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Carnaval+em+Raul+Soares

Crônicas sobre fatos ocorridos nos carnavais de 2005 e 2011 no município mineiro de Raul Soares, com um enredo de saudosismo e espiritualidade, alegria e descontração.

Crônicas sobre fatos ocorridos nos carnavais de 2005 e 2011 no município mineiro de Raul Soares, com um enredo de saudosismo e espiritualidade, alegria e descontração.

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fome, não a simples fome de encher o estômago com a refeição, mas a<br />

realização em estar oferecendo ao paladar comida que não se come<br />

todos os dias na cidade grande, feita com panelas antigas e colheres de<br />

madeira, num fogão de lenha.<br />

Há sempre aqueles que quando acordam ficam no bar tomando<br />

cachaça e batendo papo. Contando as últimas novidades ou algum<br />

“causo” que ficaram sabendo em alguma andança.<br />

Algumas construções são muito antigas, chegam a ser um mistério<br />

da história! Lembro que perto da ponte, uma das duas saídas da vila, há<br />

uma construção que parece ter sido uma empresa, uma fábrica, porém<br />

pelo abandono é possível até mesmo sentir as almas dos que<br />

trabalhavam lá, mexendo nas máquinas. As janelas destruídas e a<br />

carência de tijolos no teto evidenciam um coliseu romano em pleno<br />

interior. Ruínas de tempos antigos, da história desse lugar.<br />

As janelas da maioria das casas não possuem grades de proteção,<br />

e não há muro ou cerca delimitando o espaço da calçada. A cultura local<br />

é esta, onde imagino que dê prazer ficar à janela observando a vila, sem<br />

a interferência de quintal ou muro.<br />

Pássaros silvestres são comuns por aqui. É belo acordar de manhã<br />

com o canto natural do corrupião ou dos canários-da-terra! Talvez se nas<br />

grandes cidades não houvesse tanto dano ao meio ambiente seria<br />

possível desfrutarmos dessa magia da natureza, e não no canto fúnebre<br />

de pássaros presos em gaiolas pelo bel-prazer alheio, pela vaidade<br />

delinqüente que priva da liberdade quem nasceu para voar e construir<br />

seu ninho nas árvores mais altas, protegidas do predador e dos pingos da<br />

chuva. Hoje por lá só se ouve o bem-te-vi, e mesmo assim, antes<br />

cantava alegre o bem, o te, e o vi...mas hoje só canta o vi e vai embora<br />

voando pra outro canto, no meio dos prédios.<br />

Todos os dias à tarde um casal de siri emas desce o morro fazendo<br />

grande festa! Depois se aconchegam numa árvore bem alta perto de um<br />

pasto e por lá descansam. Dizem que o dono do pasto coloca comida<br />

para elas todos os dias, e por isso elas gostam daquele pasto que fica na<br />

encosta do morro. Elas fazem muito barulho em todas as tardes e isso<br />

quebra a rotina de silêncio e quietude. Já é parte de um cenário que se<br />

repete a cada entardecer.<br />

As pessoas se conhecem tanto que quando uma pessoa de fora<br />

chega à vila logo surgem comentários sobre quem seria, de onde vem e<br />

pra onde vai o estranho. Quando cheguei me senti assim, mas logo todos<br />

sabiam quem eu era e onde estava hospedado. As pessoas são curiosas e<br />

perguntam muito sobre a cidade grande, sobre o modo de vida. Parecem<br />

esperar por uma novidade, um caso novo. São pessoas muito simples e<br />

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