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Tempo houve, pois, em que todo o<br />
teor da vida era diverso do de nossos<br />
dias, num continente onde foi possível<br />
ao homem idealizar e construir um<br />
mundo de maravilhas, de coisas arquitetônicas<br />
e sapienciais capazes de<br />
nos falar do Céu e, ao mesmo tempo,<br />
deleitar de maneira virtuosa o “irmão<br />
corpo” de quem as contempla. São os<br />
símbolos excelentes e nobres daquelas<br />
magnificências que nos aguardam<br />
no Céu Empíreo.<br />
Dado, porém, que o efeito é sempre<br />
menor que a causa, comprazo-me<br />
em salientar que a maior dessas pulcritudes<br />
da antiga Europa é precisamente<br />
o espírito daqueles que as conceberam,<br />
as almas sedentas das grandezas<br />
celestiais, os corações nos quais<br />
se sentia este anseio de modo mais intenso<br />
do que naquilo que produziram<br />
e legaram à posteridade.<br />
*<br />
Penso nisto, ao considerar uma Sainte<br />
Chapelle e o monarca que a construiu,<br />
São Luís IX; ao admirar um<br />
Eremo delle Carceri e seu mais ilustre<br />
habitante, São rancisco de Assis; ou<br />
ao examinar a pujança e beleza de<br />
formas de uma Torre de Belém, diante<br />
da qual eu gostaria de passar uma<br />
noite inteira, sob as refulgências do<br />
luar, meditando no heroísmo dos valorosos<br />
portugueses de que ela é portentosa<br />
expressão.<br />
E por que não lembrar do palácio<br />
do Rei Sol, do Versailles de Luís XIV,<br />
cujas linhas e arquiteturas, no que têm<br />
de virtude e catolicidade, nasceram<br />
da Igreja e, a fortiori, estavam conti-<br />
D. Sebastião de Portugal<br />
e a Torre de Belém<br />
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