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LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />
vestir de pulcritude o aspecto doloroso<br />
da vida.<br />
Mais. O entusiasmo com que se esperava<br />
e se cantava, nas vésperas das<br />
batalhas, a agonia da luta. Nasceram<br />
as canções de gesta, nas quais cada<br />
golpe, cada “ai!” recebia a glorificação<br />
de um acento épico, de uma arrebatadora<br />
melodia. Nas salas de armas<br />
dos castelos, na noite que antecedia<br />
a partida para a frente de combate,<br />
os homens conversavam e sorriam.<br />
E nos bailes das festas de primavera,<br />
enquanto dançavam pelos salões<br />
dos palácios, aqueles nobres de cabeleira<br />
empoada, de sapatos de fivelas<br />
de prata e saltos escarlates sabiam<br />
que dali a poucas semanas estariam<br />
partindo para a guerra. Sabiam que<br />
muitos não retornariam, que várias<br />
daquelas senhoras estariam na viuvez,<br />
mães ficariam sem filhos, e os filhos,<br />
sem pais. Entretanto, dançavam...<br />
Eles encaravam a dor com serenidade<br />
e grandeza de alma.<br />
Do mesmo modo eram respeitadas<br />
e postas em foco as mais variadas formas<br />
de sofrimento — inclusive o da<br />
maternidade ou o do esforço intelectual<br />
levado a bom termo —, porque<br />
bem se compreendia a noção de que<br />
esta Terra é um vale de lágrimas, segundo<br />
a linda expressão da Salve Rainha.<br />
Sorria-se para a dor por uma superior<br />
razão: “Vou realizar meu fim,<br />
aquilo para o que existo, e, por causa<br />
disso, apesar de todo sofrimento, estou<br />
alegre”.<br />
Daí vêm, igualmente, o júbilo e a<br />
pompa com que a Igreja celebrava —<br />
e celebra — a entrada de alguém para<br />
a vida religiosa. É o ingresso numa<br />
existência de renúncias e provações.<br />
Mas, em se tratando de uma jovem,<br />
esta se veste de noiva, orna-se a capela<br />
de flores, toca-se o órgão, o coro<br />
canta, e tudo se passa como se fosse<br />
uma esplêndida festa de casamento.<br />
A razão disso: a moça está em vias de<br />
realizar a finalidade para a qual foi<br />
criada.<br />
Em sua vida no claustro ela encontrará<br />
a dor, sem dúvida, porém a assumirá<br />
de grand coeur, com abundância<br />
de alma, sondando-a até o extremo, a<br />
exemplo do Divino Mestre que, diante<br />
da Cruz, abraçou-a e chorou. Pranto<br />
de comoção no qual, avantajandose<br />
ao oceano de amargura interior,<br />
entrava uma imensa felicidade: era<br />
seu supremo objetivo, a Cruz para a<br />
qual toda a vida d’Ele havia sido ordenada.<br />
v<br />
Gizante do<br />
senescal Philippe Pott<br />
(Museu do Louvre)<br />
Na página seguinte,<br />
gizantes na catedral de<br />
Canterbury<br />
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