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2001_Luzes-ApostoloPulchrum

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LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />

vestir de pulcritude o aspecto doloroso<br />

da vida.<br />

Mais. O entusiasmo com que se esperava<br />

e se cantava, nas vésperas das<br />

batalhas, a agonia da luta. Nasceram<br />

as canções de gesta, nas quais cada<br />

golpe, cada “ai!” recebia a glorificação<br />

de um acento épico, de uma arrebatadora<br />

melodia. Nas salas de armas<br />

dos castelos, na noite que antecedia<br />

a partida para a frente de combate,<br />

os homens conversavam e sorriam.<br />

E nos bailes das festas de primavera,<br />

enquanto dançavam pelos salões<br />

dos palácios, aqueles nobres de cabeleira<br />

empoada, de sapatos de fivelas<br />

de prata e saltos escarlates sabiam<br />

que dali a poucas semanas estariam<br />

partindo para a guerra. Sabiam que<br />

muitos não retornariam, que várias<br />

daquelas senhoras estariam na viuvez,<br />

mães ficariam sem filhos, e os filhos,<br />

sem pais. Entretanto, dançavam...<br />

Eles encaravam a dor com serenidade<br />

e grandeza de alma.<br />

Do mesmo modo eram respeitadas<br />

e postas em foco as mais variadas formas<br />

de sofrimento — inclusive o da<br />

maternidade ou o do esforço intelectual<br />

levado a bom termo —, porque<br />

bem se compreendia a noção de que<br />

esta Terra é um vale de lágrimas, segundo<br />

a linda expressão da Salve Rainha.<br />

Sorria-se para a dor por uma superior<br />

razão: “Vou realizar meu fim,<br />

aquilo para o que existo, e, por causa<br />

disso, apesar de todo sofrimento, estou<br />

alegre”.<br />

Daí vêm, igualmente, o júbilo e a<br />

pompa com que a Igreja celebrava —<br />

e celebra — a entrada de alguém para<br />

a vida religiosa. É o ingresso numa<br />

existência de renúncias e provações.<br />

Mas, em se tratando de uma jovem,<br />

esta se veste de noiva, orna-se a capela<br />

de flores, toca-se o órgão, o coro<br />

canta, e tudo se passa como se fosse<br />

uma esplêndida festa de casamento.<br />

A razão disso: a moça está em vias de<br />

realizar a finalidade para a qual foi<br />

criada.<br />

Em sua vida no claustro ela encontrará<br />

a dor, sem dúvida, porém a assumirá<br />

de grand coeur, com abundância<br />

de alma, sondando-a até o extremo, a<br />

exemplo do Divino Mestre que, diante<br />

da Cruz, abraçou-a e chorou. Pranto<br />

de comoção no qual, avantajandose<br />

ao oceano de amargura interior,<br />

entrava uma imensa felicidade: era<br />

seu supremo objetivo, a Cruz para a<br />

qual toda a vida d’Ele havia sido ordenada.<br />

v<br />

Gizante do<br />

senescal Philippe Pott<br />

(Museu do Louvre)<br />

Na página seguinte,<br />

gizantes na catedral de<br />

Canterbury<br />

30

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