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Catedral de Bourges parece ter sido<br />
feito “a galope” ou “a toque de caixa”.<br />
Naquele tempo, não se marcavam<br />
datas para concluir edificações<br />
como essas. Pelo contrário, sabia-se<br />
que talvez várias gerações passariam,<br />
até que os homens pudessem admirar<br />
em todo o seu esplendor mais um<br />
grandioso templo católico.<br />
Para se ter um pouco idéia do trabalho<br />
que uma construção desse porte<br />
exigia, basta reparar na espessura das<br />
paredes, na quantidade imensurável de<br />
pedras utilizadas, na profusão de imagens<br />
e floreados góticos, de colunetas<br />
e arcarias: é quase uma orgia de labor<br />
e dedicação. É um esbanjamento de<br />
arte. Na verdade, uma extraordinária<br />
manifestação de fé.<br />
Chama particularmente a atenção<br />
as seqüências de ogivas formando arcadas<br />
que resultam numa composição<br />
de força e leveza, arrematadas por<br />
agulhas e florões de pedra que lhes<br />
conferem especial nota de elegância,<br />
todas apontando para o firmamento,<br />
como a dizerem aos homens: “Confiem,<br />
pois no Céu tudo se resolverá!”<br />
*<br />
O edifício é imenso, porque as catedrais<br />
eram feitas para conter a população<br />
inteira da cidade, naquela é-<br />
principal, assim como as ornamentações<br />
daquelas servem de respeitoso e<br />
enlevado pendant para as desta.<br />
De todo esse conjunto sobressai uma<br />
expressão harmoniosa do espírito hierárquico<br />
predominante na época histórica<br />
em que foi construído. Tudo<br />
nele é ordem, é classe, é categoria; é o<br />
espírito da Idade Média.<br />
Agora, se tomarmos em consideração<br />
que todos os adornos da Catedral<br />
— e são inúmeros! — foram esculpidos<br />
em pedra, e que muitas dessas esculturas<br />
são genuínas obras de arte, facilmente<br />
percebemos que seus realizadores<br />
não se preocupavam com o tempo,<br />
nem com o trabalho e a mão-de-obra<br />
necessários para chegar a essa maravilha<br />
da arquitetura cristã. Não se incomodavam<br />
com prazos, não tinham<br />
frenesis de terminar logo. Nada na<br />
Dr. Plinio admira a majestosa<br />
Catedral de Bourges, durante sua última<br />
viagem à Europa, em 1988<br />
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