24.07.2018 Views

*Julho/2018 - Industrial 198

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

COLUNA<br />

CARA DE UÉ<br />

A ESTAGNAÇÃO DO PAÍS É REFLEXO DE NOSSA NEGLIGÊNCIA<br />

Flavio C. Geraldo<br />

FG4 MAD - Consultoria em Madeira<br />

Contato: flavio@fg4mad.com.br<br />

O SETOR PRIVADO,<br />

DESPREZANDO AS<br />

EXPERIÊNCIAS NEGATIVAS DAS<br />

EMPRESAS DE SERVIÇO PÚBLICO EM<br />

RELAÇÃO ÀS AQUISIÇÕES DA MADEIRA<br />

TRATADA, SEGUE EM DIREÇÃO A<br />

EQUÍVOCOS<br />

S<br />

im, somos negligentes. Somos negligentes<br />

pela falta de planejamento na gestão dos recursos<br />

públicos que envolvem todas as esferas<br />

governamentais e ao mesmo tempo como cidadãos,<br />

que não sabem como uma sociedade<br />

organizada pode evitar as consequências da negligência.<br />

De norte a sul do Brasil podemos constatar a enxurrada<br />

de desperdício do dinheiro público em obras inacabadas<br />

e mal executadas. Segundo levantamentos efetuados<br />

pela Consultoria Inter. B, a pedido da Cbic (Câmara Brasileira<br />

da Indústria da Construção), apenas na esfera federal<br />

há aproximadamente sete mil obras paradas e para concluí-las<br />

seriam necessários R$ 76 bilhões. Se somadas as<br />

obras sob a responsabilidade dos Estados e municípios,<br />

os custos para a conclusão são estimados em R$ 144 bilhões.<br />

Editais de licitação e rituais de concorrência não<br />

respeitam as características de certos materiais. No caso<br />

da madeira, material de significativa demanda em obras<br />

do sistema ferroviário e elétrico, pode-se afirmar, que as<br />

empresas responsáveis por tais obras simplesmente não<br />

sabem comprar. A soberba dos executivos de compras<br />

dificultam ao máximo qualquer aproximação saudável<br />

com possíveis fornecedores ou entidades setoriais representativas.<br />

É comum se observar uma total inversão das<br />

Foto: divulgação<br />

prioridades de exigências em processos de aquisição.<br />

Por exemplo, procedimentos relacionados ao processo<br />

produtivo da madeira tratada, assim como os devidos<br />

procedimentos necessários ao controle de qualidade<br />

não são considerados quando da análise de custos do<br />

material. Adotam-se cegamente os termos da Lei n° 8666,<br />

de junho de 1993, e o resto que se dane! O importante<br />

é comprar de quem oferta o mais barato. Procedimentos<br />

necessários às boas práticas de produção, incluindo<br />

o controle da qualidade, incidem em custos adicionais,<br />

portanto, dispensáveis na fase de aquisição por licitações.<br />

Uma vez adquirido o material, exige-se que o mesmo<br />

atenda a todos os requisitos conceituais de um produto<br />

fabricado dentro de todos os rigores das normas, mesmo<br />

estes terem sido desconsiderados no inicio do processo<br />

de aquisição. Tudo isto se agrava quando as obras são<br />

paralisadas. Qualquer material é produzido prevendo-se<br />

a sua aplicação, claro, seguindo um planejamento no andamento<br />

das obras, conhecido também como cronograma.<br />

Nos últimos anos muito se tem falado e propagado<br />

a respeito do potencial de utilização da madeira tratada<br />

em sistemas construtivos. Afinal, são muitos os bons<br />

exemplos da utilização da madeira tratada pelo setor da<br />

construção em inúmeros países desenvolvidos. No Brasil,<br />

graças aos esforços da Abpm em passado recente, com<br />

frequentes destaques, inclusive neste espaço, a respeito<br />

da existência de normas técnicas e programas de autorregulamentação<br />

do setor de proteção de madeiras, é<br />

possível afirmar, com tranquilidade, a respeito da existência<br />

de uma real retaguarda que suporta abastecimentos<br />

adequados de madeira tratada ao setor da construção.<br />

No entanto, surge um alerta! Parece que o setor privado,<br />

desprezando as experiências negativas das empresas de<br />

serviço público, segue na direção dos mesmos equívocos.<br />

A busca pelos baixos preços em detrimento da qualidade<br />

parece também estar virando regra. Já se observam<br />

no mercado, grandes construtoras, que embaladas por<br />

projetos arquitetônicos maravilhosos, como só a madeira<br />

proporciona, estão realizando aquisições de grandes<br />

volumes de madeira tratada sem a menor preocupação<br />

com os termos da NBR 16.143-2013 ou com as etapas<br />

de produção. Interessante que, diante dos processos de<br />

aquisições já concretizados, quando alertados a respeito<br />

de tais necessidades , fazem cara de ué, achando que<br />

tudo isso não passa de um mero enfeite. E assim vamos,<br />

já temos comprometidos os mercados do setor elétrico,<br />

rural e parte do ferroviário, por equívocos nos processos<br />

de aquisição e corremos o risco de vermos o setor da<br />

construção também achando que madeira tratada não é<br />

a opção mais adequada, quando na verdade , mais uma<br />

vez, esse material poderá ser vítima da desinformação.<br />

10 referenciaindustrial.com.br JULHO <strong>2018</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!