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inspiração<br />
Como explorar o lado B da Riviera<br />
O circuito <strong>de</strong> artes da Riviera Francesa, como o Museu Matisse, está<br />
na programação dos publicitários durante a semana do Cannes Lions<br />
juliana Nascimento<br />
Especial para o PROPMARK<br />
Minha primeira ida a Cannes foi em 2006.<br />
Tínhamos acabado <strong>de</strong> ganhar uma conta<br />
global e digital na então Datamidia,FCBi - e eu<br />
e o VP <strong>de</strong> Criação da agência fizemos as malas<br />
e nos colocamos a caminho <strong>de</strong> Cannes, que<br />
na época tinha, nos seus Cyber Lions, praticamente<br />
a única referência do que era bom em<br />
termos <strong>de</strong> produção criativa pro meio.<br />
Sabendo que íamos pra França, obviamente<br />
cada um <strong>de</strong> nós <strong>de</strong>u aquela pesquisadinha<br />
nos guias <strong>de</strong> viagem, que naquele tempo ainda<br />
eram impressos, pra ver o que tinha ali<br />
perto. No entanto, ao chegar à cida<strong>de</strong>, imediatamente<br />
fomos abduzidos pelo festival: os<br />
conteúdos no Palais, as premiações, a exposição<br />
<strong>de</strong> trabalhos. Ir pela primeira vez ao festival<br />
é uma experiência incrível - que mistura<br />
admiração pelo que se vê, orgulho pela enorme<br />
celebração da nossa indústria que ele é, e<br />
FOMO (tem tanta coisa pra ver!!!).<br />
Pois bem: vivemos intensamente aqueles<br />
seis dias e, no sábado, já no caminho da volta,<br />
<strong>de</strong>cidimos dar uma voltinha em Nice. E foi lá<br />
que eu comecei a <strong>de</strong>scobrir uma Riviera ainda<br />
mais inspiradora, graças ao meu <strong>de</strong> lá pra cá<br />
gran<strong>de</strong> amigo Rui Piranda, que nesta viagem<br />
<strong>de</strong>scobri ser conhecedor <strong>de</strong> arte.<br />
Rui me levou ao Museu Matisse (www.musee-matisse-nice.org).<br />
Ele é pequenino, numa<br />
daquelas casas antigas e bonitas <strong>de</strong> Nice. No<br />
meio <strong>de</strong> toda aquela arte, ali comprovei o que<br />
diz o ditado: “quem tem amigos, tem tudo”.<br />
Mais que isso, entendi que trabalhar com<br />
quem “nos estica”, nos abre para novos conceitos<br />
e novas referências, faz o trabalho ser<br />
mais feliz e <strong>de</strong> melhor qualida<strong>de</strong>.<br />
Pois bem: voltei a Cannes alguns anos <strong>de</strong>pois,<br />
<strong>de</strong>sta vez numa turma maior. Antes <strong>de</strong><br />
o festival começar, o Rui nos convenceu a dar<br />
uma corridinha até Vauvenargues, cida<strong>de</strong> perto<br />
<strong>de</strong> Aix-en-Provence, que abriga um pequeno<br />
chateau on<strong>de</strong> Picasso viveu entre 1959 e 1961.<br />
Vou dizer que o cara sabia escolher casa, viu?<br />
A vista que tem o castelinho é uma lin<strong>de</strong>za,<br />
com o monte Saint-Victoire ao fundo. O curioso<br />
é que em algum momento Picasso <strong>de</strong>ve ter<br />
achado que a vista não era suficiente, porque<br />
pintou uma minifloresta no banheiro <strong>de</strong>le.<br />
Aquele banheiro me marcou muito, pela<br />
sua beleza e pelo inesperado <strong>de</strong> encontrar<br />
um Picasso numa pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> louça. E naquele<br />
momento, a arte me ensinou uma outra lição<br />
importantíssima para o trabalho e pra vida:<br />
se você não está satisfeito com o seu entorno,<br />
experimente transformá-lo. Use o que você<br />
sabe e conhece para tentar fazê-lo mais confortável<br />
e inspirador pra você.<br />
Nos anos seguintes, continuamos o hábito<br />
<strong>de</strong> explorar este “lado B” da Riviera. Conheci<br />
a Fondation Maeght (www.fondation-maeght.com),<br />
uma casa Bauhaus nos arredores <strong>de</strong><br />
Saint Paul <strong>de</strong> Vence que tem um jardim cheio<br />
<strong>de</strong> obras do Miró e um móbile do Cal<strong>de</strong>r, que<br />
rodizia um acervo <strong>de</strong> vários pintores - entre<br />
eles, um mestre que conheci lá e se tornou<br />
meu favorito: Chagall. Suas cores vivas e telas<br />
gran<strong>de</strong>s me encantaram instantaneamente -<br />
como aquelas gran<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ias, aparentemente<br />
tão simples, mas que requerem um enorme<br />
esforço para ganhar a vida, que a gente vê no<br />
festival.<br />
Encontrei Chagall ali, <strong>de</strong>pois o vi em dois<br />
quadros i-men-sos na ópera do Met, mas me<br />
apaixonei mesmo por ele quando o mesmo<br />
amigo me levou ao Musée Chagall, também<br />
em Nice (en.musees-nationaux-alpesmaritimes.fr/chagall),<br />
que se tornou o meu favorito<br />
na região até agora. A construção é mo<strong>de</strong>rna,<br />
e foi feita para abrigar uma coleção que mescla<br />
arte e religião. Mas duas coisas lá tiraram o<br />
meu fôlego: a salinha dos quadros que ele fez<br />
pra mulher, Vava (um conjunto <strong>de</strong> telas cor-<br />
-<strong>de</strong>-rosa queimado que transborda amor), e<br />
um mosaico que ele fez com o profeta Elias e<br />
os signos do zodíaco à sua volta. Não sei exatamente<br />
o porquê, mas olhar o mosaico me<br />
lembrou <strong>de</strong> como é importante a gente usar o<br />
distanciamento a nosso favor: quando a gente<br />
dá um passo pra trás e olha “<strong>de</strong> cima”, não<br />
raro consegue ver mais.<br />
Aproveitar estes “momentos off” que a<br />
gente tem - uma parada inesperada num dia,<br />
um <strong>de</strong>svio numa viagem, ou qualquer oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> refrescar a cabeça e o olhar - tornou-se<br />
um exercício constante pra mim. Eles<br />
revelam verda<strong>de</strong>s simples e po<strong>de</strong>rosas sobre<br />
nós e o mundo à nossa volta - e não raro, trazem<br />
insights que a gente vê naqueles trabalhos<br />
incríveis que aplaudimos no ano seguinte,<br />
no palco no Palais.<br />
Juliana Nascimento é CBO da Fbiz<br />
jornal propmark - <strong>16</strong> <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 43