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2001_Luzes-ApostoloPulchrum

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LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />

sário, põe o pé em cima dele e depois acena para a platéia.<br />

Nada disso. Essa delicadeza de matizes vencia com uma<br />

espécie de dignidade, com folga tal que ela não sentia sequer<br />

a necessidade de esmagar o adversário. Este não se<br />

encontrava estirado ao solo: estava eliminado do panorama.<br />

Assim, criava-se a idéia de um mundo onde, desde o começo,<br />

só ele, vitral, existira. Algo parecido com aquela Sabedoria<br />

que, no princípio dos séculos, brincava com todas as<br />

coisas...<br />

Percebi que na delicadeza de cores daqueles<br />

vitrais havia a candura e a como<br />

que inexperiência do virginal, aliada à<br />

estabilidade e à dignidade da experiência<br />

de uma matriarca no auge<br />

mais dourado de sua vida, na plena<br />

lucidez e no pleno conhecimento<br />

das realidades da nossa existência<br />

terrena.<br />

Ainda nessa linha de impressões,<br />

imaginando que cada vitral era como<br />

que alguém que tivesse a alma construída<br />

daquele jeito, imaginando que esses “alguéns”<br />

do mundo dos possíveis foram sonhados<br />

pela Idade Média e tiveram começos de realização<br />

em milhares de almas, então eu pensava em São Luís,<br />

nos artistas dele que edificaram essa maravilha da arte<br />

católica, na multidão de súditos que amavam seu monarca<br />

santo e admiravam nele as suas semelhanças com o Rei<br />

dos Reis, Nosso Senhor Jesus Cristo. Eu pensava nisso e<br />

entendia ainda melhor o que foi a época áurea da Cristandade.<br />

Essa é a análise dos matizes.<br />

Agora, a impressão que tive do conjunto de todos os vitrais<br />

foi a de uma harmonia constituindo uma espécie de figura<br />

não-expressa, ideal, de um vitral arquidelicado, de um vitral<br />

perfeito contendo em si todas as cores arqui-suaves naquele<br />

estado que acabei de descrever. Trazendo consigo<br />

a noção de que essa delicadeza assim<br />

apresentada — longe de ser inimiga<br />

dos tons mais fortes, na linha dos<br />

estados de alma como na linha<br />

das cores e na dos sons — fazia<br />

pensar no desfile sem fim<br />

de todos os coloridos possíveis,<br />

mesmo os mais<br />

antitéticos, em todos os<br />

estados de espírito possíveis,<br />

mesmo os mais diversos,<br />

dentro daquela harmonia.<br />

E dessas impressões se desprende,<br />

afinal, uma idéia de perfeição<br />

enquanto perfeição, de harmonia<br />

enquanto harmonia, de santidade enquanto<br />

santidade — portanto, de verdade enquanto verdade, e de<br />

beleza enquanto beleza — reluzindo neste píncaro da<br />

montanha da delicadeza, a partir do qual se percebe toda a<br />

cordilheira dos sentimentos opostos e afins que constituem<br />

o espírito indizivelmente rico da Igreja Católica. v<br />

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