caminho <strong>de</strong> Cannes, que<br />

na época tinha, nos seus Cyber Lions, praticamente<br />

a única referência do que era bom em<br />

termos <strong>de</strong> produção criativa pro meio.<br />

Sabendo que íamos pra França, obviamente<br />

cada um <strong>de</strong> nós <strong>de</strong>u aquela pesquisadinha<br />

nos guias <strong>de</strong> viagem, que naquele tempo ainda<br />

eram impressos, pra ver o que tinha ali<br />

perto. No entanto, ao chegar à cida<strong>de</strong>, imediatamente<br />

fomos abduzidos pelo festival: os<br />

conteúdos no Palais, as premiações, a exposição<br />

<strong>de</strong> trabalhos. Ir pela primeira vez ao festival<br />

é uma experiência incrível - que mistura<br />

admiração pelo que se vê, orgulho pela enorme<br />

celebração da nossa indústria que ele é, e<br />

FOMO (tem tanta coisa pra ver!!!).<br />

Pois bem: vivemos intensamente aqueles<br />

seis dias e, no sábado, já no caminho da volta,<br />

<strong>de</strong>cidimos dar uma voltinha em Nice. E foi lá<br />

que eu comecei a <strong>de</strong>scobrir uma Riviera ainda<br />

mais inspiradora, graças ao meu <strong>de</strong> lá pra cá<br />

gran<strong>de</strong> amigo Rui Piranda, que nesta viagem<br />

<strong>de</strong>scobri ser conhecedor <strong>de</strong> arte.<br />

Rui me levou ao Museu Matisse (www.musee-matisse-nice.org).<br />

Ele é pequenino, numa<br />

daquelas casas antigas e bonitas <strong>de</strong> Nice. No<br />

meio <strong>de</strong> toda aquela arte, ali comprovei o que<br />

diz o ditado: “quem tem amigos, tem tudo”.<br />

Mais que isso, entendi que trabalhar com<br />

quem “nos estica”, nos abre para novos conceitos<br />

e novas referências, faz o trabalho ser<br />

mais feliz e <strong>de</strong> melhor qualida<strong>de</strong>.<br />

Pois bem: voltei a Cannes alguns anos <strong>de</strong>pois,<br />

<strong>de</strong>sta vez numa turma maior. Antes <strong>de</strong><br />

o festival começar, o Rui nos convenceu a dar<br />

uma corridinha até Vauvenargues, cida<strong>de</strong> perto<br />

<strong>de</strong> Aix-en-Provence, que abriga um pequeno<br />

chateau on<strong>de</strong> Picasso viveu entre 1959 e 1961.<br />

Vou dizer que o cara sabia escolher casa, viu?<br />

A vista que tem o castelinho é uma lin<strong>de</strong>za,<br />

com o monte Saint-Victoire ao fundo. O curioso<br />

é que em algum momento Picasso <strong>de</strong>ve ter<br />

achado que a vista não era suficiente, porque<br />

pintou uma minifloresta no banheiro <strong>de</strong>le.<br />

Aquele banheiro me marcou muito, pela<br />

sua beleza e pelo inesperado <strong>de</strong> encontrar<br />

um Picasso numa pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> louça. E naquele<br />

momento, a arte me ensinou uma outra lição<br />

importantíssima para o trabalho e pra vida:<br />

se você não está satisfeito com o seu entorno,<br />

experimente transformá-lo. Use o que você<br />

sabe e conhece para tentar fazê-lo mais confortável<br />

e inspirador pra você.<br />

Nos anos seguintes, continuamos o hábito<br />

<strong>de</strong> explorar este “lado B” da Riviera. Conheci<br />

a Fondation Maeght (www.fondation-maeght.com),<br />

uma casa Bauhaus nos arredores <strong>de</strong><br />

Saint Paul <strong>de</strong> Vence que tem um jardim cheio<br />

<strong>de</strong> obras do Miró e um móbile do Cal<strong>de</strong>r, que<br />

rodizia um acervo <strong>de</strong> vários pintores - entre<br />

eles, um mestre que conheci lá e se tornou<br />

meu favorito: Chagall. Suas cores vivas e telas<br />

gran<strong>de</strong>s me encantaram instantaneamente -<br />

como aquelas gran<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ias, aparentemente<br />

tão simples, mas que requerem um enorme<br />

esforço para ganhar a vida, que a gente vê no<br />

festival.<br />

Encontrei Chagall ali, <strong>de</strong>pois o vi em dois<br />

quadros i-men-sos na ópera do Met, mas me<br />

apaixonei mesmo por ele quando o mesmo<br />

amigo me levou ao Musée Chagall, também<br />

em Nice (en.musees-nationaux-alpesmaritimes.fr/chagall),<br />

que se tornou o meu favorito<br />

na região até agora. A construção é mo<strong>de</strong>rna,<br />

e foi feita para abrigar uma coleção que mescla<br />

arte e religião. Mas duas coisas lá tiraram o<br />

meu fôlego: a salinha dos quadros que ele fez<br />

pra mulher, Vava (um conjunto <strong>de</strong> telas cor-<br />

-<strong>de</strong>-rosa queimado que transborda amor), e<br />

um mosaico que ele fez com o profeta Elias e<br />

os signos do zodíaco à sua volta. Não sei exatamente<br />

o porquê, mas olhar o mosaico me<br />

lembrou <strong>de</strong> como é importante a gente usar o<br />

distanciamento a nosso favor: quando a gente<br />

dá um passo pra trás e olha “<strong>de</strong> cima”, não<br />

raro consegue ver mais.<br />

Aproveitar estes “momentos off” que a<br />

gente tem - uma parada inesperada num dia,<br />

um <strong>de</strong>svio numa viagem, ou qualquer oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> refrescar a cabeça e o olhar - tornou-se<br />

um exercício constante pra mim. Eles<br />

revelam verda<strong>de</strong>s simples e po<strong>de</strong>rosas sobre<br />

nós e o mundo à nossa volta - e não raro, trazem<br />

insights que a gente vê naqueles trabalhos<br />

incríveis que aplaudimos no ano seguinte,<br />

no palco no Palais.<br />

Juliana Nascimento é CBO da Fbiz<br />

jornal propmark - <strong>16</strong> <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 43

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